Dois assuntos bastante palpitantes ocuparam o noticiário nos últimos dias, ambos distantes mas ao mesmo tempo próximos: a execução do ex-presidente líbio Muanmmar Khadafi (na foto acima, em 2009 com Barack Obama) e a denúncia de que haveria um plano para executar o deputado Marcelo Freixo e o Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame.

Por mais que o ditador líbio fosse um tirano, com uma longa lista de crimes por trás de seu governo, era também um detentor de segredos importantes norte-americanos: foi aliado de vários governos, aliado da agência de inteligência (a CIA) e em várias situações operou a serviço de interesses norte americanos – em especial na questão do petróleo. Sua eventual prisão poderia trazer bastante embaraço ao governo estadunidense, haja visto o cabedal de conhecimento de que ele dispunha – em português claro, era um “arquivo vivo”.

Vale lembrar que uma semana antes de seu assassinato a Secretária de Estado norte americana Hillary Clinton deu declarações no sentido de que esperava que o ex-presidente líbio não vivesse muito mais tempo. Curiosamente, ele foi capturado vivo e sumariamente chacinado, em um ato de execução e barbárie que não ficou nada a dever ao procedimento do regime anterior.

Ainda mais quando se soube depois que centenas de correligionários de Khadafi foram assassinados nos mesmos dias, em uma verdadeira caçada às bruxas. Não houve prisões, julgamentos, nem qualquer coisa minimamente próxima a um processo. Apenas vingança – e, convenientemente, mais alguns “arquivos vivos” convenientemente silenciados.

A propósito, como afirmei em artigo anterior, é curioso que a Otan e os Estados Unidos tenham somente interferido na Líbia, que “coincidentemente” é fornecedora de parcela expressiva do petróleo europeu. Nem bem o cadáver de Khadafi esfriou e já se articula a divisão das províncias petrolíferas líbias por empresas estrangeiras, notadamente européias e americanas. A estatal líbia, anteriormente responsável pela exploração, deve a médio prazo perder sua razão de existência.

Também parece claro que teremos no país do norte da África a ação de “assassinos econômicos” a fim de vender grandes obras de infra estrutura no país – executadas por empresas estadunidenses, claro – e assim aprisionar a Líbia pelas dívidas, garantindo a propriedade sobre o petróleo local. E deixando felizes empresas e cidadãos europeus.

Em países como a Síria e o Bahrein, que enfrentam protestos parecidos – mas cuja produção de petróleo e gás é pequena – a repressão das ditaduras locais está sendo olimpicamente ignorada pelos Estados Unidos e a Otan. Fica patente que a intenção destes não é “promover a democracia”, mas sim assegurar lucros e um suprimento de óleo de forma segura e rentável para eles.

E o que tem a ver com a questão da segurança pública no Rio? Deverá pensar o leitor.

Apesar de não haver a questão petroleira, temos um caso também onde parece interessar aos poderosos o silêncio de pessoas importantes. Falo do recente plano descoberto – através de ligação para o “Disque Denúncia” – de que integrantes das chamadas milícias iriam assassinar o Deputado Estadual Marcelo Freixo (foto) e o Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame. Freixo foi presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou tais grupos criminosos, colocando alguns de seus líderes – todos eles policiais e ex-policiais – na cadeia.

Ressalte-se que o ex prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, de triste memória, foi um dos maiores incentivadores durante seus governos da expansão das milícias pelo município do Rio de Janeiro. Seu argumento era de que estas “freavam o tráfico”. Como se viu posteriormente, as milícias se revelaram muito piores que o tráfico, por serem mais organizadas, por estarem entranhadas nas forças de segurança oficiais e dominarem uma série de negócios nas comunidades. Convenientemente, a mídia reacionária carioca se esqueceu deste apoio do ex-prefeito, que trato de lembrar aqui. Ele deveria ser responsabilizado por tal atitude.

Beltrame recentemente empreendeu mais uma faxina nas funções de confiança da Polícia Militar, após o envolvimento de comandante de batalhão na morte da juíza Patrícia Acioli e de outros comandantes com toda espécie de desvios. Trocaram-se o Chefe da Polícia Militar e praticamente todos os comandantes de batalhão a fim de tentar estancar o cresicmento do crime fardado – que em tom de ironia alguns próprios integrantes da coroporação referem-se a este como “Comando Azul”, em referência á farda da PM.

O curioso é que altas autoridades do Governo do Estado e da Justiça ignoram tais denúncias e resistem a aumentar a segurança dos ameaçados. Dá a entender que o silêncio dos dois seria no mínimo conveniente – talvez pelo fato de ambos possivelmente deterem segredos embaraçosos a entes mais poderosos. Quem viu o filme “Tropa de Elite” ou leu o livro que deu origem ao filme sabe que há políticos que se aproveitam deste tipo de ligação a fim de ganhar votos e poder econômico. Não tem como não efetuar este tipo de ilação.

Infelizmente, em especial no caso do deputado parece certo que mais cedo ou mais tarde algum tipo de atentado será realizado contra sua vida. Há tempos que ele anda com escolta, e estes rumores de ameaças são recorrentes desde que ele assumiu, com bravura e coragem, a luta contra as milícias. Quanto ao Secretário de Segurança, a impressão é que com estas mexidas na Polícia Militar ele contrariou o “sistema” – e, como diz o Capitão Nascimento no filme, “o sistema é foda, parceiro”.

Ou seja, Khadafi, Freixo e Beltrame tem em comum o fato de serem verdadeiros “arquivos vivos” e deterem segredos possivelmente embaraçosos. O primeiro, ao invés de ser julgado e condenado por seus atos, foi assassinado.

Esperamos que os bravos cariocas não tenham o mesmo destino.