Neste sábado, onde completamos mais um aniversário do “Maracanazzo” de 1950, temos mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela Anna Barros. Fugindo um pouquinho dos temas habituais da coluna, Anna escreve um texto que, descontadas as referências intimamente pessoais, eu poderia perfeitamente assinar.

Vamos ao texto.

Um mergulho profundo com a Filosofia

Não é novidade para ninguém que adoro filosofia. Bom, talvez seja uma novidade para os leitores do Ouro de Tolo, que me conhecem pelos textos escritos aqui desde dezembro de 2010.

Muito do que sou e sinto está em todos os textos que enviei ao Pedro Migão, editor do blog, para a leitura de vocês. Sempre me expressei melhor escrevendo do que falando. A timidez sempre me impediu de falar o que se passava no meu coração – até com meu pai eu escrevia bilhetes.

Bem, voltando, adoro filosofia grega. Foi a grande abertura de pensamento que aconteceu em minha vida quando entrei na faculdade de Jornalismo. E ainda uni filosofia à outra grande paixão, a Arte ao estudar no livro didático ‘Filosofando com Arte’. Como o meu currículo de ensino médio é antigo (chamava-se científico para que se ter uma ideia de quanto tempo faz) não tinha tido Filosofia nem Sociologia [N.doE.: eu, que sou mais ou menos da mesma época, tive aulas de Filosofia no Colégio Pedro II com o inesquecível professor Maciel Pinheiro. Eram tempos imediatamente pós-redemocratização]. Li O Mundo de Sofia de Jostein Gardner e só. Um livro bom, mas sucinto. A filosofia pede que nos aprofundemos nela.

No domingo último ouvi uma frase que havia estudado no primeiro período com meu professor Antonio, no primeiro semestre de 2007: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez, o rio mudou”. Heráclito proferiu essas palavras. Na hora, não me lembrei imediatamente do Heráclito, fiquei sorvendo as palavras. E respondi que sim, que meu amigo estava certo, tudo muda.

Eu sou a maior prova disso. E estamos em constante mutação.

Talvez por isso aprecie tanto a borboleta, que de lagarta se transforma após um período no casulo. O meu casulo foi a faculdade de Jornalismo. Ali aprendi a pensar. Não que se fazendo Medicina não se pense. Precisamos decorar as coisas para depois formularmos os diagnósticos aventando uma série de hipóteses e possibilidades. É como um detetive, como um jornalista investigativo. E eu optei por Cirurgia porque o pensamento é rápido e imediato, tomam-se decisões rápidas. Então seu pensamento tem que ter a mesma velocidade.

Mas ali nos bancos escolares da FACHA eu aprendi com os mestres a argumentar, discutir e pensar. Num mundo ‘fast food’ como o de hoje em que se é mais fácil comprar ideias, copiá-las, pensar, refletir se mostra como o grande diferencial. Tudo é mutável.

Eu não sou a mesma de 1996 quando me formei em Medicina, muito menos igual a de 2007 quando entrei na faculdade de Jornalismo, quiçá a mesma de um ano atrás. E me dei conta disso quando falei ao telefone com outro amigo que voltava com sua esposa de uma temporada nos Estados Unidos. Eu me reconheci diferente quando falávamos das experiências que ele e ela tinham vivido e de seus desafios daqui por diante. Travo uma luta inglória por vezes com a minha sensibilidade extrema que é algo que nasceu comigo e quero mudar mas a frase reverbera porque pode tocar também nos encontros. Um encontro profissional, educacional ou de amizade de agora pode ser totalmente diferente de alguns anos adiante. Não somos estáticos, não ficamos estagnados. Que bom!

Caminhamos e evoluímos com nossas dificuldades. Somos pedras preciosas lapidadas por Deus e por nós mesmos também no momento em que reconhecemos aquilo que pode ser mudado, aquilo que precisamos aprender – e não entendemos por vezes porque algumas situações se repetem em nossas vidas ciclicamente.  E é porque ainda não conseguimos dar o próximo passo, o next step, please. É necessário resolver aquilo, dissecar e ultrapassar. E sempre pensei que a minha vida em relação a Deus é fifty-fifty: 50% com Ele e os outros 50% comigo [N.doE.: diria eu que é 99% esforço nosso e 1% permissão Divina, mas estes 1% são mais importantes que os 99% anteriores].

Um professor meu de Parasitologia, Marcos André Vannier, lá nos idos de 1992 me dizia que eu devia participar mais, falar, porque eu tinha perguntas interessantes e gostava de ir além em tudo que eu estudava. Essa inquietação de aprender nunca passou, assim como não é fácil para mim aceitar argumentos sem bases firmes. O professor precisa me convencer. E eu sentia esse espaço democrático nas aulas da FACHA, naquele ambiente, em que eu podia me desenvolver e me soltar – talvez por ser mais jovem na faculdade de Medicina eu tivesse medo de me expor. Tenho essa liberdade também nas minhas aulas de Espanhol, que é um idioma que me fascina mas me amedronta porque não domino ainda, procuro buscar e mergulhar sempre mais.

Tudo muda nessa vida. Heráclito sabiamente ainda diz que tudo flui.

Sim, tudo tem um curso natural para seguir. Pena que por vezes nossa ansiedade e insegurança tentem atrapalhar o rumo natural das coisas, precipitá-las ou antecipá-las. E com a troca que temos com as pessoas podemos crescer e tentar melhorar aquilo em nós que atrapalha o nosso completo desenvolvimento e a melhor interação com as pessoas. E a vida é essa descoberta maravilhosa, a troca com o outro, o se reconhecer ou se descobrir completamente diferente e amadurecer; o aprendizado com a inteligência emocional que é algo em que acredito não só no âmbito das lideranças empresariais mas no simples jogo da vida.

Para quem não tinha a menor ideia do que iria escrever, até que eu fui longe demais… Mergulhei no que é mais caro em mim, talvez até pelo momento que eu esteja passando ou pelos quinze anos de formatura em Medicina que completei na última segunda-feira, dia 11 de julho – Dia de São Bento, também… filósofo.

Essas datas sempre nos levam à reflexão, a um balanço de vida, de perspectivas, de análises de acertos e erros. Mesmo sendo um pouco ansiosa, eu vivo um momento de paz, uma sensação de paz interior que me move a continuar lutando. Ainda tenho que me banhar muitas vezes nesse rio que é a vida. Haja megulho!

Até a próxima!

Anna Barros
(Foto: Pedro Migão)