Ufa!
Depois de não sei quantos meses, finalmente terminei a leitura deste “O Petróleo – Uma História mundial de conquistas, poder e dinheiro”, de autoria do jornalista Daniel Yergin.
A edição brasileira possui uma história interessante. Ela foi publicada pela primeira vez em 1992, logo após a edição original por uma editora ligada ao então Presidente Fernando Collor de Mello.
Entretanto, os direitos autorais da edição brasileira não foram pagos ao autor, o que levou o livro após o esgotamento desta primeira estar absolutamente esgotado. Compreensivelmente, Daniel Yergin não autorizava uma segunda edição brasileira, e o livro ficou fora de catálogo por quase dezoito anos. 
Somente no segundo semestre do ano passado é que se chegou a um acordo e a segunda edição, com o acréscimo de um capítulo que abarca o período entre 1992 e os dias atuais, foi publicada pela prestigiada “Paz e Terra”.
O livro, que ganhou o “Prêmio Pulitzer”, é uma narrativa linear da história do petróleo, abarcando aspectos técnicos, políticos, históricos e econômicos. Apesar das mais de mil páginas é de leitura fácil, pois é escrito como uma reportagem e a tradução brasileira é bastante feliz. Muitas vezes o livro parece um “thriller” de suspense, em especial nas narrativas dobre a Segunda Grande Guerra e, depois, dos “choques do petróleo”.
O início da narrativa mostra as primeiras descobertas no Texas, Estados Unidos, e sua utilização como querosene para iluminação pública e nas casas – possibilitando que não se caçassem mais baleias para obtenção do óleo então usado na iluminação.
Um capítulo especial é dedicado à formação da Standard Oil, de Rockefeller, primeira empresa integrada de petróleo no mundo e que seria dissolvida por ação do órgão anti-cartel americano de então. Duas de suas sucessoras são hoje unidas no que se chama de “Exxon-Mobil”. Mostra-se como Rockefeller agiu a fim de afastar os concorrentes e, ao mesmo tempo, integrar a produção e a distribuição de petróleo e querosene iluminante.
Com a decadência deste querosene, substituído pela iluminação elétrica pública, o petróleo passou a atender à nascente indústria do automóvel. Também é importante o início de seu uso na aviação, em especial na Primeira Guerra Mundial – embora ainda de forma incipiente.
Outra história interessante é a de um dos primeiros magnatas do petróleo, a do armênio Calouste Gulbekian – apelidado singelamente de “Senhor 5%” por exigir este percentagem em todos os acordos de petróleo que concluía no mundo. Ele era representante de um tempo considerado “romântico” nesta indústria.
Dedica-se um capítulo também à história das descobertas no Oriente Médio e a negociação das concessões para exploração por parte das grandes empresas. A procura por petróleo nesta região atendeu aos interesses dos governos, que buscavam uma forma de financiar os gastos públicos, e das empresas então em processo de expansão, que procuravam alternativas ao considerado na época em declínio petróleo norte-americano.
Percebe-se o ganho de importância geopolítica do “ouro negro”, a ponto de ter sido decisivo na Segunda Grande Guerra: a Alemanha e o Japão começaram a perder a guerra ao terem ficado sem acesso a suprimentos contínuos de petróleo, o que “emperrou” a máquina de guerra dos dois países. A falta de acesso ao produto seria decisiva e faria a balança pender para o lado dos Aliados, que puderam contar com o suprimento norte-americano em um esforço de guerra.
Linearmente nota-se a “tomada de consciência” dos países produtores, primeiramente forçando aumentos de preço e, depois, com uma série de nacionalizações – estas basicamente na década de 70. Entretanto o primeiro movimento neste sentido foi ainda no México, em 1938, no governo de Lázaro Cárdenas.
Os movimentos que levaram aos dois “choques do petróleo” em 1973 e 1979 são cuidadosamente descritos pelo autor. O curioso é que a primeira movimentação neste sentido foi feita pelo hoje “inimigo do ocidente” Muamar Khadafi, ainda em 1970.
O primeiro choque veio da utilização do “petróleo como arma política” por parte dos países árabes contra Israel – em 1973 houve a guerra árabe-israelense iniciada no feriado judeu do “Yon Kippur”, ou seja, o “Dia do Perdão”. Os países produtores imediatamente aumentaram os preços e estabeleceram um corte punitivo de produção aos países que apoiaram Israel,o que teve efeitos catastróficos – em especial nos EUA e em parte da Europa Ocidental.

Já em 1979 a Revolução Islâmica no Irã desencadeou outro descontrole entre oferta e demanda, o que levou os preços novamente às alturas – e provocaria consequências duradouras, em especial nos países em desenvolvimento. Por outro lado este segundo choque levou a mudanças nas empresas, em especial nas chamadas “Sete Irmãs” (empresas que dominavam os mercados desde o início do século XX), que alteraram suas formas de atuação e entraram em uma onda de fusões e aquisições.

Interessante, também, são os perfis dos homens de petróleo feitos pelo autor no decorrer do livro. Homens como Edwin Drake (o primeiro a perfurar de forma bem sucedida o petróleo), Rockefeller, Henri Deterding, Marcus Samuel, Yamani, Cárdenas e outros são uma boa forma de entender como se processou a evolução desta indústria. Yergin também traça perfis de políticos como Churchill, Carter, o Xá do Irã, Saddam Hussein, o Rei Saud da Arábia Saudita e outros tantos nomes, com suas relações com o petróleo e suas atuações em momentos chave.

Yergin mostra também no decorrer dos capítulos os constantes ciclos de abundância e de escassez do produto, com a preocupação o tempo inteiro em um eventual declínio definitivo da produção e na busca por novas fontes de energia – mas estas sempre com desvantagem comparativa em relação ao petróleo.

O livro possui um único senão: o capítulo final, escrito com o intuito de atualizá-lo – e mudanças importantíssimas ocorreram neste período – é bastante superficial. À guisa de informação, disponibilizo abaixo programa do canal Discovery sobre o pré-sal brasileiro, que apesar do tom meio catastrofista do final é bastante didático. Vale a pena ser assistido.

Não esgoto aqui os temas tratados, mas é indispensável para quem quiser entender um pouco sobre este componente indispensável da vida moderna e da geopolítica mundial. Na Livraria da Travessa, custa R$70.