Nossa resenha de hoje é muito apropriada nestes tempos onde Bin Laden foi assassinado em uma fortaleza a metros de uma academia militar de um determinado país.
Este país, o Paquistão, é o tema do livro resenhado aqui  hoje.
“Duelo” é de autoria do prestigiado sociólogo paquistanês Tariq Ali e se propõe a contar a história deste país da Ásia desde os tempos pré-independência até o momento em que foi escrito – 2008.
A história deste país é formada pela divisão da “antiga Índia” dos tempos coloniais em uma nação majoritariamente hindu (a Índia) e outra majoritariamente muçulmana – o Paquistão. Este era formado por duas “seções”, o que hoje são respectivamente o próprio Paquistão e Bangladesh.
Em narrativa linear, Ali conta o predomínio do Exército desde a independência do país, que em 64 anos de vida própria em apenas três períodos não teve um general ocupando (diretamente) o cargo máximo da nação.
O autor também mostra as tensões entre as etnias dominantes no país e a influência islâmica na vida da população. Como os governantes não dão a menor atenção à educação muitos pais enviam seus filhos para as “madrassas”, escolas islâmicas, a fim de que estes possam ser educados e sair da pobreza generalizada. O Paquistão é um país de saúde e educação bastante precários, para se dizer o menos.
Com isso, há a formação de jovens islâmicos que acabam servindo a organizações islâmicas, terroristas ou não. Embora estas não sejam muito influentes nos círculos de poder do país, como mostra o autor, seu peso na população explica a “proteção” recebida por estes grupos por parte do governo.
Até porque há um equilíbrio bastante frágil historicamente: o governo depende do apoio e da proteção americanas, mas possui uma população  e uma classe média que abomina tal tipo de alinhamento. Isto explica o comportamento meio”esquizofrênico” do governo local após o “11 de Setembro”, alinhando-se incondicionalmente aos Estados Unidos mas protegendo e dando abrigo a elementos da Al Qaeda e de outros grupos – inclusive o próprio Bin Laden, como se viu recentemente.
Tariq Ali também conta toda a influência do país na história recente do Afeganistão, com o qual faz fronteira, e que os americanos estão cometendo tantos erros em sua mais recente ocupação do país que a maior parte do povo local quer a volta dos Talibãs, em uma versão mais moderada. São recorrentes as denúncias de violação dos direitos humanos no país, bem como da adoção de um estilo de vida por parte das tropas e dos diplomatas considerado inadmissível pela população.

Também é interessante a história da construção da bomba atômica pelo país, feita no final da década de 70 quando as grandes potências estavam mais preocupadas com outros fatores geopolíticos. Entretanto Tariq Ali explica que a chance de um artefato destes cair em mãos de terroristas islâmicos é praticamente ínfima, porque as Forças Armadas ainda detém o controle estrito do país.

Outra abordagem interessante é a do massacre ocorrido quando da revolta que propiciou a separação de Bangladesh, com populares executados pelo Exército a sangue frio nas ruas.

O final do livro mostra os acontecimentos que desencadearam na volta da ex-primeira ministra Benazir Bhutto ao país, seu misterioso assassinato e as tratativas que levaram ao poder seu marido – que é réu em vários casos de corrupção e enriquecimento ilícito, tratados com detalhes no livro.

Benazir é filha de outro primeiro ministro, enforcado por ordem do ditador militar de plantão – e que morreria    em um acidente aéreo suspeitíssimo anos depois, que jamais foi esclarecido.

“Duelo” é um bom panorama deste país desigual, importante peça para se entender toda a geopolítica envolvida na ocupação do Afeganistão e do denominado terrorismo islâmico. É leitura de fácil entendimento, apoiada por uma boa tradução.

Recomendo fortemente. Na Livraria da Travessa, custa R$ 50.