Mais um sábado e mais uma coluna “Do Jacaré ao Litoral”, assinada pela analista e corredora Stella Souto. O tema de hoje, como antecipei na introdução da coluna anterior é a participação da missivista na “Corrida da Ponte”, realizada este mês de abril.
Não era apenas uma ponte…
Seria uma oportunidade em um milhão de cruzar a Ponte Rio Niterói correndo. Algumas poucas edições da prova haviam sido realizadas, mas ficaram perdidas nos idos das décadas de 80 e 90. Os recém ingressos no mundo das corridas provavelmente nem sonharam em corrê-la.
Logística complicada: a Ponte não podia ficar fechada por muito tempo. 
A organização logo bolou uma norma para garantir que a prova fosse rápida: para participar dela era preciso comprovar a conclusão de uma Meia Maratona ou Maratona nos dois anos que antecederam a prova. E não bastava isto. Era necessário que esta Meia tivesse sido concluída em no máximo 2h30min.
A primeira parte do requisito eu cumpria. Mas como boa corredora-tartaruga, meu tempo da Meia Maratona de 2010 havia sido 2:42:34. Foi o momento dessa vida de corredora que eu mais me ressenti de ser tão lenta. Felizmente a organização da prova acabou ampliando o tempo de conclusão para 2h45min e assim, ‘em cima do laço’, eu pude me juntar a hordas de corredores que fizeram desta corrida a mais esperada do ano.
O dia da corrida começou ensolarado e cedíssimo. Antes das seis da manhã já estava com mais dois amigos e colegas de equipe a caminho da estação das barcas na Praça XV. A organização caprichou disponibilizando tickets gratuitos junto com o kit e horários exclusivos para os corredores. Tudo transcorreu perfeitamente.
Pouquinho antes das 8 horas eu já estava ali, coração aos pulos aguardando a largada. Para garantir que a prova não durasse mais que as 2h45min a ela destinadas, haveria um ônibus que cruzaria a Ponte “recolhendo” os desistentes e quem mais estivesse fora do ritmo proposto para a prova. Longe de estar na minha melhor forma, adotei uma estratégia “kamikaze”: correria o mais forte que eu conseguisse pelo máximo de tempo que desse e concluiria o resto ainda que fosse andando.
A estratégia foi dando certo e eu fui a um ritmo um minuto mais rápido que o meu normal até o quilômetro 15, apesar do sol que não dava uma trégua (não há sombra na Ponte, ora, ora) e da temida subida do vão central. Não é uma subida íngreme. A inclinação é leve, porém constante, uma coisa que os corredores mais experientes costumam chamar de “morte lenta”.
A partir daquele ponto, o cansaço começou a se manifestar. Nessa hora vale a preparação psicológica do atleta. Eu tinha decidido que completaria e não seria resgatada pelo ônibus, então eu ia fazê-lo. Hora de reduzir. Enquanto eu reduzia, consegui um gás extra do que eu costumo chamar de meu “dopping”: a música. E protagonizei o meu momento mais engraçado na corrida.
A música era “Tropa de Elite”, do Tijuana. Já havia decidido dar o último “pique” da corrida quando olho pra frente e vejo caminhando um homem de preto. Nas costas dele a “faca na caveira” e a inscrição “Batalhão de Operações Especiais”. Não tive dúvidas: parti pra cima! Seria o grande feito do dia! No momento em que o ultrapassava, tocava o refrão da música e eu acelerava sorridente e cantando.
Ao avistar a placa dos 16 quilômetros acabava a corrida para mim. Dali até o final seria administrar a “vantagem” que eu havia conseguido até então e concluir os 21,4 quilômetros alternando trote e caminhada e cruzar a linha de chegada ainda antes do temido ônibus.
Ao longo do percurso, vi muitas pessoas requisitarem os serviços das ambulâncias. Várias pessoas desistiram pelo caminho e se puseram a aguardar o ônibus. Quanto a mim, apenas um momento de maior tensão. No quilômetro 18, a vista ficou preta e senti tonturas. Era o calor. 
Parei. Ajeitei a meia. Tomei um sachet de gel repositor. Bebi uma água. Tudo isso ali no posto de hidratação, perto de uma ambulância. Fosse o caso, ali mesmo ficaria.
Por sorte não houve necessidade. Consegui prosseguir lentamente caminhando e depois trotando e ainda sobrou um mínimo de energia para cruzar a linha de chegada correndo, como tem que ser!
Ou seja, venci!