A Via Lagos, por exemplo, uma das opções de acesso à Região dos Lagos, chegou a ter quarenta e oito de seus cinquenta e seis quilômetros absolutamente engarrafados, como mostra a foto de um leitor publicada no site G1 (acima). A RJ-106, que seria a outra alternativa, chegou a ficar engarrafada durante o dia de ontem em um trecho nada pequeno, de Maricá até a entrada de Praia Seca – aproximadamente cinquenta quilômetros. Há notícias de setenta quilômetros de engarrafamento no Litoral Norte baiano e cerca de vinte e cinco em São Paulo.
Eu estava passando o feriadão em Praia Seca. Saí do Rio quinta feira por volta de 15 horas – ou seja, após o horário que seria o de “pico”, entre a noite de quarta e a manhã de quinta – e somente consegui chegar por volta de 19:30. Em números redondos, quatro horas e meia para percorrer aproximadamente 140 quilômetros. Na volta, saí apenas por volta da meia noite de hoje e cheguei em casa por volta das três da manhã, ainda enfrentando bastante retenção.
Além do fato inusitado de ter sido um feriadão “completo” – sem uma sexta ou segunda feiras onde alguns trabalhem – sem dúvida alguma este caos no trânsito tem como causas aparentes o aumento da renda da população nos últimos anos e a consequente evolução nos números de vendas de veículos. Basta se ver no gráfico abaixo (há um errinho na escala, onde está 2008 pela segunda vez na realidade é 2009, e assim vai) que as vendas de veículos no Brasil evoluíram de pouco menos de um milhão de veículos em 1999 para uma projeção de 2,7 milhões em 2011. É um salto espetacular, que reflete a instalação de novas fábricas no país e a elevação de renda e do acesso ao crédito por parte de parcelas da população.
Outro ponto é a falta de soluções de engenharia de tráfego, que minoram o problema. Um exemplo, para a própria Via Lagos e a BR-101 – que lhe dá seguimento – seria a adoção de uma faixa reversível a fim de aumentar a fluidez. Nada disso foi feito e, além disso, ontem havia uma blitz conjunta da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar no entroncamento entre as duas rodovias, o que tornou ainda maior o transtorno. Mesmo de madrugada, quando retornei, havia uma blitz da “Operação Lei Seca” na rodovia, o que me parece uma total falta de bom senso para o momento.
Lembro aos leitores que a rodovia em questão é pedagiada, chegando ao ponto de se cobrar R$ 15 na Via Lagos – que sequer tem mureta divisória. É um preço quase extorsivo para se ficar horas e horas engarrafado sem qualquer tipo de tentativa de solução. Sem dúvida alguma, o modelo de concessões de rodovias federais adotado privilegiou mais a arrecadação de pedágio e a conservação das vias que suas melhorias estruturais.
De acordo com dados do IPEA de meados de 2010, as rodovias brasileiras precisariam de aproximadamente R$ 180 bilhões em investimentos para poder fazer face às necessidades atuais. O PAC, Programa de Aceleração de Crescimento, prevê cerca de R$ 10 bi em investimentos de ampliação da malha viária. Sem dúvida alguma, insuficiente, mas se cai naquela questão de recursos escassos e concorrência por demandas própria de qualquer restrição orçamentária – além do fato de que três décadas sem investimentos não se recuperam em cinco anos.
Finalizando, lembro que para o caso em questão da Região dos Lagos do Rio de Janeiro o quadro deve se agravar com a inauguração do Comperj, conjunto de refinaria e indústrias petroquímicas em Itaboraí. A BR-101 será uma das principais vias de escoamento, e mesmo com a obra do Arco Rodoviário em andamento deverá haver um incremento significativo em seu fluxo. A região, hoje de passagem, deverá ter uma significativa ampliação de sua atividade econômica, mas a questão do tráfego, a meu ver, preocupa.