Excepcionalmente fora de seu dia habitual, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, traz uma análise dos números de violência urbana no Brasil.
Polícia para quem Precisa

Há poucos dias os seletos leitores do Ouro de Tolo foram brindados com uma entrevista sensacional com o Major Luiz Alexandre. Inspirado por ela, resolvi tocar no tema da segurança, mas visto por outro ângulo, o da crueza dos números. O estudo Mapa da Violência 2011, divulgado recentemente pelo Ministério da Justiça, tinha o objetivo de diagnosticar as causas de homicídios entre jovens do Brasil, mas acabou fornecendo um panorama da criminalidade no país que derruba os principais mitos e crenças do senso comum.

Universalmente, a medida padrão do grau de violência de uma localidade é obtida a partir da quantidade de homicídios a cada 100 mil habitantes. É natural que seja assim, uma vez que a vida humana é o bem maior a ser protegido, daí porque o homicídio é o crime mais grave e que chama mais atenção.
Desde que o estudo foi divulgado, me divirto fazendo três perguntas para as pessoas: qual é a capital mais violenta do país, qual você acha que é a posição do Rio de Janeiro e São Paulo, em que lugar está?  Todo mundo erra.
Vamos logo para a surpresa maior: dentre as 27 capitais, São Paulo é a 27ª, ou seja, é a capital mais segura do Brasil. E o Rio de Janeiro, que realmente já foi uma das primeiras, hoje é apenas a 20ª capital no ranking da violência. A capital mais violenta do Brasil é Maceió [N.doE.: cidade que possui um sério problema de pistolagem], onde a taxa de homicídios/100 mil habitantes (107,1) é quase oito vezes maior do que a de São Paulo (14,8) e mais do que o triplo da taxa carioca (31).
Muitas outras surpresas no caminho: Curitiba (foto), que no imaginário brasileiro é uma espécie de reserva técnica da civilidade, é nada mais, nada menos, do que a 6ª capital mais violenta (56,5 homicídios). Pior, 10 anos atrás Curitiba estava na 18ª posição, com meras 22,7 mortes a cada 100 mil habitantes. Uma década bastou para transformar a capital paranaense em faroeste.
Quem acha que morar no interior é sinônimo de tranquilidade pode ir tirando o cavalinho da chuva. Enquanto nas capitais o crime recuou um pouco (-3,9%) e nas regiões metropolitanas caiu ainda mais (-10.9%), o interior só fez crescer. Hoje, mais de 2/3 dos homicídios são praticados fora das capitais. Que coisa, hein?
Aliás, por falar em regiões metropolitanas, as de Vitória, Recife, Salvador, Belém, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, nessa ordem, superam as de Rio e São Paulo. Portanto, não venham colocar a culpa em São Gonçalo ou Diadema, pois essas cidades periféricas em nada alteram a queda da criminalidade nas duas maiores capitais do país. Por sinal, essas duas cidades sequer aparecem no ranking das 100 mais violentas.
E para confirmar a interiorização do crime, lugares tidos como sinônimos de calmaria são inacreditavelmente violentos, como Porto Seguro (17ª cidade mais violenta do Brasil), Cabo de Santo Agostinho (18ª posição) e Armação dos Búzios (25º lugar), isso em uma lista de 5.564 municípios, incluindo as capitais. É alarmante que lugares paradisíacos e lotados de hotéis de alto luxo e turistas endinheirados possam ser tão violentos. Outro mito destruído pelo estudo tem a ver com a igualdade racial. Proporcionalmente, morrem 67% mais negros do que brancos. Que dado mais constrangedor!
Agora, de todas as conclusões, a mais sombria: o Brasil é o campeão mundial de homicídios, com lamentáveis 56 mil assassinatos por ano. Antes que alguém diga que isso se explicaria por conta do tamanho populacional, fique sabendo que na comparação proporcional o Brasil ocupa a 6ª posição, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Ilhas Virgens. 
Enquanto a nossa taxa de homicídios é de 26,4 mortos por cada 100 mil habitantes, os vizinhos mais pobres do Mercosul nos superam com folga : Uruguai (4,4), Argentina (4,3) e Paraguai (10,9). Eu nem sonharia em igualar a França ou a Alemanha (ambas com 0,6), mas já me contentaria em ficar perto da África do Sul (11,7).
Quem sabe ainda chegaremos lá? Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar.