de Sofia Coppola
Há diversas formas de ver Somewhere, o novo filme de Sofia Coppola, que recebeu em português a terrível tradução de “um lugar qualquer” (ao invés de “em algum lugar”, o que é muito diferente).
Os três primeiros filmes de Sofia Coppola, repleto de méritos, em maior ou menor grau, sempre apontavam para uma certa hiperestilização. Mesmo em Encontros e Desencontros, seu filme mais contido, essa mesma contenção era obtida a partir de uma estilização, que poderia ser resumida em duas estratégias básicas: a forma como as luzes de neon da cidade de Tóquio eram retratadas no filme e a máscara do personagem de Bill Murray – uma nova versão da “great stone face” de Buster Keaton pós-Rushmore de Wes Anderson.
Somewhere pode ser visto como muitos como uma retomada (uma mera repetição) da boa repercussão de Encontros e Desencontros, após o fracasso de Maria Antonieta, mas é preciso ir além dessa comparação imediata. Pois Somewhere avança no sentido de espantar os cacoetes de seus filmes anteriores para mergulhar numa narrativa de contenção.
Mas, acima de tudo, uma das formas de ver Somewhere é que ele pode ser visto como uma enorme tentativa de uma filha de abraçar o pai. Talvez Somewhere seja um profundo acerto de contas de Sofia com seu pai, Francis Ford Coppola.
Nada disso. Somewhere é simplesmente um acerto de contas pessoal, um abraço compreensivo, um filme sobre uma filha que olha um pai mas uma filha olhando para esse passado a partir de hoje, imaginando-se no lugar do pai. Essa oscilação (esse jogo de espelhos) entre a posição do pai e da filha, ou ainda, entre a narrativa e a “vida real” é que dão um beleza triste ao filme de Sofia. Nesse jogo de espelhos é também bom lembrar que Sofia começou no cinema querendo ser atriz.
A diferença entre as atuações de Bill Murray e Stephen Dorff é uma das principais chaves das diferenças entre Encontros e Desencontros e Somewhere. Dorff está extraordinário.
O cinema de Sofia Coppola é algumas vezes acusado de ser muito blasé. Em Somewhere, extremamente simples e delicado, há uma tentativa de olhar de frente para um cinema, sem efeitos, cacoetes ou purpurinas. Existe um certo esvaziamento da narrativa que nos remete a um certo cinema contemporâneo, mas o acerto de Coppola é que o filme parece pouco preocupado em se inserir ou contestar, mas “apenas” em seguir com seu personagem.
Talvez seja o momento em que os tenha visto, que coincide muito com minha própria vida pessoal e com minha visão sobre as coisas, mas 2011 já me proporcionou dois filmes de grande impacto emocional: O CÉU SOBRE OS OMBROS e SOMEWHERE.”