Três dias após sua posse, ainda temos marcadas na memória as imagens da posse da nova Presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
Entretanto, queria chamar a atenção para alguns pontos do discurso de posse da presidente, no Congresso Nacional. Embora sinalizando continuidade, mostrou algumas intenções importantes de inflexão em algumas áreas chave.
A primeira delas é a questão do câmbio. Um dos primeiros assuntos abordados no discurso (acima) foi a competitividade da agricultura de exportação, que está bastante prejudicada pela apreciação excessiva do câmbio. Basta o leitor se lembrar que à exceção de São Paulo, onde foi governador, José Serra somente venceu em estados onde a agroindústria exportadora tem peso considerável na economia e na sociedade.
Acredito que a taxa de câmbio de equilíbrio, hoje, esteja em torno de R$ 2,15 por dólar. Mais que isso iria trazer pressões inflacionárias indesejáveis em uma economia que já se encontra aquecida. Lembro aos leitores que há inúmeros projetos de expansão da capacidade produtiva em andamento, de forma que parece prematuro afirmar que há risco de inflação de demanda no país.
Por outro lado, como a desvalorização do câmbio pressupõe necessariamente a diminuição da taxa de juros real – como expliquei aqui antes – parece razoável imaginar que teremos uma baixa gradual da taxa Selic a médio prazo.
Outra consequência da queda das taxas seria a diminuição dos valores dispendidos com o serviço da dívida pública, o que melhora as condições de utilização das finanças públicas. São mais valores que sobram para investimentos.
Falo em investimento e não posso passar batido pela declaração do discurso de que a Petrobras será a líder da exploração do pré-sal. Como funcionário da empresa que sou fiquei bastante orgulhoso de vê-la sendo citada como exemplo brasileiro, mas o que importa aqui é saber que o plano de investimentos da companhia – aproximadamente 230 bilhões de dólares até 2014 – será um importantíssimo motor de crescimento da economia brasileira.
Lembro que além dos investimentos da petroleira há uma série de empresas que ampliam suas instalações por causa das demandas da Petrobras, o que gera um efeito multiplicador na economia. Isto significa geração de empregos e renda.
Outro ponto importante do discurso de posse foi a prioridade apontada para a modernização, ampliação e melhora de operação dos aeroportos brasileiros. De acordo com a nova Presidente, não somente por causa da Copa do Mundo de 2014 quanto dos Jogos Olímpicos de 2016, mas especialmente para acolher os novos clientes trazidos pelo processo de ascensão social fortíssimo pelo qual o país tem passado nos últimos anos.
Também vale ressaltar a preocupação da nova presidente com a questão da educação e, em especial, a valoração do professor. Também acenou com uma espécie de “ProUni” para o ensino médio. Parece claro que ela tem noção do número de vagas abertas na economia por falta de mão de obra qualificada para tal, e deve buscar uma alternativa para que estas vagas possam ser preenchidas com os requisitos adequados.
Dilma Rousseff sinalizou a continuidade de uma política externa dissociada dos interesses norte americanos, o incentivo à cultura e a formas de energia renováveis.
Ressalto igualmente o combate à corrupção representado pelo fortalecimento dos órgãos de fiscalização e controle. Ressalvo, aqui, que nesta área há muita burocracia desnecessária e que somente emperra o bom andamento do processo. Mas é salutar ver que há a preocupação com o aumento e a eficiência dos controles internos.
Finalizando, é importantíssima a frase “serei a presidente de todos os brasileiros”. Marca uma diferença nítida de proposta em relação à oposição, preocupada apenas com os vinte milhões de brasileiros das velhas classes A e B.
Concluiria dizendo que foi um discurso de posse bastante delimitador da linha de atuação destas próximos quatro anos, de continuidade mas com algumas mudanças importantes de orientação.
Porque a Oposição estaria apenas preocupada com as “velhas classes A e B” e não com as “velhas classes C,D e E” ?
Foi a Oposição que controlou a inflação através do Plano Real, fez a constituição de 88 que o Pt não quis assinar, fez a lei de Responsabilidade Fiscal que o PT não quis aprovar, além de ditar como toda a economia funcionaria, pois o PT, tirando os gastos públicos em abundância sem auditoria, manteve tudo lá, funcionando igual. Sem mexer no cerne da questão.
Um dos meus “dissidentes” mais queridos de volta, alvíssaras !
Henrin, uma correção: os deputados do PT – inclusive Lula – assinaram a Constituição sim de 88.
Quanto às classes C, D e E, os partidos de oposição representam hoje interesses exógenos e voltados ao mercado exportador, basicamente.
abs