A foto acima foi tirada de dentro do meu carro – como se vê pelos pingos no pára-brisa – ontem, manhã chuvosa de quinta feira. Linha Vermelha, altura da Maré, sentido Centro da cidade.
Nos últimos dias o tráfego, pelo menos para quem mora na Ilha do Governador como eu vem se tornando cada vez mais moroso. Mais tempo se perde, mais combustível se gasta, menos qualidade de vida.
Quem mora há muito tempo na cidade já está acostumado, mas basta se afastar ainda que por poucos dias para local mais organizado percebe como é insana a situação.
Como viram aqui, passei uma semana a trabalho em Curitiba na primeira quinzena de julho. O ônibus que me levava à Refinaria Presidente Vargas, em Araucária (trinta e cinco quilômetros da capital paranaense) não demorava mais do que cinquenta minutos para empreender o seu percurso. Isso parando diversas vezes para apanhar e deixar passageiros no caminho.
Para os leitores terem uma idéia, moro a vinte quilômetros do meu trabalho e de carro – ou seja, sem paradas – nunca levo menos que uma hora de percurso. Nos últimos dias tenho levado pelo menos uma hora e vinte a uma hora e meia.
Curitiba é uma cidade onde o transporte coletivo funciona, há planejamento viário e ocupação racional do espaço urbano. Lá todo mundo anda de ônibus, que em muitas ruas possui corredores exclusivos de circulação. Além disso a oferta de transporte coletivo atende às necessidades, em horários determinados.
Com isso diminui a necessidade de utilização de carros particulares e mesmo o serviço de táxis é utilizado basicamente pelos turistas. O tempo perdido no deslocamento é civilizado, sem impacto na qualidade de vida.
O que temos no Rio de Janeiro ?
Antes de mais nada, uma geografia complicada e um espaço ocupado desordenadamente. Grandes distâncias a se deslocar por ruas muitas vezes estreitas. A gerência viária não racionaliza a engenharia de tráfego e os guardas de rua tem como única missão infernizar a vida do incauto motorista através da obssessão pela multa – com direito a “meta” mensal.
Outro problema é que a matriz de transporte da cidade está baseada nos ônibus, que se constituem no mais forte grupo de pressão política na esfera municipal. Temos uma frota desequilibrada localmente – muitos coletivos na Zona Sul, poucos na Zona Oeste – com horários incertos e de serviço ruim.
Quaisquer tentativas de se racionalizar o sistema são devidamente solapadas pelas empresas nas diversas esferas do Legislativo ou do Judiciário. O sistema de concessão de linhas é peça de ficção.
O sistema de metrô está limitado e absolutamente saturado, e o de trens urbanos funciona abaixo de seu potencial. Com isso se estimula a utilização do carro particular, o que torna o trânsito um caos ainda maior.
Dou o exemplo da Ilha do Governador. São pouquíssimas linhas de ônibus, com destinos limitadíssimos e horários incertos, com assaltos nos “frescões” e baratas nos coletivos de tarifa comum. Os poucos itinerários estão concentradas nas mãos de apenas duas empresas, que fazem o que querem dada a falta de outras opções viáveis de transporte. Resultado: todo mundo anda de carro.
Para agravar o problema o bairro tem uma única saída terrestre – a Estrada do Galeão – e ainda convive com “blitzes” da Polícia Militar volta e meia nesta via em pleno horário de rush. Qualquer carro enguiçado ou acidente nesta via causa o caos – e aí o tempo para se chegar ao trabalho supera facilmente duas, às vezes até mesmo três horas.
Consequentemente a qualidade de vida cai e aumentam o consumo de combustível e a poluição urbana. O sistema de barcas, que seria a alternativa, está absolutamente esvaziado. É absolutamente insano passar o tempo que passamos dentro de um carro no Rio de Janeiro. Insano.
Falo da Ilha porque é a minha realidade, mas poderia me referir a outros bairros que o quadro seria semelhante. O tráfego carioca literalmente faliu.
A solução para o problema seria uma extensa reforma urbana que envolvesse obras viárias, criação de corredores expressos, extensos investimentos em transporte de massa e diminuição do poder das empresas de ônibus.
Provavelmente optarão pela solução mais fácil: instituir o rodízio de placas na cidade. E o contribuinte sem opção de transporte que se dane. Ou vá trabalhar a pé.
Espero me mudar para Curitiba antes disso.