Mais uma segunda feira, mais uma resenha.
Nosso livro de hoje é bem apropriado para uma segunda feira: um tratado sobre os grandes em uma função no futebol que é associada a destruição, coisas toscas e pancadarias, mas que (infelizmente) todo time precisa ter pelo menos um: o cabeça de área, ou o volante, ou no italiano “trinco”.
De autoria do jornalista da TV Globo e do SporTV Sidney Garambone (foto abaixo, com este que vos escreve neste blog), o exemplar é mais um da série da Editora Contexto denominada “Os 11 Maiores”. São os técnicos, goleiros, laterais, volantes, “Camisas Dez” e centroavantes – ainda não há o livro sobre zagueiros, se algum leitor souber se sairá e quem é o autor agradeço.
Com exceção do livro sobre os técnicos, o primeiro da série – que deveria se chamar “Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Paulista”, e não brasileiro – os livros possuem uma escolha bem razoável dos integrantes do panteão de glórias de cada posição. Obviamente, pode-se discordar de um nome ou outro, mas são listas que ficam bem próximas do senso comum.
E por incrível que pareça o autor conseguiu encontrar dez volantes dignos de estarem neste livro. Sim, dez, porque o último capítulo é dedicado aos brucutus, os Torós e Rômulos da vida que não acertam um passe, mas colecionam amarelos e caneladas. Sob o lema “Dinho é o meu Pastor e botinada nunca nos faltará” estes cabeças de bagre vem nos assolando cada vez mais.
Dinho, óbvio, “O Carniceiro do Olímpico”, benchmark no assunto. Jogava naquele Grêmio do Felipão que não faria feio se vestisse a camisa da penitenciária ao invés das cores do time gaúcho…
O autor chega a elencar um time inteiro de volantes brucutus neste capítulo – escalação, aliás, que o leitor verá que possui um errinho: “Zé Elias, Marcelinho Paulista, Bernardo, Doriva e Jailton; Marcio Costa, Exequiel e Cadu; China e Pintado”. Como se vê, são apenas dez nomes.
Eu consigo escalar um time inteiro de volantes ruins do Flamengo de dez anos para cá: Jailton, Vagner, Jorginho e André Gomes; Rômulo, Paulinho, Fábio Baiano, Toró, Rocha e Fernando; Fábio Augusto. No esquema 3-6-1, em homenagem aos gurus Celso Roth e Joel Santana…
Pela ordem, os dez escolhidos foram Danilo Alvim, Zito, Dino Sani, Dudu, Piazza, Andrade, Clodoaldo, Toninho Cerezo, Dunga e Falcão. Como notam, à exceção de Dunga são todos de antes da década de noventa, quando os destruidores começaram a se sobrepor aos armadores e atacantes. Penso que é algo a se pensar, a queda de qualidade de nossos volantes à medida em que aumenta o seu número em campo.
Destes dez, eu vi jogar Andrade – para mim, o maior – Cerezo, Dunga e Falcão. São representantes do tempo em que dar o primeiro combate e girar o jogo era certeza de momento clássico em uma partida de futebol. Desarmar e sair jogando também é uma arte.
Outro destaque do livro são as entrevistas que acompanham cada capítulo. Com jogadores que conviveram com os volantes alvo dos perfis, e a qualidade do autor em fazer boas perguntas, temos boas revelações e histórias de bastidores.
Impressionou-me sobremaneira a história de vida de Clodoaldo, que tinha tudo para dar errado na vida mas com muita perseverança e comprometimento chegou a ser Campeão Mundial pela seleção. Cada um dos perfis ensinou-me algo.
Sugeriria a muitos dos chamados “professores” que grassam nos times brasileiros lerem o livro para entenderem o que é um bom volante. Mais “carrapatos” como Dudu e Zito, clássicos como Dino Sani e Clodoaldo, sóbrios como Andrade, elegantes como Danilo Alvim e Falcão, perseverantes como Dunga e Cerezo, vencedores como Piazza e todos os demais. Mas todos tratavam a bola com carinho e deixavam ensinamentos a quem os via jogar. E, o mais importante: acertavam passes.
Bom texto, boa leitura, indispensável para quem quer entender a parte prática do futebol. Na Travessa, custa R$ 29.
Encerro esta resenha com uma história contada pelo autor no livro e que para mim é o arquétipo da posição. Flamengo e Boca Juniores, Maracanã, início da década de 80. Maradona vira para Zico (o entrevistado deste capítulo) ao final da partida e pergunta:
“Zico, quem é esse cara que não me deu uma porrada, não puxou a minha camisa nenhuma vez e não me deixou jogar?”

Andrade, Diego. Andrade. (pp. 145)
Aproveito e deixo abaixo vídeo de outra jogada do rubro-negro narrada pelo livro, em 1987 contra o Corínthians.