Eu estava precisando comprar um terno azul marinho para usar em minhas dedicações na Messiânica, e acabei adquirindo um ontem aqui mesmo no Centro.

Pois é. Comprei o terno (blazer mais calça) e ainda uma camisa social, de bom corte e boa qualidade, pagando R$ 220. Poderia ter gasto menos se fosse ao Shopping Nova América, que é o melhor lugar do Rio de Janeiro para se comprar roupa social. Entretanto, ando com o tempo curto e meio sem paciência para me deslocar pela cidade em dia de semana.

Aí me lembro que paguei R$ 209 em minha camisa da seleção argentina. Uma camisa, com talvez um décimo da quantidade de tecido utilizado no terno, custando praticamente o mesmo valor. Lógico que o leitor pode afirmar que a camisa é igual à de jogo, que há alta tecnologia envolvida, mas sinceramente é sinal de algum tipo de distorção nos preços relativos.

Obviamente, quando se adquire uma camisa de um clube ou de uma seleção também se adquire o direito de usar aquelas cores, o percentual que reverte à instituição, etc e tal. Entretanto, eu não consigo conceber que uma camisa destas custe mais do que R$ 60 em seu custo de produção. E olha que para o caso de roupas produzidas na China e no Sudeste Asiático – o que não é o caso – estas são produzidas com trabalho praticamente escravo – abordei o tema na resenha de “A História Secreta do Capitalismo Americano”.

A conclusão a que chegamos é que, na prática, acabamos pagando por um “valor de marca” intangível representada pelas fabricantes de artigos esportivos. Isso pode ser verificado pelo caso de que a Nike, fornecedora oficial do Flamengo anteriormente, não fazia a menor questão de vender camisas. Para ela patrocinar o clube mais popular do Brasil era um ganho de imagem significativo, mas a receita marginal de uma camisa vendida a mais não a interessava.

Isso pode ser medido pelo fato de que a linha colocada à venda se resumia às duas camisas oficiais, uma de treino, uma de passeio e, no máximo, uma de goleiro. Outros materiais, quando vendidos, eram “sobra” do que era destinado ao clube. E fora do Rio e de mais duas ou três cidades era quase impossível achar os artigos, o que impulsionava o consumo de produtos piratas. Até aqui houve uma época em que os artigos escassearam.

Outra medida é o verdadeiro boom de vendas experimentado pela Olympikus, atual patrocinadora. Um milhão e meio de camisas vendidas em treze meses. Ao contrário da Nike vender camisas está no “core business” da empresa, que soube explorar uma demanda fortemente reprimida pelos produtos. Entretanto, uma vez mais a camisa em termos de tecido e custos físicos não vale os R$ 169 pedidos, sem personalização de nome e número. Vale pelo orgulho de ser rubro negro.

Isto demonstra uma distorção clara nos preços relativos, engendrada por valores agregados por marcas e por preferências do consumidor. A demanda por este ou aquele produto afeta a relação de preços da Economia, que denota o valor que uma sociedade confere a cada bem ou serviço ofertado. Esta relação de preços é chamada de “preço relativo”.

Alterações nos preços relativos de uma Economia são sempre lentas e refletem alterações de preferências do indivíduo impactando a demanda. Outra possibilidade é a eventual escassez de um determinado produto que faça o seu preço subir – seria uma espécie de “inflação localizada”. A terceira possibilidade é um processo hiperinflacionário, mas neste caso os preços relativos alteram-se bruscamente como reflexo do descontrole econômico. Em condições normais são mantodos estáveis no curto prazo e se movimentam lentamente.

Como complemento, “preço nominal” é o valor do bem ou serviço medido na moeda de troca – no nosso caso, em reais. Apesar de boa parte da sociedade considerar o dinheiro um fim em si mesmo, ele não passa de um facilitador das trocas, servindo como uma espécie de “tradutor simultâneo” das relações de preços expressas pelos preços relativos. É mais fácil escrever que uma camisa do Flamengo custa R$ 169 e um terno R$ 160 do que dizer que uma camisa do Flamengo vale 1,05625 terno – até porque a demanda e o desejo do consumidor por um determinado produto é muito difícil de ser medida sem uma unidade padronizadora. Este é o papel da moeda.

E sim, leitor, você pode me xingar por um arremedo de aula de Economia em plena sexta feira…