Para fechar a série de posts sobre o último final de semana, queria falar sobre algo que, muitas vezes, nos escapa na rotina massacrante do dia a dia. 

Eu passo todo dia na Perimetral, no acesso à Ponte Rio-Niterói, vindo da Leopoldina. Só que ao invés de seguir em frente para atravessar a Ponte, caio à esquerda para pegar a Avenida Brasil e, logo depois, a Linha Vermelha.

Na sexta feira, eu viajei de ônibus para Macaé, e o fato de não estar dirigindo com a mudança de perspectiva – sentado em uma poltrona, você está bem mais alto que no volante de um carro – me chamaram a atenção para uma série de coisas que, normalmente, não reparo. 

Um bom exemplo é o porto do Rio (foto). Passo ali em frente todo santo dia, mas jamais havia reparado, por exemplo, na quantidade de carros que ficam estacionados para exportação no pátio do porto. Em especial Fiats e Peugeout/Citroens, basicamente enviados para a Argentina. 

Pena que eu estava sem a máquina, porque a cena é impressionante: deveria haver uns dois ou três mil carros esperando para serem carregados nos navios. Olhando do alto, fica mais espetacular ainda o cenário.

Outra perspectiva é andar na faixa da direita da Ponte Rio Niterói: como você está mais alto que a mureta, só vê água lá embaixo. Assumo: deu medo.

À medida que se percorre o trajeto, notamos outras coisas que nos passam, normalmente, às carreiras: é a comunidade e sua luta diuturna pela sobrevivência, é a empregada que desce da condução na beira da estrada e caminha rumo a seu lar, é a criança soltando inocentemente a sua pipa…

Muitas vezes, passamos pela vida e pelos anos sem nos dar conta, decididamente, de tantos ingredientes legais e poéticos que estão ao nosso lado e não consegumos visualizar. Naquela rotina louca de “tudo ao mesmo tempo agora”, de encaixar cada vez mais responsabilidades em um tempo cada vez mais exíguo… acabamos desviando o foco do que, certamente, merece um olhar.

Nós nos desgastamos por tão pouco, brigamos por tão pouco, não vemos o sofrimento aos nossos pés; passamos, pisamos e desprezamos semelhantes, paisagens, fatos e curiosidades que apenas nos imploram um olhar. 

Queremos apenas a vitória. Enquanto isso, o ser humano deixa marcas indeléveis pelo caminho, marcado pela busca cega de provar que é o maioral.

Vale a pena ? 

Olhemos para os lados, mudemos as nossas perspectivas. Antes que seja tarde e tenhamos, a nosso lado, apenas a sombra do esquife mortuário.
(Foto: Cia Docas)