Sou fã do técnico René Simões desde o trabalho que ele fez para levar a Jamaica à Copa do Mundo. Embora jamais tenha sido técnico do Flamengo (teve uma curta passagem como gerente geral em 2000), já venho acompanhando sua carreira há algum tempo.

Minha admiração aumentou ao ler o livro que ele escreveu sobre a campanha vitoriosa do Coritiba na Segunda Divisão de 2007. Este mostra bem o trabalho “por dentro” de um clube e muitos detalhes que, nós torcedores, sequer sabemos que existem, mas que são fundamentais na diferença entre a conquista e o fracasso.

Pois bem. René Simões teve duas atitudes dignas de aplausos entre a noite de anteontem e a tarde de ontem, quarta feira. A primeira foi denunciar os dois conselheiros – e ‘torcedores’ – da Lusa que foram ao vestiário do Canindé ameaçar jogadores e o próprio técnico, de arma em punho, após a derrota para o Vila Nova.

A segunda foi imediatamente pedir demissão por não concordar com o fato, mesmo sabendo que poderia ficar “queimado” no mercado. Mostrou caráter, princípios e coragem.

O curioso é que o próprio Simões, no livro citado, diz que o torcedor da Portuguesa é o mais chato do país, por reclamar mesmo que o time ganhe.

Quem acompanha futebol sabe que tem muito dirigente que dá dinheiro para torcedor a fim de não ser vaiado nem sofrer eventuais cobranças em cima dos fracassos. Existem muitos torcedores “profissionais” que vivem disso, de agitar e acalmar a massa.

Esse relacionamento promíscuo entre dirigentes e alguns chefes de torcidas é fonte de muitos desmandos envolvendo os times de futebol brasileiros. Quando interessa, ocorre algo como o ocorrido no Canindé.

Que fique claro: não sou contra as torcidas organizadas, muito pelo contrário. O que deve ser feito é uma “limpeza” nelas, separando o joio do trigo, e, especialmente, coibir estas relações incestuosas entre dirigentes e certos torcedores.

Enquanto isso não acontece, parabéns, Renê Simões.

Para encerrar, reproduzo abaixo a nota oficial em que o técnico anuncia sua decisão:

“O triste episódio de violência que aconteceu na Portuguesa deve servir de alerta para os clubes nacionais: os profissionais precisam de segurança. Trata-se de um esporte em que não só a integridade física é, obviamente, fundamental, mas em que a psicológica tem papel igualmente importante. Os treinadores não são somente responsáveis por orientar sua equipe, mas também por exigir que as condições de trabalho básicas sejam oferecidas. Afinal, que espécie de rendimento se pode esperar de atletas que se sentem ameaçados enquanto dão o melhor de si? Por sorte, ninguém se machucou e, para evitar que isso aconteça, é preciso impedir esse tipo de manifestação.

A exemplo do técnico Vanderlei Luxemburgo, que se recusou a sair pela porta dos fundos do aeroporto, decidi que a única forma de manifestação efetiva seria deixar o comando do time. Trata-se de uma equipe composta por jogadores que respeito, acredito e admiro. E mesmo consciente de que a atitude desse pequeno grupo não corresponde ao comportamento da torcida da Portuguesa, que apoia e respeita os profissionais envolvidos com o clube, o esporte brasileiro precisa acompanhar a realidade atual e se tornar seguro e profissional.”