O Maurício em outro comentário expressou que considerava “moda” o culto a São Jorge aqui no Rio de Janeiro. Vamos falar um pouquinho sobre isso.

23 de Abril, dia de São Jorge, é feriado na cidade do Rio de Janeiro há três ou quatro anos. Na prática, é um feriado umbandista, dedicado a Ogum – no sincretismo da umbanda carioca, é o Orixá associado a São Jorge. Tanto que o autor da lei, o Deputado Jorge Babu, é ligado à religião.

Pessoalmente, não acredito que seja uma “moda”. Como sabem, fui criado em Cascadura, perto da Matriz de São Jorge, em Quintino. E todo 23 de abril era impossível passar por ali, porque ficava muito cheio. A devoção é tanto dos umbandistas quanto dos católicos.

Acredito que esteja mais presente na mídia devido ao fato de se tornar um feriado, não por ser um modismo ou algo parecido. Chama mais as atenções sobre si.

Me recordo que, quando a Império da Tijuca homenageou São Jorge em seu enredo (2007), foi uma comoção muito grande na Sapucaí. Na hora do “esquenta”, que foi o samba do Zeca Pagodinho, o único pastel que não sabia cantar era eu…

Outro ponto que queria abordar, levantado pelo pesquisador Reginaldo Prandi no livro “Segredos Guardados”, é a questão do sincretismo como limitador do crescimento das religiões afro-brasileiras.

A tese que o autor defende é que o sincretismo religioso, por um lado, subverteu a teologia do Candomblé, e por outro, limitou o seu crescimento, porque muitos adeptos e adeptos potenciais acabaram no Catolicismo.

No Candomblé tal como vindo de suas raízes africanas, as noções de “bem”, “mal”, “céu” e “inferno” não existem tal como no Catolicismo. Além disso, o orixá Exu tem a missão de mensageiro, sem sofrer o processo de demonização progressiva para sua adaptação à teoria católica.

O autor defende que a Umbanda acabou como uma “adaptação” carioca entre o Candomblé e o Catolicismo. Em sua opinião o sincretismo foi prejudicial, no sentido em que distorceu o sentido de sua teoria religiosa.

Outros pontos abordados são a mudança da “regência” dos Orixás e as condições das religiões afro-brasileiras, especialmente o candomblé, para disputar no “mercado” das religiões.

Este é um tema que nem de longe se esgota. Peço desculpa aos adeptos se cometi alguma incorreção.

Para saber mais: http://www.submarino.com.br/produto/1/295548/segredos+guardados

Foto: carro alegórico de São Jorge, Império da Tijuca, 2007. Crédito: Tito Jorge