Faz seis meses e, neste mesmo espaço, lamentei a partida precoce de um jovem amigo talentoso, humano, especial. Era um 24 de maio e a mensagem no celular me deixou atônito. Não pode ser o Pedrinho. Era.

Neste 29 de novembro a notícia, inacreditável, veio pela voz de um taxista. Muito cedo. Tudo. Todos. Eram 6h30 da manhã. Ouvir, ler, não ligar os fatos aos nomes, os nomes aos fatos.

Então, é isso? Um avião que levava um time profissional, da primeira divisão do futebol brasileiro, rumo a uma decisão de Copa Sul-Americana simplesmente fica sem combustível e cai?

A gente, jornalista que é, acaba lendo, se informando, indo atrás da notícia. Mas não é sobre investigações que eu escrevo. Queria escrever para desabafar mesmo. Para deixar registrado. Para que, se apenas uma pessoa ler, essa pessoa saiba que esse #somostodoschape é sincero. Somos. De verdade. Somos todos dor por quem estava lá.

O acidente estúpido que tira a vida de tantos atletas… Do Caio, cara bacana com quem convivi nas passagens que ele teve pelo futebol carioca, do Anderson, filho desse guerreiro chamado Paulo Paixão, que perde o segundo filho, nessa inversão da ordem natural da vida, já seria chocante por si só.

Mas a queda do avião em Medellín também nos levou colegas de profissão e, no meu caso, amigos. De novo. É desses caras que eu queria pedir licença pra falar.

https://www.youtube.com/watch?v=rDvOhAbFaAo

O Deva, voz privilegiada, eu não via faz algum tempo. Mas gostaria que ele soubesse que foi muito inspirador no meu início de carreira no Sportv. Nas primeiras e inseguras transmissões de um inseguro repórter. O Paulo Julio, uma referência. Daquela turma só um pouco mais velha mas que a gente admirava pra caramba. Ele, Mauricio Fonseca, o Barreto, o Marcio Tavares, Penidão.

O Victorino, nosso Vitu…ah! O Vitu era uma figura. Daquelas que a gente já abre um sorriso largo quando encontra por acaso, no frenético dia a dia das coberturas. Quando ele entrou no Sportv eu já tinha saído. Então, na prática, éramos mais parceiros de rua que de redação. Eu sempre brincava com ele sobre o dia em que o veria de meias (o Vitu gostava de usar um mocassim sempre sem meias, jamais o vi de tênis). E ele sempre dizia: Gilzão (chamava quase todo mundo pelo aumentativo), quando é que a gente vai tomar aquele vinho de novo?

Pois é, Vitu. Aquele que tomamos em Teresópolis ou em Itaipava, naquele dia em que fomos entrevistar o Rodrigo Pessoa, lembra? Rapaz, faz tempo. E a gente acha que foi ontem. Foi nada… O que dizer da China, Vitu? Porra, cara, a gente riu demais naquela Olimpíada. Eu, você, o Fernandinho, o Eric e o Maurão.

https://www.youtube.com/watch?v=MHZmX6I-hnk

O Ari era aquele cinegrafista de São Paulo que transformava a cor do céu. Um mito. Quando ele veio pro Rio e passamos a trabalhar mais próximos, o conheci mais de perto… Na boa, era o gênio humilde, o matuto cientista. Se o carnaval teve no Max o mago das cores, o mago das cores na tv era o Paca. O Ari provou pra qualquer um que grandes profissionais não precisam de nenhuma marra.

O Van der Laars eu conheci no início da carreira. Eu e ele começando. Mas ele com dois ou três anos a mais de experiência. Convivemos como colegas em diversas coberturas, nos enfrentamos em várias peladas e alguns amigos que eram bem próximos a ele só falavam bem do cara. E nem tinha como falar mal. O Guilhe Guerreiro, apelido do futebol, tinha aquele jeitão de ser do bem, sabe? Em 2011 o Van Der Laars veio trabalhar com a gente e tudo o que eu achava dele de longe confirmei de perto. Ao conhecer a história de vida dele ficou plenamente justificado o “Guerreiro” dos campinhos de pelada. Carol, Lipe, Tomás, o terceiro herdeiro dessa alegria que vem aí… Vocês são abençoados de terem convivido todos os dias com o Guilherme.

salgueiro2012cJá o Guilherme mais novo, o Marques, me deixa com o coração partido de vez. Moleque bom, cara. Muita gente, quando perde um amigo, se lamenta por talvez não ter dito o que queria, não ter dado um abraço ou falado algo bonito. Fico feliz, em meio a tanta tristeza, de nunca ter deixado de atender uma ligação do Gui Marques quando ele queria dividir uma angústia sobre uma pauta, perguntar o que eu achava de determinado texto, ou só para perguntar se eu já tinha escutado o samba da Alegria da Zona Sul para o carnaval do ano seguinte.

De todos os meus amigos repórteres, na redação da Globo, o Guilherme era com quem eu mais conversava sobre samba e carnaval. Somos dois apaixonados por samba enredo, escola de samba, carnaval. Faz uns dois anos ele me deu de presente um pen drive com centenas de sambas gravados.

Na sexta-feira da semana passada, dia 25, foi aniversário dele. 28 anos. 28… Eu fiz quarenta duas semanas antes e me acho jovem. Gente, o Gui tinha 28 anos e tão decidido, determinado, sem perder o ar sonhador de quem está nos anos mais saudáveis e cheios de planos.

Mas, voltando, era aniversário do Guilherme e ele tinha comentado comigo que, depois de muitos anos, estava atrasado na audição dos sambas de 2017. Olimpíada e depois ele saiu de férias, fez uma viagem super planejada (para a qual eu dei várias dicas, um dos meus passatempos, bancar agente de viagens) e, enfim, não tinha dado a atenção de sempre aos sambas concorrentes e aos escolhidos.

Me passa teu gmail, aí, prefeitinho (a gente chamava o Gui assim por suposta semelhança física com o Eduardo Paes). Mandei os áudios todos, Especial e Série A. Vai escutando na viagem pra Colômbia e me diz o que achou na volta. Mas já te adianto… O samba do teu Salgueiro podia ser melhor. Embora tenha uma parte que eu ache muito linda. Mas depois você me diz o que achou.

Amigo, eu gosto do trecho que diz que a baiana vai girar e transformar o céu num terreiro.

Em fevereiro você não vai estar lá na Sapucaí mas sei que, ao se tingir de vermelho, a avenida terá um pouco dessa paixão que você tinha pelo Sal, pelo samba, pelo esporte, pela profissão, pela vida.

Imagens: Globoesporte.com e Arquivo Ouro de Tolo

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One Reply to “29 de novembro”

  1. Caramba… achava que já tinha chorado o suficiente em função dessa tragédia mas esse texto foi demais. Escrito com o coração. Obrigado por dividir isso conosco, leitores. abs e fique com Deus.
    Marcelo Guedes

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