Apesar do título e do meu erro crasso no palpite de segunda-feira, quem leu a coluna já sabia que a eleição de Trump não era mais impossível, mesmo que razoavelmente improvável pelas pesquisas.

Mas o que ocorreu? Por que Trump ganhou no colégio eleitoral? Como Clinton era a favorita, usarei o ponto de vista da campanha dela: como Clinton perdeu?

Poderíamos dizer que ela não foi capaz de ganhar a Flórida em uma disputa apertada e, por isso, perdeu. Poderíamos dizer que ela não teve um comparecimento forte de eleitores negros democratas na Carolina do Norte e por isso perdeu.

Mas isso não é a verdade. Como escrevi na coluna de segunda-feira, Clinton poderia perder nesses 2 estados, que realmente estavam com pesquisas apertadas, que ainda sim ela poderia buscar a proteção no”muro azul”, que sozinho tinha 272 votos no colégio eleitoral. Então, o que houve com esse “muro”?

15mar2012_1331863870438_956x500Ele simplesmente desmoronou no meio-oeste industrial.

Como já havia escrito, esse muro corria riscos em Michigan e Wisconsin. Foram esses dois estados que retiraram 26 votos no colégio eleitoral do “muro”. O mais impressionante é que, apesar das pesquisas darem Wisconsin como mais seguro para Clinton do que Michigan, enquanto Wisconsin já foi projetada para Trump, no momento que escrevo com uma diferença de 1% (ou 20 mil votos), Michigan ainda está processando os votos finais sem projeções. A diferença de Trump é de 0,3% nesse momento, mas ainda há possibilidades de virada de Clinton com alguns votos do condado de Washtenaw.

Ainda sim, na minha humilde opinião, não foram esses dois estados sozinhos que determinaram a sorte de Clinton. Foi a vizinha Pennsylvania.

Se Clinton eventualmente perdesse Wisconsin e Michigan, ela poderia recuperar esses votos com uma vitória na Flórida, que realmente era possível, mesmo que não tenha ocorrido. O problema foi quando Clinton perdeu, para surpresa de todos, a Pennsylvania para Trump.

A Pennsylvania é um daqueles campos de batalha clássicos. Porém, apesar de pequenas diferenças, ela sempre teve uma tendência democrata. Nas últimas 7 eleições presidenciais, os democratas ganharam a Pennsylvania. Ontem, essa sequência foi quebrada.

Com um comparecimento acima do normal nas zonas rurais do estado, somado a uma vitória democrata mais fraca do que a de costume nos subúrbios da cidade de Philadelphia, Trump derrotou Clinton por 1% de diferença no estado.

Ou seja, toda aquela área industrial do meio-oeste americano, com uma população sem ensino superior e em crise com os fechamentos das indústrias da região foi fundamental para a vitória de Trump no colégio eleitoral.

us-republican-presidential-nominee-donald-trump-holds-election-nNessa área, Indiana, onde Obama havia ganho em 2008, já se sabia que apoiaria fortemente Trump. Ohio e Iowa também apoiaram de forma mais forte, como as pesquisas previram nas últimas semanas. Wisconsin, Michigan e Pennsylvania saíram de longo período de vitórias democratas. Por fim, a democratíssima Minnesota está tão apertada que quase 24h após o fechamento das urnas, ainda não podemos garantir a vitória de Clinton lá, apesar dela estar na frente.

No voto popular, Clinton não foi tão mal quanto parece. Ela superou as expectativas em vários estados, muitos deles altamente populosos como New York, Maryland, Texas, Georgia e Arizona.

Porém todos eles são estados fortemente democratas ou republicanos. Esse desempenho ou diminuiu a vantagem de Trump em relação ao histórico, ou transformou uma eleição fácil em massacre. Porém não foi capaz de mudar um voto sequer no colégio eleitoral, pois não mudou o vencedor em nenhum desses estados.

O resultado final dessa matemática descompensada é que mais uma vez um candidato ganha no colégio eleitoral e outro candidato ganha mais votos populares. Nesse momento Clinton tem 47,7% dos votos e Trump apenas 47,5%, sendo que essa vantagem deve aumentar para 0,3% ou 0,4% a medida que os votos dos estados da Califórnia e Washington terminem de entrar na contabilidade durante os próximos 2 dias.

Ou seja, tal movimento de divisão entre vitória no colégio eleitoral e vitória no voto popular ocorreu apenas pela 5ª vez na história americana de 220 anos. Porém, já é a 2ª vez em apenas 16 anos que tal fenômeno ocorre e a medida que a demografia americana está se desenhando para o futuro, essa divisão tem grandes chances de ocorrer mais vezes. Isso poderá gerar grandes questionamentos internos nos EUA sobre que tipo de democracia o país tem.

Faço um parêntese aqui para dizer que há inúmeras especulações sobre o futuro da nação americana, mas a intenção do artigo é entender o que ocorreu anteontem e não tentar adivinhar o que ocorrerá amanhã e pelos próximos anos.

Esse tópico da votação popular nos traz outra indagação: o que está ocorrendo com as pesquisas de opinião política? Na segunda-feira quase todas elas convergiram para situar a vantagem em 4% na votação popular para Clinton. Não obstante, o que vimos foi um erro de 3,5%, no limite da margem de erro, margem essa que deveria ser menor a partir do momento que pesquisas de diferentes metodologias apontam para resultados parecidos.

Essa não é a 1ª vez que elas erraram nos últimos tempos: já foi assim no BREXIT, no plebiscito do acordo de paz colombiano, nas eleições americanas de 2014 e em algumas eleições aqui no Brasil em 2014 e 2016. É a hora dos diferentes pesquisadores sentarem, se perguntarem e discutirem o que está havendo.

Por fim, devo tirar meu chapéu para Michael Moore (aquele de Tiros em Columbine, Capitalismo, Uma História de Amor e Fahrenheit 11 de Setembro). Ainda em julho, ele escreveu esse texto explicando as 5 razões pelas quais Trump ganharia. Pela análise inicial dos dados, ele cravou todas. Especialmente a do corredor Green Bay – Pittsburgh.

Em tempo: essa onda pró-Trump no meio-oeste também ajudou os candidatos republicanos no senado e o partido garantiu a maioria no Senado e na Câmara dos Deputados. No Senado está 51 a 47 com 2 cadeiras indefinidas e para a Câmara dos Deputados 238 a 193 com 4 cadeiras indefinidas.

Imagens: Getty, Uol e O Globo

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2 Replies to “O Impossível Aconteceu… Trump Presidente”

  1. As pesquisas precisam passar a representar a verdade e não os interesses de quem as patrocinam. Basta observar que todas as pesquisam sempre “erram” favorecendo a esquerda ou os interesses globalistas. Nunca erram para a direita, né?

    Ah, e você esqueceu de mais uma pesquisa que errou bisonhamente: o plebiscito do desarmamento!

    Abraços.

    1. As pesquisas erraram feio em New Mexico e Nevada a favor de Trump…

      As pesquisas erraram porque erraram mesmo. Não pesaram corretamente o comparecimento dos eleitores das areas rurais do meio-oeste, erraram porque não captaram a tendência dos trabalhadores de menor escolaridade. Ou, no caso de New Mexico e Nevada porque não estimaram a avalanche de votos latinos.

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