Antes do que imaginava, volto à questão da venda de ingressos para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Mas explica-se: anteontem matérias dos portais Globoesporte.com e Lance trouxeram a revelação de que 14 das 32 arenas não terão os lugares para os espectadores totalmente marcados.

Segundo o divulgado, todas as arenas de Deodoro, todos os pavilhões do RioCentro e o Sambódromo terão a totalidade de seus lugares sem marcação determinada de assento. Além disso, setores mais baratos do Engenhão – a matéria do GloboEsporte.com não diz, mas acredito serem os setores C e D – também não terão a localização exata do lugar no ingresso.

Como irá funcionar? Segundo o que foi divulgado, os ingressos destas arenas terão apenas os setores determinados. Dentro de cada categoria de preço há a divisão em blocos de lugares, denominados setores, que determinarão a posição na instalação olímpica.

Nas arenas onde houver a marcação de lugares, os ingressos virão com três informações: o setor dentro da categoria de preço escolhida, a fila onde estão alocadas as entradas e a cadeira em si. Nestas 14 instalações o ingresso virá apenas com a indicação de setor, sem fila e assento – que serão ocupados por ordem de chegada.

engenhão pan 2007Segundo o Comitê Rio 2016, a medida foi tomada devido a dois fatores: à redução de custos e especialmente do número de voluntários derivada desta redução (de 70 mil para 50) e a algumas dificuldades técnicas enfrentadas no processo de alocação de lugares para os ingressos.

No primeiro caso, um menor número de voluntários significa menos gente disponível para orientar as pessoas a chegarem em seus lugares marcados, o que, na avaliação do Comitê, poderia causar algum tipo de transtorno na chegada aos lugares. No segundo, de acordo com a própria Organização os ingressos precisam ser impressos e estas indefinições técnicas estavam atrasando o processo.

Obviamente não é o ideal se fazer inferências, mas nós compradores de entradas recebemos um email dizendo que a partir do dia de ontem, 25 de fevereiro, compras de ingressos pagariam uma segunda taxa de entrega e seriam entregues nas residências em um segundo pacote. Entretanto, ontem ainda consegui comprar entradas sem o pagamento desta segunda taxa, sinal de que os ingressos ainda não foram impressos e/ou separados para entrega. Ou seja, é possível que estas questões técnicas realmente tenham atrasado o processo que, por si só, já demanda uma logística imensa.

Também nas matérias o Diretor de Comunicações do comitê, o jornalista Mario Andrada e Silva (quem acompanha Fórmula 1 e está na minha faixa etária deve se lembrar dele, cobria a categoria para o Jornal do Brasil) negou que tal medida tenha sido tomada em esportes com menor apelo a fim de evitar que haja espaços vazios nas arenas aparecendo nas transmissões televisivas, tal como ocorrido em Londres. O Diretor afirmou que isso será feito de outra forma – o que abre a possibilidade, em meu entendimento, para a distribuição de ingressos gratuitos ou subsidiados mais perto dos jogos.

Contextualizado o assunto, hora de analisar as razões e consequências.

22-Deodoro-Arena-da-Juventude-Credito-Renato-Sette-Camara-Prefeitura-do-RioA escolha das arenas do Complexo de Deodoro como instalações sem lugares marcados me parece razoável. É o lugar mais distante do Centro do Rio e acredito que deva ter sido o mais afetado pelo corte de voluntários, até por representar uma economia maior em termos de transporte. Além disso, à exceção das instalações do hipismo (14,5 mil lugares) e do estádio que será utilizado pelo rúgbi e pelo pentatlo moderno (14 mil), todas as demais arenas do complexo tem menos de 10 mil lugares, o que torna menos complexa a operação.

Mesmo a Arena da Juventude (acima), que sediará a primeira fase do basquete feminino e a esgrima do pentatlo, possui apenas 5 mil lugares, o que torna mais fácil a administração desta questão. Até porque acredito que os setores serão pequenos e bem demarcados, o que facilita a questão.

É uma outra questão, a propósito: haverá algum tipo de separação física entre os setores nestas arenas? Não havendo, sem lugares marcados pode tornar inócua a marcação dos ingressos por setores, pois o número de voluntários certamente não será suficiente para forçar eventuais “espertinhos” a se direcionarem aos setores corretos. A não ser que tomem um bloco de cadeiras inteiro como um setor, o que aliás parece ser a solução de menor custo – mas de menor conforto também aos espectadores.

20160209_023351O Sambódromo é outra instalação onde a não marcação de lugares parece bastante razoável. Ao que consta, não haverá instalação de cadeiras nos setores de arquibancadas utilizados, apenas nas frisas dos Setores 12 e 13. Iria se pintar lugares nas arquibancadas para a marcação? Pouco provável. Resta saber apenas como será a setorização, em especial no 12 e no 13 já citados.

O Riocentro e seus quatro pavilhões também não terá lugares marcados. Não serão estruturas muito grandes – o maior deles terá 9 mil lugares – e certamente o fato de hospedar esportes sem muito apelo popular em terras brasileiras (apesar do surpreendente esgotamento de ingressos de diversas sessões do badminton) acabou influenciando bastante nesta decisão.

O caso do Engenhão me parece um pouco diferente. Primeiro há o complicador de sua capacidade: são 60 mil lugares à disposição. Segundo: as categorias de preço são diferentes entre o futebol e o atletismo. Este último tem uma categoria a mais e sua categoria B em parte é A no futebol, bem como há intersecções entre categorias B e C – e a C do futebol vira D no atletismo. Aí se precisaria saber quais categorias não terão marcação de assentos – eu apostaria que a C no futebol e C/D no atletismo – para se ter uma noção mais precisa.

Entretanto, para o tamanho da arena e o número de lugares, penso que esta decisão trará certos percalços durante os dias de competição.

20160221_141647Outra questão que parece ter influído na decisão de quais arenas não teriam os lugares marcados foi o preço dos ingressos. No Complexo de Deodoro o ingresso mais caro é o da final de saltos do Hipismo, que custou R$540 na categoria A – atualmente todos esgotados. Nenhuma das arenas onde os ingressos custavam mais que isso (a esmagadora maioria delas no Parque Olímpico) foi alvo desta medida – e mesmo no Engenhão ao menos a categoria mais cara, que chega a custar R$1,2 mil em algumas sessões, terá lugares marcados.

Um bom exemplo é o Maria Lenk, onde estive no último domingo (abaixo). São pouco menos de 6 mil lugares divididos em dois blocos de cadeiras, onde o evento sem lugares marcados funcionou a contento. Mas como cobrar R$900 em uma categoria A sem ter ao menos lugar exato assignado? No mínimo bastante complicado. O curioso é que as preliminares do polo aquático no mesmo lugar tem categoria única e, até onde se sabe, terão cadeiras exatas. Outros bons exemplos são o Velódromo e a arena temporária do vôlei de praia.

Para o espectador é claro que pode haver algum transtorno, especialmente se estiver sozinho e se precisar ir ao banheiro, por exemplo – o risco de voltar e encontrar a cadeira ocupada é alto. Mas vale ressaltar que a cultura de lugares marcados no Brasil é bastante recente, embora ao menos no Maracanã tenha “pegado” após a Copa do Mundo.

20160221_135208Enfim: em um evento extremamente complexo e em um contexto de retração econômica, simplificações e adequações são perfeitamente compreensíveis. Só não entendi as declarações do Diretor de Comunicação no sentido de que a não marcação “facilitaria a saída das arenas”: afinal de contas sai todo mundo junto ao final e ter lugar marcado ou não não faz diferença neste caso.

Finalizando, antes que o leitor pergunte, tenho três sessões nesta condição: duas do basquete feminino na Arena da Juventude e uma do atletismo no Engenhão. Para esta última a medida até me facilitou a vida, pois tenho entradas adquiridas em duas contas diferentes e talvez dê para ficar todo mundo junto. Aguardemos a impressão e entrega dos ingressos.

Imagens: Rio Media Center e Arquivo Ouro de Tolo

Atualização 08/03: matéria do Uol publicada nesta data indica que apenas o Setor D do Engenhão não terá lugares marcados – ou seja, para o futebol o estádio terá sim as cadeiras indicadas nos ingressos.

14 Replies to “Lugares Marcados Ou Não?”

    1. Prezado, infelizmente não se pode agradar a todos. Espero que a foto não tenha desviado a sua atenção do texto, que é o realmente importante. Saudações.

  1. Pedro, a chance de ter distribuição de ingressos gratuitamente para os esportes menos procurados é gde. No guia de revenda de ingressos está explícito q se vc colocar p/ revenda e o ingresso ñ for revendido, a organização tem o direito de disponibilizar gratuitamente este seu ingresso a quem lhe convier.

    1. Ricardo, obrigado pelo comentário.

      Acho mais fácil distribuírem entradas que não tenham sido vendidas de forma primária, e não colocadas para revenda. Até porque o comprador tem a opção de resgatar estas entradas colocadas para revenda até três dias antes do evento.

  2. No Pan, principalmente, aliás, no Parapan, lembro que distribuiram vários ingressos ali na Central. Era só chegar e buscar. Pena que não estarei de férias, se não iria em absolutamente tudo :D

    1. Vou tirar férias só nas Olimpíadas, na Paralimpíadas já estarei trabalhando. Mas acho possível acontecer isso mesmo, ainda mais se sabendo que a meta de areecadação com ingressos do Comitê está bem acima da meta de vendas físicas de ingressos.

  3. Olá. Estou comprando ingresso pro jogo de basquete masculino, na arena carioca 1. O ingresso vem automaticamente numerado (fila, cadeira, etc), portanto não há escolha? É isso?

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