Pela enésima vez desde que os desfiles das escolas de samba existem, o critério de contagem das notas mudou. O número de julgadores aumentou de quatro para cinco, e seriam descartadas a maior e menor notas de cada quesito.

Sem outras mudanças no regulamento, a principal novidade visando ao desfile de 2010 foi na gravação do CD de sambas-enredo. Tentando alavancar a venda, a Gravasamba resolveu mudar totalmente a produção para dar um “clima de avenida” nas faixas: as baterias e os corais de cada comunidade seriam “gravados ao vivo” e só depois as vozes dos intérpretes seriam mixadas.

O resultado seria um tremendo sucesso não fosse por um fator fundamental: praticamente todas as baterias adotaram um andamento aceleradíssimo nos sambas, o que acabou obscurecendo as mudanças. Com o passar dos anos, o novo formato de gravação seria aperfeiçoado.

Falando em sambas, depois de uma safra muito ruim em 2009, houve uma melhora para 2010, sobretudo pelos excepcionais sambas de Vila Isabel e Imperatriz. A primeira, com obra de Martinho da Vila (veja mais nas Curiosidades) para homenagear Noel Rosa, e a segunda, numa exaltação ao sincretismo religioso do Brasil na volta do carnavalesco Max Lopes e do intérprete Dominguinhos, ambos depois de 20 anos.

Campeão de 2009, o Salgueiro teria como enredo os livros. Já a Beija-Flor de Nilópolis exaltaria os 50 anos da capital federal Brasília. A Portela entraria na avenida com uma temática bem diferente da que os torcedores estavam acostumados: a informática e a inclusão digital, com patrocínio da Positivo e “merchan” no samba-enredo.

Falando em “merchan” no samba, a Acadêmicos do Grande Rio faria uma homenagem aos desfiles e personagens mais marcantes do sambódromo num enredo patrocinado pela Brahma e seu camarote número 1. A Estação Primeira de Mangueira, ainda em crise financeira, teria como tema a música brasileira, enquanto a Unidos do Viradouro homenagearia o México.

Envolta em grande expectativa pela volta do badalado carnavalesco Paulo Barros, a Unidos da Tijuca levaria para a Sapucaí um enredo sobre os segredos da história da humanidade e do dia a dia. A Unidos do Porto da Pedra teria como enredo as roupas. Já a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentaria os paraísos idealizados pelo homem, e a União da Ilha, de volta ao Grupo Especial, contaria a história de Dom Quixote de la Mancha e falaria sobre os sonhos impossíveis, inclusive o da própria escola de ficar na elite.

OS DESFILES

A Tricolor insulana, de fato, fez uma agradabilíssima apresentação e a sonhada permanência não era nada impossível – o Migão já escreveu sobre esse desfile no blog. Com um enredo bem desenvolvido por Rosa Magalhães (“Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis”), a Ilha mostrou a leveza característica de seus desfiles e o requinte habitual nas alegorias e figurinos desenvolvidos pela carnavalesca.

Agradou a comissão de frente formada por toureiros, que jogavam rosas para o público. O bonito abre-alas tinha um Dom Quixote gigante, cheio de livros em volta. No elemento seguinte, o fiel escudeiro Sancho Pança pulava numa cama elástica, em belo efeito. Mas o destaque foi o quarto carro, no qual as lutas de Dom Quixote contra os moinhos de vento foram mostradas.

Houve ainda alguns momentos de tensão, com um acidente no veículo que transportava baianas. Apesar de 12 senhoras terem se ferido, a ala acabou desfilando sem problemas. Outro susto foi quando uma alegoria teve dificuldades para superar o famoso viaduto que fica no entorno do sambódromo. Mas a evolução não chegou a ficar comprometida.

Já o samba-enredo, que tinha os versos “Voltou a Ilha / Delira o povo de alegria”, funcionou bem e os componentes tiveram boa harmonia. O cantor Ito Melodia teve ótima atuação e seria contemplado com o Estandarte de Ouro de melhor intérprete. A Ilha terminou seu desfile com a certeza de ter cumprido um bom papel, e, apesar de sempre os jurados canetarem as escolas que abrem os desfiles, havia boas perspectivas para a apuração.

Já a Imperatriz Leopoldinense teve uma apresentação bem irregular com o enredo “Brasil de Todos os Deuses”, do carnavalesco Max Lopes – o Migão também escreveu sobre o desfile no blog. Apesar da beleza de alegorias e fantasias, o desfile teve visíveis problemas nos quesitos Harmonia e Evolução, esta sobretudo prejudicada pelo gigantismo do abre-alas, muito difícil de ser manobrado pelos diferentes elementos acoplados, que teimavam em não ficar em linha reta devido a um problema no projeto.

De qualquer forma, essa alegoria, chamada “Coroa das Divindades”, era lindíssima, toda em branco, com cavalos alados ladeando a coroa, símbolo da escola. Outra alegoria que demorou a ser manobrada, mas era linda, chamava-se “Terra de Tupã”, com muitos índios e uma enorme escultura do deus Tupã. Os demais carros e fantasias agradaram, com uma divisão cromática valorizando o branco, o dourado e o verde.

Mas o excelente samba-enredo (que derrotaria o da Vila Isabel na duríssima briga pelo Estandarte de Ouro) não rendeu o que dele se esperava tanto para os desfilantes como para os espectadores, mesmo com a fabulosa bateria de Mestre Marcone dando mais um show. Apesar de bela, a Imperatriz deixou a avenida com a expectativa de brigar, com boa vontade, no sábado das campeãs, até porque correu demais no fim para não estourar os 82 minutos.

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Terceira escola a desfilar, a Unidos da Tijuca fez uma apresentação extraordinária para se colocar como favorita ao campeonato, mesmo sendo apenas a terceira a passar no domingo. O carnavalesco Paulo Barros acertou a mão no enredo “É segredo”, aliando criatividade e surpresas constantes ao público, que aplaudiu a agremiação do Borel.

Para começar, a comissão de frente trocava de roupa no meio da pista por seis vezes em cada apresentação, em meio a truques de ilusionismo. Mais surpresas estavam reservadas para o abre-alas, que representava o incêndio na biblioteca de Alexandria. Foram usados 50 turbinas de ventilador e 16 máquinas de fumaça para reproduzir o efeito de incêndio de forma impressionante. Na parte traseira da alegoria, os livros que se tornaram segredos perdidos.

tijuca2010cA segunda alegoria também era brilhante e remetia aos jardins suspensos da Babilônia, com direito a 5 mil mudas de plantas naturais no elemento. Já o terceiro carro lembrava os segredos da arqueologia, com partes giratórias que mostravam faces simbolizando pedaços da história. Outro carro que chamou a atenção foi a que representava o segredo do cavalo de tróia.

Como de costume, Paulo Barros lembrou de personagens da cultura pop. No caso, os super-heróis e seus segredos: o carnavalesco colocou uma alegoria com uma pista inclinada na qual destaques fantasiados de Batman esquiavam e outros vestidos de Homem-Aranha escalavam.

tijuca2010bOutro personagem famoso relembrado foi o cantor Michael Jackson, morto no ano anterior. No caso, um sósia do cantor aparecia dançando “moonwalk” numa alegoria que remetia à famosa, mas secreta, área 51 nos Estados Unidos (complexo militar no qual estariam guardados segredos do país).

As fantasias, assim como as alegorias, mostravam muita criatividade, como na ala sobre mistério do túmulo de Cleópatra e a que mostrava o Triângulo das Bermudas, com estruturas triangulares com várias bermudas penduradas como figurinos.tijuca2010

Outro momento de impacto foi com a bateria, cujos ritmistas estavam vestidos com ternos pretos para simbolizar a máfia americana (e seus segredos) e abriam caminho para um carro antigo (em tripé, claro) passar por eles com a rainha de bateria Adriane Galisteu fantasiada de “dama da máfia”.

Em meio a uma exibição fantástica, apenas um senão: o samba, embora descrevesse bem o enredo, não tinha uma melodia das mais requintadas. A bateria de Mestre Casagrande, apesar de um ritmo acelerado, foi perfeita nas bossas e paradinhas. Um desfile de campeã, em resumo.

Já a Unidos do Viradouro fez uma apresentação muito decepcionante com o enredo “México, o Paraíso das Cores, Sob o Signo do Sol”. Com alegorias sem impacto e criatividade, com direito até a Chapolin, o enredo realmente poderia ter tido um desenvolvimento bem melhor.

Além disso, a divisão cromática pendeu para cores muito escuras em figurinos que, diga-se de passagem, também não eram dos mais inspirados. Aliás, a escola de Niterói passou a impressão de que tinha muito menos recursos do que suas antecessoras, algo surpreendente se analisado o histórico da escola no Grupo Especial.

Para piorar, o samba-enredo era quilométrico e não contagiou nem componentes e nem público – mesmo com o cantor Wander Pires caprichando nos cacos e reverberações. Sem Mestre Ciça, que foi para a Grande Rio, a bateria também não esteve numa noite das mais inspiradas, apesar de uma boa cadência.

salgueiro2010bCampeão de 2009, o Salgueiro fez mais uma exibição de muita qualidade nos quesitos plásticos. Mas desta vez, apesar do sempre elogiável trabalho do carnavalesco Renato Lage no desenvolvimento do enredo “Histórias sem fim”, sobre os livros, a Vermelho e Branco não teve uma passagem tão quente como a do ano anterior e ainda sofreu com alguns problemas que seriam fatais na apuração.

Para começar, o samba-enredo não explodiu, apesar de bastante executado na fase pré-carnavalesca e com um refrão considerado forte – veja mais nas Curiosidades. Além disso, houve problemas visíveis no quesito Evolução, devido à dificuldade para os carros serem manobrados tanto na entrada na avenida como para a saída da pista.salgueiro2010

De qualquer forma foi um desfile muito bonito. O belíssimo abre-alas representava a oficina de Gutemberg e o surgimento da impressão, com a já tradicional exibição de componentes da Intrépida Trupe e ainda de artistas do Cirque du Soleil. A tradicional biblioteca foi representada na segunda alegoria, com concepção e acabamento perfeitos – os componentes ainda jogavam livros para o público.

Agradou bastante o elemento que mostrava o Sítio do Picapau Amarelo, com uma enorme escultura da boneca Emília. O badalado Harry Potter foi simbolizado em outra alegoria com um grande castelo do personagem. As demais alegorias e fantasias multicoloridas também agradaram bastante e representaram obras como “O Pequeno Príncipe”, “Os Lusíadas”, “Os três mosqueteiros”, “Don Quixote” e “Alice no País das Maravilhas”.

Mas, como já descrito, a evolução salgueirense foi complicada e os componentes tiveram de apertar o passo no fim para que o tempo não fosse estourado. Conseguiram. Porém, o Salgueiro terminou o desfile com a típica sensação de que poderia ter feito melhor na avenida.

beijaflor2010Já a Beija-Flor de Nilópolis chegou ao desfile sob críticas pelo enredo sobre Brasília. Afinal, a agremiação recebeu um patrocínio de R$ 3 milhões do governo do Distrito Federal, cujo então mandatário José Roberto Arruda, do DEM, havia sido preso por corrupção. A escola se defendeu e informou que o político havia cumprido o acordado e apenas os aspectos da construção da cidade e do povo candango seriam abordados.

De fato, foi isso que aconteceu, e a Deusa da Passarela fez mais uma exibição muito correta nos quesitos, embora sem o brilhantismo de outros carnavais e sem conquistar o público. Afinal, o clima que precedeu o desfile não era mesmo dos melhores e o samba-enredo, apesar de bem descritivo e com boa melodia, era muito longo (uma característica da escola) e não tinha explosão – a Azul e Branco ainda foi prejudicada por problemas no sistema de som.

De qualquer forma, a bela exibição nilopolitana começou com uma literalmente brilhante comissão de frente, com uma fantasia prateada e luzes coloridas segurando clarins para anunciar um beija-flor, representado por um componente em lilás que saía de um tripé simbolizando a catedral de Brasília. O enorme abre-alas era acoplado e tinha 60 metros de comprimento, com duas enormes esculturas retratando o deus Tupã, a deusa Jaci e o índio Paranoá (nome de um dos lagos de Brasília), com muito neon azul em volta.beijaflor2010b

Já o segundo elemento era todo em dourado e simbolizava a cidade egípcia de Akhetaton, que, segundo a sinopse, guardaria semelhanças com Brasília por ser faraônica e ter sido projetada e concluída em poucos anos. Outro elemento simbolizava a construção de Brasília, com destaques misturados a bonecos para retratar os 65 mil operários que se deslocaram para erguer a nova capital.

Em seguida, foi mostrada a diversidade cultural e do povo candango e a escola encerrou o desfile lembrando a posse de Juscelino Kubitschek, sem contar a história de Brasília consolidada como a capital federal. De qualquer forma, apesar de frio, foi um bonito desfile, que provavelmente credenciaria a Beija-Flor a ficar entre as primeiras colocadas, mas aparentemente sem ameaçar o favoritismo da Unidos da Tijuca.

Depois do péssimo resultado de 2009, a Mocidade Independente de Padre Miguel conseguiu se recuperar e fez um desfile bastante agradável, que a deixou sem o menor risco de rebaixamento. Dada a condição financeira difícil da escola naquele momento, o carnavalesco Cid Carvalho desenvolveu o enredo “Do Paraíso de Deus ao Paraíso da Loucura, Cada um Sabe o Que Procura” de forma bastante correta.

A comissão de frente chamava-se “Anjos – Os guardiões do paraíso” e tinha, além dos anjos, dois bailarinos levados num tripé representando a entrada do paraíso – houve problemas com o elemento, cuja porta não abriu em alguns momentos. O destaque das alegorias foi o lindo abre-alas em dourado e lilás, simbolizando a ligação do paraíso com a imagem da gênesis bíblica.

Na segunda alegoria, foi reproduzido o reino africano de Preste João, onde seria o paraíso na Idade Média. Gostei também do terceiro carro, que mostrava o paraíso tropical, no caso o Brasil. Dali em diante, o carnavalesco abordou o paraíso desvirtuado, como os paraísos fiscais e os shoppings, no caso o paraíso do consumo.

O samba-enredo era marcheado, mas o refrão principal era contagiante e agradou ao público. Os componentes também cantaram com entusiasmo e a escola passou muito bem nos quesitos Harmonia e Evolução. A bateria de Padre Miguel passou um pouco mais acelerada do que o normal, mas ainda assim mantinha cadência aceitável.

A Mocidade saiu da pista de alma lavada por ter deixado para trás o desastre do ano anterior e, arrisco afirmar, por ter feito o desfile mais descontraído, para não dizer descompromissado do ano (ao lado da Mangueira, como veremos mais adiante). Enfim, a escola brincou Carnaval.

Já a Unidos do Porto da Pedra tentou fazer o mesmo, mas não obteve grande sucesso com o enredo “Com que Roupa… Eu Vou? Pro Samba que Você me Convidou”, sobre a evolução da moda. Até que as alegorias e fantasias do carnavalesco Paulo Menezes eram corretas em concepção e acabamento, mas a divisão cromática me pareceu pesada, com muito dourado.

Para piorar, o samba-enredo era fraco e não conseguiu conquistar nem o público nem os próprios componentes que não passaram com grande entusiasmo. O destaque absoluto do desfile foi a bateria do Mestre Thiago Diogo, com excelentes bossas e paradinhas. Mas, como passou melhor do que a fraquíssima Viradouro, o rebaixamento não parecia um fantasma assustador.

Outra que teve uma apresentação para esquecer foi a Portela. O enredo “Derrubando Fronteiras, Conquistando Liberdade…Um Rio de Paz em Estado de Graça!”, dos carnavalescos Lane Santana e Alex de Oliveira, foi decidido muito tarde e o desenvolvimento não foi o mais correto – veja mais no Cantinho do Editor. E, convenhamos, um enredo sobre informática, e com “merchan”, não tem nada a ver com as características da agremiação.

Fato é que o desfile foi todo um equívoco. A começar pelo samba-enredo, um dos mais fracos da história portelense. As alegorias e fantasias tiveram poucos momentos de inspiração, sobretudo os figurinos, que tiveram uma concepção e acabamento muito abaixo do padrão da escola.

De todos os quesitos, a escola só se salvou em Bateria, sempre firme sob o comando do Mestre Nilo Sérgio, e Harmonia, já que os componentes se desdobraram mesmo com as limitações do samba. Com uma explanação confusa do enredo, a Portela só não esteve pior do que a Viradouro, já que os quesitos de pista salvaram.

granderio2010A Acadêmicos do Grande Rio se credenciou à briga pelas primeiras colocações com uma bonita apresentação. O criticado enredo “Das Arquibancadas ao Camarote nº1…Um ‘Grande Rio’ de Emoção na Apoteose do seu Coração”, do carnavalesco Cahê Rodrigues, teve um bom resultado na pista.

O “merchan” da Brahma, em que pese a citação clara no refrão principal, foi desenvolvido de uma maneira que valorizou a história do sambódromo, apesar de licenças poéticas, digamos, como a citação ao enredo “Bum bum paticumbum prugurundum”, do Império Serrano, antes de a pista de desfiles ter sido aberta.

Mas, enfim, vamos ao desfile: gostei muito da comissão de frente que representava a mulata e o malandro típicos do Carnaval, estes vestidos com figurinos espelhados. Detalhe é que entre todas as mulatas da comissão, apenas uma era verdadeira (Cris Vianna) e descia de um tripé para interagir com os demais componentes. Já o abre-alas, com muitas personalidades do samba, tinha o símbolo da escola envolto em muito neon, o que deu bom efeito.

Três carros se destacaram na apresentação caxiense: uma reproduzia a linda alegoria dos huskies siberianos que pegou fogo no desfile da Viradouro em 1992. Outra homenageava o enredo “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”, da Beija-Flor em 1989, com lixo e enormes ratos. E a terceira prestava tributo a Jamelão, com uma enorme escultura do cantor, falecido em 2008.granderio2010b

Outra alegoria que agradou foi a que mostrou os símbolos de todas as escolas do Grupo Especial daquele ano (coroas, tigre, beija-flor, águia, surdo, estrela-guia, etc), além da reprodução da árvore do desfile da Mangueira que homenageou Caymmi em 1986, do garoto do joystick da Mocidade em 1992 e do pensamento dos carnavalescos na fase de criação.

Uma das alas mais legais do desfile foi a “Explosão Barroca de Arlindo e Rosa”, com belíssimas fantasias para lembrar o estilo dos dois grandes carnavalescos. Comovente também foi a passagem de Joãozinho Trinta, mesmo já debilitado pelos problemas de saúde.

Não agradou tanto o samba-enredo, não pelo “merchan” em si ou pela boa descrição do enredo, mas por ser muito longo e sem nenhum trecho mais melódico e emocionante – seria uma boa oportunidade para que os desfiles antigos fossem lembrados num “samba de verdade”, como diria Fernando Pamplona.

granderio2010cNa sua chegada à escola, Mestre Ciça impôs logo seu estilo marcante: muitas paradinhas ousadas, bossas surpreendentes e um ritmo bem veloz às marcações. Claro que o público adorou, até porque os ritmistas de Caxias mostraram a precisão de costume. Aliás, os componentes estavam vestidos de garis, numa outra citação ao desfile da Beija-Flor de 1989.

Sem pecados em Evolução e Harmonia como em anos anteriores, a Grande Rio deixou a pista certa de uma boa colocação, sem no entanto ameaçar o favoritismo arrebatador da Unidos da Tijuca. Pena só que o homem voador que desfilou em 2001 pela própria escola não tenha podido repetir o voo por problemas técnicos na mochila com propulsão.

vila2010Já a Unidos de Vila Isabel, mesmo com bons momentos, não correspondeu às enormes expectativas pela homenagem a Noel Rosa e ficou abaixo do que se esperava – o Migão já comentou o desfile no Ouro de Tolo. Para começar, um lamentável, para não dizer inaceitável, problema no sistema de som atrapalhou a escola durante intermináveis 23 minutos. Isso não só prejudicou a harmonia como tirou o impacto inicial da apresentação.

Autor do excelente samba-enredo, Martinho da Vila apresentou a escola vestido de João Cândido. A comissão de frente agradou, com os componentes carregando violões que, quando repousados na pista eram movimentados por controle remoto.

Já o desenvolvimento do enredo não agradou aos mais puristas, que esperavam um passeio pelos sucessos do compositor, precocemente falecido. Na verdade, o carnavalesco Alex de Souza optou por lembrar de fatos marcantes do mundo quando da época do nascimento de Noel e lembrar a vida boêmia do artista.

As alegorias, diga-se de passagem, também não causaram aquele impacto, exceto por um elemento que mostrava o universo dos bares com uma enorme mesa de sinuca. Houve também alguns problemas de acabamento nos demais elementos e figurinos.

Mas o grande problema da escola em 2010 foi a bateria. A chegada do excelente Mestre Átila não caiu bem para os ritmistas, que preferiam algum diretor de bateria da comunidade. Além disso, o problema já citado no sistema de som causou um colapso em determinado momento e foi possível ver Átila tenso. O andamento da bateria, com uma levada mais “pra frente”, também gerou críticas.

Fato é que a Vila Isabel, mesmo com o problema de som tendo sido resolvido, não fez uma apresentação que a credenciasse para o título, apenas para uma colocação no sábado das campeãs com boa vontade. Ficou a sensação de que o samba e o enredo foram desperdiçados.

mangueira2010bA Estação Primeira de Mangueira encerrou os desfiles de 2010 com uma exibição de muito samba no pé e garra dos componentes na defesa do enredo “Mangueira é a música do Brasil”, dos carnavalescos Jaime Cezário e Jorge Caribé. Apesar de problemas estéticos visíveis devido à falta de recursos, já que a escola não teve patrocínio, o enredo foi apresentado com muita coerência.

A comissão de frente chamava-se “Um Brasil que Canta e que é Feliz”, com um piano de tripé e com diversas danças. O abre-alas representava a favela da Mangueira se transformando num castelo, com esculturas de seus baluartes e de Jamelão. As demais alegorias tinham fácil leitura, como a que homenageou a Bossa Nova e a Jovem Guarda, esta com um grande calhambeque e uma escultura do Rei Roberto Carlos.

O período da censura foi lembrado numa alegoria bastante sombria, assim como nas fantasias de diversas alas. Diga-se de passagem, mesmo sem luxo, os figurinos também contavam o enredo com muita correção, e agradou o figurino do mestre-sala Raphael, que desfilou vestido de Cartola.

mangueira2010O samba-enredo foi bem cantado na avenida, e os intérpretes Luizito, Rixxa e Zé Paulo (chamados pelo presidente Ivo Meirelles de Três Tenores) o conduziram com firmeza. Mas o grande destaque foi a bateria, que, além de ter se mostrado muito firme nas marcações, tinha figurinos de presidiários (para lembrar a repressão da ditadura) e havia componentes com grades em volta dos ritmistas, numa coreografia liderada por Carlinhos de Jesus.

Foi uma apresentação sem problemas aparentes nos quesitos de pista e, depois de lembrar o funk numa das alegorias repleta de “popozudas” em esculturas e mulheres de verdade, a Mangueira deixou a Sapucaí na expectativa de tentar uma vaguinha no Desfile das Campeãs. Um desfile muito alegre e divertido.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Consagrada pela crítica, a Unidos da Tijuca foi considerada de forma praticamente unânime a favoritíssima ao campeonato. A escola do Borel arrebatou os prêmios do Estandarte de Ouro de melhor escola e melhor comissão de frente. Só mesmo algo surpreendente tiraria o campeonato da Tijuca, já que Beija-Flor, Grande Rio e Salgueiro fizeram bons desfiles, mas deixaram aquela sensação de “quero mais”.

A apuração começou com a liderança da Mangueira após as leituras dos quesitos Bateria, Samba-Enredo e Harmonia, nos quais realmente a escola esteve bem e somou pontuação máxima (30 por quesito).

Mas, como se esperava, a carruagem mangueirense logo virou abóbora, e a disputa ficou entre Unidos da Tijuca e Beija-Flor. Mas a escola do Borel arrancou para o título após a leitura do sétimo quesito e, no total, obteve apenas apenas cinco notas diferentes de dez (sendo todas 9,9 e quatro delas descartadas) para conquistar um merecidíssimo campeonato depois de 74 anos sem títulos.

A Grande Rio ainda ficou com o vice ao ultrapassar a Beija-Flor no penúltimo quesito lido (Comissão de Frente), enquanto a Vila Isabel, com notas ruins em Bateria e Alegorias e Adereços, terminou numa decepcionante quarta posição, seguida do Salgueiro e da Mangueira.

Como previsto, a Viradouro ficou na última colocação e caiu para o Acesso depois de 20 desfiles consecutivos na elite, enquanto a União da Ilha se manteve no Grupo Especial até com tranquilidade, 3,3 pontos à frente da escola de Niterói.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Unidos da Tijuca 299,9
Acadêmicos do Grande Rio 299,4
Beija-Flor de Nilópolis 299,2
Unidos de Vila Isabel 298,1
Acadêmicos do Salgueiro 298
Estação Primeira de Mangueira 297,4
Mocidade Independente de Padre Miguel 296,1
Imperatriz Leopoldinense 295,8
Portela 295,2
10º Unidos do Porto da Pedra 294
11º União da Ilha do Governador 293,8
12º Unidos do Viradouro 290,5 (rebaixada)

 

No Acesso, a São Clemente obteve uma tranquila – mas também contestada – vitória com o irreverente enredo “Choque de Ordem na folia”, do carnavalesco Mauro Quintaes, sobre os rumos do Carnaval, tanto pela baderna nas ruas por causa dos blocos quanto pela mercantilização nas escolas de samba.

O tema, aliás, foi levado à Sapucaí pela própria agremiação em 1990 – misturado com uma louvação ao “choque de ordem” então levado a cabo pela Prefeitura do Rio. Caíram a Unidos de Padre Miguel e o Paraíso do Tuiuti, e subiu do Acesso B a Alegria da Zona Sul.

CURIOSIDADES

– O narrador esportivo Luis Roberto substituiu Cleber Machado e assumiu a condução das transmissões dos desfiles do Grupo Especial pela TV Globo ao lado de Glenda Kozlowski. Luis seguiu até 2015 na função e sempre visitou todos os barracões na Cidade do Samba nos meses que antecediam o desfile para colher informações.

– No domingo seguinte ao Carnaval, uma interessante reportagem de Renata Ceribelli para o Fantástico mostrou os truques da comissão de frente da Unidos da Tijuca.

– As propagandas explícitas da Brahma no samba e no título do enredo da Grande Rio foram cortados pela TV Globo durante o desfile oficial. Na apresentação do enredo, o título foi mostrado pela metade, apenas com a frase “Um ‘Grande Rio’ de Emoção na Apoteose do seu Coração”. E sempre que se chegava ao refrão principal, os telespectadores não ouviam o áudio do trecho “No camarote número 1”. No Desfile das Campeãs, a Bandeirantes deixou o trecho no ar.

– Falando em Brahma, a grande atração no camarote homenageado pela Grande Rio foi a cantora Madonna e seu affair, o modelo Jesus Luz… Quem deu o que falar no camarote da rival Devassa foi a modelo-socialite Paris Hilton, que estrelara comercial da cerveja. Depois de posar para fotos, a americana mostrou todo seu vasto repertório de mau-humor na saída do camarote.

– A Mangueira foi a primeira escola de que se tem notícia a divulgar por conta própria um clipe de divulgação de seu samba-enredo. Na produção, várias imagens do morro foram mostradas, com destaque para as casas de Delegado e Dona Zica.

–  O saudoso Emílio Santiago participou da gravação do samba da Mangueira no CD ao entoar como alusivo da obra os versos “Eu pensei em te dizer uma coisa / Mas, para quê, se eu tenho a música?”, da canção Bem Simples, do Roupa Nova. Ele ainda esteve no carro de som durante o desfile.

– O refrão principal do samba-enredo do Salgueiro tinha os versos “Uma história de amor / Sem ponto final / Academia do samba, Salgueiro / No livro do meu Carnaval” e a torcida do Flamengo resolveu fazer uma versão para os jogos do time: “Uma história de amor / Sem ponto final /Eu quero o tetra do Rio, Flamengo / Libertadores, Mundial”. Como se sabe, tanto o Salgueiro como o Flamengo naufragaram fragorosamente em seus sonhos para 2010.

– Martinho da Vila voltou a vencer uma eliminatória de samba na Vila Isabel depois de 17 anos. Com isso, ele chegou a dez vitórias na agremiação (1967, 1968, 1969, 1970, 1972, 1980, 1984, 1987, 1993 e 2010). Ele também venceria em 2013 e 2016, o que o deixaria como único compositor na história com vitórias em seis décadas diferentes. Contando a vitória na extinta Aprendizes da Boca do Mato, em 1959, são sambas-enredo em sete décadas consecutivas! Um gênio!

– Falando em Martinho, depois da vitória houve muitas críticas a Mestre Átila pelo andamento acelerado imposto à obra tanto no CD como na avenida. No DVD “Lambendo a Cria”, Martinho regravou o samba numa cadência extraordinária, o que valorizou ainda mais a grande obra.

– Uma novidade no desfile de 2010 foi a transformação do recuo da Rua Salvador de Sá num palco em formato de rampa para os ritmistas ficarem. Além de causar desconforto aos componentes, a visão do público do setor 11 foi severamente prejudicada.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Migão Portela2O Ouro de Tolo cobriu aquele carnaval. Os textos podem ser vistos aqui.

Para a Portela, o carnaval que poderia ser o do tão sonhado título após os bons carnavais de 2008 e 2009 acabou sendo um pesadelo desde o início. A começar pela demora na definição do enredo, o que somente aconteceu em agosto – e antes deste enredo sobre tecnologia, inclusão social e governo, chegaram-se a cogitar enredos sobre o então Presidente Lula e sobre os 200 anos da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

A sinopse dos carnavalescos Lane Santana e Alex de Oliveira (este último inexperiente em grandes escolas) tentava ser criativa, mas era bastante confusa. Isso levou a uma safra de sambas fraca em que, a meu juízo, o melhorzinho era o assinado por Noca da Portela – que caiu bem antes da final. O vencedor deveria ser o finalista do hoje presidente Serginho Procópio, mas uma vez mais venceu Júnior Scafura – para nenhuma surpresa.

O samba recebeu o “Positivo pra nação”, em marketing de emboscada do patrocinador, entre a vitória nas eliminatórias e a gravação do CD.

Mais uma vez a preparação do desfile sofreu com a falta de recursos destinados pelo então presidente ao barracão, só que desta vez somada à concepção totalmente equivocada de fantasias e alegorias por parte dos carnavalescos e ao próprio enredo fora das características portelenses. O nono lugar saiu até barato – pessoalmente, deveria ter ficado apenas à frente da Viradouro.

Alex de Oliveira ainda jogaria o Jacarezinho na Intendente aquele ano, com um enredo semelhante ao da Portela – e “Jacarezinho ponto com ponto br” no samba…

Meu desfile também foi complicado: me envolvi em uma tremenda confusão na concentração – com direito a dedo na cara e quase pancadaria – e a minha fantasia, além de quase me desidratar, foi se desmanchando na avenida.

Acesso A 2010 001Também desfilei no Império Serrano, muito prejudicado pelo som, e no Boi da Ilha do Governador, com roupa de diretoria mas fazendo Harmonia de ala. Boi da Ilha que obteve o sétimo lugar na pista mas que acabou rebaixado à Intendente Magalhães por não ter retirado seus carros da dispersão – em episódio até hoje não esclarecido. Assisti aos dois Grupos de Acesso nas frisas do Setor 3 e ao Especial nas arquibancadas do mesmo setor, os dois dias.

O Tuiuti também foi rebaixado porque a bateria veio toda com roupas diferentes, dentro da proposta de um baile de carnaval – mas o regulamento não permite.

O resultado do Acesso A foi envolto em polêmicas desde muito antes do desfile, com os boatos de que estaria “acertado” para a Cubango ser promovida ao Especial – a ponto do então carnavalesco Milton Cunha usar sua coluna no jornal O Dia para desmentir os boatos. Por outro lado, a vitória da São Clemente foi uma “surpresa” até para a própria escola, cuja quadra estava fechada no dia da apuração – e que desfilou com bastante coisa reciclada de anos anteriores. A Renascer, considerada a favorita, também levou uma punição, parando apenas no oitavo lugar.

A Estácio também fez um belo desfile, e a reedição de “E Por Falar em Saudade” levada a cabo pela Caprichosos proporcionou um “bailão de carnaval” na avenida. A apuração deste grupo foi marcada pelo protesto dos torcedores da Unidos de Padre Miguel, que contei aqui.

Em um ano muito fraco de desfiles, mesmo sem ter sido brilhante, a Alegria da Zona Sul levou com justiça o título do Acesso B.

Especial (Segunda _ Acesso B 2010 288Embora a Vila Isabel tenha seu samba assinado apenas por Martinho da Vila, a letra reaproveita partes de um outro samba dele, em parceria com Gracia do Salgueiro. Ao que consta, após o desfile houve acerto financeiro entre Martinho e a família do compositor. Reza a lenda que o samba também tem a “Presença de Diniz” na melodia, nunca confirmada. O desfile foi muito prejudicado pelo boicote da bateria ao Mestre Átila, vindo de fora da agremiação.

A Imperatriz foi prejudicada em seu desfile pelos problemas de Harmonia e pelo erro de projeto dos tripés do abre alas, mas o “Mar de Fiéis”, como ficou conhecido o samba, foi levado no colo pelos segmentos até a vitória na disputa.

A Grande Rio fez talvez aquele que é seu melhor carnaval no Grupo Especial, apesar do boicote da televisão ao “Camarote Nº1” tanto no samba como no primeiro setor, não mostrado pela escola. Mas o incrível é que a escola fez um enredo sobre os carnavais do Sambódromo (mesmo que citando desfiles anteriores, como o “Bumbum” do Império Serrano de 1982) sem citar a Portela em momento nenhum.

O abre-alas do Salgueiro era praticamente idêntico a carro levado por Renato Lage em 2002 na Mocidade. O samba era tão parecido com o do ano anterior que no esquenta, eu achei que já era a composição de 2010…

O desfile da Beija-Flor sobre Brasília – enredo que, originalmente, estava destinado à Portela – foi chato demais. O final do domingo com a sequência Viradouro, Salgueiro e Beija Flor foi um dos mais maçantes dos últimos anos neste grupo.

Apesar de não ter feito um bom desfile, a Viradouro desde antes do carnaval era meio que “bola da vez” para ser rebaixada, devido aos problemas políticos do então presidente Marco Lira com a Liesa e dentro da própria agremiação. O samba ganhou uma paródia:

“Arriba, Viradouro, no Acesso / eu vou chegar / com lenço vermelho, sombreiro na mão / no sábado enfim vou desfilar!”

Especial (Segunda _ Acesso B 2010 027O samba da Mocidade ganhou de um torcedor da escola, amigo meu, a alcunha de “samba prostituta”: todo mundo gosta, mas ninguém quer na sua escola… Mas a composição passou muito bem. Elza Soares veio à frente da bateria em uma espécie de “andador”, pois estava com a bacia fraturada (foto).

Os diretores de bateria da Mangueira simulavam policiais, na repressão à música brasileira dos tempos do Regime Militar – a bateria estava vestida de presidiário. No Setor 1, na primeira “batida” simulando prisões, foi um “barata voa” danado – tanto ritmistas como o público achando que era uma ação policial verdadeira. Foi uma correria…

No Acesso B, destaque para o belo trabalho do carnavalesco Severo Luzardo no vice-campeão Arranco.

Links

O sensacional desfile que deu o título à Unidos da Tijuca

Mais um vice-campeonato da Grande Rio

A apresentação da Beija-Flor em 2010

A homenagem da Vila Isabel a Noel Rosa

Fotos: Liesa, O Dia, Arquivo Pessoal Pedro Migão e G1

23 Replies to “2010: Unidos da Tijuca finalmente vai além com seus segredos”

  1. A Tijuca fez o melhor desfile de carnaval que vi na minha vida. SENSACIONAL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO! E aquela comissão de frente, hein? SENSACIONAL! Um título merecido! O Borel precisava dessa vitória!

    Infelizmente tive que lamentar o rebaixamento da minha gloriosa Viradouro, que fez um desfile que não lembrava em nada a Viradouro de outrora. Felizmente, o Clarão arrumou a casa e colocou a escola no seu devido lugar – pena que fomos mandados de volta pro A. E o “presidente” que tínhamos na época foi pro xilindró três anos mais tarde.

    Lembro que já no sexto quesito eu chorava de soluçar escrevendo as notas, e meu pai dizendo “a Viradouro não vai te dar nada” e eu respondi “Independente do grupo que estiver, eu não vou abandonar a Viradouro”. Aliás, hoje em dia quando eu ouço o disco de 2010 prefiro evitar a faixa 8.

    Há relatos de que os ensaios da Vira na época começavam a meia-noite, por vontade (ou atrasos) do Wander Pires. E aliás, que fim deu Julia Lira?

    Após o título, o Paulo Barros desabafou: “pra quem diz que eu não faço carnaval, vai para os Estados Unidos”.

    Vou resumir o resultado do Grupo A em uma frase: Prende o Reginaldo!

    A produção do CD de 2010 errou e feio a mão no andamento dos sambas que, inexplicavelmente, estavam acelerados, Portela, Mocidade (estas duas absurdamente) Salgueiro e Ilha estavam mais acelerados que o normal.

    O vice da Grande Rio foi um tiro no pé da Globo! A censura do “camarote número um” saiu pela culatra…

    Que venha 2011! O ano que botaram para fora a felicidade!

  2. Vamos lá. Primeiramente, Fred e Migão colocaram de novo que a Grande Rio citou Império Serrano 1982, sendo que essa citação foi da Caprichosos 2005.

    Na verdade a citação veio do samba de 1976, reeditado em 2009, na parte “ouvindo a sereia cantar…”. E “o amanhã como será” é “homenagem” à Unidos da Tijuca de 2004.

    Bom, aos desfiles: vitória justíssima da Unidos da Tijuca. Quando terminei de assistir, na hora falei pra minha irmã: vai ganhar. Ela, nilopolitana doente, duvidou de mim, disse que era perseguição com a escola…

    Depois que eu vi a sinopse da Portela, dizendo que a águia era um backbone, desejei ardentemente que ela caísse! É uma falta de respeito gigante!! Só que a Viradouro pediu.

    Aliás, zica do c…, quando uma escola termina em oitavo e, no ano seguinte, contrata o Wander Pires, é rebaixamento na certa!! Tomara que a São Clemente não faça isso em 2017!

    Mocidade, enfim, fez carnaval!! Que show de harmonia!! Os corações dispararam!! Quando o David do Pandeiro começou a cantar, eu dei um pulo do sofá que deu um susto danado na minha irmã, que achou que eu estava tendo um ataque cardíaco!!! Hahahahahaha…

    No mais, obrigado, Vila Isabel e Imperatriz. Dois sambas maravilhosos, que estão no meu top-20 de todos os tempos!!

      1. O verso ” O amanhã como será?’, na verdade é uma dupla citação entre o samba da União da Ilha de 1978 e o da Unidos da Tijuca de 2004.

        1. Confesso a vocês que essa do Bumbum lembrar a Caprichosos eu não sabia, onde tem isso escrito? Foi falado em alguma transmissão? Se tem, ok, faço o mea culpa. E se for isso mesmo é pior ainda do que se fosse uma licença poética, dado que o Bumbum original foi algo histórico, enquanto o de 2005 foi num enredo pra puxasaquear a Liesa – e diga-se de passagem o Bumbum do Império foi de antes da criação da Liga, portanto outra licença que não deveria ter entrado.

          1. Não, Fred, me expressei errado.

            Eu quis dizer que a citação ao Império 1982 não estava neste samba da Grande Rio, e sim, no que a Caprichosos trouxe em 2005.

          2. Ahhhh, agora entendido. Não escrevi que a licença poética da Grande Rio pro Bumbum foi no samba, mas no próprio enredo. E, sim, como você escreveu essa citação literal está no samba da Caprichosos de 2005. É isso.

  3. Boa tarde!

    Prezado Fred Sabino:

    Finalmente o público presente à Marquês de Sapucaí poderia acompanhar os desfiles tal qual (Aliás, melhor!) quem estivesse em casa, pois em 2010 começava a ser distribuída gratuitamente a revista “Roteiro dos desfiles”, projeto desengavetado (Acredito eu) muito por causa do pequeno libreto do Salgueiro no ano anterior.

    Mais um item de colecionador (Eu!).

    Tive um pequeno acidente com o sol no domingo. Ele estava tão forte, que nos protegíamos com guarda-chuvas, mas, acredite, meus pés ficaram com queimaduras de segundo grau (Sim, na parte de cima), o que comprometeu a minha segunda-feira, e me impediu de desfilar na terça-feira (Apenas assisti aos desfiles na frisa, com os pés para o alto!).

    Novamente, vou me conter nas considerações.

    GRUPO ESPECIAL

    – O samba da Imperatriz MORREU! Lamentavelmente, pois o segundo ensaio técnico (Sim, as Escolas ensaiavam mais de uma vez…) havia sido fantástico, e gerado boa expectativa. O setor da fé indígena era muito repetitivo, e com o andamento confuso, ficou chato rapidinho. Max Lopes repetiria este segundo carro na Gaviões da Fiel em 2013, na homenagem à publicidade/Washington Olivetto. Aliás, repetir carros tornou-se uma constante dele…

    – Dizer que o abre-alas do Salgueiro em 2010 era belíssimo soa-me como exagero. É um trabalho, digamos, não muito agradável de Renato e Márcia. Mesmo com a “maca russa”, ficou pouco chamativo. Também discordo da comparação com o abre-alas da Mocidade em 2002, um gigantesco picadeiro todo aceso, nada comparável aos “centímetros” de néon em volta da prensa tipográfica que tentavam dar luz a este.

    – O desfile da Beija-Flor foi chato e com um imenso conjunto de erros visuais. O primeiro deles, numa Escola sem bandeira, renderia perda de pelo menos 0,1 por jurado, que é um terrível mau gosto para esculturas. Tanto faz homem ou mulher, todas possuíam o mesmo conjunto trapezoidal digno de marombeiros de academia, com braços duros e pouca expressão nos rostos (Quase todos iguais). O segundo, mais lamentável, foram danos em quase todas as alegorias (O abre-alas principalmente), visíveis aos olhos menos críticos.

    – A bateria da Grande Rio não fazia referência ao “Ratos e Urubus”, mas sim uma homenagem a Renato Sorriso, o gari. Pegando uma cola na minha revista “Roteiro dos desfiles”, segue o texto da escola:
    “Uma homenagem a Renato Sorriso e aos que fecham e abrem a cortina do espetáculo.”

    – A Comissão de Frente da Vila já não estava muito acertada antes do desfile, pois na armação, durante a exibição para o setor 1 (Onde eu estava), os violões insistiam em não andar todos para o mesmo lado. Ao que parece, o erro também aconteceu em frente a um ou dois jurados…

    – Desconheço qualquer confusão no setor 1 por causa da encenação da bateria da Mangueira.

    ACESSO A

    – Este foi meu “último” ano no acesso A do Rio. A LESGA estava ajudando este grupo a descer a ladeira, e eu perdi a paciência. Em 2011, passei a ir para o Anhembi (São Paulo) ver a sexta e o sábado, voltando à Sapucaí para ver o Especial e o Acesso B. Devido à contenção de gastos por causa da crise recente do país (Além de querer evitar o estresse maior que é voltar para o Rio no Domingo de carnaval…), em 2016 voltei a assistir à então Série A.

    – O meu nojo da LESGA foi auxiliado pelo aumento abusivo no preço das frisas, que fez muita gente “migrar” para as arquibancadas (Oi!). Em 2011, os preços voltariam aos mesmos utilizados em 2009…

    – Fato que Unidos de Padre Miguel fez um desfile campeão, e não subiu pelos motivos implícitos à sua administração/fonte de renda.

    – O samba da Cubango rendeu que foi uma beleza fechando a noite em grande apresentação da bateria comandada por Mestre Jonas, e condução louvável de Tiãozinho Cruz!

    ACESSO B

    – Com os pés queimados, como já explicado neste texto anteriormente, não pude desfilar pela Lins Imperial, o que vinha fazendo ininterruptamente desde 1994. Dei minha fantasia a um colega de frisa, e assisti aos desfiles. Percebi que foi a melhor coisa que fiz. Respeito os componentes que dão vida ao desfile, mas meu negócio é mesmo assistir!

    – O Boi da Ilha fez um desfile com um enredo digno de ser mostrado no Grupo Especial. Ah, e a Comissão de Frente era coreografada por Carlinhos de Jesus!

    Que venha 2011, e (A meu ver) os desfiles que sentiram enfim a “porrada” da crise financeira de 2008!

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

    1. Um adendo ao meu já extenso comentário (Mini-texto. Chamar de comentário é ofensivo…)!

      JACAREZINHO!!!
      Fechando os desfiles de terça, uma das obras mais TRASHs que uma Escola de Samba pôde produzir.
      Do refrão, que dizia “Jacarezinho ponto com ponto br” às alas representando teclas do computador (Sim! Uma com sinal de +, outra com =, e por aí vai…), passando pelo refrão do meio “Eu vou entrar no seu Orkut”…

      Num dos carros vinha um travesti interpretando Amy Whinehouse. No refrão do meio, ele simulava colocar o microfone no Orkut (!)…bem…simulava!

      …e no final de tudo teve gente gritando “É campeã!”…
      Pior: gritando sério!
      Pessoas, não bebam Devassa…a percepção fica muito alterada…

    2. Fellipe, quando apareceu o pessoal da Harmonia vestido de policial foi um corre corre do caralho dentro da bateria com nego se escondendo. A gente ria paca no setor 3

  4. 2010, ano histórico, mágico, inesquecível e todos os adjetivos possíveis do mundo a Unidos da Tijuca tem sobre ano
    Não tenho que dizer, acho a comissão da mangueira em 99 melhor mas a da Tijuca foi a única que deu o título pra uma escola com 5 minutos de desfile, as pessoas na Sapucaí vibravam com cada alegoria, apresentação, como se fosse um gol foi uma coisa inexplicável… O que mais me deixou emocionado depois da vitória nao foi o Paulo Barros ou a comissão de frente, foi aqueles integrantes de 20, 30 ou 40 da escola que passaram por tantos momentos difíceis, grupo de acesso e etc mas que nunca abandonaram a escola, sempre tiveram lá e ve a escola do coração sair do jejum depois de 74 foi algo único.
    Mas ao contrário de muitos por aí, não desmereco ou critico quem começou a torcer pela Tijuca em 2010, os chamados torcedores “modinhas”, pq em 90% dos casos você torce por uma escola de samba por causa de um samba ou de desfile vide a mocidade que tem uma torcida enorme justamente pelos desfiles da década de 80 e 90 e isso não faz deles ” modinhas “.
    Enfim é isso, 2010 ano mágico demais e a grande rio é muito azarada mesmo pq com certeza ela seria campeã com esse desfile em vários outros anos mas foi fazer justamente um dos maiores desfiles da sua história no ano do maior da Tijuca.
    Que venha 2011 e sua polêmica apuração rs

  5. Belo texto Fred, realmente a apresentação da Tijuca esse foi arrebatadora, impactante, absurdamente linda! Tanto que, mesmo sendo a terceira a desfilar, eu já considerava o Carnaval definido em matéria de campeã. Melhor trabalho do Paulo Barros, mostrando que seu trabalho vai além de “encher as alegorias de gente”, como costumava dizer o Laíla…

    O vice-campeonato da Grande Rio foi mais do que justo, Também concordo que foi o melhor desfile da história de Caxias! Falaram, acho que foi no desfile mesmo, que Max Lopes chorou copiosamente ao visitar o barracão e ver a alegoria referente ao desfile da Viradouro em 92… Outro momento de emoção foi a homenagem ao gênio Joãozinho Trinta, que fez questão de desfilar por achar que aquele seria seu “canto do cisne” na avenida, e infelizmente ele estava certo… Absurda a transmissão do desfile pela Globo, só consegui ver o Abre-Alas com o Zeca Pagodinho nas Campeãs!

    Colocações justas no geral, a Portela seria minha 11ª colocada, mas isso não fez grande diferença. A grande injustiça a meu ver foi a colocação da União da Ilha, colocaria a escola nas Campeãs, em sexto lugar, mas até mesmo um oitavo lugar seria aceitável, mas o décimo-primeiro lugar mostra que a escola, mesmo com o belo desfile, só não caiu por que a Viradouro quis porque quis ser rebaixada.

    No acesso até que dá pra aceitar o título da São Clemente, mesmo preferindo Renascer e Estácio, mas sem a chuva de notas 10… Cheio de expectativa, o desfile da Cubango acabou decepcionando, mas adoro no samba os versos “Em uma nudez incontida, da Dura que Dita sangrando a nação”…

      1. Luis, acho esse desfile da Grande Rio o melhor da fase contemporânea da escola. Num outro ano, talvez pudesse ter beliscado o título.

  6. A Ilha poderia ter vindo pintada com ouro de verdade que ainda assim seria a penúltima. Nunca entendi porque os jurados sempre pegam mais pesado com quem abre o desfile de domingo. Acho que é porque estão bem acordados ou porque precisam ferrar alguém para se sentirem bem.

    Viradouro pediu muito pra cair. O México mais feio que eu vi num desfile.

    E Paulo Barros ficou engasgado de vez na garganta do Laíla.

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