Depois que Mocidade e Salgueiro iniciaram os desfiles de domingo em 2005 e 2006 e tiveram péssimos resultados nas apurações, a Liesa anunciou que a campeã do Grupo de Acesso voltaria a abrir os desfiles. Isso, claro, porque houve uma enxurrada de críticas dos torcedores por duas tradicionais escolas terem sido “canetadas” (em excesso, diga-se de passagem) após abrirem os desfiles.

Sem outras novidades no regulamento, uma notícia movimentou os bastidores do Carnaval carioca depois dos desfiles de 2006: o badalado carnavalesco Paulo Barros deixou a Unidos da Tijuca seduzido por uma proposta da Unidos do Viradouro e prometeu um surpreendente desfile sobre os jogos com o título “A Viradouro vira o jogo”.

Já a Unidos da Tijuca escolheu como enredo a história da fotografia e dividiu os trabalhos entre os carnavalescos Luiz Carlos Bruno e Lane Santana. Restava dúvida se a escola manteria a pegada dos anos Paulo Barros, mas o presidente Fernando Horta prometia liberdade aos profissionais na concepção do enredo.

Campeã de 2006, a Unidos de Vila Isabel optou por outra temática: as transformações do mundo, ou melhor, as metamorfoses. A Acadêmicos do Grande Rio continuava firme no sonho do título inédito e contaria a história de sua casa, o município de Caxias. Sem Jamelão pela primeira vez desde 1949, a Estação Primeira de Mangueira faria um tributo à língua portuguesa. Já a Beija-Flor de Nilópolis, com o carnavalesco Alexandre Louzada em sua comissão, exaltaria o continente africano com um samba primoroso.

Os Jogos Pan-Americanos, que seriam disputados na cidade meses depois do Carnaval, seriam lembrados pela Portela, enquanto o vizinho Império Serrano contaria a história das pessoas que, mesmo sendo “diferentes”, davam certo na sociedade. Buscando uma nova temática, a Imperatriz Leopoldinense de Rosa Magalhães contaria a história do bacalhau com bom humor, e a Mocidade Independente de Padre Miguel passearia pelo artesanato brasileiro.

Mordido com o 11º lugar de 2006, o Salgueiro teria um instigante enredo sobre as rainhas da África Oriental e as negras que superavam as dificuldades do dia a dia, com um samba que, pela primeira vez em muito tempo, era mais forte e poético e não, digamos, alegre. Completavam o Grupo Especial a Unidos do Porto da Pedra, que faria uma homenagem à África do Sul (com um belo samba-enredo), e a Estácio de Sá, de volta à elite com a reedição de “O tititi do Sapoti”, de 1987.

OS DESFILES

Dez anos depois de cair, a Estácio finalmente retornou à elite e fez uma bonita apresentação. Antes do desfile, a escola pediu um minuto de silêncio devido ao assassinato do menino João Hélio, que revoltou o Brasil. O famoso samba-enredo puxado por Anderson Paz teve um andamento acelerado demais por parte da bateria, mas os componentes passaram bem.

A escola esteve inegavelmente bonita, com uma comissão de frente representando os senhores da selva e a civilização asteca, com os bailarinos mascando chicletes para lembrar a goma de mascar feita com a seiva do sapoti. Porém, um dos componentes foi atingido por uma porta do tripé.

O enorme e bonito abre-alas em dourado era ladeado por seis tripés e um pede-passagem. Uma das mais criativas alegorias foi a chamada “Isso virou tutti-frutti”, com uma representação da Estátua da Liberdade coberta por 600 mil pastilhas de chicletes. Agradaram também as fantasias, que passaram o enredo com bastante clareza.

No fim, o carnavalesco Paulo Menezes homenageou as colegas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, responsáveis pelo desfile de 1987. Restava saber o quão a posição de desfile implicaria na apuração.

Já o Império Serrano mais uma vez frustrou seus torcedores ao escolher para uma data redonda (no caso, a dos 60 anos de fundação) um enredo pouco característico das tradições da escola: “Ser diferente é normal: o Império Serrano faz a diferença no carnaval”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, que recebeu o tema já escolhido.

Apesar de alguns bons momentos, infelizmente não foi uma boa apresentação nos quesitos de pista, principalmente em Evolução, com descompassos e buracos. Já a bateria de Mestre Átila se apresentou muito bem, cadenciando o samba-enredo Arlindo Cruz, Maurição, Carlos Sena, Aluísio Machado e João Bosco.

As exaltações a deficientes visuais, cadeirantes, portadores de deficiência auditiva e portadores de síndrome de Down emocionaram, e agradaram as homenagens a Noel Rosa, Arthur Bispo do Rosário e Aleijadinho.

Mas visualmente a escola esteve abaixo da Estácio, exceto pelo abre-alas com a coroa imperial e o interessante carro “O Tempo e o Espaço da Inteligência”, com o cérebro de Albert Einstein iluminado por néon. Porém, foi um enredo considerado difícil de carnavalizar.

No fim das contas, o Império usou o setor que homenageava a própria escola de forma a dizer que a agremiação era diferente das demais. Pareceu mais uma forma de enxertar no desfile alguma lembrança pelos 60 anos da Verde e Branco. Um desfile irregular, em resumo.

mangueira2007Terceira escola a desfilar, a Estação Primeira de Mangueira manteve o alto padrão de suas apresentações na década (exceto 2005) e se colocou como candidata às primeiras colocações, graças a um belo trabalho do carnavalesco Max Lopes na confecção do patrocinado enredo “Minha língua é minha pátria, Mangueira, meu amor. Meu samba vai ao lácio e colhe a última flor”, sobre a língua portuguesa. Mas a escola passou por três situações complicadas, uma na fase pré-carnavalesca, e as outras quando já se armava na concentração.

Como Jamelão não teve mais condições de continuar como intérprete oficial depois de complicações no seu estado de saúde, a escola promoveu o experiente e competente Luizito, que estava na Mangueira desde 1998 como apoio do lendário cantor. Mas o próprio Luizito, que em 2006 não desfilara devido à morte da esposa, sofreu um princípio de infarto num ensaio técnico no começo do ano. A participação dele era incerta até a entrada da escola na Sapucaí, mas Luizito cumpriria com brilhantismo seu papel, mesmo alertado pelos médicos sobre os riscos de um infarto mais sério – infelizmente um novo infarto viria a causar a morte do cantor em 2015.

mangueira2007bJá a cantora Beth Carvalho, que estava com problemas de coluna, queria desfilar numa das alegorias por não reunir condições de passar pelos 700 metros da pista. Segundo consta, estaria tudo acertado, mas em cima da hora ela ficou sem lugar. Beth, então, tentou sair no carro dos baluartes mas foi expulsa sob a alegação de que não poderia desfilar ali justamente por não ser baluarte. Depois de grande confusão, Beth ficou aos prantos na concentração enquanto a escola desfilava. Ela ficaria afastada da Mangueira até 2010, quando seria convidada a voltar pelo novo presidente Ivo Meirelles. Outro que não desfilou foi Nelson Sargento, que desistiu de subir no carro dos baluartes porque sua esposa e filho não receberam fantasias da escola, segundo consta, prometidas pelo presidente Percival Pires. Além disso, diversos integrantes de uma ala foram retirados por estarem com o figurino incompleto.

Tensões à parte, a Mangueira fez um bonito desfile, a começar pela excelente comissão de frente que tinha integrantes vestidos ora com a cor da escola em tons bem fortes ora com figurinos tipicamente portugueses. Os componentes ainda levantavam placas com as palavras poesia, Mangueira, Jamelão, felicidade, galera, entre outras. Em seguida, um belo pede-passagem com inscrições em néon precedia as primeiras alas que representavam o latim (surgido na região do Lácio, na Itália), ladeados por lindos tripés sobre o império romano, e um lindo carro acoplado de 60 metros simbolizando essa época todo em dourado e soltando chamas.

A alegoria “Navegar é Preciso” era ainda maior e a mais bonita do desfile, com uma grande caravela dourada inspirada no barroco português. O requinte foi tão grande que a pintura foi feita em pó de ouro. Outro belo carro era chamado “Inspiração Literária” com uma grande representação do quadro “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, para homenagear a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas infelizmente houve problemas na alegoria “Miscigenação Brasileira”, pois o topo de uma igreja estava danificado. Além disso, um erro impediu que uma das alas desfilasse na posição correta.

Apesar desses percalços, o desfile continuou muito bonito, com Max Lopes adotando diferentes tons para o verde e o rosa, o que é sempre complicado, e com fantasias belíssimas e bem acabadas. Um dos destaques foi a ala das baianas, que representou “As rosas não falam”, de Cartola. A Mangueira fez ainda um passeio pelos países que falam a nossa língua, e o belo samba-enredo agradou. A bateria, que tinha Mestre Russo de volta, teve ótimo andamento e a velha batida seca do surdo um, com boas bossas e paradinhas. Não foi um desfile tecnicamente perfeito, mas a escola estava credenciada a brigar pelos primeiros lugares.

viradouro2007bDebaixo de muita expectativa, a Unidos do Viradouro entrou com força na passarela e fez um desfile com surpresas. Na chegada a Niterói, o carnavalesco Paulo Barros usou e abusou de criatividade, e a proposta do enredo “A Viradouro vira o jogo” foi bem recebida pelo público, mas com ressalvas pela crítica carnavalesca – chegaremos lá mais tarde. O show começou com a comissão de frente chamada “Embaralhando as Cartas”, cujos componentes estavam vestidos de curinga e usavam grandes cartas de baralho (cujos versos tinham letras para formar palavras) para executar coreografias.

O abre-alas vinha cheio de dados que giravam e pierrôs mascarados dentro deles. Já o carro “Cassino” era todo em dourado, mas os componentes giravam discos em formato de roletas e isso dava belíssimo efeito. A também criativa alegoria tinha a assinatura de Paulo Barros, com os componentes representando o tradicional oráculo oriental do I Ching em interessante coreografia.

viradouro2007Mas as grandes surpresas ainda estavam por vir. Uma alegoria representava um gigantesco tabuleiro de xadrez (foto ao lado), mas as peças eram simplesmente os ritmistas da bateria. Ora eles ficavam em cima do carro, ora desciam para o recuo da bateria e eram substituídos por componentes da ala posterior, que tinham a mesma fantasia. Entretanto, essa operação fazia a escola ficar parada por muito tempo.

Mas nada superou o elemento “Castelo de cartas” (foto acima), construído de cabeça para baixo com as rodas no topo da alegoria. Infelizmente, o mecanismo da alegoria que representava os jogos de dados teve problemas durante o desfile, depois de o carro ter passado por problemas no transporte para a Sapucaí.

As alas representaram  diversos tipos de jogos como os de raciocínio e estratégia, jogo da velha, dama, xadrez, além de jogos de adrenalina, vídeo-game, batalha naval, carros eletrônicos, futebol e paintball. Duas interessantes alas eram a que representava um “efeito dominó” e a que simbolizava o “Cubo Mágico”. Já a ala das baianas reproduzia o jogo de búzios.

No entanto, tudo isso, se mais uma vez comprovou a indiscutível capacidade de Paulo Barros surpreender e inovar, gerou reclamações mais fortes dos puristas. Estes reclamavam que Barros utilizava uma linguagem e estética que não contavam simplesmente um enredo, mas juntavam diversas ideias isoladas e serviam simplesmente para chamar a atenção sem compromisso com uma história de início meio e fim. Um dos motivos para as críticas foi o fato de o carnavalesco mais uma vez recorrer a filmes ou personagens, como nos carros sobre o filme “Guerra nas Estrelas” e o livro “Onde Está Wally?”.

Em relação aos quesitos de pista, o samba-enredo funcionou para a escola, mas não ocorreu o “sacode” que se imaginava, apesar de não ter sido um desfile frio. Já a bateria de Mestre Ciça, embora com a precisão de sempre nas marcações e a criatividade de costume, imprimiu um andamento acelerado demais segundo a crítica. A expectativa de favorita ao título não se confirmou, mas de qualquer forma um agradável desfile da Viradouro, que a colocaria nas primeiras colocações, já que, repito, a proposta do enredo (ou tema, como preferem os críticos de Paulo Barros) foi muito bem transmitida.

Já a Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo “O futuro do pretérito – uma história feita à mão”, do promissor carnavalesco Alex de Souza, abordou a arte feita pelas mãos do homem. O patrocínio prometido não pingou, e isso se refletiu no desfile, que acabou se mostrando complexo.

A escola viajou pela história dos artesãos brasileiros, com algumas boas alegorias diga-se de passagem, mas escorregou ao fazer uma associação com o que seria o futuro da criação, com uma estética chamada de “retrofuturista”, colocando como questão se a criatura poderia ameaçar a criação.

Agradou mais a parte em que o desfile passou por criações como as obras em cerâmica, as rendas, os curtumes, mas a parte mais ficcional não rendeu tanto. O samba-enredo – o último composto por Tôco, que morreria em seguida – teve no canto o estreante Bruno Ribas. Foi um desfile mediano, daqueles de meio para o fim de tabela.

Outra que fez uma irregular apresentação foi a Vila Isabel, com o enredo “Metamorfoses: do Reino animal à Corte popular do carnaval”, que misturava as transformações do mundo, dos animais, das plantas e… da própria escola do bairro de Noel, a campeã de 2006. O samba dizia que “A Vila também se modificou / No universo do Carnaval / Lindamente desabrochou / E um sonho fez real”. Inegavelmente, a escola esteve rica nos quesitos plásticos, mas foi outro desfile com enredo complexo.

A comissão de frente representava a “Transmutação da Espécie Humana” e tinha seus componentes vestidos de macacos, com um tripé em forma de torre de relógio para mostrar a passagem do tempo, mas a coreografia não agradou. O interessante abre-alas era multicolorido com uma grande escultura de lagarto e os componentes vestidos de borboletas para mostrar o processo de metamorfose.

O segundo carro, que se chamava “Mãe África” , mostrava a evolução do homem, com destaques vestidos de macacos, homens das cavernas e e homens da atualidade. Mas o que agradou foi o elemento “A robotização humana”, com uma grande escultura de robô, com bons movimentos e muito néon, e ainda um enorme teclado de computador, o que valorizava a alegoria.

As fantasias também eram muito ricas, com plumas e materiais caros. O samba-enredo não estava bem cotado, mas a escola cantou bem, até pela força da bateria de Mestre Mug, que fez muitas paradinhas e bossas. Já a evolução foi constante e sem problemas aparentes, o que colocava a escola com condições apenas de tentar voltar no sábado. Mas o título era um sonho bem distante.

A segunda noite de desfiles começou com uma agradável apresentação da Unidos do Porto da Pedra. O enredo “Preto e Branco a cores”, do carnavalesco Milton Cunha, abordava a luta na África do Sul pelo fim do regime do apartheid e prestava uma homenagem a Nelson Mandela.

A comissão de frente teve dez integrantes representando Mandela, com uma excelente caracterização e carregando uma enorme bandeira da África do Sul, e cinco fantasiados de tigres, o símbolo da agremiação. Havia ainda uma roda metálica com o mapa da África do Sul.

O abre-alas tinha o tigre em preto e branco, e o segundo, chamado “Anjo Colonizador Racista” mostrava a revolta contra o apartheid e esculturas de pessoas feridas, como a de um pai carregando o filho. O conjunto alegórico não foi considerado pela crítica dos mais auspiciosos.

De qualquer forma, agradou muito a abordagem do enredo, com setores em preto e branco representando o apartheid e outros coloridos simbolizando a nova África do Sul, com a união das raças. As fantasias contavam bem a proposta do enredo.

O excelente samba-enredo funcionou e ainda teve a bateria dirigida pelo saudoso Mestre Louro, com um andamento acelerado, mas muitas ousadias. A Vermelho e Branco terminou seu desfile com chances de permanecer no grupo, mais pelo chão do que pela plástica.

tijuca2007Segunda escola do dia, a Unidos da Tijuca jogou para longe qualquer desconfiança que existia depois da saída de Paulo Barros e fez uma criativa e inteligente exibição ao contar a história da fotografia. O enredo “De lambida em lambida, a Tijuca dá um click na avenida” foi desenvolvido pelos carnavalescos Lane Santana e Luiz Carlos Bruno e lembrou desde o tradicional lambe-lambe até as modernas máquinas digitais – o enredo ganhou o Estandarte de Ouro, de “O Globo”.

A criativa comissão de frente se chamava “Paparazzi imperial” e o principal componente estava fantasiado de D.Pedro II, responsável por trazer a fotografia para o Brasil, e carregava um tripé em formato de câmera antiga. Os demais componentes representavam os presidentes das outras escolas de samba do Grupo Especial e estes eram “fotografados”.

O abre-alas tinha uma enorme escultura de diabo com barras de fósforo e magnésio, usados como flash quando a fotografia surgiu, e mostrava a passagem da pintura para a fotografia, com a disputa entre pintores e fotógrafos. Havia ainda um Leonardo da Vinci pintando uma Monalisa na avenida – a alegoria sofreria um incêndio durante o desfile das campeãs.

A alegoria “Álbum de Família” mostrava o velho hábito de se reunir os entes queridos para registrar momentos do dia a dia, com os componentes realizando coreografias. Outro elemento criativo tinha imagens do público registradas em tempo real por dois fotógrafos e exibidas em telões.

Houve também espaço para momentos mais sérios, como o carro alegórico “Retratos da Vida”, que retratou (desculpem o trocadilho) a famosa fotografia da menina fugindo sem roupas após um ataque durante a Guerra do Vietnã. As fantasias também eram muito criativas.

O agradável samba-enredo, mesmo sem ser nenhuma obra-prima, rendeu na voz do sempre competente Wantuir, e a Tijuca não só cumpriu com louvor a missão de se dissociar da figura de Paulo Barros, como se colocou como uma das escolas mais elogiadas do ano.

salgueiro2007bTerceira escola a entrar na pista, o Salgueiro fez uma apresentação arrebatadora ao defender o enredo “Candaces”, proposto pelo departamento cultural da escola, sobre as rainhas da África Oriental desde a época antes de Cristo. O brilhante carnavalesco Renato Lage, que mais uma vez teve ao lado a esposa Márcia Lage, mostrou que não é só competente ao desenvolver enredos mais contemporâneos, mas também com temáticas mais densas e clássicas – o Migão já escreveu sobre esse desfile no Ouro de Tolo.

salgueiro2007A comissão de frente (foto acima) tinha coreografia baseada na tradição egípcia da busca pela imortalidade buscava uma das Candaces citadas no enredo, Nefertiti. O belíssimo abre-alas chamava-se “Raízes da Criação” (foto ao lado) e tinha um grande baobá e uma impressionante escultura de feiticeira, com incríveis movimentos e acabamento perfeito, cercada por orixás – o elemento chegou a sofrer danos no transporte.

O segundo carro, chamado “Cortejo de Mekeda”, representava uma das rainhas africanas e também era maravilhoso, com perfeita iluminação, e diversas esculturas de negras. Mas, a meu ver, o elemento mais impressionante era chamado “Egito de Neferiti”, com uma riqueza de detalhes incrível – além do rosto da rainha, havia diversos coqueiros típicos e, a exemplo dos demais elementos, pendia para o dourado.

Já o carro “Maracatu e a Glória Real da Corte Negra” trazia o enredo para o Brasil, com os escravos que surgiram na Bahia e ao ritmo que apareceu em Pernambuco. Para fechar o show salgueirense, a linda alegoria “Mães de Santo, Mães do Samba” (foto ao lado), com uma gigante e muito bem acabada escultura de mãe de santo abençoando o ritmo que tanto amamos e os grandes nomes da agremiação, que estavam como destaques.salgueiro2007c

Assim como as alegorias, as fantasias estavam também brilhantes, como por exemplo o espetacular figurino da ala das baianas, com bastante palha. Diga-se de passagem, a divisão cromática da escola foi um colírio para os olhos, com bastante dourado misturado ao vermelho, o que aumentou ainda mais a força da apresentação salgueirense.

O samba-enredo era valente, apesar de não deixar de ser curioso e engraçado uma obra classuda como aquela – e bem diferente dos sambas anteriores da escola – ter sido intercalada pelos cacos do intérprete Quinho, como no trecho “Orayê yê o, oxum (TÁ CEEEERTOOO!) / Oba xi obá”. Além disso, um “ÔÔÔ” colocado como caco no trecho “Do mito a história (ÔÔÔ), encanto e beleza…” provocariam perda de pontos no quesito Harmonia durante a apuração. A bateria de Mestre Marcão esteve em grande noite, com ótimas viradas e paradinhas criativas.

Apesar dos citados problemas de harmonia e de momentos de tensão no começo do desfile, o Salgueiro fez a melhor apresentação até aquele momento e se candidatou à disputa pelo campeonato pela grandiosidade das alegorias e a correção com que o enredo foi abordado.

portela2007Já a Portela fez uma simpática apresentação ao levar para a avenida o enredo “Os Deuses do Olimpo na Terra do carnaval: uma festa dos esportes, da saúde e da beleza”, sobre o Pan do Rio de Janeiro que começaria meses depois. O cortejo foi concebido pelos carnavalescos Cahê Rodrigues e Amarildo Mello.

Agradou a comissão de frente, com a deusa da vitória Niké e deuses do olimpo mostrando as primeiras modalidades esportivas com acrobacias bem feitas, cercados por tripés em formato de colunas gregas. Um pede-passagem em formato de arena grega levou a águia (foto). O abre-alas representava a Grécia antiga e tinha outras 21 águias representando os títulos da escola.

O enredo passou pela fase em que o Barão de Coubertin criou os Jogos Olímpicos da Era Moderna – ora bolas, o conceito do Pan evidentemente saiu das Olimpíadas – e depois fez uma homenagem ao Rio, sede dos Jogos de 2007. O belo elemento “As Pratas da Casa são Ouro” era todo em dourado, e não faltaram atletas famosos como os ginastas Diego e Danielle Hypolito e Daiane dos Santos, além do bicampeão olímpico no vôlei Giovane e do medalhista Robson Caetano.

No entanto, apesar deste bonito carro, a Majestade do Samba apresentou um conjunto visual irregular, tanto em alegorias como em fantasias, com elementos mais pobres em relação a outras escolas – mais detalhes no “Cantinho do Editor”.

Já a bateria, que tinha a exuberante Adriana Bombom à frente, teve uma grande exibição e estava vestida de terno e gravata, representando “A Delegação Medalha de Ouro da Portela”. O samba assinado por Diogo Nogueira (filho do grande João Nogueira), Ciraninho e Celso Andrade foi bem cantado pelos componentes. Enfim, uma apresentação agradável, mas irregular.

Com o complicado enredo “Terezinha uhuhuuu!!! Vocês querem bacalhau?” sobre a história do bacalhau e as brincadeiras que o povo faz sobre o peixe, a Imperatriz Leopoldinense fez uma apresentação muito abaixo do que vinha sendo habitual.

Com alegorias concebidas por Rosa Magalhães muito abaixo de seu padrão (especialmente o abre-alas e o carro que retratava o encontro da geleira com o vulcão), a ideia da escola de fazer um desfile irreverente sucumbiu.

Infelizmente o Gresil levou para a Sapucaí um fraquíssimo e quilométrico samba-enredo, que se arrastou e não conquistou nem público nem componentes, apesar da volta do grande Preto Joia ao posto de intérprete principal. A escola passou praticamente muda, à exceção da última ala, a do Bacalhau do Batata – que ganharia o Estandarte de Ouro.

Além disso, a mistura que envolveu Noruega (patrocinadora do enredo, diga-se de passagem), Chacrinha e os blocos de Carnaval pernambucanos complicou muito o entendimento da ideia, segundo os críticos. O desfile foi considerado pelos especialistas em carnaval como passível de rebaixamento.

granderio2007Outro desfile que poderia ter sido melhor foi o da vice-campeã de 2006 Acadêmicos do Grande Rio. O enredo “Caxias, caminho do progresso, um retrato do Brasil”, do carnavalesco Roberto Szaniecki, era uma exaltação à casa da Tricolor, mas, apesar de bem desenvolvido, para alguns críticos pareceu uma propaganda política velada da cidade e seus governantes.

Por exemplo, no setor do desfile que falava sobre a refinaria do município, já que, como dizia o trecho do (fraco) samba “A minha refinaria / tem combustível para exportação / Eu sou de Caxias / Sou pura energia / Suficiente pra alegrar seu coração”. A obra ainda louvava o político Tenório Cavalcanti, conhecido pelo apelido de “Homem da Capa Preta”, como um dos ícones da cidade.

Com alegorias enormes e luxuosas, mas com alguns problemas de acabamento, a Grande Rio passeou pelo surgimento de Caxias (aliás, a comissão de frente representava formigas, já que a construção da cidade foi, segundo queria dizer o enredo, uma espécie de trabalho de formiguinhas), a religiosidade e manifestações do folclore nordestino que forma o povo local, além de personagens famosos da cidade como Zeca Pagodinho, então morador de Xerém, e o hoje presidente de direito Milton Perácio.

Assim como em 2006, a escola cometeu sérias falhas no quesito Evolução devido à grandiosidade das alegorias e ao peso das fantasias. Mais uma vez o destaque absoluto foi a cadenciada e firme bateria de Mestre Odilon, que levantou o público e deu vida ao longo samba. Um desfile irregular, que poderia até voltar no sábado das campeãs, mas sem brigar pelo campeonato.

beijaflor2007bAssim como em 2005, a Beija-Flor de Nilópolis encerrou os desfiles com uma apresentação maravilhosa, que a credenciou como favoritíssima ao campeonato. Com o enredo “Áfricas – Do berço Real à Corte Brasiliana”, a Azul e Branco não só esteve riquíssima nos quesitos plásticos, como teve o melhor samba-enredo do ano e ainda uma fortíssima exibição nos quesitos.

A comissão de frente era chamada “Áfricas: realidade, realeza e axé” e representava a gênese africana, com belíssimas fantasias de guerreiros. A seguir, como já vinha sendo hábito, o brilhante casal formado pela porta-bandeira Selminha Sorriso e o mestre-sala Claudinho, que vieram sucedidos por uma ala com enormes tripés em formato de girafas – elas tinham impressionante fidelidade e pareciam desfilar de verdade.

beijaflor2007cChamado de “O Imponente dom divino”, o gigante e acoplado abre-alas era em tons dourados e tinha um lindíssimo beija-flor que se movimentava. Além disso, os destaques vestidos em dourado carregavam nas mãos espécies de asas e faziam coreografias que simbolizavam mais efeitos de pássaros, o que dava um grande impacto.

O segundo elemento fazia jus ao nome e se chamava “Majestosa Negra África”, simbolizando a cultura africana, com esculturas de leões e belíssimas fantasias para os destaques. O terceiro carro era muito bem resolvido e, em vez de a escola utilizar um navio negreiro clássico para simbolizar a viagem dos negros para o Brasil, os colocou nos braços de Iemanjá, em tons de prata.

Outro carro alegórico trazia uma lembrança do arrebatador – e injustiçado – desfile de 2001, com “A Luz que vem de Daomé” e duas grandes esculturas de mães de santo na parte traseira. Em seguida, a melhor alegoria do desfile: “Zumbi, Rei Guardião de Palmares”, simbolizando o grande quilombo com uma enorme escultura de Zumbi, além de muita palha, bambu e fantasias dos destaques com plumas verdes. Um efeito maravilhoso!

A alegoria “Vila Rica, a dourada África de Chico Rei” voltou a trazer tons de dourado e também foi de uma realização impecável, mesclando ótima iluminação e efeitos de água. Entretanto, o elemento teve dificuldades para entrar na avenida, o que causou troca de alas e problemas de Evolução – no fim, houve um grande buraco na ala de baianinhas, na última cabine de julgamento. Em seguida, um outro carro prateado, mostrando as tradições folclóricas como o maracatu, e a última alegoria com uma enorme baiana e seu tabuleiro. A escola ainda passeou pelos bairros da Gamboa e Saúde, que receberam os negros no Rio de Janeiro. beijaflor2007d

Em relação às fantasias, ao contrário do Salgueiro, que optou durante praticamente todo o desfile pelo dourado e vermelho, no começo, a Beija-Flor teve essa coloração mais forte nos figurinos, e depois optou por tons mais claros e coloridos que se juntaram ao azul e branco da escola, no que obteve sucesso, já que todos os elementos tinham excelente realização e acabamento.

O samba-enredo, como já dito, era o melhor do ano tecnicamente, com melodia e letra inspiradas. A comunidade nilopolitana, como de costume, cantou com muita garra do começo ao fim, ao som da precisa bateria de Mestre Paulinho, que, como nos anos anteriores, procurou priorizar a firmeza em fez de usar e abusar de paradinhas e convenções mirabolantes.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Mal deixou a pista, a Beija-Flor foi considerada a favorita ao campeonato, pela grandeza de sua apresentação e correção na maior parte dos quesitos. Além disso, a Azul e Branco conquistou os dois principais prêmios do Estandarte de Ouro (melhor escola e melhor samba-enredo). Com seus bonitos desfiles, Salgueiro (principalmente), Mangueira e Tijuca também eram cotadas para as primeiras colocações, mas não pareciam ter força suficiente para ameaçar a vitória nilopolitana, pois falharam em algum momento.

A Verde e Rosa liderou a apuração depois dos dois primeiros quesitos (Comissão de frente e Enredo), mas caiu para o quarto lugar depois da leitura das notas de Harmonia, atrás da nova líder Beija-Flor, Grande Rio e Viradouro. A esta altura, o Salgueiro já havia perdido muito terreno e estava praticamente fora da briga.

Dali até o fim da apuração foi um passeio tranquilo da Beija-Flor, que, dos 28 julgadores seguintes, teve apenas três notas diferentes de dez (totalizando 0,4 ponto perdido). A Azul e Branco terminou com 399,3 pontos contra 397,9 da surpreendente vice-campeã Grande Rio, que, mesmo com problemas em Alegorias, Fantasias e Evolução, foi menos despontuada do que poderia.

A Mangueira terminou em terceiro lugar, seguida pela Unidos da Tijuca, que somou a mesma pontuação da Viradouro mas superou a escola de Niterói no desempate (Evolução). A Vila Isabel fechou o grupo das seis que voltariam no desfile das campeãs. Já o Salgueiro, que deveria ter brigado pelas primeiras posições, inexplicavelmente ficou num injusto sétimo lugar, à frente da Portela. Caíram Império Serrano e Estácio de Sá.

Se a vitória da Beija-Flor foi incontestável, o Carnaval de 2007 não deixou muitas saudades nos amantes dos desfiles de escolas de samba, já que o público em pouquíssimos momentos ficou empolgado e, apesar de alguns bons momentos (sobretudo de Beija-Flor e Salgueiro), houve uma irregularidade patente nas bonitas, mas frias apresentações.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Beija-Flor de Nilópolis 399,3
Acadêmicos do Grande Rio 397,9
Estação Primeira de Mangueira 397,4
Unidos da Tijuca 397,3
Unidos do Viradouro 397,3
Unidos de Vila Isabel 396,6
Acadêmicos do Salgueiro 396,4
Portela 394,8
Imperatriz Leopoldinense 392
10º Unidos do Porto da Pedra 391,2
11º Mocidade Independente de Padre Miguel 391,1
12º Império Serrano 389,6 (rebaixada)
13º Estácio de Sá 386,5 (rebaixada)

No Grupo de Acesso A, que teve um desfile de nível muito abaixo do normal, a São Clemente foi a campeã com o enredo “Barrados no Baile”, que pedia o fim da discriminação a pessoas como gays, negros, nordestinos e funkeiro. A escola de Botafogo chegou 0,3 ponto à frente da vice-campeã Caprichosos de Pilares, que apresentou enredo sobre o gás.

Curiosamente, um dos poucos destaques do Acesso, o Império da Tijuca, ficou numa contestada quinta colocação com um enredo em homenagem a São Jorge, e belo samba-enredo. Caíram a Tradição, que reeditou o enredo “Passarinho, Passarola, quero ver voar”, de 1994, e o Arranco do Engenho de Dentro.

No Acesso B, a Lins Imperial conquistou o título com a reedição do enredo “Chico Mendes, o arauto da natureza”, do Carnaval de 1991. Curiosamente, o intérprete do samba foi o mesmo daquela ocasião, Celino Dias.

CURIOSIDADES

– O carnavalesco Chico Spinoza passou a integrar a equipe de comentaristas da TV Globo. Ele ficou bastante impressionado com o trabalho de Renato e Márcia Lage no desfile do Salgueiro, que também emocionou o grande salgueirense Haroldo Costa.

– Infelizmente foi o último desfile completo de Mestre Louro. Um dos grandes diretores de bateria da história do Carnaval carioca, Lourival de Souza Serra sucumbiu a um câncer no estômago, aos 58 anos, no dia 14 de março de 2008. Filho de Iracy Serra, um dos fundadores do Salgueiro, e irmão de Almir Guineto, Louro se consagrou na Vermelho e Branco e ainda defendeu Caprichosos de Pilares e Unidos do Porto da Pedra, sua última escola. No desfile de 2008 ele passou mal no primeiro recuo e somente retornou no segundo, em más condições.

– Ouvi pela primeira vez o samba-enredo da Beija-Flor ainda durante as eliminatórias, pelo (infelizmente) extinto site Tamborins.com.br, e fiquei impressionado pela qualidade da obra, ainda na voz de Bruno Ribas (que, diga-se de passagem fez excelente gravação). Cheguei a apostar na redação do jornal em que trabalhava que a Beija-Flor só perderia o título se um meteoro atingisse a Terra. Desta vez, acertei.

– Após a polêmica criada por Bemvindo Siqueira no julgamento de 2006, as escolas passaram a se preocupar em destacar as sílabas tônicas nas letras dos sambas. A Mangueira, por exemplo, trocou a entonação de dois versos entre a gravação das eliminatórias e a oficial: “Faz no Palácio do Samba”, que tinha uma entonação “Pálacio do Samba” teve mudanças para não haver riscos de despontuação. Da mesma forma, o verso “Caidás de Mangueira” teve a sílaba tônica destacada “Caídas de Mangueira”. Ficou estranho, mas na apuração a escola levou quatro dez.

– Antes dos desfiles, quem estava cotada como favorita ao título era a Viradouro, graças à chegada de Paulo Barros. Além disso, o refrão principal “Sou Viradouro e vou cantar / Com muito orgulho, com muito amor / Esse jogo vai virar / E eu quero ser o vencedor” era muito popular desde a fase pré-carnavalesca a ponto de as torcidas de Vasco e Botafogo terem cantado os versos no Maracanã, trocando o nome da escola pelos dos times, claro.

– Depois de um longo tempo de inatividade, o grande intérprete Sobrinho chegou a ser anunciado pela União da Ilha para defender o samba “Ripa na tulipa, Ilha”, sobre a cerveja. Mas o cantor, que já tinha problemas de saúde, não se adaptou ao samba e acabou não participando nem da gravação e nem do desfile. Sobrinho morreu em 2018 após um infarto.

– A Unidos da Tijuca mostrou força e ficou na quarta colocação à frente da badalada Viradouro de Paulo Barros. Mesmo elogiando Barros, o presidente Fernando Horta disse depois da apuração que a escola “não depende de carnavalesco”, frase que repetiria outras vezes, depois da saída do profissional após o título de 2014.

– Depois de 21 carnavais, mudou a gravadora responsável pela produção e venda do disco de sambas-enredo: saiu a BMG e entrou a Universal. De 2007 a 2009, a gravação ainda foi num estilo mais artificial, mas depois voltou o estilo de gravação “ao vivo” – comentaremos mais tarde na série.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro MigãoBarracão Portela 2007 (I)As fotos acima e abaixo, de minha autoria e tiradas na ocasião pelo celular na Cidade do Samba, mostram o estado do barracão da Portela a 18 dias do desfile: carros ainda no chassi, alguma coisa em madeira e muita no ferro.

Aliás, isso seria uma constante nos anos do mandato de Nilo Figueiredo, bem como a demora no anúncio do enredo – feito já em meados de agosto de 2006. Chegou-se a cogitar um enredo sobre a própria escola para aquele ano, assim como foi feito em 2011 – ambas as vezes descartado.

Levando-se em conta que o barracão foi feito em três semanas, o oitavo lugar saiu melhor que a encomenda. Ajudou para isso o bom samba, naquela que até 2011 seria a única disputa “à vera” do mandato do presidente Nilo Figueiredo.Barracão Portela 2007 (II)A Mocidade também só confirmaria seu enredo em meados de julho. A reedição de “A Festa do Divino”, de 1974, chegou a ser considerada pela direção da agremiação à época.

Assisti na Sapucaí aos dois grupos de Acesso nas frisas do Setor 3, desfilando no Boi da Ilha do Governador pelo segundo ano seguido (foto no fim desta seção). Aliás, acho que foi a única vez em que desfilei acompanhando o carro de som.

estácioFoi um pré-carnaval atribulado para Estácio de Sá e Salgueiro: Flávio Eleutério, presidente da primeira, foi assassinado em outubro de 2006 com quatro tiros e encontrado dentro da mala de seu carro (foto). Antecedendo o que também ocorreria em 2014, Guaracy Paes, vice presidente do Salgueiro, foi assassinado na porta da quadra a uma semana do carnaval junto com a sua esposa – seu carro recebeu mais de 20 tiros. Até onde consta, ambos os crimes ficaram sem solução.

O desfile do Acesso A teve um nível técnico fraquíssimo – e mais uma subida controversa da São Clemente. Lins Imperial e Inocentes de Belford Roxo, campeã e vice do Acesso B, disputariam tranquilamente as primeiras posições do grupo acima.

A Caprichosos não teve seu desfile transmitido pela televisão (então na CNT), porque a sua diretoria não concordou com os valores oferecidos.

A Tradição reeditou não somente o samba: repetiu ipsis litteris todas as fantasias do enredo original de 1994 – e um carro em que o 14 Bis era maior que a Torre Eiffel… Obviamente, foi rebaixada.

A União da Ilha foi bastante prejudicada em seu desfile devido às divergências políticas internas.

A Unidos da Tijuca levou para o Desfile das Campeãs uma faixa onde se dizia “O Borel vira o jogo”, em clara provocação à Viradouro e ao fato de ter se colocado à frente mesmo sem Paulo Barros.

A meu juízo as grandes injustiças do resultado final foram o Salgueiro fora do Desfile das Campeãs (deveria ter ficado, no mínimo, com o vice-campeonato) e o não rebaixamento da Imperatriz, que fez de longe o pior desfile do Grupo Especial de 2007. Este mesmo desfile em uma escola com menos força política cairia com uns 15 pontos a menos que as demais, em minha opinião.

Reza a lenda que, além do samba da campeã Beija-Flor, um dos autores também estava, sem assinar, em outras três composições do Grupo Especial – inclusive uma delas acho melhor que o premiado samba nilopolitano.

Ainda sobre a Beija-Flor, em sua disputa de samba chamou a atenção a força econômica da parceria vencedora, que chegava a levar 30 ônibus com torcedores à quadra por eliminatória e distribuía cestas básicas à torcida e, dizem, a alguns segmentos. Que fique claro que a composição tem ótima qualidade.

O Império Serrano tinha um de seus carros andando “de marcha a ré” – a frente era a traseira e vice-versa. De acordo com relatos de amigos, pessoas na arquibancada acusavam o motorista de “estar bêbado” por ter deixado o carro entrar ao contrário na avenida.

A propósito, a escola repetiu o erro de seu cinquentenário e foi punida com o rebaixamento – e, pior, o patrocínio prometido não veio… O enredo, originalmente, seria sobre a Síndrome de Down, sendo “alargado” durante o desenvolvimento.

No Acesso B, durante o desfile da Alegria da Zona Sul um diretor de Harmonia virou para outro e gritou: “- Canta, porra!” Recebeu como resposta: “Canta você”. pano rápido…

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Links

O desfile que deu o título à Beija-Flor

A boa apresentação da Mangueira em 2007

A criativa exibição da Unidos da Tijuca

A boa apresentação da Viradouro

Fotos: Liesa, O Globo,G1 e O Dia

12 Replies to “2007: Com sangue de rei e comunidade, quilombola Beija-Flor recupera a coroa”

  1. 2007 foi um desfile chatinho, chatinho… ademais, o título da Beija-Flor foi merecido ao meu ver.

    Vale destacar a garra do saudoso Luizito que desfilou contrariando a ordem médica.

    No desfile das campeãs, a bateria da Viradouro protestou colocando narizes de palhaço, e chegou a vir com tamborins escritos com os dizeres: “9.8? É palhaçada”. Curiosamente, a partir de 2007 a Viradouro começava a descer a ladeira até o rebaixamento três anos mais tarde.

    Aliás, Tijuca na frente do Paulo Barros viria a acontecer outras três vezes. O Borel vira o jogo 4.0

    O Acesso da São Clemente, preciso dizer alguma coisa a não ser… CONTESTÁVEL? E no B, a Lins foi campeã com o samba que havia rebaixado a escola em 91. Coisas do carnaval…

    O que fizeram com a Beth Carvalho foi triste, triste não, INACEITÁVEL!

    No samba da Grande Rio, uma frase é bem curiosa “Eu me chamo Grande Rio e qualquer dia chego lá” – parece que esse dia não chega nunca. E aliás, o Wander cantou de muletas na avenida.

    Aliás, queria saber como eles conseguiram refazer o abre-alas que pegou fogo na dispersão.

    Como esquecer Roberto Horcades, então presidente do Fluminense, que voltou no tempo e só deu notas de 0,5 em 0,5

    Em história que será recontada amanhã, até hoje não ficou esclarecido qual era o “Kit Jurado”.

    Que venha 2008!

  2. Bom dia!

    Prezado Fred Sabino:

    – Terceira reedição consecutiva na Estácio de Sá, para desespero da ala de compositores. Aliás, Dominguinhos em “dose dupla” no álbum de 2007: autor da Estácio, e intérprete da Viradouro ($$$).

    – A comissão de frente da Mangueira errou consideravelmente a coreografia com as placas. Parte do abre-alas era feita em metal batido, técnica apurada e difundida pelo saudoso Shangai (Não lembro se é assim que se escreve).

    – Aos críticos de Paulo Barros, tratava-se de um enredo, contado na letra do samba. Para os que não entenderam, aquele abraço!

    – O conjunto visual da Vila ficou repetitivo para mostrar as metamorfoses. Muita porta, muito uso de alegorias humanas de forma similar. O camaleão do abre-alas mudava de cor devido à iluminação interna. Era muito bonito!

    – No último carro da Tijuca vinham fotógrafos que clicavam a platéia, e as imagens eram projetadas em dois grandes monitores de computador. Nós “nos víamos” no desfile.

    – Não curti muito a Comissão de Frente do Salgueiro por sua coreografia lembrar a Imperatriz em 1998 (Representando “O sonho de Ícaro”). O restante do desfile foi soberbo!

    – O desfile da Imperatriz foi um lamento só. Talvez se tivesse sido rebaixada à época (O que eu já defendia), teria tomado providências e rumos diferentes. Atribuiu-se o fiasco ao patrocínio da Noruega, que não saiu…

    – O pede-passagem da Portela poderia perfeitamente ser um abre-alas. Carro, na Sapucaí, não precisa ser grande, e este tinha ótimo efeito!

    – O abre-alas da Grande Rio bateu num poste da Frei Caneca, e pegou fogo. Perda total. Improvisaram um carro às pressas para o desfile das campeãs, num estranho e bizarro “aquecimento” para o que viria em 2011…

    – A “cabeça” da Beija-Flor, com aquela fauna de savana, foi das imagens mais impressionantes que já vi num desfile.

    Curiosidades:
    – Naquela época eu ficava no sambódromo até bem tarde (Ou cedo…), esperando para ver os carros voltarem à Cidade do Samba. Estranhamente os carros do Salgueiro estavam DESTRUÍDOS! Sim, muito deteriorados, quebrados em diversas partes. Comentando com minha madrinha na noite de terça-feira, ela soltou “Vai ver que eles sabem que não vão voltar sábado…”

    – Mais uma vez desfilei na Lins Imperial (O que vinha fazendo desde 1994). A presença de Celino Dias foi exigência dos componentes. As alegorias impressionavam já na Presidente Vargas.

    Que venha 2008, e um bi-campeonato bem chato…

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  3. As fantasias de elefantes e girafas da Porto da Pedra foram, talvez, as mais feias e sem-noção da história do Carnaval!! Só mesmo a força política explica ela ter se mantido tantos anos no Especial.

    Candaces… dizer o quê? Como disse o Marco Maciel no Trinta Atos, o samba infelizmente não teve um bom rendimento, prejudicou demais a harmonia e a caneta se deveu e muito aos cacos do Quinho (“Do mito a hisÔÔÔ, encanto e leÔÔÔ”), com mais de um jurado relatando os ôôôs. E isso sem contar a perseguição que alguns “amiguinhos” dos compositores fizeram ao Sambario!

    No mais, título inquestionável para a Beija-Flor e um 11º MUITO INJUSTO para a Mocidade, que àquela altura não tinha mais nenhuma força política. E concordo que a Imperatriz deveria ter caído.

    Não culpemos Paulo Barros pelo desfile atrapalhado da Viradouro (bateria chegando no recuo com quase 1 hora de desfile foi de acabar com a evolução). Lembrem-se de quem era o presidente da Viradouro e o que ele fez com a escola.

    Excelente texto, Fred! Como sempre! E ainda mataram uma dúvida minha, que achava que o carro “de cabeça pra baixo” da Viradouro tivesse sido em 2008!!

    1. Boa tarde!

      Prezado Rodrigo Vilela:

      Aproveito a sua deixa em relação aos problemas do samba do Salgueiro para esclarecer uma celeuma que persiste desde 2007.
      Existe um contra-canto (Ou que for…não sou conhecedor de música) neste samba indevidamente acusado de “caco” fora do lugar.

      Exatamente o trecho
      “Do mito à história (Ô-ô-ô)
      Encanto e beleza (Ô-ô-ô)
      Seduzindo a realeza”

      A Beija-Flor, em seu belíssimo desfile de 2001 (A saga de Agotime), utiliza o mesmo contra-canto (Vou usar este nome!), executado por cantoras, no trecho:

      “O seu corpo que padece (Ó-ó-ó)
      Sua alma faz a prece (Ó-ó-ó)
      Pro seu povo encontrar”

      No caso do Salgueiro, o próprio Quinho e alguns de seus auxiliares fizeram o contra-canto, o que talvez tenha levado a esta confusão de tê-lo “rebaixado” a um caco indevidamente penalizado.

      Acesse o desfile da Beija-Flor de 2001 a partir dos 4 min para ver o contra-canto Nilopolitano (E suas cantoras) comparando-o o com contra-canto Salgueirense.

      Fica a pergunta: merecia ser canetado?

      Atenciosamente
      Fellipe Barroso

  4. Título mais do que justo da Beija-Flor! A grande vantagem foi merecida, a escola deu um verdadeiro show na avenida! Considero 2007 e 2008 os campeonatos mais incontestáveis da Beija-Flor, até os críticos mais ferozes da escola reconhecem sua superioridade nesses dois anos.

    Apesar de considerar um absurdo o Salgueiro fora das campeãs, não consigo achar esse desfile isso tudo. Na verdade, até o samba não acho sensacional como dizem, acredito que ele tenha esse valor por ser comparado aos anteriores da escola, aí sim sobra… O Salgueiro levou para a avenida em 2011, 2012, 2014 e 2016 obras bem superiores a Candaces, pelo menos para mim. Na minha classificação ficava em 4º.

    Desfile muito bonito da Mangueira, o último após a boa fase a partir do “Muda Mangueira em 1996”, e o primeiro desde 85 sem Mestre Jamelão… O saudoso Luizito contrariando as ordens médicas e levando o samba até o final foi um dos momentos mais emocionantes daquele Carnaval! Pena que o que ficou foi a injustiça contra a Beth Carvalho (Absurdo!) e Nélson Sargento (Absurdo duplo!). Apesar do canto mais fraco do que 2006, pelo bom nível nos outros quesitos, considero o 3º lugar adequado. A partir de 2008, a escola entraria numa fase bastante complicada… Ainda bem que passou…

    Unidos da Tijuca seria minha vice-campeã! Que desfile divertido! Criativo, bem-humorado, bonito, escola cantando bastante, Wantuir teve a melhor atuação de sua carreira!

    Também foi o último bom momento da Viradouro no Grupo Especial. Foi um bom desfile, porém acho que fizeram tanto “auê” com as já anunciadas alegorias de cabeça para baixo e com bateria em cima, que acabaram passando despercebidas boas soluções de Paulo Barros, como a excelente ala do futebol, com componentes representando a grama na cabeça, outros como os jogadores, também na cabeça, dois como as traves, e um que era a bola, correndo pela ala até chegar ao componente de trave. O público ia ao delírio e gritava “gol!”! Muito bom! Pelos problemas de evolução e harmonia, além de uma natural frustração por esperarem um desfile histórico, achei o 5º lugar justo. A Vila Isabel completaria minhas campeãs, pois Grande Rio em 2º foi um absurdo, só gostei do abre-alas e olhe lá…

    A Mocidade foi excessivamente canetada… Portela veio com várias autoridades em seu desfile, a destacar o “eterno” presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e o então Ministro do Esporte, Orlando Silva. Desfile bastante simpático, 8º lugar de bom tamanho. Se não me engano foi a campeã na votação por telefone da Globo.

    Imperatriz foi muito mal, porém não acho que foi esse desastre todo, um 11º lugar, ali pertinho do rebaixamento, estava de bom tamanho. Estácio, apesar de não ter sido a apresentação “quente que se esperava”, não merecia cair. Mesmo com o belíssimo samba, rebaixaria a Porto da Pedra, para mim o pior visual do ano no conjunto, e o Império Serrano, pior desfile do Especial, infelizmente, cometendo novamente o erro de preterir um enredo de comemoração de sua história para um patrocinado (que deu o calote ainda…)

    Achei justa a vitória da São Clemente no Grupo de Acesso, mas o ano foi bem fraco, a exceção de 2011, nenhuma escola de 2007 conseguiria ficar entre as 5 em qualquer outro ano no Acesso. O Império da Tijuca seria meu vice-campeão, já que não vi a Caprichosos (mas quem viu me disse que não perdi nada…)

  5. No Especial, de fato, uma Grande Rio inexplicavelmente vice-campeã e um Salgueiro punido. Não sei o porquê mas houve muita má vontade com o Sal. No Acesso, engraçado, não acho a vitória da São Clemente contestável como dito aqui. Acho que estava no bolo e podia, como aconteceu, perfeitamente ter subido. Talvez outros títulos não merecidos da escola tenham criado essa falsa impressão de que ela nunca subiu merecidamente. Em 2001 também foi bem justo. E nos anos 80 o mesmo. Os acessos injustos, a meu ver, são 94, 2003 (MUITO injusto) e 2010 um tanto forçado. Embora, num ano sem grandes apresentações e erro da Renascer na comissão de frente, ela estivesse no bolo também.

  6. Pô, Porto da Pedra “terminou seu desfile sem riscos de rebaixamento”? Era a escola, antes da Apuração, pule de dez como 1 das possíveis rebaixadas…

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