Há uma convenção dando conta que as normas do jornalismo não consideram muito adequado se colocar interrogação no título de um artigo. Embora os manuais tenham razão, fica impossível fugir do chavão para se definir a nova sensação não somente do New York Knicks como do basquete da NBA: o letão Kristaps Porzingis, 20 anos.

O leitor deve se lembrar que em abril, ao final da temporada passada, escrevi artigo chamado “O Pesadelo dos Knicks”, analisando a última temporada da franquia – a pior de sua história – e tentando projetar o futuro da franquia, uma das mais valiosas da NBA e com torcedores mais apaixonados. Naquele artigo elenquei a “limpeza” no elenco feita pelo Presidente de Operações Phil Jackson e indiquei que a franquia seria remontada para a temporada seguinte, via mercado de “free agents”. Também indiquei que a equipe teria uma escolha alta do draft deste ano, modo de recrutamento dos novos talentos.

Resumindo o processo, os principais valores disponíveis não aceitaram vir para New York, mas ainda assim Phil Jackson garimpou valores como Robin López, Arron Affalo e Sasha Vujacic. Do elenco da temporada anterior permaneceram apenas o astro Carmelo Anthony, o armador José Calderón e os segundanistas Langston Gallaway (que vem contribuindo bastante, aliás) e Cleanthony Early.

E tínhamos o draft. O New York Knicks teve direito à quarta escolha, e com ela escolheu o letão Kristaps Porzingis, de 20 anos, 2m21 de altura e que jogava no Cajasol Sevilla, da liga espanhola – a segunda mais forte do mundo, atrás apenas da própria NBA.

A torcida vaiou incessantemente a escolha na ocasião; inclusive com uma cena que se tornaria um “meme”, de um garotinho chorando com raiva – o draft foi realizado no Barclays Center, ginásio do Brooklyn Nets. Afinal de contas, os Knicks precisavam de um jogador que trouxesse impacto imediato e a avaliação era de que Porzingis era um prospecto “para daqui a dois ou três anos”, dada especialmente a sua falta de massa muscular.

À época, cheguei a escrever em redes sociais que não achara ruim a escolha, e que confiava no olho clínico de Phil Jackson. Naturalmente houve um certo estranhamento dado o fato de ter sido uma escolha que não passara pelo sistema de basquete universitário norte americano, mas meu raciocínio à época foi de que o fato de jogar na liga espanhola seria um bom handicap a ele. Aliás, fui um dos únicos torcedores brasileiros dos Knicks que não criticou a escolha.

Sua participação na Liga de Verão e na pré temporada foi discreta. Tanto que muita gente ficou surpresa quando o treinador Derek Fisher o escalou como titular na estreia da temporada, contra o Milwalkee Bucks – uma boa vitória por 122-97. O letão jogou 24 minutos, fez 16 pontos, 5 rebotes e 1 toco – bons números para um estreante.

Na quarta partida, veio o primeiro “duplo-duplo” na derrota para o San Antonio Spurs: 14 rebotes e 13 pontos. O novato começava a chamar a atenção. Em 14 jogos até agora, foram 6 “duplos-duplos”, sendo o recorde de pontos alcançado na partida contra os Hornets (17/11, 29 pontos) e o de rebotes na partida anterior contra o mesmo adversário (dia 11/11, 15). Partida esta aliás onde ele fez a cesta de que daria a vitória as Knicks e que foi invalidada em uma decisão bastante controversa da arbitragem.

Além dos ótimos números, chama a atenção a personalidade e a versatilidade do letão. Porzingis tem bom arremesso de meia e longa distância, ótima envergadura e tem contribuído tanto na defesa como no ataque. Quando escolhido, disse que adorou vir para NY porque “queria jogar com pressão”, e não se intimidou até agora com adversários como LeBron James ou James Harden, que, a propósito, sofreu nas mãos do letão na partida do último sábado – a foto que abre este post é reveladora, mostrando um dos sete tocos que Porzingis deu na última partida.

Suas estatísticas até o momento, para 14 jogos: 13,2 pontos por jogo, 8,8 rebotes, 1,7 toco, 0,7 assistência. Isso para uma média de minutos jogados de 26,1, bem abaixo dos 36 habituais de jogadores que sejam titulares. Expandidas para 36 minutos, suas médias seriam de 18,2 pontos, 12,1 rebotes e 2,3 tocos por partida. Isso sem contar as diversas jogadas plásticas como enterradas e tocos.

Com isso, obviamente New York, os Knicks, a imprensa esportiva e os seus torcedores vivem uma espécie de “Porzingismania”. O material esportivo dos Knicks com seu nome se esgotou e, após as vaias, seu nome já é cantado pelos adeptos no Madison Square Garden. Muitos analistas o classificam como o “novato” mais promissor da franquia desde o lendário Pat Ewing.

Obviamente que 14 partidas não são uma amostra muito longa, mas os números e a postura do jogador letão, evidentemente, levam todos a se fazer a pergunta que expresso no título: nasce uma estrela? O caminho é longo, estagnações e contusões podem ocorrer, mas a perspectiva é promissora. No mínimo não deixa as atenções tão concentradas em Carmelo Anthony, o que representa maiores opções de jogo à equipe.

Os Knicks, neste momento, estão com 8 vitórias e 6 derrotas, ocupando o oitavo lugar na Conferência Leste – na Oeste, seria quarto colocado. Vale lembrar, porém, que 13 destas partidas foram contra equipes que foram aos playoffs na última temporada, ou seja: não foi uma tabela das mais fáceis até agora. Para quem somente venceu 17 jogos a temporada inteira de 2014/15, é uma evolução considerável.

Os últimos tempos tem sido bastante difíceis para nós torcedores dos Knicks. E parece claro que Porzingis é a esperança de dias melhores, quem sabe um novo “franchise player”. E hoje os torcedores brasileiros que não são assinantes do “League Pass” terão uma rara oportunidade de ver Porzingis e o novo time dos Knicks ao vivo, pois o Sportv 2 transmite a partida contra o Miami Heat às 22:30.

Finalizando, vale destacar o bom trabalho do multicampeão Phil Jackson na montagem do time para esta temporada. Montou um elenco praticamente do zero e convivendo com a recusa de jogadores de maior renome em jogar pela equipe, conseguiu um segundo bom jogador na primeira rodada do draft via troca com o Atlanta Hawks (o armador Jerian Grant) e hoje os Knicks tem um time que pode até sonhar com a classificação aos playoffs. “In Phil We Trust”, como dizem os torcedores americanos.

E não deixe de ver os vídeos, leitor. Vai entender a empolgação do mundo da NBA com Porzingis. Nasce uma estrela?

Imagem: USA Today