Assim que a Beija-Flor escolheu o seu enredo para o Carnaval de 2015 a escola de Nilópolis foi alvo de críticas por receber verba de um governo ditatorial que está no poder há mais de 35 anos. Pior que isso, o presidente da Guiné Equatorial é acusado pela Anistia Internacional pela morte de centenas de pessoas.

O carnaval chegou e a Beija-Flor foi campeã. As críticas aumentaram e a situação ficou insuportável. A escola já é famosa por alguns títulos discutíveis, mas a comunidade veio com vontade de vencer após o resultado vergonhoso do ano passado. Nos bastidores, a notícia é que o ditador africano teria doado R$10 milhões para a escola.

Criticaram a forma de que veio esse dinheiro e que esse carnaval não poderia ser campeão. Um mundo onde os contraventores são tratados como deuses. Se não bastasse a contravenção no Rio de Janeiro, em São Paulo, as torcidas organizadas – as quais a gente conhece do futebol – começam a popularizar nos grupos.

carnaval-rio-beija-flor-20150217-10-size-598As críticas são válidas se levarmos em conta o dinheiro público inserido na festa, mas quando, o então candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo propôs uma mudança no financiamento público na escolha de enredo ele foi criticado por muitos do mundo do samba.

Em alguns momentos essa crítica beira a hipocrisia. Meu colega Daniel Moreira postou em seu facebook algumas comparações sobre esse mundo da globalização do capital. Se buscarmos na história não vamos andar de carros Volkswagen que apoiou o nazismo, nem tomarmos aspirina da Bayer, que fazia seus testes em judeus. Mais para a nossa atualidade, não vamos torcer por Neymar que é acusado de sonegação e nem para o Real Madri que é franquista. Não vamos assistir a um jogo do Manchester City, time de um ditador do Catar, e muito menor assistirmos a Copa do Mundo de futebol que acontecerá no país. Não usaremos iPhone e não vestiremos Zara pelas acusações de escravidão em países ditatoriais.

comemora5Sabe por que a Beija-Flor pode e foi campeã do carnaval do Rio? Não por causa do seu patrocinador, mas por causa da vontade de seus carnavalescos. Pela garra da sua comunidade.  O desfile da escola foi lindo e beirando a perfeição. Ganhou pontos injustamente em alguns quesitos, mas as escolas adversárias também.

Desmerecer o titulo da escola é desmerecer o trabalho de centenas de pessoas que dão o sangue por essa escola.

Parabéns, Beija-Flor! Parabéns, Nilópolis!

Notas do autor:

1) São 13 anos da Mocidade Independente fora do desfile das campeãs. Uma pena. Prometeram muito esse ano com Paulo Barros, mas foi só decepção;

2) Como era esperado, minha Viradouro voltou para a série A. A chuva prejudicou, mas a escola fez por merecer também;

3) É hora de pensar se é certo apenas uma escola cair. Sou a favor de 14 escolas no especial com dois rebaixamentos;

4) Vergonhoso o jurado Walber Ângelo de Freitas não dar nota para a Unidos da Tijuca em Alegorias e Adereços. Cansaço não é desculpa. 

5) Parabéns à Estácio de Sá que está de volta ao Especial do Rio e parabéns à Vai-Vai, campeã de São Paulo, Peruche e Pérola Negra que voltam para a elite do carnaval paulistano.

2 Replies to “Um beijo para a hipocrisia”

  1. Amém, uma voz a favor da volta de 14 escolas.

    Vou além: para reduzir alguns custos, poderiam limitar em seis alegorias, reduzir o tamanho das escolas, o tempo de desfile (deixar, sei lá, 70 ou 75 minutos) e aumentar para 16 escolas, com duas caindo.

    É vital em qualquer competição ter o grupo que disputa embaixo. Aliás, mesmo essas vão trazer desfiles bons, porque não vão querer cair.

    Sobre a Mocidade, concordo que foi só decepção, mas ela e a São Clemente deveriam ter ido para as Campeãs nos lugares de Grande Rio e Imperatriz. E pra completar Beija-Flor, a minha revolta se dá, pra variar, pela nota da Salete Lisboa, que não puniu o buraco formado em frente à última alegoria e deu 10!! Triste!!

  2. Boa tarde!

    Caros Henrique Brazão e Rodrigo Vilela:

    Em primeiro lugar, concordo com tudo! Sim, TUDO o que vocês escreveram, criticaram e sugeriam.
    Farei algumas ressalvas aqui, mas não representam em discordância.
    Antes delas, devo ressaltar a genial idéia de enxugar o contingente das Escolas e o tempo de desfile, aumentando assim o número de Agremiações.
    A genialidade desta idéia não está apenas em tornar a festa mais ágil, mas também em fazer com que cada Escola se fortaleça. Sim! Menos gente pode representar mais “grupo”, ou seja, sabe aquela história de “todo mundo conhece todo mundo”? Um verdadeiro “time”.

    Rodrigo, sobre a referida nota 10, reproduzo aqui um texto que deixei no Face (Sim, eu escrevi com essas piadinhas!) numa postagem com o vídeo do buraco:

    Bem, vamos deixar alguns pontos bem claros (Mais até do que os claros vistos na pista! <- Rá! Não resisti!)

    1- Esta cratera foi aberta nos setores 10 e 11 do sambódromo. Chegou tranqüilamente aos olhos da jurada, pois eu estava embaixo da cabine dela na frisa.

    2- A jurada do quesito Evolução deste módulo, Salete Lisboa, viu tudo o que aconteceu, e deu um 10 para a Beija-Flor.

    3- Acontece que, mesmo que ela tivesse dado a menor nota da Escola em todos os quesitos, por exemplo um 9, esta nota baixa teria sido descartada, e o resultado permaneceria o mesmo.

    4- Mais ainda, se ela tivesse dado 10 a todas as Escolas de quem tirou ponto (Viradouro, Mangueira, Vila Isabel e União da Ilha), ainda assim a tabela não teria se alterado.

    Este video não se presta a alterar o resultado, mas a rever julgadores e critérios de avaliação. Se apenas em um quesito podemos tirar tantas informações, o que dizer dos outros 8 avaliados?

    No mais, é isso!

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

Comments are closed.