Terminada a longa “volta de apresentação” que culminou nas convenções partidárias que definiram os candidatos, as luzes se acendem e vai ser dada a largada para a Corrida Eleitoral. A campanha começa, de fato, no dia 19 de agosto, próxima terça-feira, quando os 10 candidatos ao Palácio do Planalto e os milhares de postulantes aos outros quatro cargos começarão a ocupar 40 minutos da grade diária dos canais abertos.

É bem verdade que as Eleições começam agora. No entanto, não é exagero nenhum dizer que algumas votações, se não definidas, estão muito bem encaminhadas. O maior exemplo é a votação majoritária, que elegerá o comandante do Poder Executivo do Brasil nos próximos quatro anos. Na última quinta-feira, o Ibope divulgou uma pesquisa sobre a intenção de voto para as Eleições Presidenciais, a primeira depois da definição oficial dos candidatos.

Eu posso estar me precipitando, ou falando uma enorme bobagem e, nesse caso, certamente alguém jogará esse texto na minha cara lá no fim de outubro, mas, enquanto escrevo esse texto, só tenho uma incerteza quanto à Corrida Presidencial: em qual turno Dilma Rousseff vencerá. Se no primeiro ou no segundo. Se tivesse que apostar, apostaria, com alguma tranquilidade, em uma vitória já no primeiro turno. Isso, claro, se nada de muito anormal acontecer. Veja bem.

Os números do Ibope e do Datafolha vem mantendo-se estáveis há algum tempo. Nos meses anteriores à Copa do Mundo, com toda a incerteza que pairava sobre o ar, a Presidente Dilma caiu ligeiramente, mas já estabilizou a queda. Aécio Neves e Eduardo Campos crescem 1%, caem 1%, ficam sempre ali. No último levantamento, a candidata petista aparece com 38% dos votos totais, contra 23% de Aécio e 9% de Eduardo Campos.

O que temos que lembrar, no entanto, é que a votação leva em conta os votos válidos, ou seja, desprezando brancos e nulos. Assim, resolvi calcular quanto esses 38% representam em votos válidos, mais ou menos da mesma forma como os próprios institutos farão mais adiante: desprezando os brancos e nulos e distribuindo proporcionalmente os indecisos. O resultado já é bem mais expressivo: enquanto Aécio bate em 30% e Eduardo Campos chega a 11%, Dilma tem 49%. Pela margem de erro, de dois pontos percentuais, ela poderia chegar a 51% e, nesse momento, venceria já sem necessidade de segundo turno.

É claro que, a princípio, nada estaria garantido para Dilma pois, como bradam os candidatos oposicionistas, o início do horário eleitoral poderia representar uma queda em sua popularidade. Além disso, 11% do eleitorado ainda está indeciso e Dilma é, com folga, a candidata com maior índice de rejeição: 36%, contra 15% do vice-líder Aécio. Na prática, porém, não é bem assim.

O grande problema é que, pelo menos até a página 2, o horário eleitoral deve ser muito melhor aproveitado por Dilma que pelo adversário. Primeiro porque desde 2002 a produção do horário eleitoral do PT dá um banho nos concorrentes. Depois, porque, esse ano, a disparidade de tempo na propaganda gratuita beira o obsceno. A cada dois dias, Dilma terá, somando os dois horários reservados para este fim, 22 minutos e 48 segundos de um total de 40 destinado aos presidenciáveis. Aécio terá nove minutos e 10 segundos e Campos quatro minutos e seis segundos. Os dois principais candidatos, somados, nove minutos e 32 segundos a menos que a Presidente. Multiplicando a diferença pelos 20, 25 dias de propaganda, vê-se a diferença.

Assim sendo, o potencial de crescimento de Dilma é gigantesco. Nos debates, ela deve se aproveitar do fato do PSDB estar mais perdido que cego em tiroteio e da clara falta de tino de Eduardo Campos para a coisa. A diferença entre a articulação do candidato do PSB em vídeos produzidos pelo partido na internet e em entrevistas em programas como o Canal Livre da Band e a sabatina da Globo News deixa evidente uma coisa: ele é muito bom de horário eleitoral, mas vai apanhar muito em debate. Tem muitas dificuldades quando jogado contra a parede por algum motivo.

Aliás, o que complicou de vez a oposição é que, hoje, Aécio sequer tem o segundo lugar garantido – está estagnado nesses 20% há uns quatro anos. Assim, PSDB e PSB não terão apenas que tirar votos de Dilma para impedir sua vitória em primeiro turno, como também terão que brigar entre si pelo eleitorado. Como a resistência ao PSDB é grande em boa parte do Brasil, diria que, hoje, a única possibilidade de derrota de Dilma é em um segundo turno com Eduardo Campos. Por outro lado, não acho que ele tenha força política para ameaçar uma reeleição ainda que tenha os mesmos 10 minutos de sua adversária na propaganda eleitoral.

Em São Paulo, a Eleição para mim está mais que definida. É mero protocolo a definição do eleitorado paulistano, que deve optar por mais quatro anos de Geraldo Alckmin e PSDB. Seus adversários, Paulo Skaf do PMDB e Alexandre Padilha do PT devem sim crescer muito nesses 50 e tantos dias de campanha – e, por consequência, tirar votos de Geraldo. O Governador, aliás, terá apenas quatro minutos e 51 segundos na propaganda gratuita, contra cinco e 58 de Skaf e 4:22 de Padilha.

Entretanto, as últimas pesquisas não dão qualquer esperança para os antitucanos. Em votos totais, Alckmin tem 50%, Skaf 11% e Padilha 5%. Passando para votos válidos, Geraldo tem assustadores setenta e seis por cento das intenções de voto. Ainda que 14% do eleitorado esteja indeciso, parece um cenário irreversível. E vale lembrar que, ao contrário do que acontece nas Eleições Municipais, o PSDB tem um eleitorado muito forte no interior, onde a resistência ao PT também cresce. Fim de papo.

Disputa interessante, no entanto, deve acontecer para o Senado. José Serra, que dormiu sonhando com o Palácio do Planalto e acordou tendo que buscar o Senado – e, pior, votos para Geraldo e Aécio, briga com o petista Eduardo Suplicy e o, hã, instável Gilberto Kassab pela vitória. A disputa, hoje, está apertada, pois Serra tem 34% e Suplicy 29%, mas muita água vai passar por baixo dessa ponte. O eleitorado paulista parece não ter assimilado muito bem quem é Gilberto Kassab, que aparece com apenas 7%. Esse sim vai crescer muito.

E quando Kassab crescer, Suplicy pode comemorar. Por mais que hoje o ex-Prefeito seja do PSD, ainda há uma associação forte dele com o PSDB. Vale lembrar que ele assumiu a Prefeitura da maior cidade do país em 2006, quando o tucano Serra abandonou o cargo para concorrer ao Governo. E, dois anos depois, o próprio Serra pendeu mais para o apoio ao democrata Kassab que ao companheiro de partido Alckmin nas Eleições Municipais.

Ou seja: o eleitorado tucano deve se dividir entre Serra e Kassab, enquanto Suplicy fica com toda a parte não-tucana dos votos. Os indecisos são 10%, o que é um dado ruim para Kassab – e, consequentemente Suplicy – já que não existem muitos eleitores disponíveis, mas há uma boa possibilidade de votos de Serra migrarem para o candidato do PSD, o que é ainda melhor para o PT, que teria que segurar essa vantagem que hoje bate em 22 pontos percentuais e, assim, tirar os cinco que faltam para alcançar os tucanos.

Há um lugar, no entanto, onde nada está certo e pouca coisa pode ser prevista. O Rio de Janeiro, onde a única coisa garantida é a realização de um segundo turno. É possível, aliás, que os dois primeiros colocados, somados, não alcancem a maioria dos votos. Difícil, mas possível. Não sou profundo conhecedor da política fluminense, mas, analisando os resultados em termos numéricos, tiro algumas conclusões.

Apesar de hoje liderar as pesquisas com 24% das intenções de voto e de ter um eleitorado fiel no interior, sempre importantíssimo, o candidato do PR Anthony Garotinho me parece ter a situação mais complicada. Ele tem astronômicos 39% de rejeição. Marcelo Crivella, do PRB, que também tem 24%, tem rejeição de 16%. Menos da metade. Na média, dos indecisos, que hoje são 7%, mais de 3% não votam em Garotinho. Menos de 1% não admitem, na média, votar em Crivella.

O Governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, apesar da desastrosa gestão de Sérgio Cabral, tem um bom potencial de crescimento. Com 14% das intenções de voto, ele deve ganhar muito com o horário eleitoral. Lembrando que o PMDB foi muito bem em termos de produção na campanha de Eduardo Paes em 2012, podemos esperar que o partido aproveite cada segundo dos nove minutos que terá por horário eleitoral. Lindbergh, do PT, que hoje tem 12%, terá a disposição 4:38, Garotinho 2:17 e, Crivella, um minuto.

Por tudo isso, e por conta da alta resistência que uma boa parte do eleitorado tem com os candidatos apoiados pela bancada evangélica – Garotinho e principalmente Crivella vão muito bem nesse setor – apostaria em um segundo turno entre Pezão e Lindbergh, que tem, respectivamente, 19% e 17% de rejeição. E, a partir daí, só vendo o decorrer dos acontecimentos para arriscar um palpite. Ainda assim, o cenário eleitoral fluminense encontra-se completamente indefinido e, quase literalmente, tudo pode acontecer.

Na corrida para o Senado, o candidato e ex-jogador Romário, do PSB, já aparece com 29% e muito dificilmente será superado pelo democrata César Maia que, com 23%, é rejeitado por grande parte dos eleitores, sobretudo na Capital. Ex-ministro do trabalho, o pedetista Carlos Lupi perde até para o comunista Eduardo Serra, do PCB, no último levantamento. Aliás, não que em São Paulo a coisa esteja muito diferente, mas desejo muita sorte aos eleitores fluminenses. Vão precisar. Tanto para escolher, quanto para sofrer as consequências da escolha. Inclusive, às vezes creio que talvez fosse uma Eleição para Marcelo Freixo ao menos incomodar Pezão, Garotinho e cia.

Não vou dar maiores pitacos por total desconhecimento dos respectivos quadros eleitorais, mas, pelas pesquisas, vejo disputas interessantes a vista em outros estados. No Rio Grande do Sul, onde teremos uma possibilidade de “segundo turno com convidados especiais” no primeiro turno, já que o terceiro colocado tem apenas 4% das intenções de voto, Ana Amélia do PP tem 37% e Tarso Genro, do PT, 31%. Palpite, puro palpite, vai dar Ana Amélia. No Paraná, promessa de briga de foice no escuro entre o tucano Beto Richa, o candidato do PMDB Roberto Requião e a petista Gleisi Hoffmann. Em Minas Gerais, tudo também está bastante incerto. Fernando Pimentel, do PT, tem 25% e está tecnicamente empatado com Pimenta da Veiga, do PSDB, que tem 21%.

Por outro lado, em Estados como Pernambuco, a votação está bastante encaminhada. Armando Monteiro, do PTB, tem 43% dos votos totais e, a princípio, venceria no primeiro turno. O que consola do candidato do PSB, Paulo Câmara, hoje com 11%, é o alto percentual de indecisos – 22%. Aliás, não deixa de ser interessante ver a baixa votação – e alta rejeição, de 20% – do candidato do partido de Eduardo Campos, eleito em 2010 no primeiro turno com mais de 80% dos votos válidos.

Claro que, como dito no início, muita água vai rolar. Mas não dá para negar que, de todo jeito, os resultados das pesquisas anteriores ao começo da campanha vão interferir muito nas estratégias usadas por cada um nessa corrida onde já tem gente queimando a largada e guiando o carro na ponta dos dedos em direção a bandeira quadriculada. E quem vem lá atrás que brigue a cada curva…

3 Replies to “Corrida Eleitoral: As luzes se acendem”

  1. O Pior de tudo do número do Alckmin,é que quem está de fora pensa que ele tem um grande mandato o que é uma mentira. Além disso o Alckmin ter 76% dos votos válidos é uma brincadeira de mau gosto para quem gosta de tomar banho. Risos.

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