Nesta quarta, mais uma edição da coluna “Made in USA”, do advogado e estudioso de Jogos Olímpicos Rafael Rafic. No texto de hoje o articulista tenta prever as chances de medalha do Brasil nas Olimpíadas, que se aproximam, para os esportes individuais.
Brasil Olímpico: Perspectivas de Medalha em Londres
Dando continuidade ao meu “guia prático” sobre o desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos vindouros, hoje detalharei nossos chances e destaques nos esportes individuais. Ficamos combinados desde já que, se algum esporte for omitido aqui é porque não acredito que tenhamos qualquer chance de medalha nele.
Atletismo: como sempre, aqui nossas chances se resumem aos saltos. Nosso atletismo de pista sempre foi ruim e, mesmo que a CBAt tente, não consegue mudar esse fato. Maureen Maggi vem de uma série de lesões, mas defenderá com unhas e dentes seu ouro no salto em distância. Uma coisa que aprendi é nunca duvidar dessa paulista sensacional. Ele pode não estar no seu melhor, mas sabe como ser competitiva como ninguém.
Também temos a super Fabiana Murer no salto com vara. Mas a rainha Yelena Isinbayeva voltou com tudo para as competições e reduziu bastante as chances de ouro brasileiras. Porém, se as varas da Fabi, atual campeã mundial, não sumirem de novo no meio da competição as chances de medalha são altas.
Também vejo chances marginais no nosso revezamento masculino 4x100m. Apesar de não termos um nome de peso, temos 4 atletas bem regulares e que são bastante entrosados – isso conta muito em revezamentos. Luta por um bronze (sempre atrás de EUA e Jamaica).
Torcerei muito pelo Marilson dos Santos na maratona (fechará os jogos mais uma vez), mas em um traçado reto e seco, ele deverá ser presa fácil para os africanos. Ainda sim, há chances caso algo saia do script.
Natação: como sempre nosso time masculino é muito superior ao feminino. Alias, o masculino é infinitamente superior, como não o era desde Atlanta 96. Enquanto no feminino não temos qualquer possibilidade de medalha além das chances periféricas de Poliana Okimoto na maratona aquática, elas sobram na equipe masculina, inclusive a dourada.
Para começar, nos 50m livre o atual campeão olímpico, bi- mundial e favorito é o Cesar Cielo. Se ele falhar, ainda temos um novo nome: Bruno Fratus surgiu muito forte ano passado e já tem o segundo melhor tempo do mundo no ano (só atrás de Cielo). Cielo ainda tem fortes chances de medalha nos 100m livre, mas aí já não aposto com tanta confiança em um ouro.
Seguindo os dois velocistas ainda completam a equipe do revezamento 4x100m livre os ótimos Nicolas Oliveira e Marcelo Chierighini. Sem medo de errar, digo que essa equipe disputa o ouro com Rússia, Austrália e EUA.
Acabaram as chances de ouro? Ainda não! Temos também uma duplinha de Felipes no 100m peito: o França e o Lima, que podem dar o que falar. Principalmente o França, que foi ouro nos 50m peito no mundial (prova não-olímpica) e que tem o quarto tempo do ano. Felipe Lima tem o oitavo tempo do ano, tem boas chances de finais, mas apenas chances marginais de medalha.
Agora as chances de ouro acabaram, mas ainda resta a possibilidade de sempre de medalha do Thiago Pereira nos 200m medley.
Boxe: temos nove atletas classificados. As maiores chances de trazer a segunda medalha do país no masculino (a primeira foi um bronze com Servilio de Oliveira na Cidade do México, em 68) ficam com Robson Conceição (ligeiro) e Everton Lopes (meio-médio ligeiro). Ainda sim dificilmente sairá um ouro ou prata.
Não posso me esquecer da estréia do boxe feminino e com ela trazemos a campeã mundial no peso médio em 2010: Roseli Feitosa. Mesmo não estando mais naquela forma de dois anos atrás, uma campeã mundial nunca pode ser desprezada.
Por fim ressalto o trabalho da confederação de boxe, que foi uma das que mais evoluiu em uma década de Lei Agnelo-Piva.
Ginástica Artística: apesar de levarmos equipe feminina completa, são nos dois atletas masculinos que residem nossas esperanças de medalha.
Arthur Zanetti, um jovem de 22 anos, explodiu no aparelho que, não bastasse ser o pior do Brasil historicamente, normalmente é que mais exige maturidade do ginasta: as argolas. Mesmo contra todos os prognósticos Zanetti vem acumulando excelentes resultados e duas semanas atrás, na Copa do Mundo de ginástica, acertou uma série que se fosse nos Jogos Olímpicos lhe daria, no mínimo, a prata (mas lutando pelo ouro). Mesmo que não vá bem em Londres, tem tudo para ser um dos heróis locais em 2016.
A outra chance cabe, mais uma vez, a Diego Hipólito.no solo. É fato que Diego após a queda de Pequim sofreu várias lesões e nunca mais chegou perto do nível apresentado entre 2006/08, mas o talento ainda está lá e ele é jovem para a ginástica masculina. Estando classificado, não podemos descartá-lo tão facilmente.
Hipismo: mais uma vez, chances apenas nos saltos, e graças aos nossos “europeus”. Não vejo nem o Doda (atualmente nosso melhor cavaleiro) com chances no individual, porém outro bronze por equipe (ganho em Atlanta 96) é possível. Rodrigo Pessoa ainda não perdeu seu excepcional talento, mas desde que Baloubet-du-rouet se aposentou, ele não acha uma grande montaria.
Judô: chegamos em uma das forças de nossa delegação, mas que anda devendo. Nossa última final foi a de Thiago Camilo em Sydney 2000. Em Atenas e Pequim, apenas bronzes.
Para Londres iremos com a equipe completíssima: um atleta em cada uma das catorze categorias – e pelo menos seis tem boas chances de ouro. Melhor equipe que já levamos a alguma edição dos Jogos.
Recomendo ficar de olho nos brasileiros nos sete dias de competição do Judô. Destaques para Sarah Menezes (ligeiro), Erika Miranda (meio-leve), o fenômeno Mayra Aguiar (meio-pesado), Felipe Kitadai (ligeiro), Leandro Guilheiro (meio-médio), Thiago Camilo (médio) e Luciano Correa (meio-pesado).
Se não tivermos pelo menos duas medalhas, uma delas melhor que bronze, direi que o judô acabou sendo uma decepção.
Pentlato Moderno: chegamos à modalidade da minha “xodó” da delegação, Yane Marques. Essa guerreira de Afogados da Ingazeira (cidadzinha no interior de Pernambuco, quase Paraíba) brilha no esporte mais difícil dos jogos olímpicos, que combina corrida, natação, hipismo, tiro e esgrima.
Se já é difícil treinar para um esporte apenas no Brasil, imagina para cinco? Agora imagina não bastar essa dificuldade, você com toda a humildade constantemente ficar no top 10, top 5 nas principais competições mundiais carregando a bandeira brasileira. Imaginou? Então você pensou em Yane Marques.
Ela teve um excelente sexto lugar no mundial da categoria no mês passado e em uma modalidade em que nos últimos torneios principais a rotatividade de vencedoras foi suprema, é bem possível que ela consiga medalhar: é só melhorar um pouco na corrida. Hoje no formato atual da modalidade a corrida tem um peso enorme e sempre foi ‘um calo’ na vida de Yane.
Mesmo que ela não consiga essa medalha, ela merece nossos aplausos de pé por tudo que já fez pelo pentatlo brasileiro. Nunca me esquecerei de como fiquei feliz com o ouro dela no Pan aqui no Rio em 2007. Das 141 medalhas que ganhamos, essa foi de longe a que mais mexeu com minhas emoções.
Remo: tenho que destacar a campeã mundial de skiff leve individual de 2011, Fabiana Beltrame. O problema é que o skiff leve individual, especialidade de Beltrame, não é uma prova olímpica e assim as chances delas no skiff duplo com a Luana Bartholo são bem pequenas.
Taekwondo: aqui eu também aprendi a nunca duvidar de Natalia Falavigna (foto). Ela veio de um longo período lesionada e não deve chegar 100% para Londres, mas a classifico no mesmo time de Maureen Maggi: das competidoras natas.
O que essa paranaense não tem de humilde, tem de talento. Ainda mais em um esporte como taekwondo, em que a definição é em dia único, tudo pode acontecer com quem tem talento. Não podemos nos esquecer que ela foi campeã mundial em 2005.
Os especialistas ainda classificam o outro brasileiro classificado, Diogo Silva (o primeiro ouro do Brasil no Pan 2007), com chances de medalha. Entretanto eu, sinceramente, não sigo a aposta.
Vela: aqui está um dos maiores clássicos que essa edição dos Jogos nos reserva. A grande chance de ouro está, como sempre, na classe Star, na qual os brasileiros, atuais campeões mundiais, Robert Scheidt/Bruno Prada enfrentam os donos-da-casa e atuais campeões olímpicos: Ian Percy e Andrew Simpson. Estas duas duplas vêm protagonizando verdadeiros pegas em várias competições há mais de dois anos. Será muito bom de acompanhar.
Ainda temos chances de ouro com Ricardo Winicki, o Bimba, na RS:X (antiga prancha a vela). Para quem não se lembra, Bimba era aquele que tinha o ouro na mão na última regata em Atenas 2004 e não ficou nem com o bronze.
Ainda há possibilidades de medalha, mas não creio que de ouro, na 470 feminina com Fernanda Oliveira e Ana Barbachan. Não descarto a possibilidade de surgir alguma outra medalha nas outras quatro classes nesse esporte que é a nossa grande potência olímpica – junto com o vôlei, embora acredite ser altamente improvável.
Vôlei de praia: por fim, analiso o vôlei de praia, que não analisei na coluna anterior. No momento em que escrevo a CBV ainda não divulgou as quatro duplas (duas masculinas e duas femininas) que deveremos levar à Londres, mas salvo zebras deverão ser Juliana/Larissa, Maria Eliza/Talita, Emanual/Alison e Ricardo/Pedro Cunha.
No feminino, salvo zebras ou peças do emparceiramento, deveremos ter uma final eletrizante entre Walsh/May (EUA) e Juliana/Larissa, justamente a final que deveria ter corrido em Pequim 2008 não fosse a lesão no joelho de Juliana poucos dias antes dos Jogos. Se a final for essa mesmo, é jogo para parar o que tiver fazendo no dia 8/8 para ver. Um clássico que não tem dupla favorita. Já Maria Eliza/Talita creio que disputem o bronze, mas ainda sim não é garantido.
No masculino, as duas duplas são muito boas e tem tudo para se cruzarem nas semi-finais (é obrigatório as duplas do mesmo país se enfrentarem nas semi), mas tenho dúvidas se qualquer uma das duas consegue passar da dupla americana. Não é impossível, mas vejo os americanos ainda superiores. De qualquer forma, devem vir duas medalhas para nosso quadro no masculino.
Por fim, como combinado com o editor do blog, após falar sobre nossas principais chances de medalha, tentarei cravar os números do Brasil no quadro de medalhas. Então vamos lá.
Acredito que temos tudo para quebrarmos o recorde brasileiro de medalhas em uma edição dos jogos, 15 em Atlanta 96 e Pequim 08. Porém acredito que a qualidade das medalhas será razoavelmente melhor do nessas duas edições (3O, 3P, 9B e 3O, 4P e 8B respectivamente) e deve regular a qualidade de nossa melhor edição em Atenas 2004 (5O, 2P e 3B).
Sendo assim, se eu tivesse que chutar um número (não há a menor condição de fazer uma aposta convicta em três números) diria que ganharemos cinco ouros, cinco pratas e oito bronzes, perfazendo um total de 18 medalhas. A posição que isso nos daria no quadro?
Isso é história para outro post.
O jornal USA Today divulgou semana passada sua já famosa projeção para todos os países e nos deu 17 medalhas, sendo sete de ouro, cinco de prata e cinco de bronze. Mas aposto em um número menor de ouros porque eles deram uma devaneada bonita em duas ou três projeções, principalmente no futebol masculino

3 Replies to “Made in USA: "Brasil Olímpico: Perspectivas de Medalha em Londres"”

  1. Grande rafael,

    Aquela gauchinha dos 50m livre não dá pra apostar num MILAGRE da natação feminina? Abraços

  2. Gabriel, por um acaso você está falando da Graciele Herrman? Só se ela fizer um daqueles milagres históricos. Só como comparação: o melhor tempo da Graciele no ano foi 25.15 feito no Maria Lenk. O melhor tempo mundial é simplesmente 1s abaixo disso, 24.10 da Kromowidjojo (mais uma produto da fantástica escola holandesa de velocistas, da qual sou fã).

    O 10° melhor tempo do ano (que deve rendar a marca para fazer final olímpica) está em 24.76. E olha que a Lisbeth Trickett (ex-Lenton) nem está no Top 10…

    Ou seja, praticamente impossível. Poliana tem chances astronomicamente maiores.

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