Excepcionalmente nesta quarta feira, temos mais uma edição da coluna “Orun Ayé”, de autoria do compositor Aloisio Villar. Hoje o tema é a interação proporcionada pela internet e seu advento.

Devo confessar que conheci minha esposa em uma destas salas de bate papo do Uol, nos estertores do século passado. Ou seja, às vezes a internet nos traz coisas que ficam.

A Rede Social

Esse é o nome de um filme que fez muito sucesso no ano de 2010. Trata-se da trajetória de Mark Zuckerberg, o inventor do facebook. O mais jovem bilionário do mundo. Com vinte e sete anos tem uma fortuna estimada em quinze bilhões de dólares e sua invenção, o Facebook alcança todos os continentes e mais de cem países.
Isso tudo porque um garoto nerd de Harvard, sem muitos amigos e fracassado com as mulheres inventou uma rede social. O mesmo perfil que o meu. Só que eu fui compor samba, ele ficou bilionário.
Por quê estou falando sobre isso?
Primeiro porque o filme repete toda hora na HBO e acabei me apaixonando pela história, já vi umas cinco vezes. Segundo porque apesar de ter facebook e ainda não ser um apaixonado pela criação de Mr. Zuckerberg a internet mudou a minha vida e acredito que do mundo.
Cresci sem nem ter idéia da existência de internet. Sabia que existiam computadores, mas via só como coisa de cientistas e da CIA. O máximo de tecnologia que eu e todos os garotos dos anos 80 víamos era o atari. Minha geração era fascinada pelo atari e jogos como pac man, river raid e enduro.
E nem se sonhava com a tecnologia e perfeição de um jogo de futebol como o FIFA. Os jogadores eram tracinhos que corriam atrás de um pontinho que era a bola. E algumas vezes o Atari não queria ligar e tinha que ficar ligando e desligando pra pegar.
Se quisesse escrever, era a mão mesmo ou usando máquina de escrever. As novas gerações nunca devem ter visto uma de perto. Eram máquinas com teclas como do teclado de um computador, com a diferença que não eram tão suaves como de um PC. Muitas vezes o dedo escorregava e machucava.
Na máquina eram colocados papéis e o que digitávamos marcava o papel e pra apagar algo usava-se o corretivo. Esse modo rudimentar de escrita para quem tem PC, notebook, celular com acesso a net e tablet foi primordial para que algumas das obras literárias mais importantes da história fossem escritas. 
Como eu disse criança da minha geração se divertia com vídeo game e na rua jogando futebol, taco, pique esconde, pique bandeira, bolinha de gude, pião, bafo, pipa, queimado e correndo ao tocar a campainha alheia.
Maior conhecimento sobre computadores tive nos anos 90.
Alguns amigos com mais grana já contavam ter computador em casa. Não cheguei a ver e nem sonhava ter um. No fim dos anos 80 tive aula de informática no colégio sem nunca ter chegado perto de um computador e sem usar nas aulas. Só teoria.
E aula de informática só com teoria é chata demais. Foi uma das nove matérias que fiquei reprovado na sétima série. Mas esse meu pífio desempenho escolar conto em outra coluna.
Apenas em 1996 conheci um computador. Fui matriculado por minha mãe em um curso de informática e meu primeiro contato com um PC lembrou de um índio conhecendo navegante português nos tempos das caravelas. [N.do.E.: eu sou um pouco mais antigo, trabalho com computador desde 92 e tenho internet em casa desde 1998]
Aos poucos fui conhecendo a máquina,o MS DOS, word, acsses, excel… Passei com louvor no curso. Mas ainda não tinha um computador,só ganhei um em 1998. Ano que também conheci a internet e minha vida mudou.
Como eu já disse algumas vezes, era um garoto introvertido que tinha uma fuga na imaginação e na escrita. Acabei encontrando na internet o ambiente perfeito pra mim. Apenas com alguns dias com internet em casa (período da internet discada que contava apenas um pulso de madrugada, provedores pagos e com limite de horas por mês) descobri as salas de bate-papo.
E ali pude usar meu dom da escrita. Fiz amigos na internet e descobri que podia seduzir, fazer alguém ficar com muita vontade de me conhecer. Não demorou muito para conhecer a primeira menina, a segunda, terceira… A internet acabou servindo a me mostrar que eu era capaz de desenvolver minha auto estima.
Com o orkut em 2005 conheci muita gente bacana. Amigos que se tornaram importantes na minha vida e levo até hoje, mesmo muitas vezes nunca tendo visto pessoalmente e morando longe de mim. Fiz amigos que vejo diariamente também e nem lembrava que conheci pela net.
As comunidades do orkut viraram febre e lá fiz essas amizades reais. Meus grandes e verdadeiros amigos fiz na escola, no samba e na internet.
E tive amores.
Tirando a Michele,que vem a ser a mãe da minha filha Bia, todas as minhas namoradas conheci em comunidades de orkut. Começava com uma atração pela foto e pelo que escrevia, pedido de msn, conversa por lá, empatia e depois seguia todo o trâmite normal que um clima de romance traz.
Não só namoradas, mas conheci através da internet outras mulheres que foram fundamentais na minha vida. Tive grandes companheiras graças ao computador. E graças ao computador consegui uma projeção maior como compositor de samba-enredo.
Entrei para a lista de discussão (listas de grupos fechados onde se troca e-mails sobre determinado assunto) Academia do Samba no fim de2000. Ali descobri que existia um monte de aficionados por carnaval na internet.
Alguns meses depois surgiu o Espaço Aberto, fórum de discussão sobre samba do site Galeria do Samba e as listas Planeta Samba e Monarcas do Samba. Desta faço parte até hoje.
Tive sorte de entrar pro mundo do “samba virtual” na ocasião que venci meu primeiro concurso de samba-enredo, com o meu samba mais marcante que foi Boi da Ilha em 2001. Com isso toda minha carreira como compositor teve alcance pela web e pôde ser projetada além fronteiras.
Muito do conhecimento sobre mim e do reconhecimento que recebo vem devido à internet. Outro dia por curiosidade digitei meu nome no google e apareceram quase cinco mil citações. O compositor de carnaval hoje em dia nem precisa ganhar muitos sambas para ter reconhecimento do público e das quadras. Qualquer sambista tem computador em casa ou vai em lan house e o internauta tem acesso aos sambas concorrentes. Hoje temos sambas que perderam mais famosos que muitos que venceram.
Isso faz ter conhecimento até de injustiças de gente como eu que até tem talento, mas está longe de ser genial, ser mais conhecido e ter mais reconhecimentos que grandes gênios que escreviam sambas quando não existia internet.
É como o futebol, o bom jogador de hoje tem muito mais exposição que o gênio do tempo que não existia internet nem tv.
A internet ainda me deu oportunidade de fazer parceiros e ter cantores defendendo meus sambas, principalmente a lista Monarcas do Samba. Parceiros como Armando Daltro, Diego Mendes, Thiago Lepletier, Cadu, Walkir, Barbieri e Pedro Migão. Cantores como Mauricio Poeta e Júnior Duarte. Na Galeria do Samba parceiros como Diego Nicolau, Walter Nicolau, Thiago Daniel, Diego Tavares e Marcelo Motta.
Todos com duas coincidências. Boas pessoas e vencedores.
E o Monarcas ainda criou um bloco, o Monarcas na Glória [N.do.E.: onde fui Rei Momo em 2004, foto abaixo] que virou Monarcas na Engenhoca e desde 2004 saí todos os anos, mostrando que um encontro de amigos pode render muitos frutos.
Não tem um dia que eu não ligue o computador e acesse a internet. Hoje ela faz parte de mim e se eu ficar sem poder conectar terei problemas até pra resolver assuntos do meu dia a dia. Não fiquei bilionário como o Zuckerberg, mas também ganhei muito pra minha vida desde que ela também se tornou virtual.
Agora o mundo cabe na tela do computador. E a vida envia arquivos. 
Taí… Essa merecia um RT ou um ‘curti’. Orun Ayé!

2 Replies to “Orun Ayé – "A Rede Social"”

  1. Nossa!!! Essa de ficar desligando e ligando o Atari para a “fita” pegar (isso mesmo naquela época os video games tinham “fita” de jogos) é da minha época. O tempo passa e a gente nem percebe.

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