Os comentários do post referente à promoção trouxeram algumas idéias bastante interessantes.

Reproduzo aqui, comentando, algumas excelentes considerações feitas sobre o post “Tempo Bom Não Volta Mais” e que merecem serem discutidas mais detalhadamente. Não selecionei todos mas apenas aqueles que resumiam a idéia geral.

O desenho que coloco acima é um clássico citado por dez entre dez admiradoras dos desenhos da minha geração: a historinha do Pica Pau onde a bruxa fica fazendo uma espécie de “test drive” com as vassouras até achar a sua mágica. A frase “e lá vamos nós” dita pela bruxa se tornou um aforismo de minha geração.

O curioso é que o Pica-Pau é acusado de ser politicamente incorreto e desonesto, mas a mensagem passada pelo exemplar acima é justamente a inversa: a bruxa leva a pior justamente por não querer pagar o valor referente ao conserto de seu meio de transporte movido a piaçava.

Vamos por partes:

“Como pai de uma garotinha de 8 e de um homenzinho de 7 meses, e viciado em Football Manager, não tinha como deixar de mencionar ambos.

Uma das conversas que mais tenho com minha esposa é de como a infância hoje não tem mais a mesma qualidade de quando éramos crianças. As brincadeiras, os “pode e não pode”, as músicas, os desenhos na TV… Tudo isso mudou demais.

E a maior preocupação da minha parte fica justamente no término precoce da infância. Crianças de 11, 12 anos já saem por aí sozinhas em shopping centers, em turminhas, querem distância dos pais, e pra muitas já rola “pegação”.

Não sei o que esperar nos próximos anos, apenas vou tentar dar o melhor exemplo possível pros meus filhos, e tratar de ter tv a cabo em casa sempre, pois desenhos clássicos como Tom & Jerry, Papaléguas & Coiote, já não se fazem como antigamente.”

(Rômulo Genu Neto – Curitiba)

Eu sempre falo que uma das causas do aumento da gravidez na adolescência é justamente a erotização precoce incentivada pela televisão. Além disso, práticas propagadas pelas telenovelas possuem bastante influência neste tipo de comportamento, gerando algumas consequências bastante indesejáveis. Cabe a nós pais educar e tentar diminuir estes efeitos na formação das crianças.


Uma coisa que parece brincadeira ou preconceito, mas não o é: quando eu tinha 18 anos, era raro encontrar uma menina da mesma idade que já tivesse experiência sexual. Meninos da mesma faixa etária normalmente tinham suas experiências com profissionais ou, em fenômeno que começava àquela época, com as namoradas “firmes”. “Ficar” não existia, ou era muito restrito.

Hoje a minha percepção – respaldada por dados de pesquisas – aponta para o fato de que a maior parte dos jovens de 14 e 15 anos possui vida sexual ativa. Um adolescente de 15 anos, seja de que sexo for, hoje em média possui mais experiência que um jovem de 21, 22 tinha em meus tempos. Sem dúvida alguma a televisão teve influência decisiva neste processo, bem como a mediocrização crescente da cultura de massa e outros fatores.

Também percebo um certo “modismo” por práticas homossexuais na adolescência como reflexo da erotização cada vez mais precoce da sociedade. Na visita recente que fiz a Curitiba vi vários casos, especialmente de moças, com não mais do que catorze ou quinze anos namorando tranquilamente na rua, em especial na Praça do Japão. É um exemplo mas não é muito diferente do que ocorre em outras cidades.

Não que isso seja ruim, mas devemos e podemos esperar o completo amadurecimento da orientação sexual do indivíduo. Até porque uma pessoa bem resolvida sexualmente, sem influências externas, será mais feliz e mais saudável seja qual for a orientação dada.

E a culpa é do pobre do Pica Pau…

“Sem duvidas, indo com a maioria no post “Tempo bom não volta mais”.

Uma das grandes discussões que tenho em diversas comunidades por aí é justamente sobre o quanto da magia e inocência se perdeu com o passar dos anos. Éramos crianças de verdade, daquelas que brincavam de boneca e jogavam bola… que chegavam aos 13, 14 anos fazendo o mesmo. Infelizmente, hoje em dia tudo o que vemos são pequenos adultos de 8 anos, assíduos em Malhação e outras novelas, preocupados em “ficar” e outras coisas que nossos pais ensinavam que “teriamos a vida inteira para fazer”.

Pobres dessas novas gerações, que jamais sentirao o gostinho da velha infancia.

Otimo post, parabéns!”

(Yannah – não indicou a cidade)

Além destes fatores apontados, o concomitante crescimento da violência urbana, a diminuição dos espaços ao ar livre disponíveis para brincadeiras e uma certa “xenofobia” (no caso, contra pobres e pretos) “guetizou” demasiadamente as crianças e as levou a estar cada vez mais trancadas em suas casas, reféns da televisão e dos videogames.

Outro aspecto é que um “amadurecimento” precoce leva a um maior consumo por parte das famílias, pois cada vez mais cedo existe uma decisão por parte das crianças sobre o que elas querem ou não usar. Por isso que sou a favor da proibição de comerciais em canais infantis.

“Infelizmente estão querendo formatar, até mesmo, a infância. Hoje não se respeita, nem mesmo, a pureza da percepção infantil, que não vê maldade e malícia em tudo. O reflexo disso serão futuros adultos que aprenderam uma bondade falsa, que pouco tem a ver com a bondade espontânea, solidária…de respeito verdadeiro aos outros. Ao se depararem com um mundo tão diferente daquele que lhe foi ensinado, esses adultos não saberão como lidar com esse mundo tão imperfeito. Talvez até, terão a convicção de que a bondade verdadeira inexiste. “

(Eduardo Bormann – Rio de Janeiro)

É a hipocrisia que eu citei no artigo original: persegue-se o “politicamente correto”, mas o que se vê em média na sociedade é uma prática cada vez mais egoísta e voltada ao hedonismo pessoal e à falta de caráter. O “Maravilhoso Mundo da Barbie” ensina às crianças, apenas, que o importante é consumir e competir. Isso gera adultos extremamente egocêntricos, quase cruéis.

Ainda reclamam dos políticos, mas esquecem-se de que eles são reflexo e consequência da sociedade. Nesta semana de eleições é uma reflexão que se faz necessária.

Nessa hora que entram contrabalançando o papel dos pais e, para quem segue, uma boa formação religiosa. É imprescindível.

“O tópico do post é muito interessante e a sua análise muito válida.

Gostaria de acrescentar à discussão:

– Não estou convencido que a nova versão dos desenhos tenha por objetivo apenas excluir cenas ou atitudes politicamente incorretas. Enquanto por certo esta prática é adotada (havia um desenho em que o Tom fumava um cigarro enquanto paquerava uma gatinha branca – e eu não me tornei fumante por isso) ela não basta para justificar o teor de alteração que é realizado.

Para mim estas atualizações têm muito a ver com a onda de relançamentos de Holywood por exemplo. Eu acho que há uma falta de criativadede generalizada. É a necessidade de se produzir um novo produto porém as condições criativas do desenho original não mais estão presentes e muitas vezes não basta dinheiro para criar algo que preste.

– Segundo, enquanto ocorre essa “limpeza conceitual” dos antigos desenhos e seriados (e de canções ou outras manifestações de nossa infância) por outro lado existe um ataque frontal ao caráter meio pueril daquela época. Os desenhos novos são mais consumistas, mais “realistas”, em suma mais “invocados” ou “maneiros”.

Como exemplo assisti esses dias ao novo Karate Kid. Uma série de elementos no novo filme são significativos tamanha a distância que o separam do original. Para não me estender no ponto basta dizer que enquanto o chute final do filme anterior era aquela coisa meio ridícula imitando um pato manco, o atual involve uma técnica de hipnotismo aliado a um chute voador duplo carpado ao estilo Dayane dos Santos. Po**a! Fora que o guri dá uns amassos na menina e é exímio dançarino de street dancer. Ah, e é marrento do início ao fim…

Concluíndo, enquanto “tentamos proteger” nossas crianças de comportamentos indesejáveis (quais seria a classificação desses comportamentos?) por outro lado estimulamos outra série de comportamentos talvez mais perniciosos (individualismo exacerbado, falta de educação, sexisismo infantil, etc.)

Vai saber… “

(Pedro Paulo – RJ) 

Fecho de ouro. Vemos que os desenhos não possuem muita influência na formação da personalidade da criança, perto de outros fatores muito mais fortes. Entretanto, o mundo cai na hipocrisia de sempre apontar um culpado que irá servir de “boi de piranha” para que os verdadeiros responsáveis sigam impunes. É assim na política, na economia, no time de futebol…

No fundo, é a subordinação de tudo ao que o economista e escritor John Perkins chama, apropriadamente, de “corporatocracia”. Todos a serviço das grandes empresas, preocupadas em lucros a curto prazo – ainda que isso signifique infâncias perdidas, famílias arruinadas pela dívida, alimentos transgênicos e repletos de agrotóxicos nocivos…

É o mundo do dinheiro. Cabe a nós se proteger e mudar este quadro.

4 Replies to “Tempo Bom não Volta Mais – II”

  1. Excelente post! Completa perfeitamente o post anterior e nos faz refletir sobre a educação de nossos (futuros) filhos.

  2. Hehereheheh!

    Imagine hoje alguém produzir um desenho como o “Cataratas no Barril” (Niagara Fools) no original, onde o guarda constantemente é saudado pelo público ao descer as cataratas do Niágara em um barril… Ou os desenhos originais do Pernalonga… Nem em sonho…

    HOOORAY!

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