Hoje, 18 de abril, é aniversário do escritor Monteiro Lobato. Faço o registro porque sou um absoluto devedor do caboclo em relação ao gosto pela leitura.

Foi um livro de Lobato , As caçadas de Pedrinho,  que me fez sentir com as palavras, pela primeira vez, um prazer similar ao de marcar um gol de bicicleta numa pelada, completar o álbum de figurinhas e comer misto quente de cantina; só superado, como descoberta radical da vida, pelo dia em que Nicole Puzzi me consagrou Cavaleiro da Ordem de Onan.

Fui, além de leitor, um espectador assíduo do Sítio do Picapau Amarelo na televisão. Acho, inclusive, que devo boa parte do meu gosto por mitologia greco-romana ao episódio de O Minotauro. A fera, com corpo de homem e cabeça de touro, saiu do labirinto de Creta para sequestrar Tia Nastácia e obrigar a velha a preparar os famosos bolinhos de chuva.

Não contente em sequestrar a preta velha, o Minotauro levou de lambuja o Marquês de Rabicó, com o intuito de mandar o porquinho pro bucho numa feijoada. O episódio foi bom pra dedéu, com direito a duelo entre Pedrinho e Alcebíades, bate papo da Dona Benta com Heráclito, quizumbas entre Teseu e Dionísio e outros babados.

Lembro perfeitamente, nessa história do Minotauro,  que o pessoal do sítio chegou à Grécia recitando a palavra mágica: Pirlimplimplim. Quem leu o livro, porém, sabe que pirlimplimplim não era palavra coisa nenhuma – era o pózinho que a turma  cafungava para viajar no tempo e no espaço.

A censura, na época do regime militar, achou que esse negócio de exibir  crianças, velhas, sabugo de milho, saci pererê e boneca falante cheirando pó e parando na Grécia nos tempos de Péricles era meio esquisito. O pó mágico virou palavrinha mágica mesmo.

A trilha sonora do Sítio também era do balacobaco, com João Bosco, Sérgio Ricardo, Jards Macalé, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil  e a divindade Dorival Caymmi.  Bons tempos em que a iniciação musical da criançada primava por um outro nível, numa espécie de era de ouro da meninice para os que, como eu, viveram uma infância  AX [antes da Xuxa].

Devo outro momento magnífico da minha vida de leitor às Aventuras de Hans Staden, narradas por Dona Benta e comentadas pela turma do sítio. A história do alemão, que chegou ao Brasil no século XVI e passou nove meses prisioneiro dos tupinambá, sob ameaça de ser devorado pela rapaziada do cocar, é de deixar qualquer criança zureta, com vontade de tirar a roupa, botar a tanga, morar na floresta e comer gente de vez em quando. 
O Sítio do Picapau Amarelo também deu samba. Em 1967 a Mangueira desfilou com O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, uma obra prima de Jurandir, Darcy, Hélio Turco, Batista, Luiz e Dico. A gravação, inspirada, é da mangueirense  Beth Carvalho :

Abraços.

11 Replies to “MONTEIRO LOBATO – O ANIVERSÁRIO E O SAMBA”

  1. Creio que descobri o que é ser brasileiro ao ler “O Poço do Visconde”. Este Bentinho Lobato deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas primárias do Brasil..sil… sil.

  2. Eu também gostava muito de assistir o Sítio do Picapau Amarelo e, certamente, o Minotauro foi um dos grandes momentos do Sítio!

  3. Monteiro Lobato foi sensacional, não só por suas obras em si, mas pelas referências que estas faziam à mitologia e história em geral, despertando, além do prazer de sua leitura, a curiosidade das crianças para com outros livros.
    Dá a maior pena dessa garotada de hoje…
    Abraços!

  4. congratulações de minha parte também ao TORCEDOR SIMAS, pela extraordinária conquista do título de campeão carioca pelo FOGÂO em cima do “império do amor”.

    EVOÉ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Abraços

    Jairo

  5. Luiz Antonio,

    Também devo muito à Monteiro Lobato. Sou de uma familia de migrantes, meus pais vieram da roça, do interior de São Paulo, e uma das minhas avós, viúva, morava num sítio, onde eu passei todas as minhas férias até pelo menos os vinte anos. Não preciso dizer que o sítio do Pica Pau Amarelo que assistia na Televisão tinha um significado todo especial pra mim.

    O sítio foi reapresentado nos anos 90, acho na tv Cultura, e eu pude rever episódios como o do Minotauro. Eu morria de medo do bicho. Mas é claro que depois de velho não tem lá muita graça, melhor ficar com as lembranças de criança.

    Do Monteiro Lobato quase seria o primeiro livro que iria ler na vida, “O Saci”, ainda na primeira série, mas não dei conta e o primeiro acabou sendo uma adaptação de “A menina e Vento”.

    Abraço!

  6. Alô, Simas,

    eu também nunca me esqueci daquele episódio do Minotauro… E assistir ao sítio era religião para mim, criança ali na virada dos 70 pros 80… Dá uma saudade braba, meu caro…

    Quanto ao samba, sempre achei o melhor da Manga, um samba-enredo, não essas colagens que neguinho faz hoje em dia.

    Abração!

  7. Olá!!!

    Fiquei muito feliz de ver essa homenagem ao grande Monteiro Lobato. O Brasil sempre terá uma dívida de gratidão com esse homem, que tanto lutou pela nacionalidade. Por nossa identidade brasileira!

    Aproveitando a deixa, gostaria de avisar que no ano de 2011 o GRES Unidos de Cosmos irá beber na fonte Lobatiana para debater os rumos do petróleo. O ouro negro tão defendido por ele, e que hoje ainda é grande motivo de debate pelas reservas do Pré Sal!

    Nosso enredo será: “No Reino das Águas Claras de Monteiro Lobato brota o ouro negro do pré sal, Cosmos e o Visconde desvendam a História do petróleo nacional.”

    Abraços a todos os amigos e saudações em verde e branco!

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