“Começo a escrever
Não escrevo.
Mente a reter
impressões demasiadas a sulcar relevo
velocidade imprecisa a embolorar a lembrança
frenético pulsar de soldados a abater os neurônios defensores
lanças solitárias de aparente bonança
claves estrategistas a dissipar os favores
destinados dizeres, imiserável tesoura
palavras soltas sem algum significado
palavras soltas de perdida lavoura
confusão verbal sem qualquer predicado.

Já dizia o artista que canta para esquecer
já dizia o poeta que poetiza para lembrar
equilibrista fogo que arde sem doer
soberana arte que nem sempre expressar.
Malquisto ventre a gerar a torrente
Catarata pura de razões multiplicar
soluço pleno e solitária vertente
palavra insana sem sorte ou azar
Máscara negra que esconde nada
máscara lavra o vocábulo pescar
mascara a letra no verso largada
mascara a força no texto calar.

Hermética visão que pulsa a brincar
sem sentido que faz todo sentido
outono de luz, uma esfera solar
enredo luminoso em si entretido.
Lembrança lustrada, supremo olvidar
Sonoro som no âmago ressoa
Olvidar balanço, na linha do mar
Poema sem enredo o verso coroa.”