Sem dúvida alguma, o assunto palpitante do momento é a vinheta que a Rede Globo colocou no ar no último domingo – acima – que reproduzia subliminarmente a peça de propaganda do pré-candidato do PSDB à Presidência da República José Serra.

Além do “45” em destaque – “por acaso”, o aniversário da emissora e o número eleitoral do PSDB – as frases institucionais ditas pelos contratados da emissora são motes do discurso feito pelo pré-candidato no lançamento da pré-candidatura.

Menos mal que com a pressão de diversos setores da sociedade – e, segundo o sempre bem informado Marco Aurélio Mello, com a atuação decisiva de um dos maiores astros da emissora – a Rede Globo de Televisão retirou do ar a campanha institucional referente ao seu aniversário. Mas a logomarca, com o “45” bem destacado, continua lá.

Penso que este é um bom exemplo para entendermos a aversão da chamada “grande mídia” a quaisquer que sejam tentativas de algum tipo de regulamentação da atividade de jornais, revistas e televisão no país. Sob a capa de “liberdade irrestrita de imprensa” os veículos defendem a legalidade de influenciar a opinião pública e estabelecer diversos proselitismos a fim de atender sejam os seus interesses políticos sejam os de patrocinadores.

A pré-campanha eleitoral à presidência é o exemplo mais acabado e escandaloso, mas podemos tomar como outro parâmetro a questão das novelas. Como escrevi em um dos primeiros textos do blog há o incentivo a práticas moralmente inadequadas e que privilegiam o egoísmo e o mercantilismo. Além disso, a família é tida como algo “antiquado” e geradora de confusão, pobreza e discórdia. O importante é o sucesso profissional e individual.

Por quê ? Porque ao incentivar o egoísmo e depreciar a família, abrem-se novas possibilidades de consumo, vendas e lucro. Uma família unida consome uma geladeira, um fogão, uma ou duas televisões, mora em um único apartamento… Se o indivíduo passa a morar sozinho, dobram-se as possibilidades de mercado – pois em cada casa eu tenho mais uma televisão, mais uma geladeira… Além de incentivar a expansão imobiliária.

Evidente que não considero que todos os divórcios devem-se à televisão, mas em massas menos instruídas o poder de sugestão da mesma – neste e em outros campos da vida – é bastante significativo. Apesar das novas formas de mídia de massa como a internet e os blogs ainda há uma parcela considerável da população fortemente influenciável.

Obviamente não sou defensor da censura ou coisa parecida, mas lembro aos meus 55 leitores que as televisões e rádios são concessões públicas e teoricamente sujeitas à regulação legislatória. O Estado não tem que definir o que pode ou não ser informado ou emitido pelos veículos, mas no meu entender deve estabelecer limites que visem ao desestímulo de práticas coibidas pelo Código Penal ou garantir o acesso a uma informação sem distorções ou manipulações.

Voltando à pré-campanha eleitoral não custa lembrar que o Tribunal Superior Eleitoral, tão zeloso no controle das manifestações do governo, deveria dar uma olhada no que está ocorrendo nos veículos de comunicação de massa. Noves fora o desequilíbrio da cobertura há indícios claros de “adaptações” nos fatos a fim de utilizar tais difusores de informação com propósitos de interferir nos resultados eleitorais. Uma concessão pública a serviço de interesses privados.

Em suma, o liberalismo anárquico a que assistimos hoje em nossos meios de comunicação tende a trazer prejuízos à democracia e a sociedade.

2 Replies to “Globo 45 e Serra: tudo a ver”

  1. Neste ponto divergimos totalmente.

    Entre o liberalismo anárquico e o centralismo determinista sou mais o liberalismo anárquico por definição e profissão.

    Porque é o liberalismo anárquico que permite a existência da Internet onde prontamente pôde ser dada a sugestão da propaganda subliminar e permitiu que ela fosse rapidamente retirada. Na história da Informática, sabemos que se não houvesse o liberalismo anárquico não existiria a Internet.

    Resumindo a história: a Internet era para ser a rede das redes das universidades dos EUA e aliados e precisavam ter a capacidade de sobreviver até mesmo a uma hecatombe nuclear. Para tanto, não existe um único servidor central da Internet (que poderia controlar completamente o conteúdo). Para acessar um outro servidor, se faz uso de uma estrutura de diversos servidores intermediários locais.

    O controle que países como a China, Cuba ou Coréia do Norte tentam impor a seus cidadãos é baseado no controle destes servidores intermediários, fazendo com que pessoas de um mesmo espaço geográfico sejam direcionadas a um grande servidor (na China é chamado de “o grande firewall da China”, numa piada com a expressão “great wall of China” – a grande muralha da China) que controlaria tudo. Só que como sempre na Internet é necessário ter caminhos alternativos (para que a rede possa sobreviver em caso de falha de alguns servidores), não é 100% do conteúdo que passa por esses controladores. Assim a anarquia vence o controle de informações e blogs como o Generación Y podem ser gerados de Cuba ou os chineses vêem pornografia…

    A Internet como produto de massa só sobrevive na liberdade anárquica. Cuidado ao atacá-la. Podemos ser as vítimas depois…

  2. Bruno, eu não defendo o modelo totalitário destes países. Apenas acho que certos exageros em televisão, rádio e jornais deveriam ter algum tipo de regulamentação.

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