Depois de um conturbado e polêmico desfile em 2017, as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro e a comunidade carnavalesca só queriam um ano mais tranquilo e que a festa transcorresse sem problemas.

Após a divisão do título entre Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel, a paz entre as duas escolas foi alcançada, e ambas partiriam em busca do bicampeonato com temáticas opostas: enquanto a escola de Madureira, com a carnavalesca Rosa Magalhães no lugar de Paulo Barros, teria um enredo sobre os judeus que se refugiaram em Pernambuco no século XVI, a Verde e Branco de Alexandre Louzada faria um passeio pela Índia.

Terceiro colocado em 2017, o Salgueiro tentaria finalmente acabar com o jejum de títulos com o enredo “Senhoras do Ventre do Mundo”, sobre a importância da mulher negra desde a Africa antiga até o Brasil contemporâneo. A novidade era a ida dos carnavalescos Renato e Márcia Lage para a Grande Rio – Alex de Souza entrou no lugar.

Já a Mangueira de Leandro Vieira faria uma crítica pesada ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella, pelo corte nas subvenções às escolas de samba. O enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco!” mostraria como os foliões conseguiam aproveitar o Carnaval mesmo sem recursos, além de destacar o caráter festivo e crítico da festa.

Com novos carnavalescos, a Acadêmicos do Grande Rio prestaria uma homenagem a Chacrinha, enquanto a Beija-Flor teria um enredo crítico às mazelas do Brasil com uma associação ao personagem Frankenstein, na qual a criatura era abandonada pelo criador e viraria um monstro – o samba-enredo mais uma vez era de grande qualidade.

A Imperatriz Leopoldinense prestaria um tributo ao Museu Nacional em seus 200 anos de criação. Já a União da Ilha teria como temática a culinária brasileira, e a São Clemente lembraria outro bicentenário, o da Escola de Belas Artes, lembrando sua importância para o Carnaval ao revelar nomes como Fernando Pamplona, Rosa Magalhães e Maria Augusta. A Vila Isabel, com Paulo Barros de volta, prometia muita tecnologia no enredo “Corra que o Futuro vem aí!”

Após o desastre do ano anterior, a Unidos da Tijuca tentaria se reerguer com uma homenagem ao ator Miguel Falabella. Fechavam o Grupo Especial a Paraíso do Tuiuti com um enredo crítico chamado “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?”, com excelente samba, e o Império Serrano, que voltava à elite.

OS DESFILES

A querida escola da Serrinha abriu mais um cortejo do Grupo Especial com o enredo “O Império do Samba na Rota da China”, desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo, ex-Grande Rio. O tema abordava a rota da seda pela país asiático, que na verdade era o grande pano de fundo do enredo.

Depois de uma conturbada preparação, na qual teve o barracão interditado, o Menino de 47 teve um desfile apenas correto. A apresentação começou com uma comissão de frente formada por guerreiros com bambus e rostos pintados de branco, guardiões dos templos chineses dourados.

As alegorias e fantasias lembraram diversos símbolos chineses como a Muralha da China, a Flor de Lótus e o Ano Novo Chinês. Já as fantasias destacaram a culinária do país e doutrinas como confucionismo, taoísmo e o budismo. O enredo foi dividido com clareza, mas, sem grandes recursos financeiros, o acabamento estético não foi primoroso.

O samba-enredo não era propriamente pavoroso, mas também não entrou para o extenso rol de obras-primas do Império. A bateria, como de costume, deu o recado, mas a evolução da escola não foi das melhores, sobretudo após problemas de deslocamento do tripé “Leques imperiais e o rouxinol imperador”.

O momento mais emocionante do desfile foi a homenagem a Arlindo Cruz, um dos grandes compositores da escola, acometido por um AVC no ano anterior. Uma ala com quase 200 componentes, entre eles a esposa Babi e seu filho Arlindinho, desfilou com camisas de inscrições “Força, Arlindo” e “O show tem que continuar”, além de uma ilustração do cantor.

O cortejo imperiano acabou com uma situação surreal: a escola cumpriu seu desfile dois minutos antes do tempo mínimo estabelecido, o que acarretaria numa punição para a apuração.

Além disso, infelizmente, apesar de ter passado pela avenida de forma bastante digna, o Império deixou a pista sem ter feito o algo a mais que uma escola que abre os desfiles precisa fazer para evitar uma briga contra o rebaixamento.

Com o carnavalesco Jorge Silveira finalmente estreando no Grupo Especial, a São Clemente pisou a avenida para defender o enredo “Academicamente Popular”, uma homenagem aos grandes artistas da Escola de Belas Artes, que completava 200 anos.

Com pouco tempo para desenvolver a comissão de frente, o coreógrafo Kiko Guarabyra colocou bailarinos vestidos de pintores e um tripé no qual um painel de led representava uma pintura se transformando numa bailarina de verdade para mostrar o espaço no qual as ideias fluíam livremente. Além disso, os componentes seguravam molduras nas quais eram formados quadros de casais. Lamentavelmente, o painel de led apresentou problemas no desfile.

O enorme abre-alas tinha a fachada do Museu Nacional de Belas Artes. Na sequência, o enredo lembrou o tempo do Brasil colonial, quando franceses fundaram a EBA. Um dos grandes homenageados do enredo foi Debret, que retratou o Rio de Janeiro em suas pinturas.

Debret também foi lembrado na interessante ala das baianas, cuja fantasia tinha uma reprodução do famoso quadro “Negra tatuada vendendo cajus”. Outros homenageados foram Pedro Américo, Rodolfo Amoedo, Ismael Nery e Oswaldo Goeldi, este numa ala coreografada que relembrava suas xilogravuras.

O bom desenvolvimento do enredo terminou destacando a contribuição valiosa da EBA para o desfile das escolas de samba do Rio, com nomes do quilate de Fernando Pamplona, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda, Márcia Lage, Jack Vasconcelos, Leandro Vieira, entre outros.

A última alegoria levou professores da escola, e a ala que fechou o cortejo tinha camisas com pinturas dos alunos, além de uma maquete do prédio incendiado em 2016.

O samba-enredo defendido pelo cantor Leozinho Nunes teve boa condução, e a bateria teve ótima atuação. No entanto, um descompasso de evolução após uma componente do último carro passar mal poderia comprometer, já que a escola correu no fim.

Terceira agremiação a desfilar no domingo, a Unidos de Vila Isabel recebeu críticas pesadas. Normalmente uma escola tradicional, a Azul e Branco se apresentou com o enredo “Corra que o Futuro vem aí!”, e Paulo Barros cumpriu a promessa de mostrar na avenida um show de luzes e painéis led.

No tema apresentado, foram mostradas as grandes descobertas e invenções da humanidade. A comissão de frente lembrava o italiano Leonardo da Vinci, “o visionário”, e tinha círculos com projeções de outros grandes inventores e invenções. O primeiro e único Martinho da Vila, no dia de seu 80º aniversário, desfilou no abre-alas, com muita luz azul na coroa, símbolo da Vila.

As fantasias e alegorias usaram e abusaram de tons brilhantes e luz. Em casos como o do carro “Na ponta dos dedos”, o efeito do teclado movimentado pelos componentes foi muito interessante. Por outro lado, houve quem visse um exagero na colocação de um painel de led na saia da fantasia da porta-bandeira Denadir.

Na primeira parte do desfile, alegorias e fantasias relembraram invenções como telefones celulares e computadores. Em seguida, o desfile destacou o cinema e a televisão, enquanto a parte final do cortejo defendia a tecnologia como forma de tornar o mundo mais sustentável.

Mas a grande polêmica do desfile da Vila residiu na bateria. Com a contratação do Mestre Chuvisco, ex-Estácio, o andamento na fase pré-carnavalesca foi bastante acelerado, o que gerou reclamações de componentes em áudios do WhatsApp vazados. No desfile, o ritmo não foi tão “pra frente”, mas a escola perderia décimos na apuração.

Com um samba-enredo também bastante criticado desde a preparação, os componentes fizeram o seu papel durante o desfile, mas o público não respondeu com muito entusiasmo. Diante disso, as expectativas da Vila para a apuração eram modestas.

Se a escola do bairro de Noel não deixou saudades, a quarta escola a desfilar, Paraíso do Tuiuti, fez uma apresentação que será lembrada por muitos e muitos anos. Desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, o enredo “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?” criticava abertamente a reforma trabalhista perpetrada em 2017 além de lembrar os 130 anos da Abolição da Escravatura.

Antes de entrarmos no desfile, vale contextualizar o título do enredo, cujo nome era o um verso do antológico samba-enredo “Sublime Pergaminho”, da Unidos de Lucas, em 1968. Naquele Carnaval, o Galo de Ouro de Leopoldina lembrou a escravidão, o tráfico negreiro e a Lei dos Sexagenários.

E, falando em grande samba, a obra encomendada a Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal foi a melhor de 2018. A letra não tinha meias-palavras, como no refrão principal “Não sou escravo de nenhum senhor / Meu Paraíso é meu bastião / Meu Tuiuti, o quilombo da favela / É sentinela na libertação”. Na avenida, o samba teve um rendimento estupendo.

O desfile teve uma comissão de frente marcante, na qual escravos sofriam maus-tratos, além de estarem acorrentados e amordaçados. Havia ainda um tripé simbolizando uma senzala, onde um bailarino simulava a morte e a ressurreição por intermédio de pretos velhos. O trabalho desenvolvido por Patrick Carvalho rendeu à comissão o Estandarte de Ouro, de “O Globo”, e a eternidade nos desfiles das escolas de samba.

Outra garantia de boas notas era a do casal formado pela porta-bandeira Danielle Nascimento e o mestre-sala Marlon Flores. Também foi bastante elogiada a bateria de Mestre Ricardinho, cujos componentes estavam fantasiados de feitores.

Depois de passear com perfeição pela fase da escravatura, o enredo chegou aos tempos modernos, e a crítica foi bastante ácida. O último carro, que simbolizava o “novo navio negreiro”, batia duramente na reforma trabalhista. Embora isso não tenha sido confirmado pela escola, o elemento “homenageava” o presidente da República, Michel Temer, com um homem caracterizado e maquiado como vampiro vestindo uma faixa presidencial.

As críticas eram absolutamente explícitas nas últimas alas. Numa delas, era mostrado o trabalho informal e, em outra, “guerreiros da CLT” seguravam grandes carteiras de trabalho para defender os direitos adquiridos pelos trabalhadores por lei. Outra ala ironizava os “manifestoches”, com os componentes vestidos com camisas amarelas e batendo panelas, numa analogia aos que protestaram nas ruas antes do impeachment de Dilma Rousseff.

O Tuiuti saiu da avenida aclamado por crítica e público, mas restava ver como a proposta da escola seria recebida pelos jurados dado o cunho político do enredo e pelo fato de a escola ter escapado do rebaixamento em 2017 após uma virada de mesa.

Na sequência do desfile de domingo, infelizmente a Acadêmicos do Grande Rio teve uma apresentação problemática, que não só deixou a escola fora da briga pelos primeiros lugares, como poderia representar algum risco de rebaixamento na apuração.

Antes dos problemas, os pontos positivos. Inegavelmente, a Tricolor desfilou com alegria, como o homenageado do enredo pedia. No centenário de Chacrinha, o enredo  “Vai para o trono ou não vai?” começou com uma comissão de frente com um componente muito bem caracterizado como o Velho Guerreiro jogando bacalhaus de plástico para o público de cima de uma alegoria.

Falando em alegorias, os carnavalescos lançaram mão de muitas luzes e cores, também seguindo fielmente a proposta do enredo. A vida de Chacrinha foi recontada de uma forma “de trás para a frente”, começando pela fase final do Cassino do Chacrinha na TV e chegando ao início da vida de Abelardo Barbosa, em Pernambuco, passando pela época do rádio e outros programas.

Lamentavelmente, a última alegoria, que levava um enorme boi com ornamentações coloridas para lembrar de Pernambuco, quebrou a 500 metros da virada para a Sapucaí. A escola esperou pelo conserto/reboque do elemento por intermináveis dez minutos, mas não foi possível. As alas à frente tiveram de prosseguir, e a escola passou sem o carro.

Como o cronômetro desesperadamente já corria para os 75 minutos regulamentares, as últimas alas apressaram sua passagem pela pista, e evidentemente a escola perderia pontos no quesito Evolução. A Grande Rio estourou em cinco minutos o tempo máximo exigido para o desfile e já iria para a apuração com uma punição de 0,5 ponto.

Pena, porque a escola fazia uma boa apresentação, que, se não a colocaria na briga pelo título, poderia pelo menos conduzi-la ao sábado das campeãs. Isso porque o enredo foi bem recebido, e o samba, defendido com garra pelo cantor Emerson Dias, vinha tendo bom rendimento. Só que as últimas alas, ao perceberem a quebra da alegoria, claramente não tiveram o mesmo entusiasmo. Pena.

Penúltima escola a desfilar no domingo, a Estação Primeira de Mangueira se credenciou à disputa pelas primeiras colocações com mais uma bonita exibição na defesa do enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira. Com uma forte defesa do caráter popular do Carnaval ante o corte de subvenções do prefeito Marcello Crivella, a Verde e Rosa fez o desfile de melhor plástica de 2018.

A comissão de frente tinha componentes que utilizavam grades para barrar os foliões e tolher a festa. Após a colocação da frase “Deixa nosso povo passar”, os desfilantes pulavam o portão e abriam fitas douradas.

Com excelente acabamento de alegorias e fantasias, a Mangueira começou o desfile com o abre-alas intitulado “Antigos carnavais”. Craques do samba como Alcione, Leci Brandão, Jorge Aragão e Bira Presidente desfilaram no elemento “Em qualquer botequim faço meu Carnaval”, com um enorme boteco exaltando a alma boêmia da festa.

O carro “Somos a voz do povo” foi o mais bonito do desfile, com um colorido suave e maravilhosas esculturas de personagens do carnaval. Mas o momento de maior crítica no desfile da escola foi a alegoria na qual o prefeito Marcelo Crivella era representado como um boneco de Judas com os dizeres “Prefeito, pecado é não brincar o Carnaval”. Uma representação do Cristo Mendigo da Beija-Flor de 1989 tinha a frase: “Olhai por nós, o prefeito não sabe o que faz”.

Um grande blocão de integrantes fantasiados de diferentes formas destacou o carnaval de rua. Os tradicionais blocos como Cordão da Bola Preta, Cacique de Ramos e Bafo da Onça não poderiam ficar fora do belo desfile mangueirense.

Defendido mais uma vez por Ciganerey e tendo a participação especial do cantor Péricles, o ótimo samba-enredo não empolgou como se esperava, principalmente na parte final do desfile, mas era quase certeza de notas máximas, assim como o casal formado por Squel e Matheus. Já a bateria desta vez foi criticada pelo andamento muito acelerado, e, de fato, perderia décimos preciosos na apuração.

Como passou bem nos quesitos Harmonia e Evolução, a Mangueira iria com boas expectativas para a apuração, embora sem a força dos dois anos anteriores. De qualquer forma, um belo momento da Verde e Rosa, que teria de esperar as demais concorrentes para confirmar as chances de brigar por mais um título.

Pouco antes do amanhecer, rompeu pela passarela uma das campeãs de 2017, a Mocidade Independente de Padre Miguel. Se no ano anterior, a Verde e Branco homenageou o Marrocos, desta vez a Estrela-Guia passeou por outro país, a Índia, com o enredo “Namastê… a estrela que habita em mim, saúda a que existe em você”.

O carnavalesco Alexandre Louzada valorizou o verde e branco da escola no conjunto de fantasias e alegorias, pontuando outras cores conforme cada setor exigia. Agradou muito a “cabeça” da escola, com deuses e monges na comissão de frente e elefantes puxando o abre-alas, no qual os deuses Brahma, Ganesha, Vishnu e Shiva protegiam a escola.

Na sequência, o enredo mostrou a ligação histórica entre Brasil e Índia, com a expedição portuguesa que deixou a Europa rumo às Índias mas parou no nosso país. A cultura indiana e sua influência no território brasileiro também foram explorados, com a adoção dos tecidos de lá e a culinária.

Um dos setores mais importantes do desfile foi o da importância dos bois para a cultura de ambos os países. O cortejo teve ainda um congraçamento de Brasil e Índia com o Templo de Lótus, no qual a fé e a bondade predominavam.

O excelente samba dos mesmos compositores de 2017 agradou, e os componentes o cantaram bem na passagem pela avenida. Mas o destaque absoluto foi a bateria de Mestre Dudu, com um autêntico andamento de samba-enredo e até algumas coreografias dos ritmistas – a escola levaria o Estandarte de Ouro na categoria.

No entanto, a evolução se mostrou um tanto acelerada nos minutos finais, o que era uma preocupação para a apuração, que prometia ser bem apertada. Outro senão foi o conjunto de fantasias, que, segundo os críticos, apresentou certa irregularidade.

Já com dia claro, a Mocidade deixou a pista com uma apresentação bastante agradável, que, se não teve a mesma força do que no ano anterior, poderia levar a escola a brigar na parte de cima da tabela.

A segunda noite de desfiles começou com a Unidos da Tijuca homenageando o ator, escritor e diretor Miguel Falabella no enredo “Um coração urbano: Miguel, arcanjo das artes, saúda o povo e pede passagem”, desenvolvido por uma comissão de carnaval.

Com um estilo um tanto diferente do que se via nos tempos de Paulo Barros, o enredo começou relembrando a infância do artista, com um grande navio que lembrava a infância de Miguel na Ilha do Governador. Uma ala lembrava uma das histórias que ele mais gostava, “O Pequeno Príncipe”.

Na sequência, alas e alegorias lembraram a juventude de Falabella e sua carreira artística, no teatro e na televisão. Um dos destaques do cortejo foi a ala das baianas vestida de “Noivas de Copacabana”, um dos grandes sucessos de Miguel como ator.

Diversos amigos do ator como Arlete Salles, Cissa Guimarães, Claudia Raia e Aracy Balabanian participaram do desfile, que lembrou diversos trabalhos importantes do artista na televisão, como “TV Pirata” e “Salsa e Merengue”.

A bateria de Mestre Casagrande teve mais uma grande exibição, e a rainha foi a atriz Marisa Orth, que fez uma inesquecível dupla com Falabella no programa “Sai de Baixo” com a personagem Magda – aliás, Marisa vestia uma coleira com a inscrição “Caco”, lembrando o personagem Caco Antibes. O humorístico também foi representado numa alegoria.

O samba-enredo, criticado na fase pré-carnavalesca, serviu à escola e foi mais uma vez muito bem cantado pelos componentes, que garantiram uma evolução vibrante e sem problemas, um alívio depois do desastre do ano anterior. Mesmo sem empolgar o público, a Tijuca espantou o fantasma do desfile problemático de 2017 com uma passagem bastante digna.

Em busca do bicampeonato, a Portela foi a segunda agremiação a desfilar na segunda-feira. Após um hiato de quarenta anos, a carnavalesca Rosa Magalhães voltou para a Águia e concebeu o enredo “De repente de lá pra cá e ‘dirrepente’ daqui pra lá”, sobre os judeus que se refugiaram em Pernambuco na época da liderança holandesa, mas foram expulsos após a retomada do controle por Portugal e foram para os Estados Unidos, onde fundaram Nova York.

A comissão de frente representava a “Diáspora”, com os europeus navegando numa caravela rumo à América para chegar à nova terra. No momento em que o samba mencionava que a Portela era “22 vezes campeã do Carnaval”, a caravela se transformava numa águia.

Falando no símbolo maior da Portela, a águia teve uma concepção bastante feliz e tinha componentes com fantasias claras e asas luminosas. Monarco e Tia Surica desfilaram neste carro, que prenunciava um ótimo desfile nos quesitos plásticos. Porém, o conjunto visual foi considerado de altos e baixos.

O segundo elemento, que tinha um enorme tatu, teve problemas na parte traseira, onde era feita uma coreografia dos componentes com um tecido. Já o terceiro elemento, chamado “Formosa Recife” reproduzia casas no estilo da época e locais turísticos da cidade.

Outro carro tinha um navio pirata para lembrar os malfeitores que atacavam os judeus no caminho de Recife para Nova Amsterdã. A “nova terra” era representada numa alegoria com um moinho de vento e neve. Já o último carro tinha Nova York, cidade fundada pelos judeus expulsos do Brasil. O questionamento do fim do desfile foi se a intolerância e xenofobia eram problemas de um passado distante ou ainda aconteciam atualmente. 

Como já vinha sendo costume nos anos anteriores, a Portela teve excelente desempenho nos quesitos de pista, como Harmonia e Evolução. Os desfilantes cantaram bem o samba defendido por Gilsinho e passaram pela pista sem hesitações. A bateria do Mestre Nilo Sérgio brilhou, com ótimas bossas e até mesmo momentos de batida de forró. O desfile foi marcado ainda pela volta da porta-bandeira Lucinha Nobre, que formou par com Marlon.

A despeito da irregularidade no conjunto visual, a Portela terminou seu desfile mais uma vez com boas possibilidades de brigar pelas primeiras colocações, mesmo sem a força que se viu no período entre 2014 e 2017, nos quais sempre disputou diretamente o título. De qualquer forma, mas uma exibição de ponta da maior campeã do Carnaval.

Passando da meia-noite de terça-feira, a União da Ilha do Governador iniciou seu desfile, com o enredo “Brasil bom de boca”. O carnavalesco Severo Luzardo levou para a Sapucaí um tema à feição da Tricolor, sobre a culinária brasileira, com um desenvolvimento leve e bem humorado e muitos aromas de comida espalhados pela passarela.

Depois de a comissão de frente servir um banquete na pista, o carro abre-alas grande simbolizava a chegada das caravelas portuguesas ao Brasil e como as comidas daquele país firam trazidas para a terra descoberta. Em seguida, o desfile lembrou a influência da culinária africana e indígena ao cardápio que se estabeleceu no Brasil.

Já para a parte final, foram mostrados diversas comidas típicas do dia a dia dos brasileiros. Apesar de muito colorido, o conjunto visual da escola, a despeito de ter uma boa leitura, não foi dos mais impactantes de 2018, até porque a Ilha não era das escolas com mais recursos.

Nos quesitos de pista, mesmo com mais uma ótima atuação do cantor Ito Melodia, o samba-enredo não era dos melhores da safra de 2018 e, de fato, não pegou com o público. Embora os componentes tenham cantado e evoluído sem grandes problemas, ficou um gosto de “quero mais”.

Por outro lado, o destaque absoluto da apresentação insulana foi a bateria de Mestre Ciça, que teve atabaques dando um tempero (com o perdão do trocadilho) ao samba. Foi aquela típica exibição de parte de baixo da tabela, mas que não parecia correr grandes riscos na apuração.

Em seguida, o Salgueiro confirmou as boas expectativas e se colocou com força na briga pelo campeonato com uma ótima exibição. O estreante carnavalesco Alex de Souza apostou as fichas numa escola luxuosa e com bastante vermelho para desenvolver o enredo “Senhoras do Ventre do Mundo”, um tributo às mulheres negras desde a África até o Brasil contemporâneo.

A comissão de frente iniciou o cortejo com as yabás, entidades que simbolizam a fertilidade. Na coreografia, homens (vestidos de mulheres) e mulheres davam à luz bebês negros. O abre-alas tinha a “Grande Mãe” simbolizando a criação do mundo para as religiões africanas. Com tons alaranjados e vermelhos bem fortes, a “cabeça” da escola foi muito impactante.

Na sequência, o enredo relembrou a saga das rainhas africanas, como Makeda (Sabá) e Candaces (Império Meroe, que foi enredo do próprio Salgueiro em 2007). Grandes mulheres negras foram exaltadas, como Nzingha (Angola), Yaa Asantewaa (Império Ashanti), Luíza Mahin (Revolta dos Malês), Tereza de Benguela (quilombo do Quariterê) e Maria Filipa de Oliveira (Bahia).

Embora não tenha sido um desfile monocromático, a divisão de cores pendeu muitas vezes para o vermelho, e o resultado foi um dos melhores conjuntos visuais de todo o carnaval, com bela iluminação dos carros e fantasias de ótima leitura e acabamento.

Com a eterna rainha Viviane Araújo fantasiada de rainha-faraó do Antigo Egito, a Furiosa bateria do Salgueiro voltou a dar o recado com a competência costumeira no que viria a ser o último desfile sob o comando do Mestre Marcão, dispensado da escola no fim do ano em meio a enorme crise política instalada na escola.

Apesar da boa atuação, a própria bateria foi envolvida numa grande polêmica, já que os ritmistas desfilaram com o rosto pintado de preto. As “black faces” sempre foram consideradas opressoras, e a ideia recebeu críticas pesadas nas redes sociais.

O samba-enredo não estava entre os principais da safra de 2018, mas foi muito bem cantado pelos componentes e serviu bem à proposta do desfile. No entanto, justamente este quesito seria fatal para a Academia numa apuração que se mostraria equilibrada e dramática – veja mais abaixo no texto.

Penúltima escola a passar pela avenida, a Imperatriz Leopoldinense fez uma boa apresentação no conjunto em sua homenagem ao Museu Nacional. No último ano do carnavalesco Cahê Rodrigues na escola, o enredo foi muito bem dividido.

Um dos pontos altos da exibição gresilense foi a comissão de frente. A coreógrafa Cláudia Mota acertou em cheio ao não utilizar tripés ou alegorias e optar por contar apenas com bailarinos e… o histórico casal formado pela porta-bandeira Maria Helena e pelo mestre-sala (e filho) Chiquinho, representando Maria, a Louca, e D.João VI, responsáveis pela inauguração do museu.

Apesar de as alegorias terem concepção e divisão cromática bastante adequadas, houve pequenos problemas, como na tradicional coroa da Imperatriz. De qualquer forma, havia bom gosto nos elementos, que lembraram as coleções do museu. Outro carro que chamou a atenção foi o que representou o meteorito que caiu na Bahia em 1784. As fantasias estavam num nível até superior, com ótima leitura, sobretudo da flora e fauna expostas no museu.

O samba da Imperatriz estava bem cotado na fase pré-carnavalesca e confirmou sua qualidade no desfile, mas o grande destaque foi a excelente atuação da bateria comandada por Mestre Lolo. A Swing da Leopoldina fez o samba crescer ainda mais e brilhou nas bossas e paradinhas.

Infelizmente, a demorada coreografia da comissão de frente fez a escola ter uma parte inicial de desfile mais lenta do que o normal, o que fez os componentes acelerarem o passo no fim, o que nunca é bom. Mas a escola de Ramos não perdeu pontos em cronometragem.

De qualquer forma, a correta exibição da Imperatriz até poderia fazer a escola voltar no sábado das campeãs. Porém, a tentativa de brigar pelos primeiros lugares prometia ser mais complicada devido a alguns problemas plásticos e por algumas grandes exibições vistas anteriormente.

Após duas exibições irregulares nos anos anteriores, a Beija-Flor de Nilópolis encerrou mais uma maratona de desfiles com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”. A proposta era associar o personagem “Frankenstein”, que comemorava 200 anos, ao abandono da sociedade brasileira.

O desenvolvimento do enredo por parte do coreógrafo Marcelo Misailidis, que jamais havia atuado como carnavalesco, gerou críticas. A proposta misturava a criação do monstro com a gênese dos problemas brasileiros, pela ambição e ganância do criador do personagem. No começo, o desfile mostrava o abandono de Frankenstein e depois criticava a forma como o povo brasileiro era deixado de lado devido a interesses escusos.

A discussão do enredo era: quem era o verdadeiro monstro, criador ou criatura? Pois bem, no enredo foram criticados os piratas por saquearem o Brasil após o descobrimento, os portugueses e os políticos. Outros motivos para o abandono do Brasil seriam comportamentos como homofobia, racismo, xenofobia e machismo. O desfile foi muito teatralizado nas alas e alegorias, como no momento em que uma criança era colocada num caixão.

Não bastasse o desenvolvimento do enredo, a proposta visual foi bastante criticada, devido à concepção e acabamento de alegorias bastante crus. O carro mais polêmico do desfile foi o que criticava a corrupção na Petrobras, com um enorme rato à frente do famoso prédio do Centro do Rio, que ia sendo transformado em favela pelos componentes. Funcionários da empresa protestaram por se sentirem ofendidos e não terem a ver com a corrupção na empresa.

As fantasias da Beija-Flor também foram bastante contestadas porque em muitos casos componentes utilizavam roupas comuns do dia a dia e não vestimentas carnavalizadas. Outro quesito que rendeu críticas foi Comissão de Frente: a coreografia misturava o mito grego de Prometeu e o último capítulo do livro “O Moderno Prometeu”, ou, no caso, Frankenstein. Lobos representavam Frankenstein, e no trenó onde estava Prometeu aparecia um urubu.

“O trabalho apresentado pela Beija-Flor foi muito fraco. O enredo não mostrou consistência ao atirar para todos os lados. E a nova proposta de alegorias, com uma estética realista demais, era pouco carnavalesca. Os carros não tinham requinte estético, e as fantasias traziam uma proposta totalmente diferente.”, carregou nas tintas o jornal “Extra”.

Se no enredo e nos quesitos plásticos houve controvérsias, nos quesitos de chão, sob a liderança do diretor de Carnaval Laíla, a Beija-Flor fez uma exibição impecável. O excelente samba entoado pelo gigante Neguinho da Beija-Flor foi cantado a plenos pulmões pelos componentes. Um coral feminino deu um bonito toque ao samba, que foi sustentado por uma bateria firme e bastante cadenciada, como deveria ser praxe nas escolas.

O extraordinário casal formado pela porta-bandeira Selminha Sorriso e pelo mestre-sala Claudinho era uma certeza de notas máximas na apuração, assim como nos quesitos Harmonia e Evolução. O Carnaval 2018 terminou com um enorme arrastão do público, que seguiu a Beija-Flor até a dispersão. Só não se sabia se a forma como foi dado o grito contra a corrupção por componentes e público seria compreendida pelos jurados.

SÉRIE A

O destaque do Grupo de Acesso foi a favorita Unidos do Viradouro, após um belo desfile sobre os gênios da criação, como Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Galileu Galilei e Charles Chaplin.

Apesar de um samba-enredo que não era dos melhores, o conjunto alegórico da escola de Niterói foi de nível de Grupo Especial – o abre-alas, por exemplo, tinha 40 metros de comprimento. Um dos elementos homenageou Joãosinho Trinta, carnavalesco campeão da elite com a escola em 1997.

Já Unidos de Padre Miguel voltou a bater na trave com uma bela homenagem ao escritor amazonense Milton Hatoum e à festa do boi de Parintins. A escola ficou com o vice-campeonato a 0,3 da Viradouro.

A Unidos do Porto da Pedra veio em terceiro lugar, com a surpreendente Acadêmicos do Cubango em quarto lugar com uma das melhores exibições do ano. O desfile deste grupo sofreu bastante com a falta de recursos e não foi surpreendente ver que Unidos do Viradouro e Unidos de Padre Miguel, ambas com maior estrutura financeira, tenham sobrado no grupo este ano.

Vale destacar também o ótimo samba da Inocentes de Belford Roxo sobre o município de Magé, um enredo a princípio árido. Também causou frisson a “esperança” trazida pela Acadêmicos de Santa Cruz em seu abre alas (acima).

A Acadêmicos do Sossego seria a única escola rebaixada à Série B, na Intendente Magalhães.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Acadêmicos do Salgueiro, Paraíso do Tuiuti e Estação Primeira de Mangueira despontaram como as favoritas de público e crítica antes da apuração das notas. A Vermelho e Branco foi a vencedora do tradicional prêmio do Estandarte de Ouro pela excelência de seu desfile, sem contar que a escola foi muito forte em todos os quesitos.

Tanto a Mangueira como o Tuiuti foram bastante elogiadas pelo tom crítico de seus desfiles, com a Verde e Rosa tendo feito um desfile plasticamente excepcional, enquanto a escola de São Cristóvão arrebatou a passarela com seu extraordinários samba, comissão de frente e fantasias.

Corria por fora a Portela, com mais uma exibição impecável nos quesitos de pista, mas com alguns problemas em sua plástica. Já a Beija-Flor, com seu desfile de altos e baixos, também foi perfeita em seu chão, mas recebeu críticas pesadas em alguns quesitos. A escola parecia fora da briga, mas…

A apuração começou com Portela e Mangueira na frente após a leitura dos quesitos Enredo e Evolução, mas a Verde e Rosa perdeu 0,2 em Bateria, o que deixou a Águia isolada na frente, com Beija-Flor e Mocidade na cola. De forma inesperada, a escola de Nilópolis tomou o primeiro lugar no quesito Comissão de Frente, no qual teve problemas.

Numa apuração emocionante, a Mocidade assumiu a liderança nos quesitos Alegorias e Adereços e Harmonia, mas com a Beija-Flor ainda colada após ter perdido apenas 0,2 por seu conjunto alegórico.

Padre Miguel já sonhava com o bicampeonato quando a leitura do penúltimo quesito (Fantasias) jogou a Estrela-Guia de primeiro para sexto, enquanto o Salgueiro finalmente pulou para a ponta, à frente de Beija-Flor e Tuiuti. No quesito final (Samba-Enredo), Beija-Flor e Tuiuti somaram 30 pontos e passaram o Salgueiro, que perdeu 0,1.

No fim, a Deusa da Passarela comemorou seu 14º campeonato com 269,6 pontos, 0,1 a mais do que o Tuiuti, que obteve o melhor resultado de sua história. O decepcionado Salgueiro acabou em terceiro, seguido por Portela, Mangueira e Mocidade, que fecharam as desfilantes do sábado das campeãs.

“A Sapucaí foi ovacionada pela alegria e emoção. A Beija-Flor fez as pessoas cantarem o samba pelo pedido de socorro. As imagens foram muito fortes, aquele teatro todo retratando o que o nosso país está passando. Foi um grito de socorro dentro de um samba-enredo”, disse a rainha de bateria da Beija-Flor, Raíssa.

De fato, o excepcional rendimento do samba-enredo e a garra dos componentes da Beija-Flor fizeram a diferença. Em tom de despedida, o diretor de Carnaval Laíla agradeceu.

“A minha comunidade ganhou o Carnaval. Quero agradecer a todos que desfilaram”, disse o grande sambista, aos prantos.

Na vice-campeã Paraíso do Tuiuti, a festa pelo histórico vice-campeonato foi enorme, mas a escola foi envolvida numa polêmica no Desfile das Campeãs. Isso porque o personagem “vampiro neo-liberalista” se apresentou sem a “faixa presidencial”. Teria sido censura?

O professor de história Léo Morais, que encarnou o personagem, primeiro disse que não sabia se seria autorizado pela escola a desfilar novamente com a faixa e depois alegou que a perdeu. A direção informou que Morais jogou a faixa num caminhão após o desfile oficial…

Na parte de baixo da tabela, o fato mais marcante foi o rebaixamento da Grande Rio. De fato, os problemas do desfile foram muitos, e a punição de 0,5 ponto pelo estouro do tempo máximo foi fatal. Ainda assim muitos consideraram o 12º lugar exagerado, na comparação com as apresentações de União da Ilha e São Clemente no conjunto – o Império Serrano ficou em 13º e último lugar.

Porém, ah porém… Duas semanas depois do Carnaval, uma plenária da Liesa decidiu que novamente não haveria rebaixamento, o que salvou Grande Rio e Império Serrano. Apenas Mangueira e Portela votaram contra a anulação do descenso.

O Carnaval do ano seguinte, portanto, teria 14 agremiações, com o acesso da Unidos do Viradouro, campeã da Série A.

 

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Beija-Flor de Nilópolis 269,6
Paraíso do Tuiuti 269,5
Acadêmicos do Salgueiro 269,5
Portela 269,4
Estação Primeira de Mangueira 269,3
Mocidade Independente de Padre Miguel 269,3
Unidos da Tijuca 269,1
Imperatriz Leopoldinense 268,8
Unidos de Vila Isabel 268,1
10º União da Ilha do Governador 267,3
11º São Clemente 266,9
12º Acadêmicos do Grande Rio 266,8
13º Império Serrano 265,6

CURIOSIDADES

– Um mês depois do Carnaval, uma notícia, embora esperada, causou rebuliço: após 23 anos, o diretor de Carnaval Laíla deixou a Beija-Flor. A escola informou que a saída foi amigável e desejou sorte a Laíla, mas a relação entre o diretor e agremiação vinha deteriorada. O que se comentou nos bastidores, de forma extraoficial, foi que setores da Beija-Flor estavam cansados pela forma dura com que Laíla cobrava os segmentos. Por outro lado, Laíla já falava abertamente sobre problemas internos na escola durante a apuração do desfile de 2018: “Deus sabe como foi. De repente meu patrono (Anísio Abraão David) não sabe da metade. Não foi crise, não. Foi problema dentro da própria escola, com divisões. As pessoas não sabem, eu fui tolhido de algumas coisas mas está tudo bem. Eu briguei em torno da minha comunidade.” Os problemas internos mencionados por Laíla teriam sido a opção do novo conselheiro Gabriel David, filho de Anísio, em colocar o coreógrafo Marcelo Misailidis como responsável pela criticada concepção visual da escola. Oficialmente, isso nunca foi confirmado. Laíla foi para a Unidos da Tijuca.

– Detentora dos direitos de transmissão do Carnaval, a TV Globo manteve sua equipe de transmissão, com Fátima Bernardes e Alex Escobar na narração, e Milton Cunha e Pretinho da Serrinha nos comentários. Na Série A, a transmissão foi ancorada por Mariana Gross e Carlos Gil, com os comentários de Leandro Vieira e Lucinha Nobre.

– Infelizmente o outrora glorioso Império Serrano mais uma vez ficou na zona de rebaixamento, escapando do descenso apenas por uma nova virada de mesa. Na pista, era a nona queda: 1978, 1981, 1991, 1994, 1997, 1999, 2007, 2009 e 2018, número igual ao de títulos (1948, 1949, 1950, 1951, 1955, 1956, 1960, 1972 e 1982). Em três desses nove rebaixamentos na apuração, o Império foi salvo, nos anos de 1981, 1994 e 2018. Em 2019, a escola da Serrinha seria rebaixada efetivamente, completando dez quedas.

– Seis meses depois do Carnaval, no dia 2 de setembro de 2018, o Museu Nacional, homenageado pela Imperatriz em seu desfile, foi arrasado por um incêndio de grandes proporções. A maior parte dos 20 milhões de itens catalogados foi perdida, e o edifício histórico que foi residência oficial dos Imperadores brasileiros foi bastante danificado.

– O presidente da Mangueira, Francisco de Carvalho, foi preso no dia 8 de novembro de 2018, na operação Fuma da Onça. Segundo o Ministério Público Federal, o deputado estadual teria recebido R$ 3 milhões para votar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) a favor dos interesses do grupo político comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral, preso desde 2016. Chiquinho hoje cumpre prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica.

– Com o 14º título como intérprete oficial, Neguinho da Beija-Flor empatou com Jamelão como o cantor mais vitorioso do Carnaval carioca. Neguinho foi a voz oficial da escola nas conquistas de 1976, 1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2011, 2015 e 2018, enquanto Jamelão liderou a Verde e Rosa nos anos de 1949, 1950, 1954, 1960, 1961, 1967, 1968, 1973, 1984, 1984 (supercampeonato), 1986, 1987, 1998 e 2002. Porém, Jamelão desfilou em 56 carnavais, enquanto Neguinho, hoje com 70 anos, participou “apenas” de 43 desfiles. A última aparição de Jamelão foi em 2006, aos 92 anos.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

O ano de 2018 trouxe para mim um pré-Carnaval bastante atribulado em termos pessoais, de forma que este foi um ano no qual acompanhei bem menos os preparativos.

É lógico que falar depois tem de ser visto com ressalvas, mas a Portela, a meu juízo, acabou sofrendo um pouco, primeiro com um enredo que acabou não sendo “comprado” pela escola; e, segundo, com uma escolha de samba que se revelou equivocada. Sob este último, falo com muita propriedade pois, desde a época da disputa, não achava o vencedor o mais adequado. Foi a única vez em que a Águia perdeu pontos neste quesito desde 2010 – última vez em que isto ocorreu – e que custou ao menos uma posição no resultado final.

O enredo do ano seguinte, sobre Clara Nunes, começaria a tomar forma no Desfile das Campeãs daquele ano.

Ao contrário do que foi divulgado nos meios especializados, escrevi à época e depois na thread do Twitter sobre escolas de samba, o abre-alas da Portela não quebrou no transporte à concentração. Em conversa com o então diretor de carnaval, Júnior Schall, este disse que foi opção da carnavalesca Rosa Magalhães terminar a decoração do abre alas na concentração.

Escrevi artigo à época e não retiro uma vírgula do que disse: acho este campeonato da Beija-Flor insólito, para se dizer o menos. A pontuação no quesito Fantasias (29,9) com inúmeras alas com roupas compradas em lojas populares e jogadas sem qualquer carnavalização no desfile, é algo absolutamente inexplicável. Várias alas de short e camisetas, repetindo solução utilizada pela Tradição em 2003 para representar os times onde Ronaldo Fenômeno havia jogado (abaixo):

Além disso, o conjunto alegórico da escola também estava bem aquém do esperado de uma escola campeã. Em minha avaliação, um desfile muito rebaixável que se transformou em um campeão contestado. Sobre o viés ideológico, também mantenho o que escrevi à época.

Meu saudoso pai costumava dizer que “agora não tem volta” quando o puxador começava a cantar o samba do ano, mas “teve volta” em 2018: a Inocentes de Belford Roxo teve de parar, esperar e recomeçar o seu desfile por conta de problemas com alegorias da Cubango, a escola anterior, na dispersão.

Em 2018, também tivemos o primeiro ano desde 2001 sem os ensaios técnicos na Sapucaí. Apenas Portela e Mocidade fizeram o teste de som e luz da Passarela do Samba, uma semana antes do desfile.

Assisti apenas à sexta feira da Série A, em uma frisa do Setor 6. Mais uma vez desfilei na diretoria da Portela.

VÍDEOS

O desfile que deu o título à Beija-Flor de Nilópolis

A brilhante apresentação da Paraíso do Tuiuti

O ótimo cortejo do Salgueiro na Sapucaí

A exibição de crítica da Mangueira em 2018

Fotos: Arquivo Ouro de Tolo, Liesa e Divulgação Beija-Flor, Salgueiro, Tuiuti e Mangueira

 

19 Replies to “2018: Em ano de enredos críticos, Tuiuti arrebata, e Beija-Flor recupera o título”

  1. Admito que a vitória da Beija-Flor em 2003 me incomodou bem mais do que a de 2018. Até porque em 2003, a Mangueira foi muito melhor do que ela em tudo. Foi um absurdo aquele título. O desfile de 2018 talvez tenha tido mais erros de concepção, realização, mas são dois desfiles até parecidos nas suas propostas. Dois desfiles que apelaram muito para o lado emocional, com dois enredos de apelo crítico e de cunho político. O de 2018 ainda teve um sambaço, ao contrário do de 2003 que era um samba bem básico e eficiente apenas. A minha campeã de 2018 seria a Paraíso do Tuiuti, mas até que foi bem justo ela não ter vencido pelo não rebaixamento da escola no ano anterior. Adoro o desfile da Mangueira e poderia ter sido campeão, embora não tenha tido um ápice como o de 2016 e 2019. O Salgueiro foi bem também, mas acho que pecou em alegorias. Enfim, foi um ano de altos e baixos e com uma campeã que será eternamente discutível, embora a catarse tenha sido histórica.

  2. A Beija-Flor levou o título muito pela força dos quesitos de chão – casal, bateria e o excepcional samba-enredo – porque na parte plástica e desenvolvimento do enredo o que se viu foi um ode ao mau gosto inacreditável. Na hora do desfile eu custava a acreditar no que via. O quesito Enredo foi assassinado naquele dia.

    Tuiuti: que gigante apresentação. A volta no sábado já estaria de bom tamanho, mas o destino foi ainda mais generoso lhe trazendo o inédito vice-campeonato.

    Salgueiro: era a minha campeã. Tecnicamente o melhor desfile. Mas passam-se os anos e o calcanhar de aquiles da Academia sempre é o mesmo…

    Sobre o “Crivella Judas” na Mangueira: Nilcemar Nogueira, neta de Dona Zica e então secretária de cultura do município, armou um quiprocó na Sapucaí por não ter gostado da cutucada, a ponto de quase meter a porrada no Chiquinho da Mangueira em plena pista. O mais curioso: anos antes, a avó apoiou o Crivella na sua primeira campanha eleitoral para o senado.

    Portela e Mocidade decidiram na moedinha quem seria a faixa 1 do CD. Melhor para a verde e branca de Padre Miguel. O problema foi que inventaram aquela viola fazendo firula na introdução por intermináveis 72 segundos… Sem falar no “desemboca desemboca desemboca” do Wander Pires.

    Imperatriz quase conseguiu estourar o tempo com menos de 3 mil componentes na pista. E o Império Serrano? Bem… foi o Império Serrano que a gente tem visto tropeçar nas próprias pernas nos últimos trinta anos.

    Grande Rio comprovou a tese de que Chacrinha é um enredo muito zicado. Mas quem tem amigo não morre pagão, não é Jayder?

    Aliás, causou enorme polêmica a transferência do Emerson Dias da Grande Rio para o Salgueiro. Em português claro, o cantor foi usado como moeda de troca: Jayder Soares o liberou para acertar com o Salgueiro em troca do voto da vermelha e branca na plenária que safou a tricolor do rebaixamento.

    Um novo “aliás”: a virada de mesa motivaram a Uber e o Guanabara a retirarem o patrocínio dos desfiles da Sapucaí para 2019.

    Jorge Silveira disse a mim, em entrevista que concedeu ao Carnaval Show a época, que quando o Renatinho lhe disse que queria fazer o enredo sobre a Escola de Belas Artes ele chorou de emoção, por ter sido aluno da EBA.

    Vou resumir o que foi a Vila Isabel em uma frase: “Corra que o Chuvisco vem aí”

    Sobre a Série A: confirmou-se o prognóstico do pré-carnaval de uma polarização entre Viradouro e UPM – madrinha e afilhada, curiosamente. Mas a Viradouro simplesmente passou o carro com um desfile de alto nível em praticamente todos os quesitos – e com o samba ruim ter rendido uma barbaridade. Padre Miguel não ficou atrás e também fez um belo desfile, embora com algumas pequenas falhas que a afastaram da taça.

    Que venha 2019!

  3. Um novo tópico, agora sobre intérpretes:

    Foi o último ano (até agora) de Igor Sorriso no carnaval do Rio de Janeiro. Após 2018, ele decidiu se mudar para São Paulo, onde atualmente defende a Mocidade Alegre.

    Fred e Migão, uma correção sobre a São Clemente: Leozinho Nunes está creditado como “estreante” no texto mas não estreou em 2018. Ele já estava como cantor da escola desde 2016 – e segue atualmente.

  4. Eu tenho uma teoria para o título da Beija-Flor. O desfile da Tuiuti rendeu uma repercussão tão grande, que ao assistirem a Beija-Flor, os jurados acabaram se influenciando com um desfile ”mais crítico” e de uma escola mais tradicional, na premissa de que a repercussão seria ainda maior e mais impactante que a do desfile da Tuiuti. Acabaram relevando as dezenas de problemas que houveram nesse desfile. Grande equívoco. Teorias………..

    1. Faz muito sentido. Pena que minha Mangueira, com outro enredo crítico, desfilou ainda no domingo, então não se beneficiou dessa repercussão…

  5. Boa noite!

    Eu aqui de novo (Desta vez sem o atraso do outro post):

    – Império subiu fazendo jus à sua tradição. Chegou no Grupo Especial e se enfiou em roubada. Nada novo sob o sol.

    – O enredo “Academicamente Popular”, do carnavalesco Jorge Silveira, foi o primeiro enredo virtual que se tornou real no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Ele havia desenvolvido o mesmo para a Escola de Samba Virtual Mocidade Imperiana no carnaval de 2012.

    – A Comissão de Frente da Vila foi praticamente preparada faltando 1 mês para o desfile. Após desentimentos do coreógrafo original com o carnavalesco, houve sua demissão seguida de nova contratação às pressas.

    – Como muitos desfiles de Paulo Barros, tivemos mais um tema, e não enredo.

    – O primeiro setor era todo composto por fantasias que deram o que falar desde a divugação dos protótipos: Trapizongas que giravam de muitas formas diferentes.

    – A única coisa realmente a se observar de interessante neste desfile da Vila foi a alegoria número 2 “Nas voltas da Vila”. A ser observada não pela cópia de adereço esférico já usado em abertura de Olimpíada, mas pelas inúmeras rodas dentadas automatizadas que giravam uniformemente e continuamente no carro causando efeito muito sedutor. Geralmente efeitos de giros em alegorias são manuais, ou com poucos motores descompassados. Neste caso foi um primor mecánico!

    – A Comissão de Frente da Tuiuti merece muito destaque para embalar o resto do desfile tal qual acontecera com a Tijuca em 2010. Ainda que no terceiro módulo a coreografia tenha tido erros, nos outros, foi muito bem executada.

    – A Escola de São Cristóvão contou com reforço no carro de som: Celsinho Mody, campeão pela Tatuapé em 2017 com enredo de temática afro (“Mãe-África conta a sua história: Do Berço Sagrado da Humanidade à Terra Abençoada do Grande Zimbawe!”), e Grazi Brasil, do Vai-Vai. Celsinho, inclusive, trouxe para o Rio seu grito de guerra “Pegada de Africano”.

    – O Vampirão nem foi tão alarmante na arquibancada onde eu estava. A Comissão de frente era o assunto da pauta. Nas palavras do jornalista Leonardo Bruno, este resultado da Tuiuti foi uma consequência do desfile no domingo e dos modernos tempos de Internet.

    – A bateria da Grande Rio encerraria o desfile com chave de ouro. Encerrou, mas não foi com chave de ouro… Apesar disso, foi um deslumbrante trabalho estético da dupla Marcia e Renato Lage. Muitas cores cítricas e neon, que andava em desuso no Grupo Especial, mas voltara naquele por opção dos carnavalescos para remeter a estética aos anos 80.

    – Uma das imagens mais impressionantes do carnaval 2018 foi uma das 4 cabeças gigantes que adornavam a primeira alegoria da Mangueira, representando um senhor com maquiagem borrada de palhaço. Estas cabeças, por sinal, foram uma clara homenagem de Leandro Vieira à Arlindo Rodrigues, que usou o recurso no enredo da Imperatriz de 1981 “O teu cabelo não nega…” (Que será reeditado este ano).

    – O desfile da Mocidade começou lindo e terminou inacabado. Houve também um porém no horário, pois a Grande Rio atrasou o rolê de todo mundo. Na parte das semelhanças dos bois, houve homenagem às Associações Folclóricas Garantido e Caprichoso com a presença das cunhãs Isabelle Nogueira (Vermelha) e Marcielle Albuquerque (Azul). Nenhum destaque de relevância da mídia “sulista” para esta presença de gala no desfile da Mocidade (Nem uma entrevista na cabine da Globo ao terminar o desfile!)…

    – A única coisa que eu me lembro bem do desfile da Tijuca foi a alegoria “O fascínio da escrita”, toda em estrutura tubular aparente e forrada de jornal, apresentava diversos movimentos incríveis (Não tão precisos quanto os motores da Vila, mas que serviram ao momento). A TV estragou este carro, mas ao vivo era lindíssimo!

    – Aparentemente o abre-alas da Portela tinha um defeito. Aparentemente a águia deveria se mexer como que levantando vôo, vinda de trás do carro para o alto na frente. Tudo aparentemente e nada comprovado… Bem, passou apenas fazendo os movimentos de sempre (Cabeça, bico, asas e patas). A bandeira com 22 estrelas de led segurada pela águia era um tanto de mau gosto… Esperei muito deste desfile, e acho que recebi pouco.

    – O ponto forte da bateria da Ilha não foram os atabaques. Estes já estavam lá no ano anterior. Ciça alfinetou os jurados criando uma paradinha em que apenas as caixas (Com a batida que ele resgatou) tocavam. No mais, a falta de dinheiro foi bem aparente na Escola. Era nítida a reciclagem de esculturas e adereços do ano anterior (Uma pintura nova e tudo resolvido).

    – O Salgueiro, para mim, foi a grande campeã de 2018. Em que pesem as inúmeras críticas ao longo do ano de 2017 dos que diziam que este seria um “Candaces II”, o enredo era diferente, e o desfile foi incrível em todos os quesitos. Só o júri que resolveu canetar o casal Bejani na Comissão de Frente…

    – A Imperatriz enfim encerrou a era Cahê Rodrigues com mais um desfile esteticamente irregular. Se em 2017 o pessoal de Parintins ajudou a colocar o visual da Escola nos eixos, em 2018 as esquisitices voltaram. Junte isso aos problemas financeiros de última hora. O Abre-alas seria uma monumental obra barroca acoplada. Faltou dinheiro, e ficou apenas um carro simples com uma coroa que NÃO LEVANTOU OU GIROU (O giro era importante, pois faria par com o refrão principal).

    – Não vou tecer qualquer comentário sobre o não desfile da Beija-Flor.

    SÉRIE A

    – O desfile da Viradouro foi grande sim, mas irregular. A UPM, mais uma vez, sobrou! O carnavalesco João Vitor Araújo, trabalahando sobre o enredo desenvolvido pelo jornalista Daniel Targuetta, contou uma história muito interessante e bonita.

    – Destaco também a estrutura tubular aparente do ESPETACULAR abre-alas da Viradouro. Neste caso, os tubos tinham tratamento de envelhecimento e o carro apresentava um visual steam punk (Por sinal, uma tendência estética no mundo e NADA comentada nas vezes em que apareceu na Sapucaí).

    – A Inocentes foi muito prejudicada pela ordem de parada do samba. Após quase 10 minutos parados no início da pista, o Presidente da Escola ordenou a parada do samba. Os componentes já suados perderam o clima do samba que poderia ter crescido (Digo isso, porque a Escola balançava enlouquecida, e recomeçou menos agitada).

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

    1. … um adendo…

      – A Cubango faria um desfile emocionante (E avaliado até bem demais para o meu gosto) sobre o Bispo do Rosário desenvolvido pela dupla “Boradad”. Como parte do movimento “Resgata, Cubango!”, a Escola começou a traçar o caminho que a levaria para o espetacular desfile de 2019.

    2. Na verdade o primeiro enredo do carnaval virtual que se tornou real foi o “Tia Ciata” do Marcus Ferreira, UPM 2012

      1. Comentei que foi o primeiro a se tornar real no Grupo Especial do Rio.
        A transposição de ambientes já acontece há bastante tempo pelos carnavais do Brasil.

  6. Após os tristes acontecimentos de 2017, o Carnaval 2018 nos fez lembrar pq gostamos desse negócio chamado desfile de escola de samba. Mesmo com problemas financeiros, tivemos grandes desfiles, embalados por uma boa safra de sambas, e escolas desfilando com muita garra e valentia.

    O título em minha opinião seria do Salgueiro, que fez um baita desfile, correto, belo e emocionante. E o tão criticado samba, mesmo abaixo dos melhores do ano, era sim um bom samba e não comprometeu o desfile. Minha vice-campeã seria a Mangueira, no melhor trabalho do Leandro Vieira, seguida pelo histórico Paraíso do Tuiuti, Portela, Mocidade e Vila Isabel ou Beija-Flor, com São Clemente e Império Serrano caindo.

    No Acesso, título justo da Viradouro, porém se fosse para a Unidos de Padre Miguel também estaria em boas mãos. Destaco também a renascida Cubango e a agradabilíssima Porto da Pedra.

    Em relação ao título da Beija-Flor, mantenho a opinião que manifestei nos comentários do texto que o Pedro citou: título bastante injusto, mesmo com o sambaço, o canto, a garra e o arrastão do povo ao final do desfile, o visual apresentado não é humilde, pobre, limitado, nada disso, ele simplesmente não existiu! Nada contra a escola, mas não dá…

    Junto com a alegoria da Mangueira citada pelo Fred, considero a última alegoria do Salgueiro a mais bela do Carnaval. E impactante…

    No mais, #hopeforever.

    1. Sobre a Beija – Flor eu falo de novo: apesar da plástica horrível, a escola conseguiu chamar a atenção para os problemas atuais da nossa sociedade, num enredo bem ao gosto da direita (inclusive bolsonarista). Como a esquerda estava em frangalhos depois de 2016 e viria a sofrer grandes derrotas ainda em 2018, o impacto da crítica direitista foi bem maior entre os jurados. Vai que também a maioria dos jurados sejam de direita e votaram no Bolsonaro? Taí a explicação mais plausível pro título da BF.

  7. Bom, sobre o desfile de 2018, reitero uma teoria que passou a fazer mais sentido pra mim perto das eleições: como 2018 seria ano eleitoral, a crítica política a nível nacional foi muito mais levada em conta pelos jurados do que o desfile em si.

    Beija – flor com o seu “enredo MBL” (termo do Migão) e Tuiuti com o enredo esquerdista acabaram tomando todas as atenções justamente numa época em que estávamos à caminho de uma das eleições mais polarizadas desde que passamos à eleger nosso presidente, em 1989. No final das contas, o enredo MBL (que teria mais a cara do Gabriel Monteiro, PM que adora confrontar esquerdistas e quase sempre apanha) venceu por causa da situação de violência que estávamos vivendo.

    Ironicamente, um mês depois do Carnaval (em 14 de março), a então vereadora Marielle Franco seria assassinada e sua morte acabou sendo abordada (com destaque) pela Mangueira no ano seguinte, marcando de vez a veia crítica nos lados da Verde e Rosa. O que era uma crítica só ao Crivella acabou virando uma crítica à extrema direita e ao bolsonarismo (crítica que acabou sendo mais implícita neste ano de 2020, com setores bolsonaristas e ultracristãos reagindo com veemência à algumas fantasias mangueirenses, como a da Maria Madalena com as cores do arco – íris).

    Aliás, Migão e Fred, o que vocês acham do desfile da Mangueira para 2020? Terá chances de título ou os jurados irão pegar pesado? E será que o Crivella vai cortar de vez as relações com o Carnaval por causa do monte de enredo metendo o pau direta ou indiretamente nele?

    1. Em tempo: um dos que criticou o enredo da Tuiuti foi o jornalista/militante do PSDB Reinaldo Azevedo. Ele não gostou da associação da reforma trabalhista à escravidão e do Temer (do qual ele defendia apaixonadamente) ao vampirão neoliberal.

      Inclusive rolou até pressão do governo federal da época em não ter o vampiro com a faixa presidencial no desfile das campeãs, o que de fato pode ter funcionado.

    2. Acho que esse ano vao pegar pesado com a Manga. Eu acho o enredo genial. Ousado, criativo.
      A posição de desfile também não ajudou. Mas no fundo eu ainda tenho esperanças que seja igual a 2010 e a terceira escola de Domingo conquiste o título

      1. Natiele, compartilho sua opinião sobre a pergunta do Luiz Felipe, também acho que vão pesar a caneta na hora de dar as notas da Mangueira. Inclusive, acredito que essa era a intenção da carta enviada pela arquidiocese para a Liesa. Um possível título da Mangueira pode fazer com que outras escolas venham com essa temática, o que certamente não agradará a igreja católica. Espero estar equivocado, mas…

        1. Apesar da carta da Igreja Católica, o enredo da Mangueira é um claro recado ao evangélico Marcelo Crivella, ainda mais em ano eleitoral. Mirou em um, mas respingou em outros.

        2. Em tempo: pelo que tô vendo no RJ1, o samba da Mangueira tem ótimas chances de provocar uma catarse na avenida e a verde e rosa tem boas chances nos quesitos de pista.

  8. Esse ano era do Tuiuti. O desfile que vai ficar na história é esse. E merecia muito o campeonato. A Beija Flor com aquelas fantasias foi de doer. Vai uma escola com uma bandeira mais leve fazer isso pra ver o que acontece…
    O rebaixamento da Grande Rio era sinal claro que iria ocorrer uma nova virada de mesa. E se não tivesse ocorrido 2 viradas de mesas seguidas a Imperatriz viraria a mesa ano passado também. Para mim poderia ser mantido 14 escolas no grupo. 2 cai 2 sobe. Seria muito melhor. A rotatividade do grupo especial seria maior e mais escolas ja teriam tido a oportunidade de disputar o grupo especial. Torço muito pelo acesso da UPM merecem e a muitos anos batem na trave.

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