Nesta sexta feira, em um tema mais leve vamos trazer as vezes em que o Flamengo e o carnaval se misturaram.

Antes de mostrar, “preto no vermelho”, as vezes que isso aconteceu, vale lembrar que em termos de torcida por escolas de samba não há relação direta com a torcida por um clube de futebol, ao menos no Rio de Janeiro.

Como escrevi em artigo de 2013 (que precisa ser atualizado, aliás), o local onde o carioca cresceu exerce mais influência na definição de uma escola de samba do que a relação entre esta e o clube pelo qual se torce. Eu mesmo sou rubro negro e portelense – o leitor mais abaixo entenderá.

Feito este parêntese, vamos mostrar as vezes em que as escolas de samba tiveram o Flamengo ou relação com o clube como seus enredos. Obviamente, estarei longe de esgotar o tema, mas o leitor terá um bom ponto de partida para se aventurar pelo tema.

Há, inclusive, escolas de samba famosas que se originaram de clubes de futebol, como a Mocidade Independente, a União da Ilha do Governador e a Unidos de Bangu (acima, em seu desfile de 2019). E a Portela já jogou campeonatos amadores, até a década de 50 do século passado.

Vale lembrar que há duas escolas de samba ligadas a clubes hoje em dia. A Botafogo Samba Clube, com apoio institucional do clube alvinegro, promovida este ano da Série D para a Série C (quinta à quarta divisão do samba carioca).

E temos a Imperadores Rubro Negros, promovida da Série E à Série D com o terceiro lugar no desfile realizado no Sábado das Campeãs (acima). A agremiação tem apoio informal da direção do clube e conta, tal como a Botafogo Samba Clube, com a simpatia da diretoria da Liesb, entidade que, na prática, organiza todos os desfiles dos grupos abaixo do principal.

Esperemos que a Imperadores tenha vida longa, ao contrário das natimortas “Nação Rubro Negra” (1996/97) e “Império Rubro Negro” (2014), que tiveram vida curtíssima.

A primeira escola de samba a dedicar um enredo ao “Mais Querido” foi o Arrastão de Cascadura, escola do bairro onde nasci e fui criado, pertinho de Madureira (por isso o amor pela Portela). A escola, que continuou a história de um bloco de muito sucesso, originalmente tinha as cores vermelha e preta em homenagem ao Flamengo. Depois, como as escolas à época precisavam respeitar as cores em alegorias e fantasias, mudou para o verde e branco da madrinha Império Serrano.

O Flamengo foi o primeiro enredo na recém-nascida escola de samba, em 1974. “Flamengo, glória de um povo”, deu à escola o oitavo lugar no então Grupo 3, último de então. As informações deste desfile são escassas, mas consta que a escola foi a décima sétima e última escola a desfilar no domingo de carnaval, na Avenida Graça Aranha, centro do Rio. Infelizmente, não há registros do samba apresentado pela escola, sequer a letra deste.

Em 1990, a Difícil é o Nome, escola de Pilares, apresentou “Tua glória é lutar, Flamengo, Flamengo”, no antigo Grupo C, equivalente à quarta divisão de então. Dos carnavalescos Fernando Alvarez e Joãozinho de Deus, a escola obteve o terceiro lugar, a uma posição da promoção. Na prática, a “melhor do resto”, haja visto que as duas primeiras colocadas foram a Acadêmicos da Rocinha e a Unidos de Campinho, que estavam subindo feito foguetes, turbinadas pela grana de seus patronos.

A letra do samba da Difícil é o Nome nesta ocasião pode ser vista aqui – infelizmente, não há áudio disponível na internet.

Em 1995, a Estácio de Sá homenagearia o Flamengo e seu centenário, em enredo que originalmente seria feito pela Mangueira. Entretanto esta abriu mão, e a agremiação da região do Sambódromo, imersa em grave crise financeira, cantou o Flamengo em seu desfile – com um samba onde o principal compositor, Davi Correa, é tricolor…

A Estácio de Sá foi a segunda escola a desfilar na noite de segunda feira de carnaval, com o Sambódromo tendo se transformado em uma verdadeira filial do Maracanã, com as arquibancadas vibrando bastante. Em que pese a falta de recursos financeiros e o desenvolvimento repetitivo do enredo por parte do carnavalesco Mario Borrielo, a escola ficou na sétima colocação entre dezoito agremiações – o último bom resultado da Estácio de Sá.

Há outros desfiles que citam o Flamengo na história, mas dois deles merecem maior atenção. O primeiro é o da União da Ilha para 1988, que homenageou o grande escritor, compositor e narrador esportivo Ary Barroso – fanático rubro negro (acima).

O clube era citado no refrão final e em um dos setores do enredo. O Flamengo era o (de fato) o atual campeão brasileiro naquele pré-carnaval e tanto o samba quanto os ensaios da escola foram extremamente badalados. No ano do maior desfile da história do Sambódromo (Kizomba). A escolha ficou em uma honrosa sexta colocação. Neste texto da série “Histórias do Sambódromo” o leitor pode ter mais detalhes sobre este desfile da União da Ilha.

Em 2014, a Imperatriz Leopoldinense homenageou Zico, maior ídolo da história do clube, com enredo dedicado à sua vida e carreira (vídeo acima, foto no alto do post também). O Flamengo ganhou um setor específico, mas esteve permeando todas as alas e carros do desfile – além do “esquenta da bateria” ter sido com o hino do clube. Com problemas de evolução, a Imperatriz obteve o sexto lugar também em seu desfile.

Uma curiosidade é que, embora eu estivesse na Sapucaí aquele ano em todos os dias, eu só vi a Imperatriz no Desfile das Campeãs. Explico: no desfile oficial eu estava na concentração da Portela (que desfilaria em sequência) quando Zico passou com a “Rainha de Ramos”, como é conhecida a escola da Leopoldina.

Finalizando, mais uma curiosidade: o Peñarol, adversário do Flamengo na última quarta-feira, inspirou a São Clemente a adotar as cores amarelo e preto como as suas oficiais.

É isso.

P.S. – com ligeiras alterações (tendo em vista a diferença entre os sites), este é o meu texto de estreia no “Redação Rubro Negra”, o mais novo site dedicado ao “Mais Querido”.

Imagens: Ouro de Tolo e Matheus Berriel (Imperadores Rubro Negros)

2 Replies to “Carnaval e Flamengo”

  1. Samba da Águia de Ouro de 2013 (melhor da história da escola), sobre João Nogueira fala “festejar no boteco do Arlindo/mais um show do Flamengo domingo/um Rio de Felicidade.”

    1. Obrigado pela lembrança. Aqui no Rio, quando a Cubango homenageou João Nogueira em 2017 havia referência ao clube em uma das alas, mas não diretamente no samba.

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