Poucos mais de 11.500 quilômetros separam o Rio de Janeiro, cidade onde vivo, de Moscou, local do jogo de abertura da Copa do Mundo de 2018 entre Rússia e Arábia Saudita.

A enorme distância geográfica talvez ajude a explicar porque a Copa da Rússia ainda não pegou. Mas não é o único fator…

De imediato, cabe a ressalva que toda a comparação com a Copa de 2014 no Brasil parece injusta. Não podemos medir a repercussão de um Mundial disputado em nosso quintal com um outro que está distante a muitas horas de voo.

A menos de quatro dias para a Copa, umas das poucas coisas relacionadas ao evento que parece ter feito sucesso aqui no Brasil foi o álbum de figurinha (que aliás foi o tema da minha última coluna). Aqui no Rio de Janeiro, ainda não vi nenhuma rua enfeitada. O mais perto disso foi o clube em que sou sócia que aproveitou a época das festas juninas para colocar bandeirinhas verde e amarelas na decoração.

A festa no Alzirão, um dos principais pontos de concentração de torcedores que gostam de assistir à Copa com a galera, só foi confirmada aos 45 minutos do segundo tempo graças à uma ajudinha do governador.

Na televisão, nenhum comercial com a temática da Copa pegou. Só vi três carros com bandeirinhas na rua, todos na última semana. Não ficou nenhuma música grudenta na minha cabeça. O Mc Donald’s investiu pesado com Neymar e Anitta, mas a música adotada é uma paródia do primeiro sucesso da cantora, que já estourou há alguns anos. E a música oficial da Copa? O clipe só foi lançado semana passada e a melodia parece estar bem longe de fazer o sucesso de Waka Waka, por exemplo.

As empresas até investem em figuras ligadas ao futebol para vender seus produtos, como Joel Santana, Raí, Rivellino e os onipresentes Tite e Neymar. Mas fala sério, você acredita naquele comercial do fã do Adenor? Também vi poucas matérias falando sobre o aumento do número de TVs para a Copa. Pelo jeito, vai ter muita gente assistindo o Mundial com os pixels brancos mesmo…

Se nem todo mundo pode comprar um TV Smart HD de trezentas mil polegadas, dá para pelo menos ganhar uns brindes legais, né? Mais ou menos. Para quem adora um brinde como eu, é triste constatar que os patrocinadores oficias (da Copa e da CBF) não foram muito criativos esse ano. Não vi latinha do Guaraná Antártica ou da Coca personalizadas que mereçam ser guardadas.

Bem diferente dos minicraques da Copa de 1998, as camisas comemorativas do Guaraná em 2010 ou as minigarrafinhas da Copa em 2014. Até a simples tabelinha de papel está difícil de achar. Só tinha visto uma em Juiz de Fora até meu irmão achar a da Companhia das Letras.

A editora fez um trabalho bem legal aproveitando sua expertise na área: além do design atraente, aproveitou para colocar na tabelinha os livros ligados ao futebol. Bola dentro!

Mas além da distância geográfica, por que que será que a Copa ainda não pegou? Acho que não existe uma única resposta para essa pergunta e sim algumas. A crise política e financeira que vive o Brasil certamente é um dos principais motivos. Nem vou enumerar alguns dos problemas aqui do nosso país porque eles são pra lá de conhecidos e dariam um texto bem maior que esse.

A desconfiança com a Seleção Brasileira, mais precisamente com seus dirigentes, também é um dos fatores. Por mais que a equipe de Tite mostre dentro de campo um futebol que a coloca com uma das favoritas para a Copa e espante um pouco a decepção do 7 x 1, fora dele ainda há lama. Os três últimos presidentes da CBF estão presos ou impedidos de sair do país: Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo del Nero.

Grande parte dos torcedores também não se sente representado com os 23 convocados da Seleção Brasileira. Apenas três deles jogam no Brasil (Cássio, Pedro Geromel e Fagner). E outros tantos saíram cedo do país para times pouco expressivos em nível global  – casos de Fred e Taison, que atuam no futebol ucraniano.

O jornalista Arthur Dapieve levanta ainda um outro motivo em um artigo para a revista Época. Ele acha que Neymar, principal craque da Seleção, é um “personagem problemático” do qual “é difícil nutrir empatia pelo seu jeito arrogante.”

Ele cita a ostentação fora de campo, o desrespeito aos adversários e as atitudes mesquinhas como problemas do camisa 10 do Brasil. Eu particularmente não vejo assim, embora não simpatize com a figura de Neymar.

Os tempos são outros. Os jogadores são vaidosos sim, gostam de postar e expor sua intimidade em redes sociais. E o público mais jovem adora isso. Neymar é certamente o jogador mais adorado pela torcida brasileira.

Mas talvez só a presença de Neymar não seja capaz de encurtar as distâncias entre Brasil e Rússia. Nem de fazer esquecer o que acontece no país…

Imagens: Reprodução e Bruno Domingos/Mowa Press

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