Acho que está na hora de falarmos sobre a Chapecoense.

Faz quase um ano (é amigos, o tempo passa rápido) que ocorreu a tragédia com o avião da Chape. É evidente que uma tragédia com essa proporção comove a todos nós, que ficamos abalados e imediatamente nos solidarizamos com o clube e as vítimas. Foram dias, semanas, meses de luto, comoção, solidariedade, mas, assim como em nossas vidas, o luto tem um certo período e depois a vida tem que continuar, e em relação à Chape podemos dizer o mesmo.

Já estamos em agosto de 2017 e é hora de seguirmos em frente e voltarmos a tratar a Chapecoense como um clube como qualquer outro e não há demérito nisso. Até porque o clube pelo qual torcemos é um clube como qualquer outro com seus acertos, erros, títulos, derrotas e a única coisa que lhes diferencia, a única que diferencia o clube mais poderoso do mundo de outro semiamador, é a paixão que nos move a ele.

Vou tentar explicar para não ser mal interpretado, até porque hoje vivemos em um mundo de interpretações ruins. Mas a Chapecoense fisicamente não sofreu nada. A Chapecoense não é um ser humano que morre, perde entes queridos e se abala psicologicamente, não é um ser que entra em depressão, que fica inválido.

É um clube, e uma associação esportiva assim como qualquer empresa, sobrevive a tragédias dessa forma. Pode ter abalos financeiros ou de pessoas, por muitas vezes perder gente que lhe dirigia e liderava, mas sobrevive. Japoneses morreram com duas bombas atômicas, o Japão não e ele se reconstruiu. Não estou, evidente, comparando queda de avião de um clube de futebol com bomba atômica, só estou dizendo que entidades, países sobrevivem.

A Chape sobreviveu, novos jogadores chegaram, nova comissão técnica chegou, novos dirigentes assumiram e o clube prosseguiu. Encontrou dificuldades maiores que os outros clubes como ter que remontar todo um elenco, mas pensando friamente a Chapecoense nesse período ganhou muito mais dinheiro que todos os clubes de Santa Catarina e outros de seu tamanho, ganhou muito mais visibilidade ou você espera que nesse século tenhamos novamente um clube de Santa Catarina enfrentando o Barcelona no Camp Nou para o mundo inteiro ver em condições normais?

O clube se remontou, disputa o Campeonato Brasileiro um pouco abaixo do que vinha disputando nos últimos anos, mas nada de muito diferente. Ganhou o título catarinense como ganhara ano passado com os jogadores que faleceram, hoje tem um dos sócio torcedores mais fortes do país então como estrutura e pelo lado financeiro não foi terra arrasada.

E esportivamente a Chapecoense vem mostrando em 2017 que é um clube como os outros, que pode voltar a ser tratada como os outros,

Já demitiu técnico de forma injusta, já teve torcida aprontando na Arena Condá, lugar que devia ser sagrado, já conseguiu tomar vaia dos japoneses no fim do jogo pela copa Suruga por atitude antidesportiva, quer dizer, seguindo a cartilha de todos os clubes.

A Chapecoense está recuperada, ou pelo menos se recuperando, a concentração do amor, das orações e também de cobranças tem que ser em relação as famílias das vítimas. Muito acompanhamos dos jogadores e jornalistas acidentados que aos poucos se recuperam fisicamente ficando a sequela emocional e essa será eterna, mas e os familiares daqueles que partiram?

Esses não são cubes, países, não são entidades, são os tais seres humanos que citei no começo da coluna e ficam com marcas, cicatrizes, com vidas que nunca serão as mesmas. Familiares dos mortos não abrem sócios torcedores, não vão jogar contra o Barcelona no Camp Nou, não tiveram título cedido pelo Nacional de Medellín. Como seguem? Como sobrevivem com todo o trauma da perda e como sobrevivem financeiramente?

O força Chape deu certo, o clube segue vencendo e perdendo dentro e fora de campo. É hora de olhar pelas famílias que a própria Chape anda renegando pelas informações. Eles que precisam de ajuda, a Chapecoense já está bem cuidada. Como diz um prefake de um balneário violento é hora de cuidar das pessoas.

Mas cuidar de verdade.

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