Sassá Mutema foi um personagem interpretado por Lima Duarte na novela “O salvador da pátria” exibida pela Rede Globo em 1989. Nessa época, seu xará nem tinha nascido ainda. Luiz Ricardo Alves,  nasceu só em 1994 e é o verdadeiro nome do atacante Sassá, que – apesar de não ser ator – protagoniza uma das muitas novelas do futebol brasileiro.

Sassá, o jogador, se destacou com a camisa do Botafogo em 2016 e desde então vem despertando o interesse de muitos clubes em seu futebol. Em fevereiro desse ano, a equipe de General Severiano recusou uma proposta de 1,5 milhões de euros do Lokomotiv Moscou pelo atacante. Mas foi no último mês que as especulações envolvendo o nome do jogador aumentaram.

Treinando em separado no Botafogo, Sassá tem contrato com a equipe até o fim desse ano, ou seja, já poderia assinar um pré-contrato com qualquer outro clube a partir de julho. Recentemente, a mídia noticiou o interesse de Vitória, Palmeiras, Flamengo, dentre outros no jogador. Mas a proposta mais concreta veio do futebol mineiro: Sassá acertou as bases salariais com o Cruzeiro, que gostaria de contar de imediato com o atleta e por isso ofereceu alguns nomes para fazer uma troca com o Botafogo. O primeiro oferecido foi Élber. O  nome do meia-atacante agradou os alvinegros, mas ele não chegou a um acordo salarial com a equipe carioca. Depois, a negociação envolveu o meia Marcos Vinícius e estava bem próxima de ser fechada quando o Botafogo acabou recuando pelo histórico de lesões do atleta. Notícia dessa quarta, no entanto, indica que os dois clubes voltaram a negociar e o meia cruzeirense é esperado nessa semana no Rio para se submeter a uma bateria de exames. Se aprovado, a negociação deve ser sacramentada. Os dois clubes teriam 50% dos direitos dos atletas para participação em futuras transferências. Há também a possibilidade que o negócio envolva ainda a devolução de Joel, atacante camaronês que pertence ao Cruzeiro e está emprestado ao Botafogo.

Por enquanto, a única certeza que se tem nesse enredo é que Sassá não fica no Botafogo. Desde o último afastamento do atleta, na véspera da estreia do Brasileirão contra o Grêmio, ficou claro que Jair Ventura não conta mais com o jogador. “Antes que qualquer coisa, nós temos um grupo. Todos são mais importantes que um atleta. E antes de um grupo, temos uma instituição que é gigante” – declarou o comandante alvinegro depois daquela partida. Desde então, Jair não comenta mais o assunto.

Sassá foi revelado no próprio Botafogo e chegou aos profissionais em 2012. Na base, chegou a ser treinado pelo próprio Jair Ventura, a quem reencontrou nos profissionais posteriormente. Em 2014, sem espaço no alvinegro carioca, o atacante foi emprestado duas vezes, para o Oeste e para o Náutico. No primeiro, quase não jogou: apenas três partidas, sem gols. Já na equipe pernambucana, o desempenho foi bem melhor: nove gols em 22 jogos.

A boa passagem pelo Timbu garantiu uma nova chance para Sassá no clube que o revelou. Como reserva, o atacante participou de boa parte da campanha da conquista da série B pelo Botafogo. Quando o atacante começou a ganhar mais espaço, no entanto, sofreu uma ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e só voltou a jogar seis meses depois.

O melhor momento de Sassá com a camisa do Botafogo veio em 2016. O atacante foi peça fundamental na arrancada da equipe no segundo turno do Brasileiro e terminou o campeonato como vice-artilheiro da competição. Mas já no final daquele ano, Sassá passou a chamar atenção também pelo seu desempenho fora de campo.

Na última partida daquele Brasileirão, o Botafogo vencia o Grêmio em Porto Alegre por 1 a 0 quando o camisa 9 arrumou confusão com seu próprio companheiro de equipe, Airton, e fez com que o volante, que já tinha um amarelo, fosse expulso em um jogo que os cariocas precisavam da vitória para conseguir uma vaga na Libertadores.

Após a partida, Sassá postou uma foto polêmica em suas redes sociais, no melhor estilo “Floyd Mayweather”, sem camisa, segurando maços de dinheiro. O atacante sempre frisou que era uma brincadeira, mas a foto não caiu muito bem e é lembrada até hoje.

Veio 2017 e Sassá continuou sendo assunto seja dentro de campo ou fora dele. Não foi inscrito pelo Botafogo na lista dos 25 atletas que participariam da Pré-Libertadores. Segundo matéria do globoesporte.com, o atacante “era figura constante na noite carioca”, chegava constantemente atrasado nos treinos e era dono de um “temperamento explosivo.”

Sem Sassá, o Botafogo se classificou para a fase de grupos da Libertadores e o atacante ganhou mais uma chance. Fez parte da nova lista do clube na competição e, mesmo reserva,  era o artilheiro da equipe no ano até ser novamente afastado. Na curta boa fase, que teve direito até a um golaço de bicicleta, Sassá deu diversas entrevistas se mostrando arrependido e dizendo que tinha mudado, mas…

Foi afastado na véspera da estreia do Botafogo no Brasileiro em 2017. Enquanto o elenco jogava em Porto Alegre contra o Grêmio, Sassá ficou no Rio e foi visto no horário da partida em uma festa junto com o lateral Rodinei, do Flamengo. Naquele mesmo dia, segundo o colunista Leo Dias, o jogador se envolveu em uma confusão em uma boate na Barra da Tijuca.

De jogador talentoso e com potencial de venda, Sassá virou um problema. Mesmo na boa fase, o Botafogo nunca conseguiu chegar a um acordo com o empresário do atleta para uma renovação salarial. Segundo informação da rádio Tupi, o agente do atleta pediu 300 mil de salários além de 1,5 milhões de euros em luva para a extensão do contrato do jogador por três temporadas. O Botafogo não chegou a um acordo.

Mas não é só Sassá que cometeu erros nessa história. A diretoria do Botafogo também andou vacilando. Segundo o colunista do Globoesporte.com, Thiago Pinheiro, Sassá ganhava 45 mil no clube e a proposta de renovação feita pelo Botafogo era de 55 mil. Um salário bem baixo para um atleta profissional de um clube de ponta (não vamos aqui cair no erro de comparar o salário com o de outras profissões).

E aí a diretoria do Botafogo pisou feio na bola. Deveria ter procurado o jogador para renovar bem mais cedo. Não o fez e ficou de mãos atadas. E quando teve a oportunidade de fazer uma proposta, ofereceu um valor baixo para um atleta que estava em alta. Era óbvio que não daria certo.

Podendo perder o atleta de graça em um mês, o Botafogo não consegue negociar Sassá pelo seu real valor de mercado. E, de certa forma, deve até agradecer ao Cruzeiro pelo interesse na negociação, pois se a equipe mineira tivesse um pouco mais de paciência e aguardasse até o fim do ano, o jogador sairia de GRAÇA.

Nessa novela, todos têm lições a aprender. O Botafogo precisa valorizar mais os jovens formados em sua base (lembrando que Luís Henrique já saiu em situação semelhante ano passado). Já Sassá precisa colocar a cabeça no lugar. Particularmente, não acho ele esse jogador todo. E digo isso como torcedora, que está acostumada a assistir todos os jogos do time. Não à toa, Sassá não era nem titular no próprio Botafogo. Quando ia ganhar um espaço na equipe principal, os problemas extracampos voltaram. Se acertar com o Cruzeiro, Sassá vai enfrentar uma concorrência pesada: Rafael Sóbis, Ábila, Rafael Marques e Alisson são os atacantes do elenco mineiro.

Se essa novela vai se encerrar agora ou ganhar mais capítulos até dezembro, é difícil prever. Sassá está longe de ser o salvador da pátria para a equipe que o contratar. Mas ele tem potencial e pode ser útil no próximo clube se decidir só jogar bola. Ou o extracampo pode prejudicar a carreira do jogador (como já vimos muitas vezes em outras novelas do futebol brasileiro).

Imagens: Vitor Silva/SSPress/Botafogo, Aldo Carneiro/Folhapress, Reprodução, Agência Estado

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