Parece contraditório, sim, mas é isso que o leitor está vendo no título do post. Foi uma boa definição que vi nas redes sociais: um campeonato bom de corridas chatas; é assim que está se desenhando a temporada-2017 da Fórmula 1 depois do que vimos na prova de abertura, na Austrália.

A vitória com autoridade de Sebastian Vettel em Melbourne mostrou uma Ferrari não apenas veloz como já havia se visto nos testes, mas uma Ferrari que trata muito bem os pneus mais macios, o que lhe permite uma flexibilidade estratégica.

Lewis Hamilton e a Mercedes mostraram velocidade, sim, tanto que conquistaram a pole position. Mas na corrida o desgaste acima do esperado não só fez o inglês parar muito cedo, o que o deixou preso atrás da Red Bull de Max Verstappen, como o obrigou a usar um set de pneus macios (os mais duros do fim de semana) para completar a prova.

E aí vem a segunda questão desta temporada: a dificuldade de se ultrapassar. A sensível modificação nos carros proporcionou um ganho assombroso de velocidade e um prazer maior aos pilotos na guiada. Mas em vez de privilegiarem a aderência mecânica com o aumento da largura dos pneus, optaram também por aumentar a pressão aerodinâmica nos carros… Aí já viu, né?

Uma procissão modorrenta deu o tom do que deve ser a maior parte da temporada. É claro que, em pistas com mais retas longas e freadas fortes, devemos ver mais disputas. Mas não com o número de ultrapassagens que vimos nos últimos anos.

Portanto, o desafio de Ross Brawn como novo diretor da Fórmula 1 é enorme. Ele precisa encontrar uma solução de compromisso entre carros bem velozes e corridas que tenham disputas e ultrapassagens sem artificialidades exageradas como a da asa móvel.

Para este ano, então, a tendência é a de corridas mais equilibradas entre Ferrari e Mercedes, com a Red Bull ameaçando nas pistas de mais baixa velocidade, mas sem que haja muitas inversões de posições na pista.

Pelo menos, para quem ficou acostumado a corridas interessantes – do segundo lugar para trás por causa do domínio da Mercedes – será preciso se acostumar a outro tipo de realidade.

De qualquer maneira, temos tudo para ver um campeonato muito mais disputado, com pilotos de equipes diferentes, e o extraordinário confronto que se desenha entre Vettel e Hamilton, que, pelas circunstâncias da categoria, nunca aconteceu.

Mas, como na Fórmula 1 tudo é dinâmico, vai que esses engenheiros malucos encontram alguma solução mirabolante?

Fotos: Reuters e divulgação