A primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro deixou um gosto de quero mais. Para ser sincero, não me parece que a campeã já tenha passado, a não ser que vejamos uma segunda noite absolutamente desastrosas.

As seis agremiações que passaram pela Sapucaí fizeram apresentações de altos e baixos. Houve, sim, bons sambas. Algumas escolas passaram com beleza, mas houve diversos problemas e equívocos nas apresentações. Segue uma análise sucinta dos desfiles:

Paraíso do Tuiuti – O enredo sobre o tropicalismo foi dividido de forma bastante criativa e inteligente pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. A divisão cromática foi bastante colorida, seguindo essa proposta tropicalista. Em alguns casos, os figurinos se mostraram pesados e algumas alegorias tinham problemas de acabamento. Nos quesitos de pista, o samba não aconteceu e infelizmente o lamentável acidente com o último carro trouxe problemas para a evolução. A investigação sobre o caso precisa ser muito criteriosa para que jamais se repita. Dificilmente escapa do descenso.

Acadêmicos do Grande Rio – Não me lembro de ver um homenageado tão participativo num desfile. Goste-se ou não do enredo ou de Ivete Sangalo, é preciso aplaudir a iniciativa da cantora, atuante desde a fase pré-carnavalesca até o desfile. Ivete passou primeiro na comissão de frente e depois numa alegoria. A Tricolor pisou forte na avenida, mas tão logo Ivete saiu da pista pela primeira vez, perdeu o pique até porque acabou o fôlego do samba. As alegorias se mostraram irregulares e não agradou o elemento do The Voice. O grande pecado da Grande Rio foi em evolução, muito lenta em boa parte do desfile e apressada no fim. Em condições normais, é desfile para zona da marola.

Imperatriz Leopoldinense – Aplausos para a Verde e Branco de Ramos pelo enredo, importantíssimo. A defesa dos índios do Xingu foi feita com correção nos quesitos, embora o portão do início de desfile tenha sido fechado antes da entrada da última alegoria, o que pode tirar alguns décimos em Evolução. Nos grandiosos carros, houve pequenas falhas de acabamento, mas a leitura dos elementos era adequada. A divisão cromática tinha muito verde, o que também era adequado, apesar de algumas fantasias parecerem repetitivas. Gostei do desempenho do cantor Arthur Franco e principalmente da Swing da Leopoldina. É possível a Imperatriz voltar no sábado, como acontece desde o desfile de 2013.

Unidos de Vila Isabel – Nos quesitos plásticos, a grande decepção da noite. Fez com que nos lembrássemos do desastre de 2014, principalmente nas alegorias, que tiveram pedaços se soltando – as fantasias estavam melhores. A Vila salvou sua apresentação com um excelente desempenho nos quesitos de pista, graças à bateria bastante firme e ao canto dos componentes. O samba-enredo elogiado na fase pré-carnavalesca não pegou com o público mas foi muito bem cantado. Com os problemas financeiros, o enredo acabou não sendo desenvolvido no potencial máximo. Deve ficar mesmo na zona da marola.

Acadêmicos do Salgueiro – A Vermelho e Branco fez um bom desfile, mas um tanto abaixo do que se esperava para quem quer o título. O samba-enredo funcionou só dentro da pista e para o público a apresentação foi mais fria do que se imaginava, apesar de mais uma excelente atuação da bateria de Mestre Marcão. Houve ainda problemas de evolução. Nos quesitos plásticos, destaque para o conjunto de fantasias, que proporcionou uma agradável divisão cromática. Nas alegorias, não houve graves problemas mas não houve o impacto que se esperava. Deve voltar no sábado, mas não é favorita ao título como em outros desfiles nesta década.

Beija-Flor de Nilópolis – A Deusa da Passarela foi disparada a melhor escola do dia em quatro quesitos: Alegorias e Adereços, Samba-Enredo, Harmonia e Mestre-Sala e Porta-Bandeira. A bateria também passou com a correção costumeira e deve ter pontuação máxima. Então o que deu errado? Bem, a ideia do desfile em vários blocos não me agradou. Por mais que a escola mereça aplausos em tentar inovar, penso que a ideia precisa ser melhor desenvolvida. Afinal, ainda é desfile de escola de samba, e não de bloco. E isso gerou fragilidade no desenvolvimento do enredo.  Em evolução, houve um problema com o abre-alas, que teve de dar ré em frente ao último módulo de julgadores, o que deve render perda de pontos. Em fantasias, por mais que o desfile se referisse a índios, houve a sensação de repetição excessiva. Apesar desses senões, foi a exibição mais agradável do dia. Resta saber como os jurados vão interpretar a nova proposta de desfile nilopolitana. Ao meu ver, pode voltar no sábado por ter sido perfeita em diversos quesitos. Título é outra história.

8 Replies to “Notas sobre o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio”

  1. Fred, se me dá licença, vou tecer algumas considerações.

    Gostei do conjunto alegórico do Tuiuti, muito adequado ao enredo. Uma pena o acidente com uma alegoria que já entrou quebrada. Inclusive, ela deu uma adernada violenta no setor 7 e quase esmagou o pessoal de um camarote.

    Achei a Grande Rio um saco. Aquilo era tudo, menos samba. Parecia axé. Só teve vibração no início. Depois, foi ficando sacal. O carro alusivo ao The Voice era pavoroso.

    A Imperatriz eu achei bem no início e depois o samba – muito bem conduzido pelo Arthur Franco – deu uma arrastada no final. O ponto alto foi a comissão de frente – excepcional – e a bateria de Mestre Lolo, que pra mim deu um sacode.

    A Vila foi lamentável nos quesitos plásticos. Uma pena as alegorias não serem à altura do ótimo samba.

    O Salgueiro não aconteceu – de novo. A escola tem que parar com essa “busca de um novo Ita”, porque não vai mais acontecer. E foi o pior trabalho do Renato Lage em anos. Vi alegorias pavorosas para um cara tido como gênio. E também me contaram – até porque minha mulher saiu na ala #2 – que ele já saiu do Salgueiro. Inclusive, uma semana ANTES do desfile.

    Beija-Flor eu não vi, porque minha mulher e a amiga dela vinham do desfile do Salgueiro e estávamos muito cansados. Achei o samba meio arrastado enquanto eu saía da Sapucaí. Depois vi os comentários de um desfile “inovador”. Inovador em que? Honestamente, não sei. E depois a Imperatriz que é monótona por ter “muito índio”. Em Nilópolis pôde. Por que na agremiação de Ramos não pode.

    É uma implicância inacreditável com a Imperatriz e uma puta puxação de saco dos “entendidos” de carnaval com a BF e principalmente com a Acadêmicos do Projac.

    Desculpem o desabafo no final. Mas tá ficando demais.

  2. Imperatriz fez o desfile que mais me agradou no domingo. Diante de tudo o que aconteceu na segunda-feira briga por uma excelente posição, quiçá pelo título. Pelo menos de onde eu estava.

    1. Curioso, eu acho que esse desfile da Imperatriz em um ano mais forte brigaria para não cair. Cafonah… ops, Cahê Rodrigues não dá.

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