(Por Rodrigo Vilela, radialista e jornalista)

Em todos esses anos sempre tivemos em mente que assistir aos desfiles na TV eram uma tortura e que ao vivo é muito melhor. Isso é um fato, realmente; ninguém aguenta aquele monte de subcelebridade querendo aparecer.

Pois bem, neste último fim de semana tivemos o Desfile das Escolas de Samba de Santos. A antecipação em uma semana, a meu ver, me agrada e muito: fugindo da concorrência com São Paulo e Rio de Janeiro, o Carnaval daqui possibilita que muita gente destes dois centros venham ajudar e desfilar nas agremiações.

E eles vêm, mesmo!!

E a evolução está visível… Pelo menos estava. Ainda como consequência de toda a ajuda dada à Grande Rio em 2016, a Prefeitura simplesmente cortou o repasse de verba pela metade. As escolas, que já não possuem condições à altura das tradições, tiveram que se virar. Além disso, a Secretaria de Cultura (que comanda os desfiles) aboliu as arquibancadas e colocou tendas nos lugares.

Na boa, espero que tenha sido apenas para este ano, porque foi de uma tristeza sem tamanho ver o público ultra reduzido (não passou de 7 mil), se acumulando nas grades, apenas. Lamentável.

Falei acima da transmissão, que ficou a cargo da Santa Cecília TV. Um desastre! Entre uma escola e outra, entrevistas maçantes com autoridades de todos os tipos, lógico, dizendo que o Carnaval estava uma maravilha.

E aí o revés. Quem estava no Sambódromo tinha que esperar quase meia hora entre uma escola e outra. Para quê tudo isso? A parte anterior ao início do desfile é uma rua de mão dupla. Bastava dividir as escolas nos dois sentidos da pista para que a espera fosse menor, o que torna a experiência de assistir in loco desgastante e sofrível.

Os desfiles

Alheio à tudo isso, as escolas (com número reduzido de integrantes e carros, em represália à redução do repasse) adentraram a passarela Dráusio da Cruz dispostos a esquecer os problemas e recuperar o prestígio do passado.

Não se pode desmerecer tudo isso. Tivemos, sim, muita criatividade por parte dos carnavalescos, em enredos simples, de fácil leitura e que proporcionou uma safra de sambas que, se não chega a ser brilhante (como 2000 e 2006, só pra citar este século), está longe de ser considerada fraca.

Em Santos, as escolas do Especial e do Acesso são divididas: na sexta e no sábado, duas do Acesso e quatro do Especial em cada dia. No domingo, as cinco do Grupo 1.

A Unidos dos Morros, atual campeã, é a principal favorita para conquistar seu terceiro título na história. A agremiação do Morro da Nova Cintra homenageou os morros santistas, fazendo uma ligação com o centenário da Portuguesa Santista. Adentrou ao Sambódromo com 1500 componentes, teve seu samba (apenas bom) sendo o que melhor funcionou – com Baby no comando do carro de som – e saiu aos gritos de “bicampeã”!

Mas não foi a única.

X9 e Vila Mathias também disputarão o caneco. A “pioneira”, maior campeã de Santos, trouxe como enredo “Um grito heroico de um povo”. O carro que encerrou o desfile protestou contra a corrupção em Brasília e foi aplaudido pelo público presente. Já a aurinegra, uma das mais recentes no Carnaval santista, homenageou – e muito bem – os 300 anos de Nossa Senhora Aparecida e trouxe o melhor samba do ano – cantado por Chitão Martins e Clóvis Pê – juntamente com a União Imperial.

A verde e rosa do Marapé, em que pese o melhor samba do ano e a presença de Scheila Carvalho à frente da bateria, desta vez não mostrou grande força para brigar pelo título, mas fez um desfile bem correto. A Brasil trouxe “A deusa das águas é a senhora da vida, a negra mulher padroeira do amor, eis o encanto que nos uniu sob o manto da Brasil” e foi uma das mais compactas que desfilaram. Pequenos problemas no último carro podem trazer algum sufoco para a “Campeoníssima” na apuração. Mas nada que tire o sono da única escola de Santos que já foi campeã em São Paulo.

A Mocidade Amazonense, que contou – assim como em 2015 e 2016 – com Nino do Milênio no carro de som, homenageou a cidade de Holambra e mostrou a sua força: de ser uma das únicas que nunca foram rebaixadas. A escola, vale lembrar, é da cidade do Guarujá.

A parte de baixo, dentre as que brigarão para não cair, tem a Sangue Jovem e a Padre Paulo. A escola oriunda da torcida do Santos, campeã do Acesso em 2016, falou sobre todos os tipos de luzes. O enredo, em minha visão, foi uma miscelânea, chegando ao bizarro verso no samba (apenas mediano): “e… no estádio da Luz… Santos campeão mundial”.

A Padre Paulo, sete vezes campeã, infelizmente fez um desfile pra esquecer. Não foi feia em nenhum momento. Mas teve problemas aos montes. Uma das alegorias (das três previstas) quebrou na concentração. Quando o relógio disparou, não tinha nenhuma alegoria na área de concentração e o quadripé com o nome da escola só adentrou a pista quando o cronômetro marcava 14 minutos. Além disso, vai perder pontos por não desfilar com o número mínimo de componentes. Só a Bateria Ousadia, uma das melhores, se salvou. Com apenas oito escolas no Especial, há o risco de repetir o rebaixamento, como em 2011.

No Acesso, a briga pela vaga única no Especial promete ser ponto a ponto entre as duas rebaixadas de 2016: Real Mocidade e Mocidade Dependente. Até por ter sido a primeira a desfilar, prevejo que a Unidos da Zona Noroeste, vice campeã em 2000, deverá cair para o Grupo 1.

Nele, a disputa está, a princípio, entre Império da Vila e Mãos Entrelaçadas, embora a mais aplaudida da noite tenha sido a Imperatriz Alvinegra (com um sambaço, diga-se).

Agora é aguardar o resultado final. A apuração acontece amanhã, a partir das 11:00 (muito provavelmente o G1 Santos e a Santa Cecília TV transmitirão).

E que em 2018 os administradores da cidade tenham respeito com os desfiles, as escolas e toda a história do Carnaval de Santos!!!

Imagens: Prefeitura de Santos e G1

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7 Replies to “Martírio e Disputa – Desfiles de Santos”

  1. Bom dia!

    Prezado rodrigo Vilela:

    Sobre a data, penso que o Brasil poderia se organizar para oferecer verdadeiramente um grande carnaval. Separando bem os desfiles, todo mundo consegue participar!
    No Uruguai o carnaval ocorre durante 41 dias, sendo considerado verdadeiramente como o maior do mundo. Por aqui ostentamos nossa festa, e mal temos uma semana… Tem coisa muito errada nisso.

    Conheço presencialmente apenas dois carnavais: Rio e São Paulo, e por mim conheceria todos! O primeiro impedimento é a coincidência de datas.
    Santos, Vitória e Uruguaiana saíram na frente em vantagens. As duas primeiras anteciparam, e a última retardou (Ou prolongou?) a sua festa.
    Há muito o que se discutir e debater.
    Acima de tudo, é preciso haver interesse da população nisto.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

    1. Salve, Fellipe.

      É uma pena que a SeCult e a população não entendam os benefícios de fugir da concorrência de SP e Rio. Várias escolas, nos dois últimos anos, puderam contar com a ajuda de profissionais vindos destes dois centros. Não dá pra ignorar isso.

      Com organização, penso que a antecipação será o estopim para fazer o Carnaval daqui voltar aos tempos de glória!!

      Abraço!!

  2. Não sei se irá continuar mas, devido ao corte do repasse da prefeitura, os desfiles de Porto Alegre ocorrerão – se não me engano – em 11 de março. Concordo com a sugestão de se “espalhar’ os desfiles pelos fins de semana anteriores e posteriores ao carnaval. Acho que até o Acesso paulistano poderia se aproveitar disso.

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