(Miguel Fortunato, 27 anos, jornalista, repórter, apresentador de programas esportivos e apaixonado por carnaval. Passa a assinar coluna neste espaço a partir de hoje.)

Dentre as diferenças e semelhanças entre o carnaval carioca e o paulista, uma característica é exclusiva e traça uma personalidade que difere a festa da terra garoa não só do Rio de Janeiro, mas de todas as manifestações pelo Brasil afora.

Em São Paulo temos a presença de escolas oriundas de torcidas organizadas, que por lá já se tornaram comuns e que são sempre assunto pela torcida que levam, pela audiência que proporcionam e até por protestos e manifestações inadequadas, principalmente quando são rebaixadas ao acesso. Esses elementos já são notórios, o que o amigo leitor deve-se ater é que nesta gangorra que vivem as “torcidas do samba”, a menos badalada delas surge como potência para 2017.

Após o sucesso transcendental dos quatro títulos da Gaviões da Fiel (95, 99, 02 e 03) e da chegada da Mancha Verde em 2005 – com sua promessa de brigar por títulos que até hoje não se concretizou, agora chegou a vez da surpreendente Dragões da Real.

Para começar ela é apenas a segunda torcida em contingente do São Paulo Futebol Clube e vê sua coirmã Independente lutando para chegar ao Grupo Especial, feito que a Dragões alcançou em 2012 e chegou com força; tanto que jamais ficou abaixo da 7ª colocação e em 5 anos já desfilou três vezes na sexta das campeãs, mesma quantidade da Tucuruvi, que chegou na elite em 1987.

Fundada em 2000, a escola da Vila Anastácio se especializou em enredos com a temática da ficção e do mundo infantil. Dessa maneira trouxe para o Anhembi carnavais lúdicos e bonitos, tendo como destaque fantasias que retratam com exatidão os personagens que marcam este universo; características que renderam ao carnavalesco Jorge Silveira a oportunidade de assinar o carnaval deste ano da Viradouro com este exato tipo de enredo.

A melhor colocação foi em 2013, com um 4º lugar no desfile sobre o Dragão, mas a impressão que tenho é que em 2017 será dado um passo a frente. O enredo será sobre a consagradíssima música “Asa Branca” e irá retratar o drama do nordestino com a seca até sua partida em busca de uma nova vida; para reforçar a comissão de carnaval chegou Márcio Gonçalves, artista de Parintins tetracampeão pela Mocidade Alegre e um craque em movimentos que “dão vida” às alegorias. Já o carro de som agora é comandado por Renê Sobral, um dos melhores intérpretes de São Paulo que dará voz a um samba bem melodioso e que conta a história com perfeição.

Não, eu não estou dizendo que a Dragões da Real é favorita destacada a vencer o carnaval do ano que vem, mas penso sim que ela está no páreo de uma disputa que promete ser equilibrada em uma posição de desfile que pode ser decisiva. A escola será a quarta de sábado e entrará logo após a Império de Casa Verde e antes da Vai Vai, ou seja: se realizar um grande desfile e for superior as duas últimas campeãs no grau comparativo, as chances se tornarão reais.

Essa eventual conquista não é um desejo meu, mas sim uma reflexão, pois não vejo em Mancha e Gaviões força no pré carnaval para brigarem no topo. Muito pelo contrário, ambas passaram os últimos carnavais tendo a permanência como objetivo e algumas vezes isso não aconteceu!

A escola corintiana, antes potência hoje não tem tanto peso de bandeira, pois em 2016 investiu de forma categórica em figurino e maquiagem, os componentes cantaram o samba, a arquibancada levantou e tudo o que foi conseguido em relação a 2015 foi subir da 9ª para a 7ª colocação.

Já a agremiação alviverde retorna ao Especial neste ano após seu segundo rebaixamento consecutivo após, veja só, ter o centenário do Palmeiras como enredo e não obter nenhum apoio da equipe que é sua razão de ser.

Portanto penso como seria se uma agremiação ligada a torcidas organizadas vencesse o carnaval novamente, coisa que não acontece há 14 anos. Seria ruim pelo fato dessas torcidas ganharem muita força novamente? Ou seria bom para atingir uma gama maior do público paulista, que ainda tem muito potencial para aumentar em presença e audiência?

O que pode-se afirmar é que após muitos anos, em 2017 não se apontará a campeã antes de uma torcida desfilar e ela veste vermelho, branco e preto.

Imagem: Arquivo

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2 Replies to “A vez da Dragões da Real”

  1. Já acompanho a trajetória da Dragões desde o Grupo de Acesso. O grande ponto forte dela, na minha opinião, é esse posicionamento de não se vincular a torcida organizada e nem ao time. Diferente de outras escolas de torcidas, ela “abraça” tranquilamente quem torce para outras equipes no futebol.

    O trabalho feito pelo presidente Renato e diretoria se faz de maneira séria e focada no objetivo. Isso a tarimba como uma das favoritas de 2017. Seu samba é um dos melhores da safra e conta com um trabalho na parte visual excelente.

    Não acho que a vitória da Dragões vá ser ruim para o carnaval de São Paulo. Vitória de uma escola, desde que seja de forma correta, é sempre válido para legitimar o espetáculo.

    1. Exatamente, o público leigo não faz ideia que a dragões era uma torcida organizada, e que continue assim

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