Em quinto lugar no quadro ficou a Alemanha.

Se comparado com Londres 2012, o desempenho alemão foi bastante superior. Mesmo ganhando 42 medalhas, 2 a menos do que em Londres; 17 dessas medalhas foram de ouro, um número bastante superior às 11 de ouro de 2012.

A grande diferença foi o tiro, que havia passado sem medalha em 2012, em um resultado anormal, e que no Rio conquistou 3 ouros e 1 prata. Um resultado também um tanto anormal, já que a Alemanha até tem resultados interessantes no esporte, mas nada que chegue próximo ao ocorrido.

Aqui, creio que a tendência seja de normalizar em torno de 12 a 14 medalhas em Tóquio 2020. Percebam que os totais de medalha em Pequim, Londres e Rio pouco variaram para a Alemanha: 41, 44 e 42 respectivamente. As pancadas de 16 ouros em Pequim e 17 no Rio foram dadas “às custas” de um baixo número de pratas, as menores desde a unificação, 10 em ambas. A tendência das estatísticas a longo prazo é se estabilizarem e provavelmente subindo a quantidade de pratas em Tóquio, diminua a quantidade de ouros.

20160814_215149Um pouco mais de atenção é preciso para o 6º lugar da Rio 2016: o Japão. Como todos sabem, o Japão, que sempre foi uma potência olímpica e ficava em torno do top 10, está se preparando exaustivamente para fazer um desempenho histórico em casa. Eles não escondem de ninguém que querem o 3º lugar no quadro de medalhas em 2020.

Olhando superficialmente, os primeiros resultados parecem já ter ocorrido aqui no Rio de Janeiro. As 12 medalhas de ouro deste ano representam um aumento de quase 50% em relação a 2012, quando o Japão conquistou apenas 7. A exceção de Atenas 2004, um ponto claramente fora da curva, esse é o maior número japonês desde Munique 1972.

Esse trabalho foi bastante exaltado como o início da arrancada para 2020 e os “reclamões” de plantão já adiantam que o Brasil tinha que fazer o que o Japão está fazendo. Mas o que o Japão realmente está fazendo?

Olhando os números friamente, eles assustam mesmo: 5 ouros a mais, 50% a mais do que em 2012. Mas, será esses ouros realmente já são frutos de um trabalho visando 2020? Tenho fortes dúvidas.

20160818_183130Normalmente uma subida vertiginosa como essa em quantidade de ouro só se demonstra duradoura quando há uma elevação geral na quantidade de medalhas. De resto, ela apenas costuma ser um ponto fora da curva que tende a voltar ao normal a médio e longo prazo.

Pois é exatamente isso o que não ocorreu com o Japão. Apesar dos 5 ouros a mais, o número de medalhas no total pouco se alterou, de 38 para 41. O que houve na realidade, tal como ocorreu com a Alemanha, foi uma forte queda no número de pratas, de 14 para 8. Essas “aberrações” estatísticas tendem a se neutralizar no tempo.

Se formos verificar o desempenho por esportes, também quase nada de novo encontramos. O carro chefe, mais uma vez, foi a tradicional luta olímpica japonesa que, tal como em 2012, carregou 4 ouros. O 2º esporte de ponta foi o também tradicional judô, que levou 3 ouros, dois a mais do que Londres.

Apesar do desempenho excepcional do judô japonês na Rio 2016, como já comentei na coluna sobre a delegação brasileira, com 12 medalhas, quem acompanha judô sabe que o normal é o Japão ganhar 3 ouros no judô. Anormal foi o único ouro obtido em 2012, algo que não ocorria desde 1988. Só aí já temos 7 dos 12 ouros.

20160818_170333Outros dois foram conseguidos na ginástica. Um coma o incansável Kohei Uchimura que conquistou seu bi campeonato no individual geral. O outro na equipe masculina, na qual o Japão tem antiga tradição. Daqui ainda poderia ter saído mais um ouro se não fosse o péssimo dia de Shirai na final do solo.

Só aqui temos 9 dos 12 ouros e nenhum deles oriundo de um trabalho novo visando os Jogos de 2020. Pelo contrário, é mais fácil Uchimura perder o título do individual geral, quando já terá 31 anos, do que o Japão conquistar um 3º ouro na ginástica.

A natação também conquistou 2 ouros no Rio, contra nenhum em Londres. Mas, mais uma vez, a anormalidade foi 2012, não 2016. Em 2008 foram 2 ouros na natação japonesa e em 2004 foram 3. Tanto é que a quantidade de medalhas da natação japonesa até caiu de 2012 para 2016.

20160808_130215Em Londres foram 11 medalhas no total, mesmo sendo 8 delas de bronze, no Rio foram apenas 7 medalhas. Ou seja, mais uma vez nenhum desempenho excepcional. Apenas no badminton pode-se dizer que saiu um ouro de alguma modalidade onde o Japão não é tradicional.

Mesmo nos esportes em que o Japão medalhou mas não foi ouro, não temos nada de espetacular. Em nenhum deles o Japão conseguiu mais do que 2 medalhas e em muitos deles, como tênis de mesa e atletismo, o Japão encontrará altos obstáculos para o ouro.

Se a meta é realmente o top 3, muita coisa ainda terá que melhorar e, mesmo melhorando, terão que rezar para o judô fazer milagres de trazer uns 7 ou 8 ouros, o que o próprio Japão só realizou uma vez nos últimos 30 anos. Coincidência ou não, o Japão está caindo no exato mesmo problema do planejamento do Brasil: excesso de responsabilidade em cima do judô.

Sinceramente, o Japão não me comoveu ainda com seu trabalho visando Tóquio 2020.

Fechando o top 10, temos na sequência França, Coreia do Sul, Itália e Austrália.

20160811_184615Para a França, fica o alívio de que a sangria de ouros que se arrastou de Atlanta 1996 até Pequim 2008 realmente estancou e ela até recuperou um pouco o terreno. Depois de ver seu número de ouros cair de 15 para 7 em 2008, foram 11 ouros em 2012 e 10 ouros agora em 2016. Com isso a França parece se estabilizar no top 10 de onde ela perigava sair e ainda pode se orgulhar de ter ganho 42 medalhas no total, seu recorde desde Paris 1900, quando sediou a 2ª edição da história dos Jogos Olímpicos.

A Itália também mantem os mesmos números de 2012 com 8 ouros e 28 medalhas no total, conquistando seu 9º lugar cativo desde 2008.

Já para Coreia do Sul e Australia não ficam boas lembranças das terras cariocas. Quanto à Coreia do Sul, tudo aquilo que eu tinha elogiado na coluna de 2012 de número de ouros e diversificação dos esportes retrocedeu. Depois de 13 ouros em 2008 e 2012, a Coreia do Sul ganhou apenas 9 em 2016. Se dos 13 ouros de 2012, apenas 4 deles vieram do tiro com arco e do taekwondo, dessa vez 6 dos 9 ouros vieram desses dois esportes.

No número total de medalhas, uma queda de 25%: 28 para 21. No número total de modalidades com medalha, uma queda de 12 para 9, e só não foram 8 porque o golfe entrou em 2016. Ou seja, em todos os sentidos o esporte coreano voltou ao nível e a concentração de força em dois esportes que demonstrara em 2000 e 2004.

20160819_204019Quanto a Austrália, ela realmente nunca mais se achou depois do projeto Sydney 2000. Se em Sydney após um ótimo trabalho, especialmente na natação, ela ganhou 16 ouros fincando posição no 4º lugar do quadro e sendo considerada superpotência olímpica, de lá para cá a queda foi forte e não há sinais de recuperação.

Em Atenas 2004, apesar de 8 medalhas a menos que 2000, de 58 para 50, ainda aquela geração de 2000 conseguiu alguns bi campeonatos olímpicos e conquistou 1 ouro a mais, 17.  Depois, só tristeza.

Em Pequim 2008, 14 ouros e 46 medalhas no total. Em Londres 2012, a grande queda, 8 ouros e apenas 35 medalhas.

Tal desempenho em Londres foi “desculpado” pelas autoridades australianas como uma transição de gerações. Estava vindo uma geração brilhante, mais uma vez capitaneada pela natação, que devolveria a Austrália para o top 5, mas que haveria um lapso temporal de 1 ciclo olímpico entre elas.

Só que o resultado final da Rio 2016 foi ainda pior do que Londres 2012 para os australianos: os mesmos 8 ouros com apenas 29 medalhas, 6 a menos do que 4 anos antes.

É verdade que a nova geração da natação australiana chegou com muitas expectativas e. pela 3ª vez consecutiva, não correspondeu a elas. No mundial de natação de 2015 eles ganharam 7 ouros, 3 pratas e 8 bronzes. Esperava-se 8 ouros da natação australiana no Rio com mais de 15 medalhas ou, na pior das hipóteses, não menos de 5 ouros. O resultado final foi muito decepcionante: 3 ouros, 4 pratas e 3 bronzes.

20160811_225418Para um país que se ancora em apenas um esporte, quando ele não corresponde às expectativas, não tem para onde escapar. Até a também tradicional vela australiana teve uma falta de sorte incrível com os ventos da Baia de Guanabara. Foram 4 pratas com apenas 1 ouro, longe dos 3 ouros de Londres 2012.

O ciclismo, que junto com a natação foram as molas propulsoras de 2000 e 2004, conseguiu piorar o já decepcionante desempenho de 2012. Se em Londres teve ao menos 1 ouro e 6 medalhas no total, no Rio não teve ouro e apenas duas medalhas no total.

A situação só não ficou ainda pior para a Austrália porque o rugby entrou nos jogos e deu à Australia o ouro no feminino. Além disso, no antepenúltimo dia de competição houve uma zebra gigantesca no pentatlo moderno feminino que rendeu outro ouro para a Austrália. Se não fosse isso, seriam apenas 6 ouros para a decadente Austrália. Se tem um país que precisa rever todo o seu planejamento olímpico, esse é a Austrália.

Em tempo: John Coates, presidente do Comitê Olímpico Australiano e maior opositor dos Jogos Olímpicos no Rio desde 2008, está presidente desde 1990. A longevidade de dirigentes esportivos não é exclusividade do Brasil.

Amanhã serão abordados os países do Top 20 e a situação no continente americano abaixo dos Estados Unidos, contexto no qual o Brasil está incluído.

Imagens: Ouro de Tolo

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