O Brasil vive uma crise e isso está evidente. Um péssimo momento.

Mas nem digo que a crise vem da política e da economia, estamos acostumados a momentos assim nas duas áreas. A situação é bem pior.

O Brasil vive uma crise moral, essencial, psíquica.

Sempre fomos conhecidos por um ser um povo acolhedor, gentil, amável, que sabe conviver com o diferente. Ficou famoso aqui (apesar de ser mentira) dizer que no Brasil não há racismo e todos convivem numa boa. Aqui no Rio de Janeiro temos um local conhecido como SAARA, um local de comércio onde convivem em irmandade povos que se odeiam em sua origem há anos.

Mas alguma coisa está mudando.

Uma coisa que sempre falamos é que criança que não tem a presença moral, educacional de pai e mãe vira um adulto sem limites e que dará na cara deles um dia. Talvez o Brasil seja o jovem adulto que conviveu com a frouxidão dos pais, no caso nossas autoridades e dirigentes máximos, e hoje passa por essa situação.

Estamos vivemos um período de ódio que não existia antes, de extremismo. Como diz Paulinho da Viola, “Irmão desconhece irmão”. Gente que tem amizade briga, se ofende tudo para marcar posição. Hoje ou você está em um extremo ou em outro, ou é lado A ou lado B. Não tem meio termo.

O único modo de se estancar uma crise é a racionalidade, é pensando e quem tem ódio não raciocina, não consegue pensar.

Culpa dos nossos pais, de nossos políticos. Dilma vem fazendo um péssimo segundo mandato. Falo isso tranquilamente porque fui seu eleitor e como militante de esquerda estou muito insatisfeito com seu primeiro ano. Governo de esquerda fez Lula e a própria Dilma em seu primeiro mandato. Isso que está aí não é esquerda até porque o ideal da esquerda é cuidar de sua população, do social, oportunidade para todos e isso não vem ocorrendo.

É um governo frágil, frouxo, chantageado, diria até que burro nesse momento e o vácuo que fica de poder gera esse ódio todo. Perceber que não tem quem nos defender ou aplacar iras.

Ódio que se iniciou graças ao clima bélico proporcionado pelos dois principais candidatos nas eleições. Quem perdeu agora ofende a presidente com os piores insultos possíveis a uma mulher e ofendem quem votou na mesma esquecendo que vivemos em uma democracia e cada um tem direito a fazer o que quiser com seu voto. Quem venceu não assume o catastrófico governo e reage da mesma forma. Quem não tá comigo é petralha e bandido, quem não tá comigo é coxinha e reacionário. Para os extremistas não tem meio termo.

Mesma coisa no dia a dia. Quem é contra a política do “olho por olho dente por dente” é defensor de bandido, esquerdista emaconhado e tem que levar os delinquentes para casa. Quem defende que a sociedade tem que se revoltar e reagir a insegurança que vive é chamado de playboy, elitizado e que não tem sensibilidade com os problemas sociais.

Aqui do meio, tentando manter a sanidade tento dar um grito quase imperceptível diante de tanta loucura para dizer “Parem!! Ta tudo errado!!”.

Tem que ter calma, tem que existir o bom senso. Não é porque acredito na esquerda que eu fumo maconha, nunca nem peguei em um cigarro de maconha na vida e não é porque sou contra assassinato de bandidos que quero levar um para casa ou defendo que pratiquem tais atos. Quero simplesmente que apliquem as leis existentes.

Não é porque um moleque de 11 anos está (ou estaria) envolvido com o crime que é certo ou serve de atenuante seu assassinato. O de ninguém é certo, seja rico ou pobre, branco ou negro, bandido ou trabalhador. Ainda mais de um garoto de 11 anos que mesmo que estivesse envolvido com o errado ainda estava em uma idade de recuperação.

Assim como também entendo que moradores de uma localidade se revoltem com gente indo pra lá provocar confusão, roubar, assassinar e que as autoridades não façam nada. Não é ser mesquinho ou segregador se revoltar por não poder andar em segurança em seu próprio bairro. Acho que o pessoal da Zona Sul tem todo o direito. Não tem de matar, como eu disse ninguém pode. Mas entendo (não aprovo) que se juntem para “dar porrada” em quem praticar tal ato. Visto que as autoridades nada fazem.

Qual a opção para quem mora nesses locais já que não recebem segurança? Ficar trancados em casa, privados de seus direitos de cidadãos enquanto ocorrem barbáries em suas ruas?

Qual opção do moleque de comunidade que muitas vezes passa fome, escola está em greve ou faltam professores, não recebe carinho em casa, apanha do pai e chega um traficante oferecendo dinheiro, tênis de marca e oportunidades que o poder público não oferece?

E não venham com esse papo de “conheço muitos que tinham nada e venceram”. Não, não conhecem. Todo mundo, por mais pobre que fosse e venceu na vida em algum momento teve uma mão que se estendeu para ele. Seja um pai ou mãe, um orfanato, uma assistente social, a escola. Uma oportunidade apareceu.

Esquerda vibrar quando um universitário é preso com drogas ou um “branco de classe média” se envolve em confusão e reclamar que o tratamento é diferente é errado. Direita vibrar com problema econômico porque mostra que o governo vai mal também é errado. Mostra que ninguém pensa no país, só no seu lado na “torcida organizada”. O da esquerda ri do Alckmin ganhando prêmio hídrico, mas ficaria quieta se a Dilma ganhasse algo em economia e vice versa. Todos os casos citados mostram a falência da sociedade e como pertencemos a ela. De todos nós.

Os extremistas só pensam em seus lados e como tirar proveito de um ato fracassado do outro lado.

A coisa só vai começar a melhorar quando percebemos que somos todos culpados e vítimas da situação sem tirar proveito político. Que não serão Dilmas e Aécios que vão melhorar nosso país. A melhora passa por nós como sociedade.

Quando lado A e lado B virarem lado único.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

One Reply to “Lado A, Lado B”

  1. Bom dia!

    Prezado Aloisio Villar:

    É isso aí!
    Todos nós sabemos exatamente onde está “O” problema de nosso país.
    Basta procurar um objeto chamado “Espelho”, e ficar na frente dele…

    …e não vale tentar apagar o que o objeto mostra, nem dizer que ele está errado!

    Difícil admitir, mas precisamos ser sinceros conosco.
    Aliás, nem conosco estamos sendo honestos!
    Aí já viu…

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

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