Esse artigo, originalmente, seria para a “Semana Olímpica” que esta revista eletrônica empreendeu nas últimas duas semanas, mas os afazeres de trabalho acabaram impedindo a conclusão em tempo hábil. Vai agora mesmo…

Mas, abordando o assunto, conversando com outros colunistas que também escrevem sobre o carnaval e as escolas de samba, prestei atenção para algo a que não havia atinado: a Rio 2016 será no meio das disputas de samba para 2017.

Mantendo-se o calendário adotado para 2016, algumas escolas do Grupo de Acesso estariam em processo de realização de suas finais durante os Jogos Olímpicos. Outras no mesmo grupo em fases agudas da disputa – pelo calendário determinado pela Lierj para 2016, o limite para a escolha dos sambas é o dia 30 de agosto.

20150221_233315No Grupo Especial, que tem um prazo mais dilatado – por volta do dia 20 de outubro – entre os dias 5 e 21 de agosto somente a Vila Isabel não terá iniciado sua disputa no período dos Jogos – tendo como base, claro, o que vemos agora para 2016. Ou seja: todas as escolas estarão em pleno andamento de suas disputas, com algumas agremiações do Acesso fazendo suas finais durante o período em que a Rio 2016 será disputada.

O leitor deve estar pensando que este é um problema às agremiações: afinal de contas, este será um período onde todas as atenções estarão voltadas aos Jogos Olímpicos. Além disso, o calendário indica que teremos feriados extemporâneos durante os Jogos e uma série de restrições de trânsito durante a competição.

Ou seja: teoricamente as escolas de samba cariocas tem um problema para administrar. Especialmente as do Grupo de Acesso, que, pelas normas deste 2015/16, estariam no processo final de escolha. Suspender as atividades nestes 17 dias? Antecipar as finais para o fim de julho no Grupo de Acesso? Iniciar a disputa mais tarde no caso do Especial?

20150217_033736Esta seria a forma tradicional de se pensar. Contudo, vejo uma bela oportunidade para a divulgação das agremiações neste período.

Sabemos que as escolas não podem se utilizar do símbolo olímpico ou da Rio 2016 para estabelecer suas estratégias de marketing ou promover eventos “oficiais”, mas há uma janela de oportunidade que as agremiações podem aproveitar.

É perfeitamente possível, por exemplo, fazer uma “Noite Olímpica”, convidando algum atleta para ir à quadra e o homenageando com um kit de camisa, bandeira e uma placa. Ou negociar com alguma delegação um show exclusivo, com cobertura da imprensa.

20140913_012423Ou fazer eventos em locais centrais, colocando vans à disposição daqueles que assistem aos eventos: apresentou o ingresso para qualquer sessão de competição, tem o direito ao transporte até o local. A Rio 2016 trará um número expressivo de turistas, e  muitos destes estarão interessados em conhecer outros aspectos da cultura carioca.

Também vale lembrar que o Sambódromo será um dos locais de competição, o que abre mais uma janela para ações de marketing envolvendo nossas escolas de samba cariocas.

Outro aspecto, este um pouco mais complexo, é negociar com o Comitê Rio 2016 o uso da marca em produtos associados. Uma boa negociação de royalties pode proporcionar receitas adicionais às grandes escolas, especialmente.

006Também pode se pensar em fazer eventos semelhantes aos promovidos pela Portela durante a última Copa do Mundo: telão para a transmissão de eventos, bar aberto e roda de samba. Com os horários de eventos dos Jogos Olímpicos, pode-se perfeitamente conciliar a transmissão de eventos noturnos e, na sequência, se fazer uma eliminatória da disputa de sambas.

Principalmente as escolas localizadas em bairros mais centrais poderiam se utilizar perfeitamente deste estratagema. São três fins de semana olímpicos e esta é uma grande oportunidade não somente para se divulgar a marca como estabelecer novas fontes de recursos. Até mesmo em termos internacionais, haja visto o contingente de atletas e turistas na cidade.

Vale lembrar, também, que provavelmente haverá na Cerimônia de Abertura apresentação das escolas de samba cariocas, o que se configura em outra oportunidade de nossas agremiações de reforçarem sua marca e sua presença no quadro cultural brasileiro.

20140304_005617Oportunidades não faltam. Cabe às agremiações aproveitar este momento e não ficarem paradas no “problema da disputa”. Até os compositores gostarão de ter a disputa atrelada a um projeto maior de fixação e estabelecimento de marca.

E mesmo as agremiações do Grupo de Acesso, que possuem uma exposição menor, podem a meu ver se beneficiar de flancos abertos pela competição e adequar suas estratégias a fim de não somente não esvaziar suas disputas e finais como ainda obter uma receita maior no período.

Mãos à obra.

Imagens: GRES Portela e Arquivo Ouro de Tolo

P.S. – alguns leitores estão me perguntando quando sairá a segunda parte do artigo sobre os concorrentes de 2016. Informo que, devido aos inúmeros emails com ameaças que recebi após o primeiro artigo (foram mais de 20), não teremos a parte 2. 

One Reply to “As Escolas de Samba e a Rio 2016”

  1. Pedro boa noite, sou de Bauru, interior de SP mas moro em Curitiba há quase uma década. Desde que descobri este site em dezembro passado, entro quase que diariamente pra me informar sobre os detalhes dos carnavais pelo País e finalmente parei pra comentar sobre, pois concordo fortemente com os apontamentos feitos nesta matéria. Já havia ficado incomodado com o fato da superficialidade que vi relatada aqui sobre a feira que aconteceu recentemente e percebo que precisamos de “zumbis dos palmares” que elevem a cultura carnavalesca a patamares maiores do que os que vemos hoje. Vejo escolas grandes que aparentam não ter idéia da real força que tem e consequentemente sub-utilizam isso, talvez por medo de não conquistarem o apoio popular. Ledo e grave engano, se pensarmos que uma escola “faz escola” e dita tendências e não simplesmente segue o fluxo. Saudades de quando criança na sala de casa via os grandes carnavais da década de 90. No sábado desfilava com minha família e como sempre chovia eu me escondia sob a saia de minha mãe que era porta-bandeira. Nos outros dias eu ficava sambando no meio da sala com os sambas que eu já sabia de cor desde que os ouvia no réveillon da rádio mais famosa da cidade. Acho que uma reforma política nas cúpulas das escolas não seria de todo ruim pois o mundo gira em torno do ditado: quem não é visto, não é lembrado e percebo que hoje só se sabe o que acontece no mundo do carnaval se vc realmente gosta e corre atrás pq se depender da autopromoção das escolas somente em fevereiro ou março através da “toda-poderosa” que saberá sobre os enredos e demais detalhes. As pessoas não criam identidade com quem não conhecem quase nada sobre e isso se reflete nas novas gerações que não se importam se os sambas são bons ou não e só querem saber se a plástica lhes agrada e ignoram todo o contexto que envolve essa magia.

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