Após fantasias, é hora de olharmos Alegorias e Adereços. Esse foi um quesito com notas bastante criticadas ano passado e que resultou no corte de três julgadores para este ano.

Justamente o julgador que ficou foi o responsável por uma das maiores lambanças deste ano, cujo resultado já se refletiu na própria apuração.

Esse é mais um quesito dividido em dois subquesitos: concepção e realização, ambos com notas variando entre 4.5 e 5.

Módulo 1

Julgador: Chicô Gouvea

Notas

Viradouro – 9.7 (realização 4.7)
Mangueira – 9.7 (realização 4.7)
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.8 (realização 4.8)
Salgueiro – 9.9 (realização 4.9)
Grande Rio – 9.9 (realização 4.9)
São Clemente – 10
Portela – 9.8 (realização 4.8)
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.9 (realização 4.9)
Imperatriz – 9.9 (realização 4.9)
Unidos da Tijuca – 10

20150216_031622Gouvea é um renomado arquiteto de interiores e do alto de sua expertise gostou bastante dos trabalhos dos carnavalescos, afinal não descontou nenhum décimo de concepção.

Nesse caso, é igual a Fantasias: se não você não avalia comparativamente a concepção, você se torna um mero “fiscal de erros”. Foi exatamente o que  Gouvea fez. Uma pena, pois ele seria um dos melhores julgadores para se avaliar a concepção das alegorias por sua profissão e reconhecimento.

E aí sobra falta de iluminação aqui, iluminação errada ali, pessoa com fantasia destoante na alegoria, figura muito grande, mais de uma cor de lâmpadas na mesma alegoria (alias, não entendi qual o problema disso) e um sem fim de “más estéticas”.

Esse último ponto é um dos que mais me irrita. O julgador pega o mesmo problema genérico e o reproduz a esmo em várias justificativas sem explicar o que provocou exatamente o problema. Já é o quarto ou quinto julgador nesta série no qual há o mesmo problema. Ele usou o termo em 4 escolas: Viradouro, Mangueira, Portela e, de forma enviesada, na Imperatriz.

Como está acostumado com decoração, Chicô ainda teve boas percepções como “massa excessiva de ouro brilhante tirava o contraste e ficava uma massa única” no famoso carro do ouro do Salgueiro e a “mal executada a imitação do marfim e das formas” na segunda alegoria da Grande Rio.

Esses dois detalhes mostram como o carnaval pode ter perdido com as justificativas “preguiçosas” de Chicô.

20150216_220905Por exemplo: ele justificou que as alegorias 4 e 5 da Portela estavam com “má estética”.

Por que a má estética? O que deu essa má impressão ao julgador? Ficamos sem saber. Particularmente fico muito curioso pois especialmente a alegoria 4 foi uma das que mais agradou aos meus olhos.

Já que ele foi tão rigoroso com a estética, ele não viu nenhum problema na Beija-Flor? Nem naquele navio-negreiro totalmente vazado mostrando as ferragens ao final do carro?

Único 10 da São Clemente no quesito.

Módulo 2

Julgador: Walber Ângelo de Freitas

Notas

Viradouro – 9.7 (concepção 4.8 e realização 4.9)
Mangueira – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.9 (realização 4.9)
Salgueiro – 10
Grande Rio – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
Portela – 9.9 (realização 4.9)
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
Imperatriz – 9.9 (realização 4.9)
Unidos da Tijuca – 10 (?)

20150217_052125Inicialmente, explico a interrogação na nota da Unidos da Tijuca. Aqui foi feita a lambança já referida no inicio da coluna. O julgador esqueceu de escrever a nota da escola no mapa, o que forçou a LIESA, por regulamento, computar uma nota 10.

Porém a justificativa do julgador não fora muito elogiosa para a Tijuca, o que faz crer que a nota seria um 9,9, não um dez. Tal décimo interferiria diretamente na classificação final, fazendo a Tijuca inverter posição com a Portela. Só esse problema já é o suficiente para estragar o trabalho de um julgador de carnaval.

Quanto às outras justificativas, foram bastante detalhadas apontando os problemas de ambos os subquesitos verificados com dosimetria aceitável.

Porém, foi mais um julgador a descontar a esmo a “falta de impacto” e com ela volta-se a questão do argumento totalmente subjetivo e de algo que não deveria ser levado tanto em consideração, já que alegorias não necessariamente precisam ser impactantes, mas simplesmente belas e criativas.

Por fim, apenas um erro na justificativa da Grande Rio quando ele escreveu que “a concepção da alegoria 5 não conseguiu deixar claro a relação do estádio Ninho de Pássaro com os planetas que representam os 12 signos do Zodíaco.”

Realmente ele não entendeu a alegoria, pois os signos representam constelações, não planetas.

20150217_022644Módulo 3

Julgador: Madson Oliveira

Notas

Viradouro – 9.7 (concepção 4.8 e realização 4.9)
Mangueira – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9 )
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.9 (realização 4.9)
Salgueiro – 10
Grande Rio – 9.9 (realização 4.9)
São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
Portela – 9.9 (realização 4.9)
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)
Imperatriz – 10
Unidos da Tijuca – 9.8 (concepção 4.9 e realização 4.9)

Madson manteve o ótimo trabalho já realizado na Serie A e fez justificativas pertinentes.

20150217_034056Quanto aos descontos, não dá para reclamar muito. Mais uma vez ele explicou sua metodologia de pontuação décimo a décimo nas considerações finais, tal qual no ano passado. O único problema é que nesta metodologia, a realização acabou variando de 4.4 a 5, enquanto a concepção variou de 4.6 a 5, quando o padrão formalizado pela LIESA era uma divisão igual entre os subquesitos. Nenhum problema grave que não se resolva com uma conversa de cinco minutos.

De resto, um caderno irrepreensível. Sempre haverá alguns detalhes que não concordaremos, mas temos que relembrar que um trabalho de avaliação sempre envolve um pouco de subjetividade e temos que aceitar as avaliações pessoais devidamente embasadas dos julgadores.

Módulo 4

Julgador: João Niemeyer

Notas

Viradouro – 9.7 (concepção 4.8 e realização 4.9)
Mangueira – 9.7 (concepção 4.8 e realização 4.9)
Mocidade – 9.9 (realização 4.9)
Vila Isabel – 9.8 (realização 4.8)
Salgueiro – 10
Grande Rio – 9.9 (realização 4.9)
São Clemente – 9.9 (realização 4.9)
Portela – 9.9 (realização 4.9)
Beija-Flor – 9.8 (concepção 4.8)
União da Ilha – 10
Imperatriz – 10
Unidos da Tijuca – 10

Outro arquiteto renomado e outro caderno com justificativas  curtas e objetivas. Porém, de forma diferente a Gouvea, a maioria das justificativas, mesmo curtas, mostravam com clareza o motivo dos problemas.

Uma das justificativas ainda resvalou no puro gosto, sem qualquer detalhamento: o “achei que algumas figuras de composição não ficaram boas” escrito na São Clemente. Por que não achou boas? O que destoou na opinião do julgador? É disso que sinto falta.

Porém, releva-se pois foi uma passagem isolada e é a primeira vez que Niemeyer assume o posto de julgador.

20150217_005818Ainda senti um pouco de falta dos conhecimentos técnicos dele para fazer a avaliação. A única vez que ele os mostra de forma mais clara foi na justificativa da Beija-Flor, a qual perdeu dois décimos (os únicos no quesito, descartados) porque usou a mesma “forma” para fazer todos as alegorias. Então todas ficaram com “o mesmo movimento, a mesma proporção e tonalidades acabando assim com a surpresa e o espanto do desfile”.

A única coisa que me ressinto desta justificativa é que é tanta a preocupação com o “espanto e a surpresa” que a alegoria devem causar, que a necessária criatividade para se fazer alegorias é esquecida até na hora da avaliação.

Por fim, também é interessante notar o único 10 da União da Ilha. Talvez porque Niemeyer é um arquiteto acostumado a grandes obras e a maioria das outras justificativas da Ilha foram centradas em detalhes artísticos, não de “formas”.

Um bom trabalho do julgador, especialmente se considerado que foi seu primeiro ano na função.

Quanto ao quesito, Alegorias e Adereços como um todo, é nítida a melhora de julgamento em relação ao pastiche total que vimos em 2014. Apenas Chicô Gouvea, mesmo sem dar notas absurdas, ficou devendo nas justificativas como já opinei acima.

Imagens: Ouro de Tolo

2 Replies to “Justificando o Injustificável – Alegorias e Adereços”

  1. Excelente crítica! São coerentes e demonstram o trato de uma mídia especializada sobre aspectos do julgamento carnavalesco! Temos que considerar também as dificuldades inerentes à atividade de um carnavalesco, o qual deve pensar, em termos de conjunto, a realização do desfile e as formas como este será avaliado. Mais uma vez, grato pela publicação!

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