Dou uma pausa nos artigos sobre Orlando para retomar o assunto do carnaval carioca, que com a viagem em cima do término da festa acabou ficando meio abandonado em minhas palavras.

Em tempos onde a Rede Globo de televisão está à caça de quem coloca a íntegra dos desfiles no YouTube – ainda que não disponibilize em seu próprio site nem venda as suas gravações – não há muitas referências de vídeos nem áudios sobre os desfiles de 2015 na grande rede.

Segundo soube a emissora também não permitiu que os principais sites disponibilizassem suas filmagens da pista, e basta uma rápida pesquisa pelo YouTube para se perceber que tanto o Carnavalesco como o SRZD, dois dos maiores, não colocaram seus registros ao contrário do que haviam feito durante todo o período pré carnavalesco.

Ainda assim, um perfil chamado “Samba Paixão” disponibilizou aquele que, para muitos, é um momento mágico dos desfiles: o período compreendido entre a entrada da bateria no Setor 1 – o primeiro contato da escola com a avenida de desfiles – e a primeira, às vezes segunda passada do samba de 2015 pela Sapucaí. O perfil/site, do qual não conheço os responsáveis, teve o cuidado de se restringir ao Setor 1 nesta primeira leva – embora haja registros de baterias e casais de mestre sala e porta bandeira no meio da pista de desfiles disponibilizados.

Das 27 escolas que desfilaram pela Marquês de Sapucaí em 2015, há registros completos de 24. Unidos de Bangu e São Clemente tem registros parciais e até o momento em que escrevo não há qualquer registro da União da Ilha – não sei se o site não gravou ou se não disponibilizou ainda.

E vendo ou se ouvindo os registros – com ótima qualidade de imagem e som – alguns momentos chamam a atenção. Como o do discurso do presidente da Acadêmicos de Santa Cruz, Zezo, assumindo que cometeu falhas na preparação da escola e citando um a um seus apoiadores e patrocinadores – é engraçado o momento em que diz que os Supermercados Guanabara “são o ar que ele respira”.

A falta de recursos, aliás, é algo recorrente nos discursos de presidentes e diretores das agremiações do Grupo de Acesso antes do “grito de guerra” dos intérpretes. Marcos Vinícius, da Alegria da Zona Sul, é um dos que citam a falta de dinheiro, bem como a presidenta Kátia Paz, da Renascer de Jacarepaguá – entre outros. Escrevi isso antes do carnaval e pretendo voltar ao tema, mas os desfiles deste grupo deste ano deixaram claro que o Acesso precisa de maior apoio governamental ou de parceiros como a Liesa e a Tv Globo.

Também não faltam em muitas escolas agradecimentos a políticos, à Liesa e, curiosamente ou não, ao patrono da Beija Flor Aniz Abrahão David. Que também teve cantado o samba em sua homenagem no longo esquenta – com quatro (!) sambas – da campeã do carnaval carioca, que teve, conscientemente ou não, mais tempo para se armar e esquentar na pista que as demais.

Curioso também é o presidente de direito da Grande Rio Milton Perácio frisando, antes de agradecer ao público e aos parceiros, que “sou um sambista como todos vocês, nascido e criado em Caxias.” Um recado devido à fama de “Acadêmicos do Projac” de que a agremiação tem? Não sabemos.

Na Renascer (acima) também chama atenção a oração que o carro de som faz antes de começar o desfile. Um momento de Fé e religiosidade emocionante. A largada do Império Serrano também deixava claro que o desfile da escola seria bom – e a Presidenta Vera Lúcia opta por ler o texto onde agradece aos parceiros e conclama os componentes a um grande desfile.

Porque também tem isso: o incentivo ao canto é algo que perpassa várias das escolas antes de se iniciar o samba de 2015. A ponto do puxador Anderson Paz, da Unidos do Porto da Pedra, dizer que “tem que cantar até sangrar”.  Um óbvio exagero.

Salta aos ouvidos a quantidade de puxadores roucos: uns de forma discreta, outros praticamente sem voz. Sem ouvir novamente os áudios consigo me lembrar de Thiago Brito (Caprichosos), Davi do Pandeiro (Santa Cruz), Nino do Milênio (Inocentes), Preto Jóia (Cubango), Igor Sorriso (São Clemente), Gilsinho (Vila Isabel), Emerson Dias (Grande Rio) e Neguinho da Beija Flor (Beija Flor), mas há mais.

Levando-se em conta que o puxador é um profissional e que o desfile é o momento mais importante, parece no mínimo uma falta de cuidado com o instrumento do seu trabalho. No caso dos puxadores do Especial também há o fato de alguns deles também cantarem antes no desfile de São Paulo, e não tem garganta que resista.

Ainda teve o caso do intérprete da Alegria da Zona Sul, Alexandre D´Mendes, que simplesmente não sabia a letra completa do samba do ano passado, escolhido para o esquenta – a incumbência acabou ficando com o apoio do carro de som.

E no Império da Tijuca os puxadores Pixulé e Quinho pareciam estar em escolas diferentes durante seus gritos de guerra, totalmente descompassados. Coincidência ou não, os dois foram dispensados após o carnaval.

Este primeiro contato com a Sapucaí, muitas vezes, demonstra o que a escola fará – ou não – na avenida. Fica claro o efeito que a chuva causou nos desfiles da Viradouro e da Mangueira: as escolas já chegaram ao Setor 1 bastante abaladas com os estragos causados pela água. E realmente o resultado alcançado demonstra isso – e, a meu juízo, a Mangueira ainda deveria ter ficado atrás da Vila Isabel na colocação final.

A entrada da bateria da Imperatriz, por seu turno, já deixa claro que o quesito da escola não estava “redondo” para este carnaval – o que as notas mostrariam mais tarde, embora um tanto condescendentes.

Por outro lado, o início apoteótico de desfile da Portela foi registrado de forma integral. Ali se percebia uma escola a fim de jogo – pena que os probleminhas subsequentes acabaram arrefecendo um pouco o ânimo.

É por momentos como estes, contudo, que não abro mão de assistir ao desfile nos Setores 2 ou 3, logo no início da avenida de desfiles. É sempre um momento mágico para quem gosta das escolas de samba cariocas.

Os vídeos podem ser vistos aqui. Como não sei se resistirão à pressão da emissora dona dos direitos, sugiro transformar em MP3 e baixar os áudios, o que faço com o auxílio deste site. É bem fácil.

3 Replies to “Os Esquentas das escolas de samba e o que eles revelam”

  1. Eu tive a oportunidade de ver o da Viradouro, que abriu os desfiles do Grupo Especial. O intérprete mal teve tempo para fazer o esquenta devido ao atraso provocado pela chuva, já que o mesmo teve discurso do ator Lázaro Ramos falando da negritude.

    1. O próprio Quinho deu uma entrevista na quinta após o carnaval dizendo que estava fora da escola

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