Não, isto não será uma retrospectiva. A retrospectiva do Ouro de Tolo se inicia na sexta feira, abordando vários temas. A ideia é abordar algumas cervejas que bebi, alguns fatos que vi e livros lançados.

Ao contrário do que ocorre quando se começa a beber cervejas artesanais/especiais, já estou em uma fase onde me restrinjo aos estilos preferidos. É lógico que aqui e ali se bebem outros estilos, especialmente novidades, mas diria que 80% do que bebi foram IPAs (e derivadas) e os estilos tradicionais belgas – dubbel, tripel, Strong ale, dark Strong ale, quadruppel. Além da Heineken, cerveja “de batalha”.

20140621_192502Antes de passar a algumas cervejas que me chamaram a atenção este ano e a outras que sempre estiveram em meu copo, vale a pena chamar a atenção para alguns fatos deste ano, uns salutares, outros nem tanto.

Algo a se chamar a atenção é que, apesar da alta do dólar nos últimos meses, os preços das cervejas no mercado brasileiro vem se mantendo mais ou menos constantes. É verdade que se interrompeu a tendência de queda que se observava até o início do ano, mas é um esforço interessante por parte de importadores, distribuidores e revendedores. Acredito que o maior número de pontos de venda – com ganho de escala – tenha contribuído para isso também.

Por outro lado, se mantém o fenômeno de algumas cervejas nacionais custarem mais caras que similares importadas – um bom exemplo são as cervejas da linha “belga” da Wals. Sabemos que há problemas de escala e especialmente tributários, mas é algo que, a meu ver, poderia ser melhor administrado.

Uma boa notícia nesta área em 2014 foram algumas leis estaduais aprovadas – como aqui no Rio – diminuindo a carga tributária para as pequenas cervejarias. Aos poucos começa a se formar a noção de que as artesanais não podem ter o mesmo tratamento tributário das grandes do setor.

20141022_203516Por outro lado o “Simples” para o setor de bebidas aprovado no Congresso deixou de fora o setor de cervejas, por pressão da bancada evangélica.

Boas novidades no setor, também, foram o aumento da oferta de cervejas especiais em lata e o número de exemplares colaborativos entre cervejarias brasileiras e estrangeiras. Se destacou nesta seara a brasileira Tupiniquim, de Porto Alegre, com diversas cervejas neste estilo. Embora muito elogiadas pelos colunistas especializados, confesso que meu paladar simplesmente não conseguiu se adaptar a nenhuma delas – mas o problema sou eu, fui o único a não gostar.

Foi o ano das “seasons” no Brasil, sejam as tradicionais – que particularmente não me agradam muito – sejam as chamadas “sessions IPA”, India Pale Ale com baixo teor alcóolico para consumo em grandes quantidades. Entre estas últimas destaco a Bikini (Ewil Twin) e a All Day Ipa (Founders), ambas americanas e ambas encontradas em lata. A Wals fez uma “session IPA” bem interessante também, a Citra.

20140710_211133Se estas últimas tivessem um preço melhor, provavelmente substituiriam a Heineken como minha “cerveja base” do dia a dia. Outro ponto a se considerar é que algumas cervejas americanas, ainda que em lata, tem chegado bastante “cansadas” ao Brasil – a Brooklyn é um caso típico, mas não é o único.

Não sei se foi o melhor lançamento nacional deste ano, mas a que mais me agradou foi a Nieuw West, da cervejaria Urbana (SP). Um estilo inusitado – quadruppel IPA – com 10,5º de álcool, mas muito equilibrada.

Também destacaria duas Imperial IPAs da Invicta, a “1000 IBU” e a “Six O´Clock” (esta, em colaboração com a americana SixPoint). A carioca Mistura Clássica também lançou uma série especial para a Copa do Mundo onde duas cervejas se sobressaíram: a Vertigem (IPA) e a Volúpia (dark strong ale). Foram séries especiais, mas estão entrando na linha permanente da cervejaria de Volta Redonda – e a preços bem acessíveis.

20141220_220030Em termos internacionais, já neste final de ano me chamou atenção a Gouden Carolus Christmas Beer, dark Strong ale com notas fortes de hortelã em seu sabor, o que é curioso para o estilo. Mas achei muito boa – e o teor alcoólico de 10,5º compõe bem o conjunto, sem sobressair. Mas outras cervejas também mereceram muito sua degustação.

Vale lembrar também a série “IPA is Dead”, da BrewDog: quatro cervejas de base idêntica, apenas com lúpulos diferentes – e únicos. Um bom treino para o paladar.

A Copa do Mundo permitiu, também, retomar um hábito cultural do brasileiro: beber cerveja nos estádios. Os copos personalizados por partida fizeram sucesso, sendo disputados quase que a tapa pelos espectadores – vi sair briga em Equador e França por conta disso.

O Ouro de Tolo esteve “adormecido” neste assunto este ano, um pouco pela pouca disponibilidade do colunista especializado (que retorna em 2015), um pouco pela minha própria falta de tempo. Ainda assim, um dos pontos altos do ano foi a entrevista com Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado e Presidente da Associação Brasileira de Microcervejarias, realizada em agosto.

20140704_111009Nos próximos dias estarei resenhando aqui o novo livro de um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, Maurício Beltramelli. Ele elenca as 100 melhores cervejas brasileiras em sua opinião, de forma bem didática. Já adianto que senti falta das duas cervejas da Mistura Clássica citadas acima e não colocaria a Fraga Weiss nem a Amazon IPA, entre outras. Mas é assunto para os próximos dias.

Também saíram recentemente dois livros bastante interessantes em português sobre como fabricar cerveja em casa. Estou na metade do primeiro e ainda não iniciei o segundo.

O importante em termos de cervejas neste ano, para mim, foi o prazer de beber, sem se preocupar em caçar novos rótulos a qualquer custo – e especialmente preço. Não fiz a contabilização de quantos rótulos diferentes registrei no aplicativo Untappd; mas minha sensação foi de que bebi menos rótulos, mas em maiores quantidades.

20141129_142026Não estive em nenhum evento este ano, mas vale destacar o sucesso do Mondial de La Biére contrastando ao fracasso do evento sobre cervejas belgas realizado uma semana depois – com direito a Polícia e pancadaria. Meu entendimento é que está chegando a hora do mercado separar quem realmente está a sério dos aventureiros e brincalhões.

Também vale ressaltar a demora de alguns exemplares de chegarem ao Rio de Janeiro. Bons lançamentos nacionais e mesmo algumas importadas – como as BrewDog – tiveram distribuição bastante restrita em terras cariocas. Neste aspecto, também gostaria que as cervejas da gaúcha Season tivessem uma distribuição mais ampla por aqui – a meu juízo a Holy Cow é a melhor IPA brasileira.

Cabe um elogio neste aspecto ao misto de clube de cervejas e loja Haveanicebeer. Bons exemplares trazidos e loja com ótimos preços na maioria do ano. A se criticar, apenas, a mudança em seu magazine ocorrida em meados do ano – pessoalmente não gostei, porque tornou mais superficial a abordagem do assunto.

Algo bom neste ano foi ver cada vez mais pessoas interessadas em conhecer o universo de cerveja artesanal e seus mais variados estilos. A cerveja fora do universo “mainstream” de exemplares insípidos e de baixo custo conquista a cada dia novos adeptos. Contribui para isso, também, o aumento do número de pontos de venda.

Bom exemplo – e alvissareiro – disso é a entrada da Ambev neste mercado, quebrando uma resistência histórica da Cia, através do reposicionamento da marca Bohemia. A propósito estou bem curioso para experimentar a recém lançada IPA da marca, mas ainda não tive oportunidade.

20141205_204818Finalizando, faço uma lista de dez cervejas – na verdade, onze – que estiveram bastante em meus copos este ano. Não são as melhores ou as mais representativas em seus segmentos, mas aliando gosto pessoal com disponibilidade, dão um bom panorama do que bebi preferencialmente em termos de cervejas neste 2014. As cervejas estão em “ordem de lembrança”, sem indicar melhores ou piores:

  • 1 – Chimay Bleue (dark Strong ale, Bélgica);
  • 2 – Brooklyn IPA (IPA, EUA);
  • 3 – Anderson Valley Hop Ottin (IPA, EUA);
  • 4 – Rochefort 10 (Quadruppel, Bélgica);
  • 5 – Colorado Vixnu (IPA, Brasil);
  • 6 – Mistura Clássica Amnésia (IPA, Brasil);
  • 7 – Chimay Doreé (Patersbier, Bélgica);
  • 8 – St. Bernardus Tripel (tripel, Bélgica);
  • 9 – Seasons Green Cow/Holy Cow (IPA, Brasil);
  • 10 – Heineken (Standard American Lager, Holanda/Brasil)

E você, leitor? Quais as cervejas que bebeu em 2014? Coloque na área de comentários.

Cheers!