Neste domingo a Fórmula 1 decidirá seu campeonato de pilotos no bonito, mas artificial autódromo de Abu Dhabi. E, tão artificial como o palco da finalíssima entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, será a estúpida regra da pontuação dobrada na corrida derradeira da temporada.

Por que estúpida?

Bem, para começo de conversa, a distância da corrida de domingo será a mesma das demais provas, algo em torno de 310 quilômetros. Não é como, por exemplo, no Mundial de Endurance que as 24 Horas de Le Mans valem pontuação dobrada justamente pela duração da prova ser maior do que as outras. Sem contar que essa corrida é disputada no meio da temporada, não na decisão…

Além disso, seria justo um piloto que vem sendo dominado amplamente durante a temporada (a despeito de ter vencido a última prova) ganhar um campeonato com aproximadamente metade das vitórias de seu oponente? Pois é isso que vai acontecer se Nico Rosberg for campeão, pois ele tem cinco vitórias contra dez (isso mesmo, dez!) triunfos de Hamilton.

Sou do tempo em que corrida de automóvel não tinha artificialismos. Quem largava na pole era por ter feito o melhor tempo nas mesmas condições que os demais, quem vencia a corrida era o mais rápido naqueles 310 quilômetros e não errasse (O.K., existem as falhas mecânicas, mas fazem parte), e quem somava mais pontos no número X de corridas de mesma duração era campeão.

drsInfelizmente nos últimos anos eclodiu uma enxurrada de medidas para “manter a emoção” das corridas: grids invertidos, asa móvel, lastro nos carros… Tudo para dar ao público uma sensação de equilíbrio dentro da pista. Mas em toda a história do automobilismo, mesmo nos áureos tempos, houve o que chamamos de “Lei das Hegemonias”.

Senão vejamos: nos anos 50, a Mercedes dominou amplamente os campeonatos de 1954 e 1955 até se retirar do esporte; depois, nos anos 60 a Lotus emergiu; nos 70 a Ferrari era poderosa; nos 80, a McLaren; nos 90, a Williams; e mais recentemente, a Red Bull. Ou seja, faz parte o domínio de uma certa equipe na Fórmula 1.

É claro que no meio de cada hegemonia dessas, outras equipes beliscavam, mas mesmo quando um time dominava amplamente um campeonato, havia emoção sem que fosse necessário interferir no regulamento de forma tão crua. Lembram-se de Lauda x Prost, Mansell x Piquet ou Senna x Prost? Por que não uma briga Hamilton x Rosberg sem essa interferência?
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Pelo menos a enorme besteira foi percebida e a próxima reunião do Conselho Mundial da Federação Internacional de Automobilismo deverá abolir este descalabro já para a próxima temporada. Espero apenas que não tenham reparado no problema tarde demais…

Por essas e outras que torço absurdamente pelo bicampeonato de Lewis Hamilton.