Antes de tudo, desculpem-me por não ter escrito coluna na semana passada, mas estava atolado até o pescoço na cobertura do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 pelo Globoesporte.com. Foi uma cobertura muito saborosa de se fazer, diga-se de passagem, com colegas extremamente profissionais e agradáveis.

E o tema da coluna desta semana é justamente um dos personagens com os quais convivi no fim de semana que passou. Ele, aliás, brilhou mais do que o vencedor Nico Rosberg, o líder do campeonato Lewis Hamilton, ou até mesmo o brasileiro Felipe Massa, que voltou ao pódio. Falo de Nelson Piquet Souto Maior. Ele mesmo.

Já tinha estado com Nelson em outras ocasiões, mas em situações muito rápidas, que não permitiram emendar um papo mais aprofundado, seja por pressa do próprio, do evento, ou minha mesmo. E nos últimos anos ele esteve um tanto taciturno, principalmente após o escândalo do Cingapuragate, no qual seu filho Nelsinho fora coagido por Flavio Briatore a bater de propósito para beneficiar Fernando Alonso. Na época, ele sofreu bastante. Mas na semana que passou, tudo foi diferente. Consegui, enfim, trocar mais ideias com Nelson. Ou melhor, eu é que absorvi cada segundo das conversas. Sim, das conversas.

piquet1A primeira, ainda na quinta-feira, foi no hospitality center da Porsche, já que Pedro, filho mais novo do tricampeão, concederia entrevista a alguns jornalistas em meio a um almoço antes dos treinos da Porsche Cup Challenge – aliás, Pedro venceria categoricamente a corrida, sua primeira num carro de turismo.

Depois da sabatina com Pedro, o companheiro Felipe Motta, da Rádio Jovem Pan e da Fox Sports, emendou: “Nelson, você responderia a umas três perguntinhas pra gente?”. Piquet, um ex-jogador de tênis, emendou num voleio à la Roger Federer: “Já tô aqui, né?”, riu.

Sentimos que ele “queria jogo”. Então, Felipe fez a primeira pergunta, eu fiz a segunda, um outro colega a terceira… Enfim, foram quase trinta minutos de entrevista que renderam farto material a todos. No melhor estilo Piquet, ele criticou a artificialidade da atual Fórmula 1, pressentiu dificuldades tremendas para a categoria quando Bernie Ecclestone morrer e falou sobre a chegada de pilotos muito jovens à Fórmula 1:

– Na Fórmula 1 hoje você precisa ser rápido e não errar. Basta. Você pode ser um total imbecil de não saber como funciona um motor, mas se o cara for rápido e não errar, ele faz o serviço dele (risos).

Ainda falou sobre Felipe Massa, a quem considera um ótimo piloto mas vê limitado depois do acidente da Hungria, em 2009. Nelson, que também sofrera um grave acidente em Imola, em 1987, sabia o que estava dizendo.

– Eu dei uma p… pancada na cabeça e nunca mais fui o mesmo. Minha carreira a-ca-bou.

Aí um repórter lembrou que ele tinha sido campeão naquele mesmo ano:

– Ah, é verdade… Mas fui campeão na inteligência. Nunca fui mais tão rápido como eu era.

Terminada a entrevista, todos se levantaram e Piquet continuou batendo papo de forma descontraída e irreverente, falando diversos palavrões, reclamando dos governos das últimas décadas e, em off, sorrindo de orelha a orelha com o desempenho de Pedro Piquet, campeão antecipado da Fórmula 3 Brasil:

– Ele é rápido pra c… e não erra!

Apaixonado por corridas que sou, não aguentei e fiz uma pergunta bem específica, para elucidar algo que eu jamais vira em qualquer publicação.

piquet3Voltemos ao dia 26 de outubro de 1986, Adelaide, decisão do campeonato. Ele, Nigel Mansell e Alain Prost disputavam o título. Prost teve um pneu estourado mas como estava perto dos boxes, conseguiu voltar à prova a ponto de colar em Mansell, o terceiro, Piquet, o segundo, e Keke Rosberg, o líder. Este também teve um pneu furado e abandonou. Mansell também. Piquet então era o líder, com Prost em segundo. Este resultado dava o tricampeonato ao brasileiro, mas este foi aos boxes e, apesar de grande reação, não conseguiu passar Prost, que levou o bi.

Nelson, dava pra ter tentado ir até o fim sem trocar pneus?

– Putz, bicho, não dava… Já tava vibrando há umas quatro voltas. Se eu fico mais algumas eu ia estourar também. O narigudo é que foi cagão, tava perto dos boxes quando estourou mais cedo (risos).

Mas, Nelson, você não pensou em mandar tudo às favas (não foram bem esses termos que usei, admito…)?

– Ah, não dava… E os caras também estavam apavorados nos boxes…

Sincero, sem meias palavras, e rindo. Aproveitei, tirei uma foto com ele (essa eu não divulguei nas redes sociais, só para alguns amigos) e ainda emendamos um papo sobre o carro da Porsche e a disputa pelo campeonato, que, para ele, deve ficar com Lewis Hamilton.

piquet2Domingo voltei a encontrá-lo no paddock da Fórmula 1 e ele atendeu aos fãs, fez mais uma centena de piadas e ainda papeou sobre mais temas como a base do automobilismo no Brasil e a série de c….. da CBA. E, enquanto estava ao lado do meu amigo Marcelo Courregge, esperando a entrada ao vivo no Esporte Espetacular, o sorriso voltou quando Pedro se aproximou depois de vencer na Porsche.

Terminada essa participação, ele ainda papeou mais um pouco conosco e seguiu o rumo. Depois, conversou com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e, pouco antes da largada, o flagrei, numa cena que quase ninguém viu, dando um beijo na testa de Bernie Ecclestone: “My old friend!” (Meu velho amigo!”).

Mas o show não tinha terminado. Numa cena antológica durante a prova, ele partiu pra dar mais um beijo, agora em Niki Lauda, que, como chefe da Mercedes, estava tenso com a briga entre Hamilton e Rosberg. O frio Lauda riu de orelha a orelha e retribuiu o carinho do ex-companheiro de Brabham, em 1978 e 1979.

O gran finale estava reservado para o pódio. Ao avistar Hamilton, ele engatou a oitava marcha (sim, hoje os carros usam oitava…):

– Lewis, tenho muita inveja do seu estilo, da forma como você pilota. Mas tenho que confessar que eu tenho mais inveja de você mesmo pela tua namorada (a cantora americana Nicole Scherzinger). Aliás, onde ela está?

Como é bom ver Nelson Piquet se divertindo e divertindo a todos nós!

One Reply to “Piquet está sorrindo. E nós também!”

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