Escrevo este post na noite de domingo, após mais uma derrota – desta vez para o San Francisco 49ers. Talvez naquela que tenha sido a pior partida a que assisti desde que passei a acompanhar a sério futebol americano. Um show de horrores, em todos os sentidos.

Com isso, o New York Giants chega a três vitórias e sete derrotas na temporada, sendo cinco derrotas seguidas. Em que pese uma reta final de temporada bastante tranquila, com cinco partidas finais bem “ganháveis”, não deverá ser suficiente para uma classificação aos playoffs, ainda que consiga uma (acredite leitor, é verdade) improvável vitória sobre o Dallas Cowboys semana que vem.

Por outro lado, um final de temporada com 7-9 (que é bem possível apesar do que o time não vem jogando ultimamente) vai deixar o time no mesmo limbo da tabela em que ficou na última temporada: sem ir aos playoffs, mas sem uma escolha alta de draft.

tempAP458538473786_2--nfl_mezz_1280_1024Na verdade, uma improvável e imerecida classificação aos playoffs mascararia os erros de planejamento cometidos esta temporada, adiando a reconstrução que precisa ser feita.

No momento atual, nada funciona. A defesa é “porosa”, o ataque se ressente de contusões e da adaptação a um novo sistema de ataque e, na prática, os resultados não vem. Não coloco em questão a situação do quarterback Eli Manning: antes deste trágico jogo de ontem – onde lançou cinco interceptações, duas delas que, se evitadas, teriam dado a vitória ao time ainda que em um péssimo desempenho – o jogador vinha tendo um desempenho médio bastante sólido durante  a temporada, embora nada decididamente brilhante.

Manning vem sofrendo com a ineficácia de sua linha ofensiva (OL), que não dá tempo a ele de tomar as decisões para empreender as melhores jogadas. Também convive com a falta de talento em um ataque dizimado por contusões, entre elas a de seu principal wide receiver, Victor Cruz. Este sofreu uma ruptura de tendão patelar semanas atrás e só volta temporada que vem – e ainda assim não se sabe em que condições estará quando de seu retorno.

A defesa é uma tragédia, especialmente porque Jason Pierre Paul, que deveria ser o líder, apresenta péssima fase. Prince Amukamara, que vinha fazendo uma boa temporada, rompeu o bíceps e também só volta em 2015, além de Jon Beason. Semana passada, contra o Seahawks, a defesa permitiu a pior marca da história em jardas cedidas por via terrestre.

Não sou um profundo conhecedor da técnica e tática de jogo, mas parece claro que a reestruturação pela metade ocorrida antes desta temporada não surtiu efeito. A troca na comissão técnica deveria também ter passado pelo técnico Tom Coughlin e pelo coordenador defensivo Perry Farwell.

Coughlin é o treinador mais velho em atividade na NFL (69 anos), e após a conquista do SuperBowl de 2011/12 claramente parece estar com dificuldades de motivar novamente o elenco. Além disso, sua forma conservadora de dirigir a equipe tem levado a decisões equivocadas – a chamada a duas jardas do “goal” que acabaria resultando na quinta interceptação ontem é um bom exemplo disso.

tempAP858489550433_0--nfl_mezz_1280_1024A coordenação defensiva, por seu turno, parece estar tendo dificuldades em lidar com a nova tendência da NFL, de quarterbacks com viés de running backs – ou seja, quarterbacks que também correm com a bola. Pessoalmente não morro de amores por isso, mas é uma tendência e Perry Farwell deveria estar preparando a defesa para lidar com este tipo de situação.

Por outro lado, o novo esquema ofensivo implantado pelo coordenador Ben McAdo ainda não está totalmente implantado, e se ressente de algumas “chamadas” de jogadas bastante equivocadas. Com isso o desempenho do ataque acaba ficando bastante débil.

A imprensa nova iorquina – que consegue ser mais “corneteira” que a brasileira, mas isto é outra história – já especula que Coughlin irá se aposentar ao final da temporada, provavelmente sendo substituído por McAdo. Considero que a substituição é necessária, mas não sei se alguém que já faz parte da atual comissão técnica poderá empreender a reestruturação que se faz necessária. Seria interessante que o coordenador defensivo fosse junto.

O problema maior, entretanto, é o elenco. Falta talento e, embora o draft deste ano tenha trazido alguns jogadores promissores – como o wide receiver Odell Beckham Jr e o running back Andre Williams – uma reestruturação mais profunda, especialmente no setor defensivo, se faz necessária. Talvez somente o draft não seja suficiente, ainda mais quando se sabe que a tradição dos Giants é de muito pouco paciência com derrotas – neste ponto, não é diferente de grandes clubes do futebol brasileiro como o Flamengo, por exemplo.

giants-49ersA pergunta que se impõe é uma só: Eli Manning se insere nesta necessária reestruturação?

Ele está com 33 anos e tem pelo menos mais uns quatro ou cinco anos de excelente produtividade. Mesmo que não faça mais nada em sua carreira certamente terá sua camisa aposentada pelo clube – como maior e mais vitorioso quarterback da história do clube – e será integrante do Hall of Fame, mas em uma equipe estruturada tem condições de liderar os Giants a um novo ciclo vitorioso. Vale lembrar que, na última década, é o único quarterback com dois títulos do SuperBowl.

Por outro lado, seu contrato termina nesta temporada e não se sabe se a direção do clube – cujo General Manager, gerente geral, Jerry Reese também está com o emprego a perigo – pensa em Manning para liderar este processo de reestruturação ou se irá apostar em um novo quarterback “franchise” via draft. Pessoalmente não acredito que Ryan Nassib, seu jovem reserva, possa liderar este processo.

Não se sabe exatamente o que irá ocorrer ao final da temporada, mas o que se sabe é que tanto a diretoria como os torcedores e a imprensa não toleram derrotas por muito tempo.

Afinal de contas, não são os “Gigantes” por acaso.

Finalizando, dois comentários extra Giants:

1) se fosse torcedor do San Francisco 49ers, ficaria preocupado. Mesmo com a péssima partida dos Giants ontem, ainda assim quase perderam o jogo. Aliás, Colin Kaepernick, a meu ver, é mais running back que quarterback, mas esta é outra história.

2) vejo um salutar crescimento dos sites dedicados a NFL no Brasil. Mas alguns donos destes precisam entender que, se querem fazer uma cobertura “jornalística” da NFL, não podem usar o perfil institucional em redes sociais para debochar de times e jogadores. Infelizmente ainda vemos muito disso.

Imagens: Giants.com e NY Daily