Chega de falar de política, né? Pelo menos por enquanto já que temos assuntos mais palpitantes para tratar.

No último mês de outubro foram escolhidos os sambas do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o Carnaval de 2015. A Viradouro já tinha decidido por uma junção de duas músicas de meio de ano. As outras onze agremiações fizeram sua escolhas com quadras lotadas, dando início verdadeiramente ao carnaval.

Nos meses de setembro e outubro também foram escolhidos os sambas da série A, espécie de segunda divisão do samba. Não ouvi quase nada desse grupo, mas dizem que a safra é melhor que do especial.

Não é novidade, porque pelo menos desde 2001, ano que venci pela primeira vez no A, normalmente é assim. Acredito que pelo menor gasto dos grupos inferiores para competir num concurso de samba e a menor padronização dos mesmos.

Mas a chegada das firmas, com força, tanto no A quanto nos grupos da Intendente Magalhães já ameaça essa situação com as mesmas inflacionando o preço dos concursos e padronizando os sambas.

Enfim, vamos aos sambas:

Não sou adepto da catástrofe como muitos (inclusive o comandante em chefe bolivariano desse blog), não vi todas as colunas, mas vi e soube de muitos “taca le pau” em relação à safra de 2015 e não farei isso.

Não é uma safra maravilhosa, desde os anos 80 não temos e continuaremos não tendo. Não tem um super samba enredo como Imperatriz e Vila-2010, Portela-2012, Vila-2013 nem um excelente como Salgueiro-2014, apesar de Pedro Migão – que persegue a escola do Andaraí desde que Pamplona era seu carnavalesco – não concordar com essa minha visão sobre o citado samba [1].

Mas pelo menos ao meu gosto não tem “pula-faixa”. Não tem nada horroroso que dê vergonha de tocar na frente de parentes e amigos. Nada que mereça mangue ou que seja pior do que vem fazendo sucesso nas rádios atualmente.

Continuo dizendo. Samba-enredo é o melhor gênero musical feito hoje em dia no Brasil mesmo não brilhando pra 2015.

Dividi os sambas em dois grupos. Um grupo de cinco sambas que considero muito bons e outro de seis que chamo de animados.

Um sobrou e eu acho uma incógnita.

Não tenho a mínima ideia de como se sairá o samba da Viradouro. É uma bela música de fato, mas é isso que eu falo, música.

Tem cara de samba-enredo? Atual, não muito, mas tem cara de samba-enredo antigo, dá pra imaginar essa música num desfile antigo. Mas o carnaval mudou muito, não sei se funciona hoje.

Mas quem mais deve arriscar mesmo esse ano é a Viradouro. Como toda escola que sobe, ela é a bola da vez pra cair, então tem mesmo de fazer algo diferente pra evitar isso.

No grupo dos animados temos Tijuca, Salgueiro, Ilha, Grande Rio, Mocidade e São Clemente.

São Clemente vem com um samba leve pra falar de Pamplona. Não foge de suas características recentes e deve funcionar na avenida. Mas sinto falta de uma São Clemente mais irreverente e, por ser uma figura carnavalesca e tão importante como o Pamplona, talvez coubesse. A São Clemente acaba entrando numa padronização que uma hora pode cobrar a conta. Na hora que a ousadia de quem subir der certo.

Mocidade vem no estilo Paulo Barros de ser. Como já falei numa coluna, ele é do estilo Joãosinho Trinta, no qual o carnavalesco brilha, não o samba, que só serve como suporte para seus delírios. Graças a isso, a ala de compositores da Tijuca foi bem prejudicada e já vemos esse efeito na Mocidade, que vinha de um grande samba em 2014.

O samba não é ruim, tem um refrão do meio bacana, mas é mais um que esqueceremos depois da folia.

A Grande Rio também vem com samba animado, com um refrão principal diferente e que até me lembrou um pouco melodia de festa junina (não há demérito nisso). Gosto dessas inovações, do diferente, e essa melodia me chamou a atenção. Mas é mais um samba como a escola se acostumou nesse século. A impressão que me dá é que a agremiação de Caxias desfila com o mesmo samba desde 2000.

O enredo também não ajudou os compositores.

A União da Ilha vem com um samba que dizem ser a cara da Ilha (esquecem que “Domingo”, “Lendas e festas das Yabás” e “Nos Confins de Vila Monte” fazem parte da história da Ilha). Não é um samba ruim dada a dificuldade do enredo, mas tem um trecho polêmico.

O “fiu fiu” provocou grande polêmica no concurso além do samba ter como um dos compositores Djalma Falcão, vice presidente da agremiação. O fiu fiu foi mantido e não sei como os jurados reagirão. Para os jurados não tem essa de Djalma Falcão, o que pode ser bom ou ruim. Não existe a proteção nem a pressão contrária que o nome Djalma carregou no concurso.

A campeã e a vice do carnaval também vêm com sambas animados. Da Tijuca já se esperava isso dado o efeito Paulo Barros já citado e que demora a deixar de ser sentido. Até gosto do refrão principal, mesmo não entendendo a menção ao prêmio Nobel num enredo sobre a Suíça.

Salgueiro não esperava. Veio com um excepcional samba feito em cima de um enredo difícil em 2014. Para 2015 teve um enredo mais simples, com mais possibilidade de sair um belo samba e optou pelo funcional. Também não é ruim, mas passa pelo problema que passou a Vila ano passado. A comparação com o anterior.

Parece que voltou a busca ao Ita perdido e senti a falta do Quinho. Pode não ser um grande cantor, mas para um amante de sambas com menos de 40 anos causa estranheza sua falta.

Vamos ao outro grupo:

Gosto da Vila, que se recuperou em samba-enredo em relação a 2014, espero que se recupere na avenida também. A Vila nesse século intercalou grandes sambas com outros “passáveis”. Esse pode não ser um grande samba, mas também não é descartável e pode fazer a diferença em seu desfile. A melodia é bem envolvente.

Imperatriz e Beija-Flor vêm afro. A Beija-Flor juntou características de sua história. Os sambas afros, pesados, melódicos, difíceis e lindos, como só a comunidade nilopolitana sabe conduzir com a homenagem a quem não deve, como fazia em seus primórdios. Vem brigar por título.

Imperatriz inova, já que afro não é de seu feitio. Mas assim como no ano passado vem com um samba de parte de cima da tabela. Outra figura carismática é homenageada, dessa vez Nelson Mandela e o refrão principal é muito bom.

E agora pra mim os dois melhores do Especial.

O samba da Mangueira é delicioso e me apaixonei por ele desde que ouvi pela primeira vez. Não é porque foi feito por meu amigo Cadu, até porque ele já compôs sambas que não achava dessa beleza toda. Mas o samba da Mangueira é envolvente, gostoso, remete ao sambas da escola dos anos 80. Sou vidrado no refrão do meio.

E pra mim vem de Madureira, mais uma vez, o samba do ano.

É o samba que quase todos queriam. Um samba gostoso, malandro. Melodia forte, letra adequada a essa melodia. Mais um grande samba portelense como têm sido quase todos dessa década. A Portela com sua auto estima recuperada canta que é carioca, é de Madureira e poucas vezes lhe vi tão forte para a busca do 22° título como agora.

Adorei esse samba logo na primeira vez que ouvi e quando ouvi os sambas na quadra não tive dúvidas que venceria.

O fato curioso é que o lendário Noca da Portela e seus parceiros tiveram que vir na linhagem criada por Luiz Carlos Máximo e seu grupo nos últimos três anos para ganhar o concurso. Isso deve dar orgulho pra parceria tricampeã mesmo sendo derrotada.

Enfim, essa é minha análise, mas como hoje em dia samba é apenas um detalhe a Sapucaí é quem nos dará as respostas.

Começou o Carnaval.

[N.do.E.: ao contrário do que diz o colunista, eu gosto muito deste samba de 2014 do Salgueiro. PM]

10 Replies to “Análise: os sambas de 2015”

  1. VIRADOURO – Acho que você acaba padronizando opiniões quando fala que esse samba não cabe no carnaval moderno. A obra ficou linda e ouvindo com bateria na versão oficial do CD tenho certeza que será o sucesso do carnaval. O melhor de todos os sambas 2015. Bem leve, animado e cada vez que toca dá vontade de cantar e dançar. É uma excelente opção para evitarem a simples reedição de sambas antigos (pra quem não gosta). Assim como o formato diferente dos últimos sambas da Portela, esse modelo escolhido pela Viradouro poderia também ser usado pela Mocidade para o desfile do ano que vem já que o enredo foi baseado numa música também. O carnaval, assim como a natureza, é pulsante e encontra novos sempre novos caminhos para se renovar e fazer história. Mas só o tempo abrirá os nossos olhos.

  2. Nota 11:
    1. Viradouro – Samba maravilhoso. Acima da média.
    Nota 10:
    2. Imperatriz – Melhor samba da escola dos últimos anos. Samba forte e guerreiro.
    3. Beija-Flor – Samba guerreiro, mas não gostei da modificação da 2ª parte.
    4. Portela – Samba no melhor estilo Portela. Simplesmente Divino.
    5. Vila Isabel – Lindo samba. Estilo clássico. Bom pra se ouvir.
    6. Mangueira – Excelente samba. Lembra alguns antigos da escola.
    Nota 9,8:
    7. Mocidade – As modificações melhoraram a letra. Animado.
    Nota 9,7:
    8. São Clemente – Samba comum, mas gostoso de ouvir e de sambar.
    9. Grande Rio – Samba comum. Gostei da letra do refrão principal. Leve e animado.
    Nota 9,6:
    10. União da Ilha – Tem algumas passagens interessantes na letra e só.
    11. Salgueiro – Samba mediano. O enredo pedia algo bem melhor.
    Nota 9,5:
    12. Tijuca – Letra e Melodia não fluem com naturalidade. Está complicado.

    1. Carlos, ha muito não me emociono com um samba da minha amada Mocidade, mas acho até que vc foi generoso em dar 9,7 eu daria um 8, pois na minha opinião é um samba fraco e que tem apenas o segundo refrão bom.
      Talvez isso seja o reflexo Paulo Barros, onde o carnavalesco é quem brilha e o samba é apenas um suporte….
      Vamos ver o que isso vai dar na avenida, temos um genial carnavalesco, um samba mediano, uma escola em crise e uma torcida enorme e apaixonada, veremos no que isso vai resultar na avenida.

  3. Bom, discordo do Carlos quando diz que “só o tempo abrirá os nossos olhos”. Não é bem assim. A escola não pode fazer qualquer coisa e achar que o amante de samba tem a obrigação de engolir qualquer samba mequetrefe.

    O samba da Viradouro é diferente. Só isso. Concordo com o Aloisio. Ninguém sabe o que vai ser porque são duas lindas MÚSICAS, não SAMBAS. E a escola, que era elogiada até pelo próprio Aloisio por “chegar dando dor de cabeça”, se complicou por inteiro quando mandou o Mestre Pablo embora – contra a vontade de todos os ritmistas.

    Vai dar asneira na avenida. Deve cair de novo.

    No mais, Portela, Beija-Flor, Imperatriz e Mangueira já partem na frente com sambas que, se não são brilhantes, sobreviverão após a quarta-feira de cinzas. Quanto a minha escola de coração, a Mocidade, torço apenas para chegar ao Desfile das Campeãs e sair da parte de baixo.

    Já passou da hora.

  4. Concordo que Mangueira e Portela são de fato os melhores sambas do ano. Mas o da Manga tem uma vantagem: a letra. Convenhamos, o samba da Portela apesar de excelente refrão e melodia, tem uma letra bem pobrinha

  5. Não acho que só de ouvir o samba da BF ela vem brigar pelo título. Há muito que o samba sambou. O velho e lindo blá blá blá de sempre com uma métrica rigorosamente pensada em menor.O azul saiu da escola. Séria demais. De resto, concordo em parte.

  6. bom na minha opinião os melhores sambas são da Beija-flor e da portela,pois os mesmos contém uma ótima melodia e tenho certeza que funcionarar muito bem na sapucai, Meu top # 5(five) é: empatadas em 1*lugar: Beija-flor e portela ,excelentes sambas muito bem elaborados e de bom entendimento .
    2*lugar: mangueira samba que pode fazer diferença para escola em seu desfile
    3*A.do salgueiro, samba bom que poderia ser muito melhor, depois de ter tido o melhor samba em 2014,mas que pode render Emoção em seu desfile.
    4*lugar Imperatriz tem um samba bom que pode lhe levar ao sábado das campeãns,apesar de ser um pouco cansativo…
    em fim
    5*lugar U.de vila isabel samba bom que pode lhe Ajudar a dar uma olhada para parte de cima da tabela depois de quase ser rebaixada em 2014 .. .

    bom essa foi minha análise sobre os cincos melhores sambas do grupo especial em 2015…bjs

  7. O samba da portela é simplismente contagiante, especialmente para o Carioca que ama o Rio. É um samba alegre e talvez só o Carioca entenda:”Dali”, “Princesinha do mar”, “central” do meu Brasil, etc…Fantástico!Esse ano sou Portela!

  8. Os sambas (falo só dos sambas) que se destacam na minha opinião(não estão em ordem de preferência):
    PORTELA, BEIJA-FLOR, VILA ISABEL, VIRADOURO, MANGUEIRA

    Coloco em um nível um pouco abaixo mas considero bons sambas:
    UNIÃO DA ILHA, IMPERATRIZ, SÃO CLEMENTE, MOCIDADE, SALGUEIRO

    Não gostei muito dos sambas da GRANDE RIO E UNIDOS DA TIJUCA

    Se tivesse que apostar hoje, em alguma escola pra ganhar, apostaria na Beija-Flor.

  9. 1 – MANGUEIRA : O MELHOR Samba muito bom, alegre, com letra e eles conseguiram juntar uma boa melodia com uma forte letra o que não é comum o normal é ter um ou outro. O “Tem que respeitar” arrepia qualquer um.
    2 – BEIJA FLOR : O refrão do meio emociona qualquer um “… Era meu irmão filho da Guiné” transmite uma sensação de perca muito forte. Amei o Samba a melodia incrivel e muito emocionante.
    3 – VIRADOURO : Muito bom, arriscou muito bem um samba diferente com uma ótima melodia, além de contagiante.

    ESSES SÃO OS MELHORES.

    IMPERATRIZ e VILA ISABEL só me agradou o primeiro refrão.
    UNIÃO DA ILHA, MOCIDADE e SALGUEIRO são sambas leves que ficam na memória mas nao contam o enredo de modo que o ouvinte entenda.
    A PORTELA ainda estou em duvida, otima letra e melodia mas alguns momentos confunde, acho que o 4 melhor samba.

    GRANDE RIO, UNIDOS DA TIJUCA e SÃO CLEMENTE são os PIORES, a São Clemente ainda tira um proveito mas as outras duas é HORRIVEL.
    A Unidos da Tijuca confunde tudo, fala da Suiça mas só percebe isso na ultima parte do samba e a Grande Rio canta, canta, canta e não chega em lugar nenhum !!

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