Na última segunda feira, com a escolha do Império Serrano, se encerrou o processo de escolha dos sambas do Grupo de Acesso para 2015. O prazo determinado para fins de gravação do CD pela Lierj (entidade que dirige este desfile) era ontem, dia 30 de setembro. Ao contrário de 2014, não teremos reedições, e duas escolas optaram por encomendar seus sambas.

Em uma primeira análise, temos a melhor safra deste grupo em muitos anos, com várias composições acima da média. Logicamente, até o desfile – e especialmente depois da gravação definitiva em CD – as percepções mudam um pouco, mas a qualidade desta safra está garantida.

Um a um, vamos a pequenos comentários sobre cada samba (o colunista Fred Sabino fará análise mais detalhada ainda esta semana), lembrando que a maioria está sujeita ainda a modificações em letra e melodia antes da gravação final. As exceções são as escolas que encomendaram (Inocentes e Renascer), a Caprichosos que já fez as alterações sugeridas pela direção e a Estácio, cujo presidente já anunciou que não haverá mexida. Ao final do post, o leitor poderá ouvir todos os sambas, sendo os três primeiros citados anteriormente em versões das escolas e os demais em suas versões concorrentes – agradecimentos ao site Carnavalesco.

A propósito, dos quatro concorrentes que indiquei em post anterior, três se sagraram vencedores.

Vamos lá, na ordem de desfile:

imperio12Sexta Feira:

1) Unidos de Bangu: de volta à Sapucaí após 30 anos e apenas duas temporadas após a reativação – em ótimo trabalho de gestão – o difícil enredo sobre os impérios ganhou um belo samba, de uma parceria atuante na Beija Flor – e que, aliás, foi cortada prematuramente lá. Apesar da fama do presidente (e meu amigo há anos) Rafael Marçal de gostar de sambas “trashs”, a vermelha e branca estará muito bem representada. O samba sofreu três pequenas alterações em sua letra após a final, conforme informado pelo presidente a este escriba.

2) Em Cima da Hora: recebeu apenas seis sambas para seu enredo sobre a influência árabe no Rio de Janeiro e o Saara, mas terá uma composição que, embora esteja na metade inferior da tabela, não compromete.

3) Império Serrano: acertei a vitória lá atrás, mas esse era pule de dez. O samba é muito bom, a safra não foi lá essas coisas e tinha Arlindo Cruz assinando. A composição é inferior à de 2006 dos mesmos autores e tema semelhante, mas é um dos melhores – embora não me desperte a euforia na qual estão os torcedores da Serrinha. Por outro lado, não sei se o carro de som da escola estará à altura.

4) Paraíso do Tuiuti: o enredo baseado em Hans Staden também ganhou uma composição que é de razoável para boa, mas que em um ano inspirado como 2015, também fica para trás. Mas deve proporcionar um bom desfile à escola, desde que não acelere demais o andamento.

5) Curicica: um enredo simples (homenageando Arlindo Cruz, Martinho da Vila e Monarco), com uma ótima sinopse do carnavalesco Paulo Menezes, mas que recebeu apenas seis sambas, todos bem aquém dos homenageados. O vencedor leva assinatura de Arlindo Neto, filho de um dos homenageados e um dos puxadores do Império Serrano, mas eu sinceramente teria mandado refazer os sambas – ou mesmo parado a disputa e optado por uma encomenda. É um dos que destoam no grupo.

6) Porto da Pedra: optou por um samba de pegada mais forte para o enredo sobre a luz e suas manifestações. Não chega a ser ruim, mas chama a atenção o excesso de clichês. Quase um genérico. Lembra samba típico de escritório, embora não sei se corresponde à realidade.

7) Caprichosos de Pilares: talvez tenha sido a disputa mais complicada do grupo. Entre a semifinal e a final a escola pediu para que os sambas fossem alterados e um deles, após a solicitação de mudança em 13 (!) versos, optou por retirar-se da disputa. O samba para o enredo sobre comércio e negociação em geral tenta ser mais leve (talvez pensando no horário de desfile), mas não é bom. Sem contar na crítica (a meu ver para consumo externo) aos escritórios de samba, mas esta é outra história.

estacio43Sábado:

1) Alegria da Zona Sul: com o perdão do mau trocadilho, uma tristeza. O vídeo que abre este post, que mostra o anúncio do vencedor, diz tudo. O presidente (que não sabia o nome do intérprete oficial) antes mesmo de anunciar já se desculpa com a escola e seus segmentos, que permanecem estáticos após a revelação do vencedor. Além disso, o estilo da composição não casa com o estilo do intérprete Alexandre D´Mendes – tenta ser engraçadinho para descrever o carioca, mas é apenas trash. O pior do ano.

2) Santa Cruz: o samba sobre Grande Otelo, de uma parceria que vence pela primeira vez, não é nada demais, mas comparado aos recentes da agremiação é uma ótima novidade. Uma boa surpresa vinda da Zona Oeste.

3) Inocentes de Belford Roxo: agora o negócio começa a ficar sério. Encomendado a uma parceria comandada pelo talentosíssimo Cláudio Russo, Nelson Sargento ganha uma bela homenagem. A ressalvar, apenas, que um andamento menos acelerado que a gravação irá valorizar a melodia, que ficou meio “chapada” devido à aceleração. Nada difícil de se acertar.

4) Unidos de Padre Miguel: Ariano Suassuna ganhou um samba sinuoso e bem melhor que o do ano passado, em minha opinião, de mais uma parceria tradicional na Beija Flor. Consegue manter o nível em um sábado MUITO inspirado de desfiles.

5) Império da Tijuca: e o nível aqui sobe de novo. Curioso é que em minha opinião este samba não era nem um dos cinco melhores do concurso – meu favorito, apontado neste blog, caiu quando ainda restavam dez sambas. Tendo a assinatura de Márcio André entre seus autores, lembra um pouco as composições da escola de origem do compositor, a União da Ilha, somado à pegada mais acelerada que a escola imprime a seus sambas. Mas é difícil errar em composições de temática africana e ligadas aos orixás, como o caso.

6) Renascer: brilhante. Emocionante. Arrebatador. Parabéns, Cláudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina! Um dos dois melhores do ano – e isso não é pouca coisa. Candeia, o homenageado, assinaria. Com tempo para a confecção dada a encomenda, está aí o resultado. Já estou ansioso para soltar a voz na avenida, desfilando uma vez mais na ala de Compositores.

7) Cubango: o interessante enredo sobre povos africanos e o quilombo outrora existente onde hoje fica a escola ganhou um samba quase ao mesmo nível do brilhante apresentado ano passado, dos mesmos autores. E isso não é pouca coisa. Outro que acertei no post anterior. O senão é ver como este samba ficará na voz do intérprete Preto Jóia, que se encontra longe dos seus melhores dias.

8) Estácio de Sá: e deu Dominguinhos! Em uma boa safra, não tinha como dar outro, e a Estácio terá seu melhor samba inédito desde o final da década de 80. Está à altura das melhores tradições do berço do samba. Simples, mas tocante. Deixa os olhos marejados – mesmo dos não torcedores como eu. E tem cara de samba campeão.

unidos_final38Finalizando, uma ordem inicial, que certamente ainda irá mudar especialmente depois das gravações oficiais.

Brilhantes: Renascer e Estácio;
Excelentes: Unidos de Bangu, Império Serrano, Império da Tijuca e Cubango;
Ótimos: Inocentes de Belford Roxo e Padre Miguel;
Bons: Em Cima da Hora e Tuiuti;
Razoáveis, mas decentes: Santa Cruz e Porto da Pedra;
Fracos: Caprichosos e Curicica;
Trash: Alegria;

Note o leitor que, em uma safra de 15, nada menos que 10 são bons ou melhores em minha opinião. E mesmo Santa Cruz e Porto da Pedra se destacariam em safras menos inspiradas. Certeza de um grande desfile para este grupo. E certamente ainda voltarei a estas composições no período pré carnavalesco.

Imagens e Áudios: Carnavalesco

3 Replies to “Um primeiro panorama da (ótima) safra do Grupo de Acesso”

  1. Não gostei tanto do samba da Estácio, mas achei o da Renascer espetacular.
    Minha classificação ficou a seguinte:
    Excelentes: 1. Renascer de Jacarepaguá – 2. Império da Tijuca – 3. Unidos de Padre Miguel – 4. Acadêmicos do Cubango.
    Bons: 5. Estácio de Sá – 6. Império Serrano – 7. Unidos de Bangu
    Regular: 8. Porto da Pedra – 9. Paraíso do Tuiuti – 10. União do Parque Curicica
    Ruins: 11. Caprichosos de Pilares
    Horrorosos: 12. Inocentes de Belford Roxo – 13. Acadêmicos de Santa Cruz – 14. Em Cima da Hora – 15. Alegria da Zona Sul

    Reuni as letras em uma postagem só.
    http://amahet.blogspot.com.br/2014/10/sambas-enredo-do-carnaval-2015-grupo-de.html

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