E chegamos enfim à última semana antes do primeiro turno das Eleições de 2014. Foram cerca de dois meses de intensa disputa entre candidatos por todo o Brasil, onde muitos prognósticos foram contrariados e muita coisa mudou. Agora, o pleito onde serão definidos novos deputados, senadores, Governadores e o Presidente da República, se encaminha para sua definição e, claro, os resultados estão praticamente definidos. No entanto, tem muita gente que precisa aproveitar bem esses seis dias que restam para atingir seus objetivos em 5 de outubro.

Não é novidade para ninguém que existem Eleições que são decididas na semana decisiva. Em 2006, por exemplo, Lula perdeu a chance de liquidar a fatura no primeiro turno a poucos dias da votação, tal como Dilma Rousseff em 2010. Dois anos depois, foi a vez da candidatura de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo refugar no final e sequer alcançar um segundo turno. Voltando um pouco mais no tempo, temos Mário Covas que, em 1994, estava com cerca de 60% dos votos válidos a pouco mais de uma semana de votação, mas acabou desabando e tendo que disputar um segundo turno com Francisco Rossi.

É por isso que, agora, os candidatos se dividem entre os que querem uma reviravolta e os que lutam para que tudo se mantenha. Começando, claro, pela votação mais importante, a que escolherá o nosso Presidente pelos próximos quatro anos. A Presidente Dilma Rousseff, apesar de liderar com folga no primeiro turno, vai correr atrás de muitos votos. Quando a campanha começou, a realização de um segundo turno era bastante incerta dados os quadros apontados pelas pesquisas. Com a morte de Eduardo Campos, parecia impossível que Dilma vencesse já em 5 de outubro e, por um momento, havia até a possibilidade dela ser derrotada tanto por Aécio, quanto por Marina e acabar em terceiro lugar.

Ocorre que a pesquisa do Datafolha divulgada na última sexta-feira colocou a Presidente com 45% das intenções de votos válidos, estando assim a 5% de vencer já no próximo domingo (de 3% a 7% pela margem de erro). Segundo os cálculos que fazia até essa pesquisa, que já trouxe o resultado em válidos, a candidata do PT cresceu 4% em uma semana. Esse crescimento, ainda mais por conta da queda de Marina e da estabilidade de Aécio, faz com que essa subida de 5% seja muito plausível. Primeiro porque, em linhas gerais, os votos que Marina está perdendo não estão se tornando nulos ou fazendo parte dos indecisos, mas sim passando para Dilma.

Depois porque há um número de indecisos razoável, hoje 6%. Considerando a taxa de rejeição, Dilma poderá conquistar pelo menos 4% desses eleitores, o que poderia lhe garantir a vitória. Particularmente, acho que um triunfo petista no primeiro turno dependeria de uma exibição magnífica no debate da Globo, que ocorre quinta-feira, o que me soa bastante improvável. O grande problema para o PT é que vencer no primeiro turno não é apenas uma questão de honra ou de aumentar o tamanho da vitória, como era em 2002, 2006 e 2010. As pesquisas mostram que, embora a vantagem sobre Marina não pare de crescer, o empate técnico no segundo turno persiste. Portanto, se houver segundo turno, a vitória deixa de estar segura.

Marina, aliás, trabalhará com dois cenários diferentes. Por estar bastante atrás de Dilma e com boa vantagem para Aécio, é a única que terá que visar os dois turnos ao mesmo tempo. Marina precisa garantir que o candidato do PSDB não seja uma ameaça à sua segunda colocação e, para isso, precisa com urgência parar de cair. Aécio crescer 10% (diferença atual em válidos, 31% x 21%) é completamente impossível, mas se a candidata do PSB cair 5%, o que não é algo descartável, ele volta para a briga. Por outro lado, Marina também tem que trabalhar duro para tirar votos de Dilma e garantir, ao menos, que o empate técnico na simulação de segundo turno persista até domingo. Se ela chegar em desvantagem de mais de 4% (o limite da margem de erro) à nova votação, não conseguirá evitar a impressão de que foi apenas uma febre momentânea e, aí, a possibilidade de uma surra passa a ser considerável.

Aécio Neves, por sua vez, precisa ir para o tudo ou nada. A estratégia de se apresentar como “a onda da razão” foi muito bem sucedida para arrancar votos de Marina, mas fracassou ao transferir esses votos para Dilma. É, então, o momento de bater ainda mais na tecla de que, no primeiro turno, não há voto útil. É hora de mostrar ao eleitor que, pelo menos agora, deixar de votar em Marina não implica em votar em Dilma. Conseguir, com essa estratégia, tirar essa diferença de 10% é muito difícil, para não dizer impossível, mas ainda há, lembremos, os tais 6% indecisos, que muitas vezes decidem o voto no debate da Globo. E, nos debates, Aécio tem sido muito seguro. Dá. É bastante, complicado, mas dá.

Alckmin entrega 50 veículos para a RotaNos estados, temos um quadro praticamente definido em São Paulo. Geraldo Alckmin tem 60% dos votos válidos e nem o alto número de indecisos, 7%, dá margem para que pensemos em um segundo turno. O candidato do PMDB, Paulo Skaf, nitidamente jogou a toalha e Alexandre Padilha, do PT, que foi para o tudo ou nada, tem resultados muito inexpressivos para que possa tirar 10% dos votos de Alckmin em uma semana. Geraldo, aliás, manteve seus índices praticamente iguais durante toda a campanha, o que mostra o fracasso da campanha de seus adversários, que não conseguiram explorar os pontos negativos de seu Governo. Para que haja um segundo turno, é preciso que isso aconteça repentinamente e, ao meu ver, isso dependeria mais de uma ofensiva gigantesca do PT, maior do que foi aquela com Fernando Haddad em 2012, do que de Skaf.

Onde a briga esquentou de vez foi no Senado. José Serra viu sua vantagem para Eduardo Suplicy diminuir e cair para 7%. Temos que lembrar, primeiramente, que pesquisas para o Senado em São Paulo costumam falhar. Em 2006, o próprio Suplicy tinha uma vantagem bastante grande para Guilherme Afif, mas venceu de maneira apertada. Em 2010, Netinho e Marta estavam praticamente eleitos, mas o tucano Aloysio Nunes, que mal chegava aos 10%, surpreendeu no boca de urna, vencendo com a maior votação da história e deixando Netinho de fora. Esse fato dá esperanças até para Kassab, que cresceu 3% e agora tem 10%. Em todo caso, é uma votação completamente indefinida.

No Rio de Janeiro, quem se deu mal foi Garotinho. Além de cair nas pesquisas, ele tem um índice de rejeição de 49% que deixa sua vitória completamente inviável. O PMDB enfim conseguiu ter sua penetração habitual no interior e o atual Governador Luiz Fernando Pezão aparece em uma impressionante ascensão, abrindo 11% de vantagem para Garotinho no primeiro turno. Com 36% dos votos válidos, ele assiste de camarote à briga entre o candidato do PR e Marcelo Crivella, que, com a queda do ex-Governador, voltou para a briga. Garotinho tem 27% e o candidato do PRB, 20%. Se continuar caindo como vem caindo, Anthony pode sim ficar de fora, o que seria pouco interessante para Pezão, que estaria praticamente eleito em um embate direto com ele. Lindbergh, do PT, enfim conseguiu decolar, mas já me parece tarde demais. No Senado, a vitória de Romário está mais do que definida.romarioplanalto

Pelo Brasil, outras brigas interessantes onde o PSDB está diretamente envolvido. Em Minas Gerais, o tucano Pimenta da Veiga enfim viu o petista Pimentel parar de crescer e tem uma semana para conseguir garantir a realização de um segundo turno e, talvez já com Aécio fora da briga pela Presidência, partir para a ultrapassagem. Pimentel tem, hoje, 51% dos votos válidos. Em outros dois estados, porém, a situação é inversa para os tucanos. No Paraná, o candidato do PSDB, Beto Richa, também tem 51% dos votos válidos e briga para não ter mais 20 dias de embate com Roberto Requião, que aposta inclusive em erros das pesquisas no Estado. Em Goiás, Marconi Perillo vem em ascensão, mas ainda precisa crescer um pouco mais para garantir uma vitória tucana em primeiro turno.

No Distrito Federal, a chapa esquentou de vez. A renúncia de José Roberto Arruda impulsionou a candidatura de Rodrigo Rollemberg e o candidato do PSB, usando a imagem de Marina Silva, apenas aguarda o seu adversário, que pode ser o atual Governador Agnelo Queiroz ou o substituto de Arruda, Jofran Frejat (PR), já que eles estão em empate técnico. As pesquisas apontam que, ganhe quem ganhar, Rodrigo deve vencer com facilidade no segundo turno.

Em Pernambuco, há uma situação curiosa. Como o terceiro colocado nas pesquisas tem apenas 1% das intenções de voto, a realização de um segundo turno serviria apenas para prolongar o embate entre Paulo Câmara, do PSB, que cresceu assustadoramente depois da morte de Eduardo Campos, e Armando Monteiro, do PTB. Tudo indica, no entanto, que o candidato de Campos seja eleito no primeiro turno, visto que seu crescimento segue a todo vapor. Na última pesquisa do Datafolha, ele aparecia com 39% contra 33% do petebista. Agora tem 43%, enquanto Monteiro surge com 34%. Esse resultado já seria suficiente para definir as Eleições por lá no próximo domingo.

No Ceará, onde a última pesquisa foi divulgada pelo Ibope, ocorre algo semelhante. Eunício Oliveira, do PMDB, e Camilo Santana, do PT, fazem um “segundo turno com convidados”, mas ainda há a possibilidade de haver um segundo turno de fato. Eunício e Camilo estão tecnicamente empatados e o candidato do PMDB, com 43%, tem 1% a mais que os outros somados, o que significa que ele pode vencer no primeiro turno. Nas simulações de segundo turno, onde eles brigariam pelos 4% que os outros candidatos somam, o empate técnico persiste, no limite da margem de erro. Já na Bahia, onde o Datafolha também não realizou pesquisa entre 22 e 24 de setembro, o Ibope aponta um crescimento do petista Rui Costa que, no entanto, precisa que o democrata Paulo Souto perca aproximadamente 8% dos votos em uma semana para que haja um segundo turno.

Para encerrar, no Sul, uma votação definida e uma totalmente em aberto. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro conseguiu impressionante recuperação e empatou com Ana Amélia Lemos, do PP, deixando o cenário completamente indefinido para o segundo turno. Em Santa Catarina, o Governador Raimundo Colombo, do Democratas, deve conseguir sua reeleição já no primeiro turno.

8 Replies to “A semana decisiva”

  1. Excelente! Só tem um detalhe deixado de fora que eu acho importante mencionar: parte da militância/eleitorado de Aécio jogou a toalha, não acredita em Marina e tende á abstinência. Se por este ou outros motivos a abstinência da oposição for mais alta que os tradicionais 20%, Dilma está eleita.

    O que leva a outra questão, esta subsidiária. Apesar de pesquisas sempre apontarem brancos+nulos em torno dos 6 ou 7%, a abstinência real no Brasil é bem mais alta, sempre ficando entre 15 e 25%. Foi por conta da alta abstenção no Nordeste em 2010 que Dilma não fechou a conta naquele primeiro turno, o que pode voltar a acontecer agora também.

    1. Muito, mas muito bem lembrado. Acho que, no primeiro turno, as abstenções tendem a atingir Dilma (pela questão do Nordeste) e Aécio, por um eleitorado de classes mais altas que muitas vezes acabam viajando. Mas pode ser que a Marina também perca em ambos os eleitorados e na Região do Norte. O clima pode e deve influenciar também.

      1. Tem outra coisa que pode influenciar que é a ordem na votação. O primeiro voto, se não me engano, é para deputado federal

  2. Não é o assunto do texto, mas, aproveitando o gancho, um caso emblemático sobre abstenção foi no 2º turno da eleição carioca de 2008. Sérgio Cabral antecipou um feriado para segunda feira (dia seguinte à votação) que, na verdade, deveria ocorrer na terça (dois dias depois do pleito). O resultado disso foi que os três grandes redutos eleitorais de Gabeira registraram abstenção altíssima, todos acima dos 22%, já que muita gente viajou. O Governador manobrou e conseguiu ajudar o Paes.

    Como aquela eleição foi a mais apertada da história do Rio, é possível afirmar, sim, que Gabeira poderia ter vencido Eduardo Paes no segundo turno. Foi 50,83% x 49,17% de votos válidos.

    Não preciso nem dizer que vários moradores da Zona Sul, Zona Norte e Centro (os três grandes redutos citados) reclamaram que o povo é burro e não sabe votar, mas comparecer à urna, que é bom, nada. Eu conheço umas duas dezenas, no mínimo.

    1. Eu lembro que a votação foi apertada, mas confesso que dessa eu não sabia. E esses revoltados, aliás, reelegeram o Paes com 60% dos votos em 2010. risos

    2. Ainda bem que essa turma viajou, porque aturar os tucanos de volta ao governo municipal seria tenso. No mínimo, as obras seriam apenas na Zona Sul – e talvez as Olimpíadas não tivessem vindo para cá

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